PP - Textos Diversos XXV
Passa Palavra (PP) -
Tempos Temerários:
854 - Luta pelo
emprego. Como se organizar? No passado os trabalhadores criaram, por exemplo,
associações de ajuda mútua para assistir trabalhadores desempregados, e
chegaram a organizar serviços por conta própria (serviços de saúde, por
exemplo), mas hoje esses serviços foram incorporados pelo Estado ou por
empresas privadas.
Passa Palavra (PP) - Um
Edital Imbatível:
855 - O movimento contra
as OS na gestão das escolas de Goiás (meio de 2016) adiou a licitação e deu
mais tempo para discussão do problema. Todas
essas mudanças, sem exceção, são resultados das críticas públicas ao projeto
das OS na educação. Essas críticas só ganharam força com o movimento de
ocupação das escolas. As alterações visam impedir situações embaraçosas como as
criadas no início do ano pela recomendação do Ministério Público de suspensão
do edital e da reportagem da Nova Escola em que se revelavam OS com donos
desconhecidos, sem equipes, sem sede, sem nada.
856 - Sobre uma das
ocupações: A ocupação ocorreu sem
qualquer tipo de entrada forçada, arrancou um acordo do diretor da escola pela
permanência dos alunos e conseguiu apoio jurídico na hora para intermediar com
a polícia. Mas os secundaristas foram surpreendidos: sem nenhum tipo de
mandado, negociação ou crime, a polícia avisou que iria desocupar por ordem
direta do Secretário de Segurança Pública e Vice-Governador José Elito. “A
ordem é pra descer o pau e prender todo mundo”, foi o que disse o comandante da
operação aos secundaristas. De forma inédita no Estado, se mobilizaram dezenas
de viaturas, tropa de choque e ônibus para levar os presos em uma ocupação de
escola, não de um prédio público. O precedente que conseguimos ver desta ação
foram as desocupações sem mandado realizado em algumas ETECs e Diretorias de
Ensino em São Paulo ― e percebemos uma ação similar na desocupação ilegal da
Fábrica de Cultura na Brasilândia.
857 - Raquel Teixeira já anunciou mais um edital ―
dessa vez “imbatível” ― realizado em parceria com o Banco Mundial para 23 escolas
de Anápolis.
Paulo Gustavo (PP) - Uma
Análise Sobre o Atual Estágio da Luta de Classes no Brasil:
858 - Análises confusas e
pouco precisas do autor e mesmo dos debatedores. Até JB me parece errado uma ou
outra vez na vida, a depender do conceito da coisa: 2) O Brasil deixou de se classificar como um capitalismo dependente. Por
um lado, devido às transformações sofridas pela própria geopolítica, que eu
procurei analisar no artigo «A geopolítica das companhias transnacionais».
Pedro Benevides (PP) - Tramas
de Uma Mobilização, A Greve dos Trabalhadores do Diário do Pará e do Diário
Online:
859 - Belém: … “o pessoal [funcionários da empresa] não
acreditava que vocês teriam essa coragem de fazer, de enfrentar [a família
Barbalho]” (Felipe Melo). Dos dias 20 a 27 de setembro de 2013, jornalistas do
Diário do Pará e do portal de notícias Diário Online (DOL) deixam suas mesas e
pautas para se manifestar em frente ao prédio da empresa, a Rede Brasil
Amazônia (RBA), chegando a fechar a Avenida Almirante Barroso, uma das maiores
da capital. (...) A greve é composta de ações de rua e nas redes sociais,
tentativas de negociação e articulações entre as redações e também dos
jornalistas com outras categorias de trabalhadores. Atos públicos, uma aula
aberta, tuitaços, manifestações diárias na Avenida Almirante Barroso e o
trancamento da rua do grupo RBA tratam de reunir apoio e expor a empresa em
espaços públicos. Adesão foi forte. Parece
que a maioria. A RBA se vê obrigada a conceder aumento de 50%, o que encerra a
greve com um resultado difícil de conceber uma semana antes.
860 - Começam as retaliações no primeiro dia útil
após os 45 dias de estabilidade (um dos itens do acordo com a empresa) e, de
novembro de 2013 a março de 2014, são 16 jornalistas demitidos da RBA.
