Apoiadores... (PP) - Pedro Nascimento, Quem Conduz As Massas Por Elas Mesmas

 

                Apoiadores... (PP) - Pedro Nascimento, Quem Conduz As Massas Por Elas Mesmas:

67 - Será que se constrói uma luta autônoma com decisões repassadas ao pé do ouvido, ou através de conversas telefônicas, e nunca exposta claramente em público para todos os moradores? Por Apoiadores do Acampamento Pedro Nascimento.

68 - Ocupação: O objetivo era conseguir uma audiência com o prefeito reeleito Paulo Garcia, para cobrar a promessa eleitoral de resolução do problema habitacional daqueles trabalhadores acampados na periferia noroeste da cidade. Como era de se esperar, a audiência com o prefeito foi negada devido “à falta de espaço em sua agenda”.

69 - Um TAC no MP foi solução provisória que garantiu a desocupação.

70 - Tinha que ter “direção”. Estas instituições exigiam uma espécie de crachá, de credencial, para que os moradores fossem recebidos pelas autoridades e empresários procurados. Era uma forma de impor um tipo de organização aos moradores para que pudessem negociar com eles.

71 - Impasse: Frente à vontade expressa pelos acampados, o pequeno grupo de apoiadores acabou se dividindo sobre a situação. De um lado, os apoiadores sem vinculação partidária viam as assembleias realizadas aos sábados como instância capaz de resolver esta situação, ao designar comissões para solucionar problemas específicos. Um caso concreto positivo foi a própria realização da manifestação que havia dado certo e conseguiu levantar o fio de esperança. Mas não se opunham à formação de qualquer órgão diretivo, caso fosse vontade dos acampados. Para isso, defendíamos apenas que deveriam debater e decidir a constituição deste órgão nas assembleias que vinham acontecendo regularmente aos sábados, garantindo desta forma a ampla difusão das informações do que viesse a ser decidido, e que houvesse também um controle de base sobre este órgão representativo.

De outro lado, um grupo de pessoas ligadas ao Psol e ao Movimento Terra Livre (MTL) via a necessidade de formar uma coordenação que seria o caminho para a autonomia da luta, aproveitando a vontade e a iniciativa do grupo mais ativo de acampados que se despontou durante a organização da manifestação. A formação das lideranças e a organização de uma coordenação, segundo eles, garantiria uma posição forte e firme dos moradores dentro do acampamento, caso a Prefeitura resolvesse realmente negociar o assentamento dos acampados, no local onde estavam ou mesmo em outro lugar.

72 - Seminário de formação política teve, segundo o texto, a seguinte pregação do PSOL: No ponto de vista dos promotores do seminário, assembleias não deveriam servir para se discutir problemas do acampamento. Elas eram feitas para referendar decisões. Ou seja, eram espaços esvaziados de qualquer construção realmente coletiva, servindo apenas para a afirmação dos posicionamentos de possíveis novas elites ‘populares’, ou melhor, das novas lideranças que viessem a surgir.

73 - Apoiadores se insurgiram contra a prática de enviar ofícios à autoridades com reivindicações sem o crivo da assembleia. O PSOL teria se aproveitado de proativismo de uma militante para isso.  Após a denúncia disso, foram secreta e democraticamente expulsos meio da semana. Mais estranho foi o fato de ter sido um grupo de cerca de sete pessoas, que se identificou como “Comissão de Homens”, que nos informou da decisão. Até aquele momento nunca houve uma separação de grupos de pessoas de sexos distintos para tratar com os apoiadores. Eles agradeciam o apoio, mas o cansaço no final de semana, ou o trabalho impediam a realização regular da assembleia. Extinguiram a comissão de comunicação também. Surpresa maior foi quando afirmaram que receberam telefonema do prefeito, condicionando a continuidade das negociações à saída dos apoiadores não partidários.

74 - O apoio dos militantes partidários continuou. Seria mais eficiente ter pessoas com trânsito e contatos internos nos órgãos públicos do que ações de participação coletiva. (...) São os líderes bem preparados que garantem as conquistas das reivindicações realizadas.

75 - Tudo isso ocorreu simultaneamente ao aparecimento de desconfiança e de informações caluniosas contra cada um dos apoiadores autônomos: que estes inviabilizavam a luta, impediam negociações, não eram claros em seus propósitos políticos e nem em suas vidas pessoais, além de afirmarem que alguns deles estavam interessados apenas em notas, dentre outras desconfianças.

76 - O que ainda nos custa crer é que todo o esforço de debate, estudo e organização realizado por um número reduzido de apoiadores, quando os demais estavam em suas campanhas eleitorais, seja utilizado para a conquista de espaços dentro de partidos, ao se colar numa emergente luta por moradia, criando assim uma futura base eleitoral que os cacifará frente aos líderes partidários maiores.

