David Whitehouse (PP) - As Origens da Polícia II

 (continuação...)

171 - New York do início do Século XIX: Houve uma vigilância noturna, a fim de combater o vandalismo, prendendo qualquer pessoa negra que não pudesse provar que não era um escravo. Esta vigilância não era profissional. Todos tinham o seu trabalho durante o dia, girando neste trabalho temporariamente, por isso não patrulhavam de forma regular, e todo mundo odiava essa tarefa. Os ricos pagavam substitutos e se livravam da tarefa.

172 - As guildas eram cartéis. Concorrência ultramarina e entre cidades começa a mudar isso nos EUA: A concorrência levou os mestres a se parecerem cada vez mais com os empresários, buscando inovações que economizassem trabalho e tratando a seus trabalhadores como assalariados à sua disposição. As empresas se tornaram maiores e mais impessoais, parecidas com as fábricas, com dezenas de funcionários. Nas primeiras décadas do século XIX os trabalhadores não só estavam perdendo seus contratos de longo prazo, mas também seu alojamento nas instalações dos mestres.

173 - Parece que os irlandeses não curtiam muito as brincadeiras da população com suas tradições. Assim, antes mesmo da existência de forças policiais modernas, os legisladores estavam levando a cabo uma discriminação racial. As elites cidadãs notaram a falta de respeito dos irlandeses para com os guardas, a sua franca combatividade, e responderam aumentando o número de guardas e orientando melhor suas patrulhas. Isto foi acompanhado por um aumento da atenção da polícia para com os africanos, que viviam nas mesmas zonas e muitas vezes tiveram a mesma atitude em face das autoridades.

174 - Início do Século XIX: motins de protestos de negros, contra injustiças, resultaram em punições graves, por vezes, a seus iniciadores. Até abolicionistas brancos condenavam. Esses mesmos abolicionistas eram alvo de quebra-quebra dos motins brancos contra negros. Havia guardas participando inclusive.

175 - Uma dessas revoltas alarmou de maneira especial a elite. Ficaram conhecidas como os motins de Natal de 1828, mas de fato ocorreram no dia de Ano Novo. Uma multidão barulhenta de 4.000 jovens trabalhadores angloamericanos levou seus tambores e flautas e tomou a direção da Broadway, onde viviam os ricos. Pelo caminho, eles danificaram uma igreja africana e bateram nos membros da igreja. Os guardas prenderam muitos, mas a multidão os resgatou, colocando os guardas para correr.

176 - … Esse evento teve consequências, pois assustou os ricos: O espetáculo de uma classe trabalhadora desafiante se mostrou em sua plenitude perante as famílias que dirigiam Nova York. Os Jornais imediatamente começaram a exigir aumento na vigilância, de modo que os Motins de Natal aceleraram o estabelecimento de reformas que levaram finalmente à criação do Departamento de Polícia da Cidade de Nova York, em 1845. Não havia mais meros guardas. Comando hierárquico; salários aumentados; emprego único e vigilância 24 horas.

177 - No Sul, a coisa foi diferente e envolvia sujeição e humilhação de escravos. Os precursores da força policial de Charleston não foram os grupos de vigilantes, mas as patrulhas de escravos que operavam no campo. Metade da cidade era negra. A maioria dos escravos urbanos, no entanto, eram de propriedade de cidadãos burgueses, que os utilizavam para serviços pessoais e lhes “alugavam” aos empregadores em troca de salário.

178 - No começo, os amos encontravam os trabalhos para seus escravos e tomavam para si todo o salário. Mas rapidamente eles descobriram que era mais conveniente permitir que os escravos encontrassem o seu próprio trabalho, recebendo do escravo uma prestação pelo tempo empregado fora. Assim, alguns puderam juntar o suficiente para ter certa autonomia até. Isso gerava medo de insurreição.

179 - A organização da Guarda e Vigilância de Charleston foi se desenvolvendo com o método de tentativa e erro até constituir uma força policial moderna para a década de 1820, levando a cabo um assédio diário de negros, e sempre pronta a responder com uma rápida mobilização para o controlo das massas. Recebeu um forte impulso para a profissionalização em 1822, quando foram descobertos planos para uma insurreição coordenada de escravos. Eles esmagaram a insurreição e aumentaram sua força.

180 - As forças do Sul estavam mais militarizadas que no Norte, mesmo antes de sua profissionalização. A polícia montada foi uma exceção no norte, mas era comum no sul. E a polícia no sul carregava armas com baionetas.

181 - Diz que eram comuns as casas de trabalho e seus horrores, para onde guardas mandavam os “vagabundos”. A principal característica deste sistema era fazer com que o desemprego fosse tão desagradável e humilhante que as pessoas prefeririam aceitar trabalhos regulares com salários muito baixos, para evitá-lo.

182 -  As escolas públicas acostumam desde a infância à disciplina de trabalho capitalista; as crianças são separadas de suas famílias para executar uma série de tarefas com os outros, sob a direção de uma figura autoritária, de acordo com um programa gerido por um relógio.

183 - Esta ideologia de boa cidadania se supunha que tivesse um grande efeito nas cabeças dos alunos, convidando-os a pensar que os problemas da sociedade são o resultado das ações dos “meninos maus”. Um objetivo chave na escolarização, segundo o reformador Horace Mann, deveria ser implantar algum tipo de consciência nos alunos, de maneira que eles mesmos disciplinassem o seu próprio comportamento, sendo seus próprios policiais.

184 - Formar trabalhadores úteis e leais à causa capitalista: A atividade policial vai desta maneira para muito além do que uma mera repressão; ensina uma “ideologia” de bons e maus cidadãos que se conecta com as lições de sala de aula e da oficina.

185 - A lei é o resultado de como a sociedade funciona, não aquilo que ela deveria ser. A lei é, na verdade, uma ferramenta nas mãos daqueles que têm o poder de usá-la, para alterar o curso dos acontecimentos. As corporações são capazes de usar essa ferramenta porque podem contratar advogados caros. Políticos, promotores e policiais também podem usar a lei.

186 - A polícia controla as pessoas todos os dias sem mandado judicial, e castigam as pessoas todos os dias sem uma sentença.

187 - Conta que, na Filadélfia, antes da polícia, havia um sistema em que a própria vítima ia até magistrado, mediante pagar uma taxa, para acusar alguém, que tinha direito de falar também. Não havia intermediários. Não havia policial chantageando antes ou forçando confissões. O juiz decidia. O autor parece otimista quanto a esse tipo de justiça para o futuro não-capitalista.

188 - Os princípios da igualdade social em Paris eliminaram a necessidade de repressão e permitiram aos comunardos o experimento da abolição da força policial como força estatal separada, à margem da cidadania. As pessoas elegiam seus próprios agentes de segurança pública, escolhidos pelos eleitores e submetidos a uma substituição imediata.

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