Trechos e Textos sobre Educação e outros temas - Parte II
Sílvio Gallo - O Paradigma Anarquista em Educação:
93 – O mais correto seria “anarquismos”, pois não é uma doutrina.
94 – A principal crítica que fazem às escolas é mostrar que as mesmas se dedicam a reproduzir a estrutura da sociedade de exploração e dominação.
95 – Defende a liberdade como fim (invocando Bakunin) e, por isso, negando que a educação possa prescindir do princípio da autoridade, ou seja, de que seja dirigida. A liberdade não é um dado natural, mas algo a ser conquistado socialmente. Partir da autoridade para superá-la. Não sei se essa posição é majoritária ou minoritária entre os anarquistas.
96 – Não acredita na gestão democrática do ensino público eis que esta só seria permitida até o ponto de não ser um real perigo para a manutenção do poder estatal.
97 – “A proposta é que a própria sociedade organize seu sistema de ensino, à margem do Estado e sem a sua ingerência, definindo ela mesma como aplicar seus recursos e fazendo a gestão direta deles, construindo um sistema de ensino que seja o reflexo de seus interesses e desejos.” Enfim, autogestão.
(...)
157 – Página 42: O livro “De Zé Porfírio ao MST” A Luta Pela Terra em Goiás, de autoria do jornalista Sebastião de Abreu, relata a luta de resistência dos posseiros da região de Formoso, norte daquele estado, contra uma quadrilha de grileiros formada por juízes, advogados, comerciantes, fazendeiros e policiais comandantes de destacamentos. Essa história é conhecida como a guerra de Trombas e Formoso, iniciada em 1954 e termina com o massacre dos posseiros e a tomada de suas terras em 1964 com a participação dos militares. O Zé Porfírio foi um agricultor que se elegeu para deputado, e seu corpo até hoje não foi encontrado.
158 – Trecho interessantíssimo para se debater a questão agrária: “A venda de lotes foi citada em todos os debates. Falava-se das linhas aprovadas pelo MST, desde os primeiros congressos, contra a venda de lotes pelos beneficiários. As causas das desistências nas diversas regiões do país e o que o Movimento vem fazendo para que isso não aconteça. Em SP já está sendo discutido sobre a carta de concessão de uso da terra que seja expedida em nome do grupo de produção, assim evitaria uma família efetuar uma venda ou troca individualmente. O percentual de desistência também era citado, de acordo com a pesquisa feita pela USP, em novembro de 2002, encomendada pelo governo FHC. Por essa pesquisa pode-se constatar que na região amazônica, Pará e Maranhão o índice de desistência chega a 40% devido às condições de abandono a que foram submetidas as famílias assentadas, sem infraestrutura. Já no sul, nordeste e sudeste esse índice cai para apenas 5%, considerado baixo em relação à média mundial de assentamentos humanos, segundo a FAO é natural até os 15%.”
...
(...)
Francisco Noa - A Proposta da Sociopedagogia Libertária:
185 – Afirma que o anti-autoritarismo é o primeiro princípio da pedagogia anarquista/libertária. Faz, porém, uma diferenciação entre autoridade vinda de relações de poder arbitrárias (negativa) e a autoridade que vem da admiração á sabedoria (positiva). (Tenho ressalvas, mas ok)
186 – Divide as correntes (diretivas e não-diretivas). Exemplo da segunda é Tolstoi, segundo ele. Tolstoi queria que alunos fossem apenas instruídos – e não educados.
187 – Afirma que Stirner repudiava a figura do educador, que seria um primeiro preparador/domesticador para outras instituições - Igreja, partido, Estado. Defende que não se deve influenciar as eleições do indivíduo. Nega, portanto, qualquer aspecto positivo na educação. Do jeito que está no texto, parece-me um negócio meio louco. Vai ver é.
188 – Ricardo Mella Cea pregava o “neutralismo pedagógico” – educação neutra em valores e conteúdos, livre de transmissões ideológicas.
189 – Mella e o modelo de Ferrer y Guardia (mais social, e tachado de dogmático) se confrontaram no congresso da CNT em 1919.
190 – Diretivas. Para Bakunin, a liberdade é social, é conquista, é um fim e não o meio (ou seja, deixa de ser princípio). Não se pode tratá-la como algo natural. Ademais, as “diretivas” trazem a ponderação, que pra mim é estranhamente óbvia, de que as idéias da classe dominantes predominarão caso não sejam combatidas.
191 – Bakunin propõe, por exemplo, o princípio da autoridade, baseada na razão, para as crianças. Mas a idéia é ir diminuindo com o crescimento. Bakunin diz que “toda educação racional não é no fundo mais que a imolação progressiva da autoridade em benefício da liberdade”.
192 – “Em relação a educação para pessoas adultas, Bakunin acredita ser improdutivo utilizar o principio da autoridade, pois é a fonte da escravidão. Propõe, então, estabelecer escolas para o povo, ao estilo de academias populares, nas que não se saberá quem são os alunos ou os professores, já que todos poderão compartilhar suas experiências e seus conhecimentos em “uma espécie de fraternidade intelectual entre a juventude instruída e o povo”.
