Pablo Polese (PP) - Tempestade Perfeita, A Oposição de Direita e os Desafios Para a Extrema Esquerda
Pablo Polese (PP) -
Tempestade Perfeita, A Oposição de Direita e os Desafios Para a Extrema
Esquerda I e II:
790 - Não se trata de
mera queda do preço das commodities.
791 - Descreve longamente
o pacote de maldades - austeridade - de Dilma 2015.
792 - E a aposta capitalista foi certeira: com esforços militantes
centrados desde 1989 na via eleitoral, a chegada do PT ao poder em 2003
significou arrefecimento das lutas contra o capital, tanto no plano sindical,
com a CUT atrelada ao governo, quanto no plano dos movimentos sociais. Com
respeito ao MST e demais organizações de luta pela terra, o que se viu foi uma
postura de apoio crítico ao governo “em disputa”, com leve aumento do número de
ocupações de terra em 2003 e 2004, seguida de uma redução das ações mais
radicais a partir de 2005, chegando a apenas 184 ocupações em 2010, o menor
número desde 1995.
793 - Um dos mais visíveis indicadores do recuo
das lutas coletivas dos trabalhadores, a partir dos anos 1990, foi a diminuição
do número de greves, refletindo a passagem dos sindicalistas de uma estratégia
de conflito para uma de negociação, de um modelo de sindicalismo combativo e
classista para outro de sindicalismo de resultados. Se em 1989 ocorreram cerca
de 4 mil greves em todo o país, a partir de então as greves viveram um ciclo
declinante: 1.228 greves em 1996, 525 em 2000, 298 em 2002 e 299 em 2005.
794 - Concomitantemente, a base do MST passou de
acampada para majoritariamente assentada, e em virtude disso e de interesses
econômicos o movimento passou a focar na luta pela consolidação dos
assentamentos via créditos agrários e programas sociais (Luz para Todos,
Programa Nacional de Alimentação Escolar etc.), aumentando sua já enraizada
relação com o Estado e governos. Defendendo quase incondicionalmente as
políticas do PT no governo, com a eventual e pontual crítica à política
econômica, o MST viu o agronegócio mudar o perfil dos velhos latifúndios rurais
improdutivos que combatia para o avanço avassalador da agroindústria em larga
escala, da produção agropecuária com uso intensivo de tecnologia de ponta etc.,
o que, somado ao quadro geral, contribuiu com o arrefecimento de sua
combatividade.
795 - Comentador(a) sobre
sindicatos e suas imposições: Foi a
classe operária que, com as suas lutas contra a mesquinhez e estreiteza de
espírito da capacidade capitalista, contribuiu para estabelecer as condições de
um capitalismo normal.
796 - Além disso, na última década, a inflação dos
serviços foi 35% superior à inflação da cesta básica. Cita ainda o aumento
da concorrência por empregos tradicionalmente reservados aos filhos da classe
média. A situação torna-se ainda mais
crítica com o aprofundamento da crise econômica. Não nos esqueçamos que em
2014, 97,5% dos empregos criados no mercado formal de trabalho pagam até 1,5
salário mínimo. (Dado exagerado?)
797 - No entanto, o dado mais carente de
explicação é a presença, segundo o Datafolha e pesquisas independentes, de
aproximadamente 50 mil pessoas que vivem em famílias que ganham até três
salários mínimos na manifestação do dia 15 de março. Trata-se da fração de
classe que garantiu a vitória de Dilma no segundo turno em 2014 e que preenche
a maior parte das ocupações precárias e sub-remuneradas disponíveis no mercado
de trabalho paulistano.
798 - Outro aspecto (após,
a meu ver, errar enormemente na análise do PIB): O DIEESE registrou 873 greves em 2012, que totalizaram 87 mil horas
paradas. Em relação a 2011, houve aumento de 58% no número de greves, e aumento
de 37% no número de horas paradas. Os números da esfera privada cresceram mais
que os da esfera pública. Na esfera privada destaca-se o crescimento das greves
realizadas no setor industrial: de 131, em 2011, para 330, em 2012. O registro
das horas paradas neste setor também aumenta substancialmente: de cerca de 7
mil horas paradas para pouco mais de 15 mil. As demandas e a curta duração de
muitas das greves indica que foram greves defensivas que provavelmente estavam
incluídas nos mecanismos de mais-valia relativa e, portanto, não incomodaram
tanto os capitalistas, mas a expressividade do aumento em horas paradas parece
indicar o contrário, por isso nos parece que por esses dados poderíamos supor
que o setor mais infeliz com o governo Dilma é o industrial, e que os
empresários como um todo devem estar descontentes com esse aumento de 58% no
número de greves, em especial aqueles que empregam mais de 5 mil trabalhadores.
