PP - Textos Diversos I

 

Amanda Calabria (PP) - Amores Plurais São Possíveis:

44 - Gostaria, ainda, de deixar claro que não me atenho aos conceitos, teorias e categorizações de relações não monogâmicas comumente conhecidas, tal como “relações abertas”, “relações livres” e “poliamor”, pois temo que as conceituações com seus “acordos” estabelecidos às vezes levam mais ao engessamento as relações.

45 - Desconstrução do ideal de amor neoliberal, que é o que se “encontra nas prateleiras”, que se pauta pela lógica de completa objetificação do outro – alvo de constantes desejos nunca saciáveis de relações superficiais – e, por isso, o outro é sempre descartado e substituído por um novo fetiche ou uma nova aspiração, como uma mercadoria, usada e descartada. Desconstrução do amor burguês romântico baseado na ideia de família nuclear, essa por vez fundamentada no sentimento de posse e propriedade do outro e numa busca inalcançável e sem sucesso pela complementaridade (sempre frustrada) que condena ainda as práticas amorosas extra-conjugais.

46 - Tenho para mim que o diálogo sincero é a chave para a construção de toda relação. Não que se tenha que contar tudo ao outro, cada relação deve ter o seu “acordo” estabelecido, que não é rígido e firme. Os acordos devem ser feitos e refeitos a partir dos sentimentos e desejos que surgem entre os pares, pois estamos suscetíveis a todo momento a nos depararmos com uma nova situação e um novo sentimento. E assim, as relações vão tecendo combinados diferentes. O amor livre jamais pode ser “Sou livre e faço o que quero”; esse discurso mais se assemelha a uma perspectiva individualista neoliberal, na qual os anseios do individuo são postos em prática a todo custo, o que causa, possivelmente, dor, angústia e insegurança no outro.

47 - ... Mesmo que se tenha um companheiro fixo nem por isso se deve negligenciar o cuidado com os outros parceiros amorosos e sexuais.

48 - Tem um trecho que permite entender um pouco o que talvez seria uma razão material para que os gays tenham tendência (nm sei se têm mesmo, só acho) a ter mais interesse nas relações “livres”: Entre homens gays a “pegação” pode ter infinitas conotações / sentidos / significados, dentre eles a possibilidade de romper com dimensões da heterossexualidade compulsória ou da heteronormatividade. Historicamente as formas de se relacionar na intimidade (sexual ou afetivamente) são plurais e gostaria de entender a ligação entre permanente e provisório com a legitimidade ou a normalização do laço afetivo como única possibilidade de entender relações fugazes como não desejáveis.

 

Ana Elisa Corrêa (PP) - Dramas do Gênero:

49 - Já é uma dificuldade para uma mulher falar nos movimentos e, quando fala, ainda pode ter sua fala considerada sem importância ou secundária só pelo fato de ser mulher.

50 - Quando as mulheres percebem, em seu processo de formação militante (e há poucos espaços menos machistas que o da militância), que estão sendo excluídas e oprimidas por seus parceiros de combate, o sentimento mais puro e legítimo é uma raiva que nos toma os sentidos. Afinal, como este companheiro quer mudar o mundo e age como um machista repugnante? Como pode lutar pela humanização e contra a barbárie e reproduzir instintos patriarcais brutais? Mas aí está o risco em nos deixar levar pelo ódio de gênero, o que se contradiz diretamente com o desejo de transformar esse mundo coletivamente.

51 - Não é contra espaços exclusivos. Entende a necessidade desses. Pede, porém, cuidado com o encastelamento pós-modernista, ao que entendi. E esse abrir-se sem perder a razão revolucionária que defendo, envolve a escancaradamente necessária realização de espaços coletivos de debate e a realização de ações concretas nas lutas de defesa das mulheres que incluam homens e mulheres.

52 - Não basta se defender do machismo, coloca. Quais as iniciativas de auto-organização e luta que conseguimos estabelecer hoje, nas periferias por exemplo, para estarmos em contato com essas mulheres?

 

Anônimo (PP) - Os Desafios do Contexto:

53 - Trata da ocupação, por alunos, de escolas no RJ (56 delas) em 2016 por ocasião da greve dos professores.

54 - Em São Paulo, onde o movimento foi vitorioso, ocorria um contexto bem diferente do hoje enfrentado pelo Rio. Lá não havia movimentação prévia de professores. Também não havia quebradeira anunciada do estado. Apesar disso o governo iniciou um plano de racionalização das escolas. Sob o falso argumento de melhorar o aproveitamento do funcionamento das unidades escolares, o estado procurava mesmo era reduzir o número de escolas abertas (isso, queriam fechar escolas) e com isso fazer economias para os cofres do governo. Claro que a consequência mais imediata disto seria o aumento da lotação das salas de aula.