193 – Ferrer se empenha por uma criação de consciência sociopolítica. Criticar os mitos religiosos; apresentar a origem da desigualdade econômica e etc. (por isso que Mella o chamava de dogmático). “Deste modo, para evitar a manipulação política é necessário basear a educação sobre a ciência positiva, que ele chama de educação científica e racional. A ciência deve estar ao serviço da razão natural (o “necessidades naturais da vida”) e não da razão artificial burguesa.”
194 – Na “educação racionalista”, os prêmios e castigos perdem espaço e são substituídos por “jogos”, dos quais se espera que resulte um trabalho não-alienado na vida adulta. Tentava conjugar independência da criança com formação de futuros rebeldes. Muitos criticavam que, na prática, isso não ocorria.
195 – Na década de 60, Ivan Illich e outros defendiam a morte da escola que seria fonte de desigualdade (pois as universidades são mais caras) e de ensino de custódia e controle.
196 – Propõe unidades descentralizadas de convivialidade. Seria um mercado de habilidades para trocar informações e aprendizagens úteis para a vida. Seria não-obrigatória. Teria educadores profissionais, porém. Criaria estratégias para facilitar o encontro entre iguais, como um “centro de informações” (tipo uma biblioteca).
197 - Goodman defendia, para os menores, entre outras medidas, a conexão escolar com cooperativas economicamente deficitárias para um ensino técnico voltado ao aprendizado da autogestão.
198 - A ideia final era a “cidade educativa”. A cidade educaria as crianças. Todos os setores e adultos da sociedade teriam uma função educativa.
199 - Na conclusão, o autor observa que as pedagogias “não-diretivas” surgiram devido a um contexto ainda mais autoritário, havendo, por isso, uma resposta radical, meio que de desintoxicação. Daí a necessidade de desordem. Hoje a coisa não é tão latente, havendo “mecanismos ocultos como a ação desinformativa da mídia de massa, o currículo oculto na escola, a publicidade e o consumismo, o desemprego como disciplina social, etc”.
200 - “O valor de segurança na educação da sociedade pós-industrial (fabricado pelas indústrias do medo – militarismo, estado policial, meios de comunicação, religião, etc.-) consolida a estrutura do sistema, posto que ninguém, ou muito poucos, querem assumir o risco de experimentar algo novo e incerto, de superar o medo da liberdade, nas palavras de Erich Fromm”.
201 - Uma técnica usada na CNT era a leitura em voz alta e comentada de jornal/notícia da imprensa obreira. Lia-se e depois cada um dizia o que achava. As pessoas no mínimo iam se acostumando a falar.
202 - Conclui que as escolas, por ainda serem um ambiente menos pior de socialização de jovens e crianças, não devem ser abandonadas enquanto não se tiver espaço alternativo de socialização libertadora.
203 - Defende a pedagogia do exemplo e que não se caia no “pedagogismo” - achar que as transformações prescindem das alternativas políticas e econômicas.
Angela Maria Souza Martins - A Educação Libertária na Primeira República:
204 – A “Escola Nova” vem já no século XIX contestar o autoritarismo da pedagogia tradicional.
205 - “A primeira Escola Moderna brasileira foi criada em maio de 1912, em São Paulo, foi dirigida pelo professor João Penteado, um anarquista, admirador de Ferrer y Guardia. A Escola Moderna nº 1, de São Paulo, tornou-se um paradigma da educação libertária no Brasil”.
207 - Texto bem teórico. Às vezes com um ou outro exemplo interessante para visualizar a discussão, como este: “Segundo o periódico A Plebe de 1917, na Escola Moderna eram oferecidos três cursos: primário , médio e adiantado, no período diurno (das 11h 30m às 16h30m) e noturno (das 19h às 21h). O curso primário compunha-se das seguintes matérias: “Rudimentos de Português, Aritmética, Caligrafia e Desenho. O curso médio, de “Gramática, Aritmética, Geografia, Princípios de Ciência, Caligrafia e Desenho”. E o curso adiantado, de “Gramática, Aritmética, Geografia, Noções de Ciências Físicas e Naturais, História, Geometria, Caligrafia, Desenho, Datilografia (apud Luizetto, 1986, p.35-36).”
208 - Outra escola libertária paulista apresentava o seguinte currículo: “As materias de ensino são ministradas em três cursos especiaes, primario, medio e superior. Curso primario: portuguez, aritmetica, geografia, botanica, zoologia, caligrafia e desenho. Curso medio: portuguez, aritmetica, geografia, mineralogia, botanica, zoologia, fisica, quimica, geometria, historia universal, caligrafia, desenho. Curso superior: aritmetica, algebra, botanica, zoologia, mineralogia, fisica, quimica historia universal, geologia, astronomia, desenho, portuguez, italiano, espanhol, etc.”
...
Comentários
Postar um comentário