Apostila de Formação de 10 Anos do AJUP do SAJU Paraná
“Apostila de Formação de 10 Anos do AJUP do SAJU Paraná”:
26 – São cem páginas. É mais uma coletânea de artigos sobre temas abrangentes que algo mais prático, como procuro nessa “pasta”. Vou ver o que ler e o que pular.
27 – O primeiro texto, de Ribas, é interessante por situar o nascimento de algumas AJUPS no mundo e no Brasil. As bem diferentes instituições “americanas” – advocacia por uma causa, ... estudos críticos. A ILSA colombiana. Décadas de 60 e 70. O surgimento da AJUP carioca em 85 ou da “Acesso” gaúcha – mesmo ano. AATR em 1982. GAJOP (Recife) em 1981, etc. Terra de Direitos em Curitiba...
28 – Eu continuo tendo dificuldades para entender as diferenças práticas entre “direito alternativo”; “pluralismo jurídico” (Wolkemer/Boaventura); “direito achado na rua” (Lyra Filho; Zé Geraldo) e “direito insurgente” (Pressburger/AATR). Ainda vou aprofundar.
29 – AJUP e Objetivos. Pressburger dava a sua opinião: “a atuação junto às comunidades objetiva principalmente a formação de uma consciência quanto às possibilidades de mudanças da realidade, a partir de ações organizadas”.
30 – O segundo texto é de Diego Diehl. Sobre a classe-que-vive-do-trabalho. Menciona que o termo foi criado pra se contrapor ao de Andre Gorz, que em 1980 escreveu “Adeus ao proletariado” e aderiu ao pós-modernismo.
31 - ... É que na Europa decrescia relativamente o número de proletários “de macacão”, crescendo os técnicos especializados, programadores, afins. Ocorre que esse tipo de emprego (macacão) ia simplesmente para o “terceiro mundo”. Deslocamento das fábricas.
32 – Assim como no manifesto comunista, no texto de Diehl, os camponeses (no sentido de “donos da terra”) não estão incluídos como classe trabalhadora. A diferença é que diz que “podem e devem” ser aliados. Os assalariados rurais e os sem terra são, porém, “da classe”.
33 – Acha que a AJP tem se afastado dos conflitos trabalhistas.
34 – Não fica claro de quem é o terceiro texto, mas ele traz uma discussão interessante, não diretamente sobre AJUP (e, portanto, nem deveria estar nesta pasta), mas sobre trabalho produtivo e improdutivo em Marx, mostrando que o barbudo mesmo já chamava de “trabalhadores” figuras que não participavam diretamente da cadeia de produção da fábrica – como o pessoal que consertava as máquinas e tal. Meio que artesãos.
35 - ...Ele diz que eram “trabalhadores de nível superior”, mas numericamente pouco relevantes. Isso, hoje em dia, mudou. O próprio texto tem exemplos de “fábricas”, (IBM) nas quais os “peões” são 20 mil e os “qualificados” 400 mil. Isso diz muito sobre a nova divisão internacional do trabalho e manutenção da desigualdade entre os países.
36 – Voltando à “correta interpretação de Marx”, percebe que este define trabalho produtivo aquele que produz mais-valia ou torna rentável o capital. Ocorre que o mesmo Marx diz que o trabalhador da “circulação de capital” gera “lucro positivo” ao capitalista da esfera “circulação”. Ora, se gera lucro positivo, torna mais rentável. É o raciocínio pra mostrar que “vendedor é trabalhador”, digamos.
37 – O próprio Marx, ao distinguir operário de prestador de serviço, dá a entender que operário é todo aquele que vende não o produto de seu trabalho, mas o custo da produção de sua força de trabalho. Enfim, sua força de trabalho. Por esse conceito, que Marx usou em parte do “O Capital”, muita gente é trabalhadora.
38 – Ocorre que Marx diz que os trabalhos “improdutivos” são os “gastos da mais valia”. Nesse caso, empregados domésticos, burocratas e membros do quadro repressor, embora necessários para a exploração, não geram “lucro” algum. Eu ainda acho que isso pode ter falhas, mas prefiro ler o resto dos “O Capital” pra decidir.