55 - Reclama que as escolas no RJ estavam atuando sem pauta unificada. Faltava inclusive comunicação.

56 - As escolas de um modo geral estão com uma organização do espaço físico impecável. Existem horários para alimentação, para atividades, para descanso. Existem também atividades de limpeza das escolas (maltratadas pelo governo) e não é raro descobrirem materiais abandonados e sucateados por incompetência da gestão escolar. Essa parte do trabalho das ocupações é muito importante, porque serve como matéria-prima principal que projeta a legitimidade do movimento, afinal são alunos ocupando a escola e desenvolvendo atividades nela.

57 - Coloca, porém, que não pode a educação se tornar um fim em si mesmo ou prova de autogestão de um espaço. Aqui vejo um outro problema central que deve ser enfrentado pelo movimento. É preciso conversar, divulgar, falar para deus e para o mundo de que sua causa é justa. É preciso convencer as pessoas que sua luta é importante para as escolas e para a educação do estado e do país. É preciso convencer os colegas que estão indecisos a irem para a ocupação.

58 - O Estado punitivo contra-ataca: Querem tirar as férias dessas escolas do mês de agosto (mês das olimpíadas) e iniciá-las agora no início de maio. Na época isso implicaria aulas em pleno caos olímpico. Rio 2016.


Anônimo (PP) - Por Uma Linha a Mais no Lattes:

59 - Se a aula fosse algo que engrandece não se precisaria lançar mão de subterfúgios punitivos e disciplinadores. Fazer chamada é perda de tempo burocrático, constata.

60 - Autocrítica a levar o esforço próprio às últimas consequências do produtivismo e eficiência. Sacrificando tudo pelo marxismo puro (chegou a trabalhar de graça na revisão de uma tradução ruim e ter vários problemas de saúde). Vejam, há implicações gravíssimas em se elaborar uma pesquisa e um texto sob condições tais de falta de leveza no ato laborativo cotidiano. O texto por isso certamente saiu pesado e sem poesia, para começo de conversa. E se um texto é escrito para ser lido, há de se convir que ninguém quer ler um texto pesado e sem poesia. Há inúmeros artigos que deveriam ser aceitos como teses, e inúmeras teses que não passam de amontoados de papel e tinta.

61 - Não houve pressão de orientadores.

62 - Afirma que o processo de produção de uma tese segue regras (e ritmos) bem engessadas que tiram o prazer da coisa. Chega ao ponto de concluir: O tragicômico da pós-graduação e talvez de todo o processo de ensino escolar formal talvez esteja no fato de que as qualificações, e, em especial, esta chamada doutoramento não passa de um pedaço de papel, uma linha a mais no currículo, um upgrade totalmente formal, pois sem ter passado pela provação do doutorado eu seria hoje provavelmente mais qualificado, do ponto de vista substantivo e mesmo do ponto de vista restrito do objeto que estudei, e a prova disso está em que posso dizer sem titubear que os maiores quadros militantes e teóricos que conheci até hoje não estavam nas faculdades, não são doutores e não fazem doutoramento. Sendo sincero, alguns até que estão na “Academia”, mas a maioria não, e certamente, todos estão insatisfeitos.

63 - Diz que: para a esmagadora maioria dos professores que cogitam atuar nalguma organização a militância é no máximo uma saudosa lembrança ou uma miragem.

64 - Está revoltado. A Universidade estraga os alunos, e sua estrutura está tão podre que haveria muito mais ciência sendo produzida se a Universidade se limitasse a ser um espaço público com bibliotecas e salas abertas a quem quisesse dar e tomar lições, ou melhor, a quem quisesse trocar, no sentido mais anticapitalista do termo, ou seja, no sentido da dádiva.

65 - Comentários. Um afirma que há saudosismo (não do texto) quando dizem por aí que a universidade tinha um projeto de país. Era mera discussão entre entreguistas e entusiastas da burguesia local, coisa que depois do golpe nem era mais possível.

66 - Na defesa do texto, o autor foi quase profético num ponto:  Sobre o financiamento de pesquisas ser “uma forma de contenção e acomodação desse tipo de trabalhador intelectual dentro das malhas do sistema”, a ideia é boa, inclusive está no meu texto, mas existe outra questão aqui, que é a de que esses financiamentos existem como conquista da classe. Se dependesse da ordem exclusivamente não haveria de se gastar esforços contendo a rebeldia dos intelectuais em sua produção de conhecimento crítico apropriável pelos trabalhadores. Se dependesse do sistema não haveria ensino ou pesquisa em sociologia, história, filosofia. Mas o sistema soube se ajustar a esse empecilho de ter que lidar com essas disciplinas perigosas, e é aí que entra toda a estrutura de seleção dos projetos que interessam e os que não interessam.


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