77 - Será que a promessa da Prefeitura em destinar milhares de casas este ano contemplará os moradores do Acampamento Pedro Nascimento? E caso sejam contemplados, quem será beneficiado? Com as instâncias de discussão e decisão coletivas enfraquecidas, certamente seria bem mais fácil para um pequeno grupo seleto conseguir negociar as suas moradias à revelia do conjunto dos acampados.

78 - Comentários. Manolo: Por outro lado, a autonomia nas lutas não é uma panaceia a que todos acorrem. Pelo contrário, a “mão forte” é a regra, e a construção de práticas coletivistas, solidárias e igualitárias nas lutas, se não se renova diariamente e não enfrenta a tradição da “mão forte” em todos os momentos, tende a ser progressivamente esquecida. Ainda mais quando se trata de uma ocupação urbana. Porém, coloca que importa o método decisório. O como.  se estamos realmente construindo democracia, igualdade e solidariedade enquanto lutamos, ou se estamos criando um facciosismo.

79 - O “Terra Livre” e “PSOL” acusam os não-partidários de “dirigirem” sim. “Participar das assembleias é dirigir?” Não. Mas dependendo da forma como se conduz assembleias pode-se sim dirigir. O discurso bem articulado, com peso de autoridade, pode dirigir. Apontar caminhos “corretos” é dirigir. Afirmar que este ou aquele método ou forma não deixa de ser dirigir. Manolo responde, resumidamente, que isso inviabilizaria qualquer boa argumentação no processo decisório.

80 - A crítica da Jo Freeman não se aplica ao caso. Havia uma divergência sobre quais estruturas deveriam se manter e ser mais importantes, não sobre ausência ou presença de estruturas.

81 - Uma divergente, creio que do Terra Livre, faz acusações aos não-partidários: … passou uns dias dessa reunião uma campainheira me ligou chorando falando que tinha sido contestada por vocês em suas assembléia que ela juntamente com outros comp, tinham tomado a iniciativa de adiantar uns oficio sem antes passar por vocês, oficios esses que era pra reforçar uns que eles já tinham mandado mandado antes, e que nessa assembléia por essa companheira ter indo levar pelo fato dela ter transporte,ela foi repreendida por vocês que isso não tinha que ter acontecido, que o povo não tinha que aceitar seminário dentro do acampamento que nós estava querendo criar coordenação, metel o pal em nós,e quando terminou a assembleia ainda chamaram uma companheira no qual vocês tinham melhor comunicação, e ainda falaram pra ela tomar cuidado com fulana pois ela é perigosa,isso e simplesmente, absurdo o povo em meio a tanto sofrimento e vocês tentando trazer discórdia, com isso o povo acordou e viu que quem estava querendo coordenar era vocês.

82 - Resposta do Terra Livre: Como os companheiros se referiram ao Movimento Popular Terra Livre, nos sentimos no dever de responder, porque de fato as vezes em que fomos lá ou quando acompanhamos as famílias nas reuniões, foi em nome do “Terra Livre” e não do MTL, que é outro movimento. Quanto ao PSOL não vamos responder, uma vez que nunca falamos em nome do partido naquela localidade, apenas em algum momento ou outro não escondemos que éramos filiados, por uma questão de coerência, para não dizerem que estávamos nos escondendo, já que é bastante conhecida a posição anti-partidária dos companheiros. É importante frisar que o movimento não é ligado ao PSOL, há integrantes ligados a este partido e a diversas organizações.

83 - Colocam que tinha mais assembleia que assunto de assembleia. Acusam os não-partidários de rejeitarem quaisquer instâncias intermediárias, ainda que eleitas em assembleia, e com alguma autonomia. (...) Veja, vocês idealizaram um suposto curso de formação todos os sábados, e o que resultou desta formação é que vocês assumiram o controle da direção do acampamento. Dizem-se vítima de queimação e que feitiço virou contra o feiticeiro.

84 - Critica como se mandatos não devessem nada a ninguém: (...) na hora da verdade, e quando alguém é preso ou detido, correm atrás dos parlamentares da esquerda (que ainda tem vínculo com os trabalhadores) para irem ate a delegacia, para ajudar negociar a liberação ou vão atrás até dos partidos, ,sindicatos centrais sindicais, para fazer campanha financeira para pagar a fiança.

85 - Resposta dos “não-partido”: E as assembleias aos sábados foram decorrentes disso. A necessidade dos moradores de discutir os seus problemas (desde os maiores aos mais cotidianos) era tamanha que eles próprios transformaram o estudo em assembleia. 50 pessoas é um número reduzido? Certamente, mas a cada assembleia víamos um aumento qualitativo (e até quantitativo) na participação das pessoas, talvez vocês não tenham visto isso pois não participavam tão de perto assim, ou então não valorizavam este espaço coletivo.

86 - No fim, foi proposto um diálogo para resolver tudo isso.

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