39 – O que pode estar ocorrendo nos tempos atuais é a redução dos trabalhadores/operários na esfera direta da produção com o consequente aumento dos trabalhadores/operários da esfera da circulação/distribuição.
40 – Quinto texto. O quarto era “muito igreja”. Ricardo Antunes propõe o “classe-que-vive-do-trabalho” (classe trabalhadora) para incluir trabalhadores produtivos e improdutivos no mesmo bolo. Antunes, ao contrário do texto 3, inclui os trabalhadores do comércio e serviços como “improdutivos”. Poré, deixa claro que inclui trabalhadores intelectuais da fábrica no “produtivos”.
41 – Altos funcionários que detém o controle da produção e recebem elevados rendimentos estão excluídos. Também a pequena burguesia urbana e rural proprietária.
42 – Antunes colocou algo interessante. De fato, a transnacionalização do capital ocorreu de forma muito mais contundente que uma resposta internacional dos trabalhadores à mesma. Os trabalhadores continuam "nacionais". Se rolar xenofobia contra imigrante, pior ainda.
43 - Pulei o texto de Zé Dirceu. O texto seguinte traz dados impressionantes sobre pobreza e indigência na América Latina do ano 1980 a 2003. O percentual praticamente aumentou.
44 - Apesar de ser um texto com muitos dados, o que gosto bastante, não me trouxe muitas novidades não.
45 - Em 2004, os melhores países em "desigualdade" na América Latina (Uruguai... Costa Rica) eram piores que os piores países do sudeste asiático. Enfim, bizarro.
46 - É texto bom para quem acha que basta o jovem se esforçar e estudar para que possa competir com os ricos. Cita uma série de desigualdades e coisas que se retroalimentam, digamos assim. Saúde... Tudo a mesma coisa. Índice tão grande de obviedades que acho que só quem precisa ler mesmo é a direita.
47 - ...Ademais, tem um “quê” de manual de boas intenções.
48 – O penúltimo texto é de Gabriela Mancau, sobre direita e esquerda. Diz que Bobbio afirma estar a “árvore das ideologias” sempre verde. Ou seja, não tem essa de “não existe mais direita e esquerda”. Outra frase atribuída a Bobbio é muito boa: “entre o banco e o preto pode existir o cinza. Mas o cinza não elimina a diferença entre o preto e o branco”.
49 – O último texto, novamente Antunes, novamente sobre trabalho. Entrevista.
50 – Tem a obviedade de que os recursos para salvar as empresas “da crise de 2008* viram dívida pública, que se converte em arrocho fiscal. Ou seja, quem paga?
51 – Fala muito sobre o quadro europeu. O alto desemprego entre os jovens que se veem futuramente precarizados na melhor das hipóteses. Trata da lamentável polícia inglesa. “É uma polícia virulenta e, como disse o Tarik Ali recentemente, seria importante contabilizar quantos negros morreram após serem presos, no caminho do carro da polícia até a delegacia.”
52 – Tem um parágrafo interessante sobre as crises no mundo e respostas “extremas” a elas. A impressão é que o bicho pega mais que aqui: “Por tudo isso, a China tem hoje as mais altas taxas de greve do mundo. O país sequer tinha uma legislação social protetora do trabalho. Quando o PC chinês abriu o país para a exploração do capital privado transnacional, aí que vieram mesmo pra esfolar a pele, o couro e a alma do trabalhador chinês. Depois, imagine uma dessas transnacionais escalpelando o trabalhador chinês, chegando e falando: “Olhem, vou fechar a fábrica, porque a crise me obriga”. As rebeliões aumentaram. Na época, a internet até mostrou uma assembléia de trabalhadores chineses em que, no desespero, um operário decapitou o gestor que anunciara o fechamento da fábrica. Na França, há dois, três anos, tivemos as chamadas greves selvagens, em que os sindicatos fechavam as fábricas com os gestores dentro e exigiam novas negociações.”
53 – Gostei das perguntas simples que ele lançou e que dão um bom pano pra manga pra discussões numa relação mais próxima: “E ao lutar pela redução da jornada de trabalho, você começa a se perguntar: ‘quem controla meu tempo de vida, no trabalho e fora dele?’. Depois: “produzir o que e para quem?”.
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