861 - Nenhum de nós se conformará com um salário
líquido que não chega a mil reais, com as frequentes horas extras nunca pagas,
com cadeiras e computadores sucateados, que prejudicam nossa saúde com cada vez
mais gravidade, com a falta até mesmo de água potável na copa e de papel
higiênico nos banheiros.
862 - Patrões sempre
respondem que aumento de salário implicará enxugamento do quadro geral com
demissões de jornalistas. Antes as movimentações se davam em pequenas ações. Paralelamente, os jornalistas da RBA tomam
suas iniciativas, também cautelosas. Em 2011 e 2012, eles organizam dois
abaixo-assinados para serem levados ao sindicato, que por sua vez pressionaria
os patrões. Na primeira tentativa, estes são informados da movimentação e punem
alguns jornalistas com sua substituição para editorias de menor prestígio (aos
olhos dos diretores da empresa). O
segundo abaixo-assinado gera uma assembleia no Sinjor e a pressão leva à
conquista de aumento salarial, sem retaliações.
863 - Em agosto, teve uma greve, aqui em Belém, de
funcionários de supermercado. O pessoal da reportagem lidou direto com isso. E
incentivou muito a gente, porque a gente perguntava pra eles: como assim, vocês
são de empresa particular, vocês não têm medo de ser demitidos? E eles falavam:
não, porque tá numa situação tão ruim que a gente já abriu mão; se demitirem,
pelo menos a gente fez alguma coisa (Daniele Brabo).
864 - A gente formou uma comissão: Comissão dos
Trabalhadores do Diário e DOL. E a gente fechou dentro dessa comissão algumas
pessoas que eram o núcleo, como a gente fala, que organizariam a greve nos
pormenores (Amanda Aguiar). (...) Nós nos espelhamos em movimentos operários
dos motoristas de ônibus daqui. Eles faziam comissões fora do sindicato para
levar a discussão para o sindicato e tentar deflagrar a greve ou fazer uma
greve por conta própria mesmo, como está acontecendo no Rio, em grande parte do
país. (…) Nós tínhamos comissão de infraestrutura, comissão de comunicação,
comissão de mobilização e comissão política. A comissão de trabalhadores tinha
essas subcomissões. (…) [Foi] necessidade de organização mesmo (Elias Santos).
(...) Quatro diretores do sindicato
estavam dentro da empresa [RBA] e não fizeram greve. (…) Dois dias antes da
greve, tentaram costurar junto com a empresa uma reunião para desmobilizar a
greve (Felipe Melo).
865 - Depois de ouvirem
propostas, aprovaram a seguinte campanha: uma
campanha bem forte mesmo, apelativa, pra queimar mesmo a empresa, pra dizer que
a gente ganha mil reais somente, que era ruim, horrível um salário desses
(Felipe Melo).
866 - Da assembleia de agosto ao ato de 05 de
setembro, no prédio da RBA, enfim ganha corpo o esgotamento da paciência dos
jornalistas, sem que a ousadia deixe de se combinar com o temor: “nesse
protesto, apareceram da empresa [RBA] só umas três ou quatro pessoas. O resto
era tudo jornalista de fora” (Felipe Melo). “Esse primeiro ato foi meio
esvaziado. Foram umas 10 pessoas, entre sindicato e funcionários. (…) Mas o ato
aconteceu lá e já deu um susto no pessoal da empresa” (Daniele Brabo). A
pressão avança para um certo atrito, mas sem respaldo efetivo de base.
867 - O grupinho fez
panelaço interno no dia seguinte.
868 - Ela foi demitida e a gente começou a fazer
uma pressão muito grande para ela ser reintegrada e ela foi reintegrada. (…) A
gente estava muito chateado por isso, por ela ter sido demitida porque postou o
contracheque, como se ela tivesse que ter vergonha de quanto ela ganha. (…) Ela
foi readmitida mas depois topou ser a única pessoa da TV [a participar da
greve] (Amanda Aguiar). (...) As pessoas ficaram muito indignadas. A empresa,
nesse sentido, recrudesceu essa nossa sensação de que a gente precisava fazer
alguma coisa, quando a gente viu a Cris sendo demitida porque tornou público o
valor do salário dela (Amanda Aguiar).
