PP - Textos Diversos IV (Caribé)

 

Daniel Caribé (PP) - Os Dilemas das Greves:

135 - Greves de pijama do serviço público: Os trabalhadores deixam na mão dos dirigentes sindicais – inevitavelmente burocratas neste contexto de apatia – a responsabilidade de negociar com os patrões o aumento salarial e um ou outro benefício a mais. (...) Com o tempo livre, livre do trabalho e livre das atividades da greve, os trabalhadores podem cuidar da saúde, participar de atividades culturais, passar mais tempo nos botecos ou nas igrejas, qualificar-se para novos empregos e por aí segue. Em um cenário otimista, ele recupera tempo livre sem perder o salário. Não perdendo o salário, independentemente dos outros resultados da greve, ele sai vitorioso.

136 - Nas outras esferas, ou a greve é coletiva e ativa ou não é.

137 - A homogeneização educacional de uma fração de classe cada vez mais ampla. Efeito: As greves, por outro lado, tornam-se cada vez mais ineficazes se realizadas de forma isolada em cada unidade produtiva considerada; mas abre-se a possibilidade para a realização de lutas mais amplas. (...) O nível de repressão a estes trabalhadores é tão forte e sua substituição por novos trabalhadores tão fácil que greve sem real mobilização significa demissão imediata daqueles que primeiro pararam as atividades. Ou é um processo amplo ou não vai ser nada. (...) Nesses casos, a greve expressa o acirramento do conflito de classe, pois os patrões têm muita dificuldade de jogar uns trabalhadores contra os outros não diretamente envolvidos, já que a mercadoria entregue aos demais trabalhadores pode ser facilmente substituída por similares produzidas em outros circuitos da economia ou em demais unidades produtivas em pleno funcionamento.

138 - Educação e saúde. É um dilema que sempre aparece a um trabalhador de saúde que se entende enquanto tal. Pois a preguiça, a depressão (formas de resistência individual) ou até mesmo a greve, ao mesmo passo que diminuem a própria exploração, aumentam a exploração dos demais trabalhadores. (...) um trabalhador da educação ou da saúde encontra pela frente, em oposição a sua greve, primeiro os outros trabalhadores e só depois os patrões. (...) Mesmo sendo os sistemas educacional e de saúde imprescindíveis para manter e criar trabalhadores, cada vez mais se formam novos trabalhadores por fora das escolas e cada vez mais os mantêm saudáveis através de processos burocratizados. Em casos específicos, pode haver apoio da população porém. Aí os patrões têm que se virar.

139 - Em tempos de recessão econômica e consequente adoção da política de austeridade, quando os gastos do Estado com as políticas sociais são cortados e não há a necessidade de produzir novos trabalhadores na mesma intensidade de antes, uma greve nas escolas e universidades chega a ser providencial à própria tecnocracia.

140 - Comentador: greve na educação pode até aumentar a produtividade, coisas como artigos e publicações. … Esse meu amigo sugeria, no que estou de acordo e penso que possa ser uma boa chave para pensarmos mobilizações futuras no âmbito de instituições similares, era que as recusas deveriam ser pensadas nos termos da produção dos índices e não das atividades em si: mantêm-se as aulas (ou o atendimento num hospital, por exemplo), mas paralisa-se o preenchimento de formulários e de quaisquer sistemas que visam pontuações e rankeamentos.

141 - Os comentários ao texto acabaram focando numa questão secundária infelizmente. Uma das propostas que surge da crítica do texto é:  a superação da greve pela tática da produção livre, gratuita. (...) a abertura dos meios de produção para a população da cidade, chamando-a para decidir o que fazer e participar da produção (tornando sem significado as palavras “emprego”, “desemprego” e “empresa”). Isso, num único ato, reduz a jornada de trabalho e alivia o resto do proletariado dos apuros impostos pelos proprietários (desemprego, necessidades insatisfeitas e o terror empreendedorista).

 

Daniel Caribé (PP) - Sobre Novelas, Esquerdas e Mensalão:

142 - Se condenam Dirceu e políticos sem provas, que farão com os “sem importância” pro PIB? Já são condenados em meros jornalecos policialescos: Se não forem para a cadeia logo em seguida, o que será da vida deles após esta exposição? (...) Ninguém está nem aí para estes no país que está elegendo policiais a cargo de vereador com a campanha “bandido bom é bandido morto”.

143 - E bem ou mal, o grosso da população enxerga PT como esquerda. Somos afetados por ele, PT, mesmo quando o criticamos. Por tabela, somos tão corruptos quanto.

144 - Ademais, a corrupção não diz respeito à extorsão da mais-valia, ao processo de exploração dos trabalhadores, mas à repartição entre os capitalistas dos frutos dessa exploração.

145 - A meu ver, o texto exagera um pouco ao dizer que a pauta da corrupção não mobiliza a classe trabalhadora. Meia-verdade, pois ajuda a queimar uma opção ou partido em parte dela, o que pode ser usado para fins políticos.

146 - Vê a “judicialização da política” (no sentido de puxar para si certas competências) - e vice-versa - como uma tática perigosa e covarde incentivada pelo próprio PT, que parecia ter esperança num judiciário progressista… (casamento homoafetivo e outros exemplos): estes debates deveriam acontecer no Congresso Nacional. É o mínimo que se espera de uma sociedade democrática, de uma república.

147 - Afirma que o presidencialismo de coalizão, praticado desde FHC, tolhe o Legislativo, despolitizando o que deveria ser um local permeável a algum tipo de controle democrático. O STF é muito menos permeável, coloca.

148 - A oposição nos comentários foi puxada por Denise, para quem, “Pouco importa se o Zé Dirceu foi derrotado por togados ou não. Esta briga não interessa para a esquerda”. Ao que Leo Vinicius retruca: Por certo Errico Malatesta não era um liberal. Nunca soube de ninguém, em qualquer parte do espectro político que o tenha qualificado como tal. Pois era esse revolucionário acima de qualquer suspeita, Malatesta, que disse certa vez uma bela frase: “a democracia é uma mentira, mas toda mentira sempre acorrenta um pouco o mentiroso”.

149 - Ronan: Já vem de anos que o STF assumiu um poder legislador. Cotas raciais, caso dos anencéfalos, demarcação de terras indígenas. Era uma forma de se aprovar leis que jamais seriam aprovadas diante de um congresso conservador, com ampla bancada católica, evangélica, ruralista, da bala, da bola, enfim.

150 - Caribé: Além do mais, há muitas confusões acerca das conquistas que configuram o que é chamado de Estado de Direito. Nenhuma dessas conquistas, como os direitos humanos, foram dádivas de elites esclarecidas. Foram, ao contrário, direitos duramente conquistados se não de forma total, pelo menos parcialmente. Não acredito e nem defenderei nenhuma sociedade que abra mão destas conquistas. Elas devem ser sim colocadas em um novo contexto em que sejam ainda mais valorizadas, sejam de fato validadas.

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