(...) se estima que em 2013 tenha havido
cerca de 1900 greves.
799 - O ano de 2015 teve
ajuste duro, mas teve renovados subsídios
ao grande capital, como por exemplo o aumento de 20% para o setor do
agronegócio, chegando a R$ 188 bilhões de reais.
800 - Outro texto que
analisou a crise política de 2015: Trata-se, na verdade, de uma disputa entre
dois partidos pela representação política do mesmo bloco burguês hegemônico,
capitaneado pelo rentismo e suas alianças com os industriais e o agronegócio.
801 - Camargo Corrêa recebeu R$ 920 milhões do
BNDES, mais de R$ 350 milhões de repasses direto do governo federal e financiou
R$ 143,81 milhões em campanhas em 2010. A Andrade Gutierrez recebeu R$ 63,31
milhões do BNDES, mais de R$ 492 milhões de repasses direto do governo federal
e financiou R$ 1,09 milhões em campanhas. A OAS recebeu R$ 1,05 bilhões do
BNDES, mais de R$ 159 milhões de repasses diretos do governo federal e
financiou R$ 12,67 milhões de campanha. A Queiroz Galvão financiou R$ 101,52
milhões de campanhas políticas e recebeu mais de R$ 1 bilhão e 179 milhões de
repasses direto do governo federal. A JBS recebeu R$ 200 milhões em financiamentos
do BNDES, mais de R$ 35 milhões em repasses direto do governo federal e
financiou R$ 85,35 milhões para campanhas nas eleições de 2010 e 2012. Entre
2010 e 2012, portanto, para cada real que estas empresas financiaram em
campanha receberam no mínimo R$ 6,68 do BNDES e R$ 6,09 do Governo Federal.
802 - A colocação do PT em terceiro lugar no
montante total indica não só a manutenção da preferência do grande capital
pelos partidos da oposição (PSDB) quanto pelo Partido que tem em suas mãos a
própria governabilidade e estabilidade da governabilidade do PT, o PMDB. Embora
ainda em linhas gerais, esses dados já apontam que, em 12 anos de governo
benéfico ao capital, o PT ainda não logrou uma posição de hegemonia estável
frente aos partidos concorrentes ao governo e que lhe permitisse se
desembaraçar das alianças com o PMDB. Noutras palavras, o capital ainda não
confia no PT a ponto de lhe deixar no controle de todos os ingredientes para a
governabilidade, e mantém o poder de governar, do ponto de vista institucional,
nas mãos da oposição.
803 - Mesmo os bancos,
que tiveram crescimento de lucros absurdos em 2014/15, optaram por financiar a
mais o PSDB.
804 - O texto faz
ressalvas importantes: um mapeamento mais
coerente teria que observar as datas das doações e ponderar se naquela semana
os dados de intenções de voto eram favoráveis a tal ou qual candidato. Em 2014,
por exemplo, tivemos algumas semanas em que as pesquisas eleitorais apontavam
chances reais de Marina Silva ser eleita, e a maioria de suas verbas afluiu
para o PSB justamente em tais semanas. Não existe “fidelidade” no jogo
eleitoral, e sim posicionamentos e apostas mais ou menos arriscadas, como por
exemplo o caso da Cervejaria Petrópolis, 4ª maior financiadora das Eleições de
2014, que claramente optou pelo apoio total ao campo governista, não tendo
destinado ao PSDB nem um centavo dos 57,4 milhões de reais que investiu. O
Grupo Petrópolis, segundo maior produtor de cerveja no Brasil, tem fortes
ligações com o PT há muitos anos. Em 2005 a Receita Federal investigou o Grupo
com a suspeita de sonegação de impostos federais e estaduais no valor de 1
bilhão de reais. Novas acusações surgiram em 2008, mas foram arquivadas. Desde
2012 a empresa é acusada pela Secretaria da Fazenda de São Paulo de ter deixado
de pagar 600 milhões de reais em impostos, entre 2006 e 2011.