869 - A greve veio por
unanimidade e em uma assembleia lotada.
870 - A gente gosta do que faz e a gente procura
sempre fazer o melhor porque afinal de contas a única coisa que a gente tem é o
nosso nome. (…) A gente ficava feliz porque sabia que estava fazendo um
trabalho bonito, bacana, e que as pessoas gostavam. A gente recebia muito
elogio. (…) Como tu gosta do que fazes, as pequenas alegrias talvez acabassem
tornando esse dia-a-dia de dificuldades suportável. Às vezes você está
entrevistando o cara que tu sempre admiraste (Yorrana Oliveira).
871 - Ademais, além do
senso de missão (que é parecido com o aspecto acima), os diretores exercem uma pressão cordial, feita de quebrar galhos, que
por sua vez geram promoções para os repórteres mais flexíveis (ou submissos) e
vetos às carreiras dos mais arredios (ou preservados).
872 - Tem mais coisa que
explica porque greves são raras: “No caso
do Diário do Pará, é mencionada a reunião de pauta agradável, o dia-a-dia cheio
de brincadeiras e o clima de amizade. Em grau mais íntimo, as premiações da RBA
afetam positivamente a auto-estima dos repórteres”.
873 - Texto narra
exemplos de sofrimentos e explorações cotidianas (mais-valia absoluta,
inclusive no que tange à intensificação)
que levaram os funcionários ao limite. (...)
vários colegas começaram a chorar (…). As pessoas não aguentavam mais. (…) A
emoção foi sempre algo muito forte entre a gente. (…) Já vi greve de construção
civil, já vi peão chorando também com raiva; peão duro, duro, chorando com
raiva de patrão. (…) Quando [os trabalhadores] conseguem perceber as
desigualdades, os problemas, conseguem entender a sua condição de explorado,
então as pessoas se indignam mais ainda mesmo e às vezes alguns quando se
indignam batem, quebram, outros choram (Felipe Melo).
874 - Fala de alguns
momentos “estopim”, como a demissão de Cris. Outra diz que “nesse período [dos abaixo-assinados], eu não
me preocupava muito com essa parte sindical, apesar de ter dificuldades dentro
do trabalho. Mas ainda não era uma preocupação minha. Eu me considerava muito
início de carreira, aquele gás todo. Não tava nem aí se eu fazia hora extra.
Ainda tinha uma mentalidade de que tenho que me esforçar (Daniele Brabo)”.
875 - Daniele diz que não
era muito de participar de ativismo estudantil. Nós passamos acho que um mês e meio sem ar condicionado na redação [que
não tem janelas], pingando de suor. (…) Era sempre assim. A gente se lamentando
sobre tudo, sobre a copa, que era imunda. Inclusive, não era mais uma coisa
discreta. A gente já falava pra todo mundo, pro pessoal da limpeza, já
declarava que não tava mais aguentando. (…) De fevereiro a junho, foi uma fase
que eu já tava bufando de raiva. (…) Quando eu caí em mim que eu não ia ter
possibilidade de progressão dentro daquela empresa, que nem sequer plano de
carreira, que nem piso salarial a empresa tinha, aí eu falei “não, a gente tem
que fazer alguma coisa” (Daniele Brabo).
876 - O disparador também pode ser visto como uma
espécie de ponto sem volta. Às vésperas da greve, diante da sugestão de
adiá-la, a resposta decisiva é que, se for para fazer depois, “nem vai ter
greve, porque todo mundo já vai ter sido demitido, só pelo fato de estar aqui”
[na assembleia do sindicato] (Yorrana Oliveira). Quando Cris Paiva é demitida,
as pessoas pensam “bora pra cima, porque não adianta, vai ser todo mundo
demitido mesmo, pra pelo menos garantir que tenha alguma vitória” (Felipe
Melo). Aqui se manifesta a sensação vital de que a hora chegou. Quando a gota
d’água se precipita, a atmosfera cordial se desmancha e os mecanismos de
naturalização dos abusos são neutralizados. A história se acelera – é agora ou
nunca.
877 - As lágrimas, as canções e as cirandas dançadas durante a greve
exprimem um vínculo talvez incompreensível para patrões, ainda que os
especialistas em recursos humanos saibam do que se trata.
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