Samuel Pessoa - Comentários ao Livro de Ciro Gomes I

 

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A - Samuel Pessoa - Comentários ao Livro de Ciro Gomes:

 

1 - Não fomos o país que mais cresceu no Século XX. Sempre achei estranha essa afirmação, pois se sabe que, entre 1900 e 2000, nosso PIB per capita não cresceu muito mais do que o PIB per capita estadunidense. Sabemos que nosso atraso relativo é um fenômeno do século XIX e que, no século XX, não fomos capazes de tirar o atraso. (...) De fato, a base de dados construída pelo historiador Angus Maddison mostra que o crescimento do produto per capita brasileiro entre 1900 e 2000 foi de 2,1% ao ano, contra 2,0% para os EUA. (...) Se nos concentrarmos no período do nacional-desenvolvimentismo, de 1929 até 1980, nosso desempenho foi bem melhor. Crescemos 3,0% (produto per capita) ao ano, sendo somente superados, na série de Maddison, por Finlândia, Portugal, Bulgária e Japão. No mesmo período, a Coreia do Sul cresceu menos.

Para aprofundamento e outras comparações de crescimento do PIB PPC:

http://www.ggdc.net/maddison/oriindex.htm.

2 - Samuel coloca que o período de 29-80 tem crescimento real superestimado pelo fato de as produções locais em oficinas locais e produções artesanais que foram, em parte, substituídas pelo avanço industrial, não aparecerem nas estatísticas antigas de PIB. Se isso é real, não sei. (...) Recentemente, Eustáquio Reis, em sua aula magna no encontro da Associação dos Centros de Pós-Graduação em Economia, intitulada “Nontradable na história econômica brasileira”, apresenta uma correção para o período de 1890 até 1940. Segundo seus cálculos, o PIB de 1919 é 36% maior, e as taxas de crescimento entre 1920 e 1940 foram menores em 1,6 ponto percentual (pp) ao ano. (...) Com essas correções, a taxa de crescimento do PIB per capita, obtida a partir dos dados do Ipeadata, para o período do nacionaldesenvolvimentismo, reduz-se de 3,8% ao ano para 3,4%; e as taxas de crescimento para o período de 1900 até 1929 elevam-se de 2,1% ao ano para 2,6%. (...) As taxas de crescimento do Ipeadata não batem com as de Maddison pois estas fazem ajustes por diferenças sistemática de custo de vida entre países.

3 - Coloca que os investimentos (privados, via mercado de capitais) em ferrovias da República Velha plantaram sementes de crescimento lá na frente.

4 - No período que foi o auge de nossa transição demográfica, entre 1955 e 1975, investíamos menos de 2% do PIB em educação.



5 - Ciro fantasiaria a Era Vargas: Ciro esquece que, à época de Vargas, o grosso da pobreza brasileira era rural e não foi, portanto, atingido pelas leis trabalhistas do presidente.

6 - Afirma que não há provas de que a criação da Petrobrás tenha sido a melhor opção tomada - parece pedir um contrafactual - e acrescenta que certamente a afirmação de que o desenvolvimento do Centro Oeste (CO) é fruto de Brasília está factualmente errada. O desenvolvimento do CO é fruto das novas tecnologias de agricultura de clima tropical e das estradas de rodagem que permitem escoar a produção. Ambas não dependem de Brasília.

7 - Finalmente, não parece que a indústria automobilística tenha sido um grande sucesso. Após 60 anos, continua a necessitar de contínuos subsídios para a operar no país.

8 - Ciro, bem como também não elucida os motivos de os juros terem caído aos menores valores históricos justamente quando o Banco Central é liderado pelo mais “farialimer” de todos os seus presidentes, um ex-tesoureiro de banco privado.

9 - O superávit primário que Ciro entregou ao ministro Pedro Malan foi construído no ano anterior à sua chegada (de Ciro) ao Ministério.

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