805 - Menciona também
duelos ocultos (market share) entre empresas do mesmo setor em órgãos
regulatórios. Então às vezes racham também politicamente.
806 - As empreiteiras e construtoras, por exemplo,
têm grande interesse em cargos do Executivo estadual e nacional porque estão
interessadas nas concessões estatais no setor, o que explica as grandes doações
provenientes desse setor, enquanto, por exemplo, o setor “Mecânico” e
“Eletroeletrônico” não acusaram nenhuma doação acima de 50 mil reais.
807 - Menos simpáticos ao
PT: 1) Agronegócio e Extrativismo: açúcar
e etanol, agropecuária; 2) Industrial: eletroeletrônica; empreendimentos
imobiliários; materiais de construção e decoração; têxtil, couro e vestuário;
veículos e peças; 3) Serviços: água e saneamento; bancário e serviços
financeiros; comércio varejista; mecânica; transportes e logística.
808 - Mais simpáticos ao
PT: 1) Agronegócio e Extrativismo:
alimentos; 2) Industrial: bebidas e fumo; comunicação e gráfica; energia
elétrica; plásticos e borracha; química e petroquímica; 3) Serviços: educação e
ensino; planos médicos e planos de saúde; tecnologia da informação &
telecomunicações.
809 - Em dezembro de 2014 a presidente Dilma
chegou a lançar a ideia de privatização da CAIXA. (ver: “Dilma confirma
abertura de capital da Caixa e abre caminho para a privatização da empresa”
(aqui), “Dilma afirma que vai privatizar parte da Caixa” e, já em fins de
fevereiro de 2015: “Em posse, Miriam Belchior não descarta privatizar a Caixa
Econômica” (ver aqui e aqui).
810 - Não por acaso a Operação Lava Jato prendeu,
durante a tempestade perfeita, vários dos executivos de empreiteiras
intimamente ligadas ao PT e aos lucrativos esquemas de inter-relacionamento entre
Estado e capital. Basta pensar no exemplo da OAS, que apoiava o PT e estava
envolvida nos esquemas de favorecimentos estatais a seus interesses, ou na
Andrade Gutierrez e Odebrecht, também acusadas de praticar cartel, fraude a
licitações, organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro em contratos
com a Petrobrás. Um processo como esse, envolvendo a prisão de executivos de
alto escalão, jamais se dá “automaticamente” como consequência do trabalho do
poder judiciário. Há interesses econômicos envolvidos, e o próprio desenrolar
da Operação Lava Jato e outros ataques a empresas ligadas ao PT já serve de
indicativo de que a oposição de direita existe na mesma medida em que existem
capitais em disputa e interessados em ter influência no Estado e na apropriação
do butim.
811 - (A meu ver, o texto
fez valioso trabalho ao mostrar apostas diferentes de frações internas do
capital e como o PT ainda representava os interesses de ligações íntimas com o
Estado de várias delas. Porém, parece-me que subestimou ou deixou de levar em
conta os interesses unificados da classe burguesa a que o PT não estava mais
correspondendo).
812 - Renan Calheiros tenta derrubar o veto de
Dilma à manutenção dos subsídios sobre a energia elétrica para grandes empresas
do Nordeste. Por apenas 2 votos Calheiros não teve êxito, e se derrubado o
Estado teria um gasto de R$ 5 bi, que comprometeria o ajuste fiscal já
anunciado. Para pressionar a votação, Levy chegou a ameaçar pedir demissão.
813 - Sua tese (com a
qual não concordo baseado inclusive nos números que ele mesmo apresentou): O atrito entre PT e PSDB é real e se
processa como disputa de projetos de gestão do Estado correspondentes a
projetos de controle do capital: o PT está mais ligado aos gestores (os
capitalistas que controlam o processo de exploração e o pensam de modo
estratégico e integrado) e o PSDB à burguesia (os capitalistas proprietários
que estão interessados em rendas maiores e remunerações mais rápidas de seu
capital investido). (...) O PSDB foi o preferido por todos os Bancos privados,
os quais vêm há mais de 10 anos batendo recordes de lucro ano a ano, com o PT
no poder. O motivo que minha pesquisa aponta, ainda debilmente, é que o atrito
assenta no interesse em controlar os Bancos públicos, ou então em fazê-los não
atrapalhar a lucratividade dos Bancos privados. Penso no BB, Caixa e BNDES,
como vimos.
814 - O PT não possui
sócios capitalistas individuais como o PSDB. Só empresas-sócias no projeto.
Pablo atribui isso automaticamente aos gestores, pessoal com pensamento mais
estratégico de médio e longo prazo (avançado?).
815 - Ao colocar-se como representante da esquerda
no poder, e ao manter os órgãos de luta dos trabalhadores atrelados ao Estado,
o PT se mostra o mal maior, e não o mal menor.
816 - A alegação de que o ciclo do PT chegou ao
fim, e de que sua capacidade de mobilização e de controle da classe está
declinando, por conta do aumento do número de greves, é uma hipótese muito
problemática, não só pelo caráter “integrado” da maioria das greves, mas porque
o fim do ciclo do PT enquanto órgão articulador da classe só poderá chegar a um
verdadeiro esgotamento quando outras formas organizativas tomarem o lugar do PT
e das organizações que giram em sua órbita “democrático popular” (CUT, MST,
MTST etc) enquanto os principais órgãos de luta dos trabalhadores
predominantemente integrada à ordem e restrita a patamares de rebeldia
aceitáveis.
817 - Um comentador, que
discorda do “PSDB burguês/PT gestor” coloca: Mas, mesmo se ignorarmos esse problema, e aceitarmos que os dados
confirmam a divisão (não estanque) entre gestores/PT vs burguesia/psdb, ainda
há questões. A perguntar que faço para essa argumentação é: não seria essa
aproximação apenas uma questão de posição e, portanto, conjuntural? Isso é, se
o PSDB estivesse no Estado, ele teria condições de aproximar esses setores que
hoje estão próximos do PT. Esse, por sua vez, só se aproximou desses setores
pois está há 10 anos no governo e, portanto, está há 10 anos gerindo o fundo
público.
818 - Menciona-se também
que há vários capitalistas individuais poderosíssimos declarando apoio ao
governo. (Lembro inclusive que nomes importantes do setor bancário se
manifestaram contra o impeachment/golpe por exemplo).
819 - Pablo responde que
o capital se dividiria fosse quem fosse. Mesmo PSDB vs, sei lá, PMDB. Sua tese
não é que a preferência pelo PT seja estrutural, mas conjuntural mesmo. Algo do
tipo, “estão fazendo por nós, deixa quieto”. Quanto aos capitalistas
individuais que apoiam o PT, responde: O
Abilio Diniz é tão somente o presidente do conselho da empresa, com algumas
ações (cerca de 3%). (...) Acrescento ainda que na minha hipótese afirmei que o
apoio dos gestores ao PT e da burguesia ao PSDB é uma questão de “acento” e que
há outros grupos de gestores apoiando o PSDB e outros grupos de burguesias
apoiando o PT.
820 - Acho que há algum desentendimento quanto a
essas categorias de capitalistas: os gestores não são proprietários, são quem
direciona e pensa estrategicamente a produção da empresa. Ao ir para aquele
cargo o Abilio Diniz cumpre papel de gestor, independentemente de qual
porcentagem de ação ele possui. Também o Mark Zuckerberg é tanto gestor quanto
burguês. A questão central reside no atrito, que costuma ocorrer, entre
acionistas, proprietários de parcelas da empresa, que tem interesse em lucrar
rápido, e os gestores, administradores da empresa que têm o foco na articulação
global da empresa e no lucro a longo prazo.
821 - Pablo foi, porém,
certeiro aqui: Os burgueses e gestores
colocados à parte do esquema PT-Estado-Empresas resolveram se rebelar, talvez
porque a crise econômica se aproxima e o bolo já não seja grande o suficiente
para eles se satisfazerem com pedaços cortados por outras mãos.
822 - Texto sensacional
de toda forma.
Pablo Polese (PP) -
Tempestade Perfeita III (Continuação do Texto da Pasta Arquivos de Fausto):
823 - Já inclui no
fichamento acima.
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