Larissa Resende e João P. Romero - Estrutura produtiva e crescimento: Uma análise comparativa de Brasil, Austrália e Canadá I
Larissa Resende e João P. Romero - Estrutura produtiva e crescimento: Uma análise comparativa de Brasil, Austrália e Canadá
1 - Baseia-se nos índices de complexidade de Cesar Hidalgo e Ricardo Hausmann.
2 - O mecanismo da riqueza: Nesse sentido, a habilidade em fazer com que as diferentes capacidades existentes interajam define a complexidade da estrutura produtiva. De acordo com Hidalgo e Hausmann (2011, p. 20), “o jogador pode utilizar as letras R, A e C para escrever ‘car’ ou ‘arc’”. Nessa analogia, cada produto é uma palavra e cada letra uma capacidade”. Em suma, quanto mais capacidades (letras) o país tiver, maior número de combinações – ou seja, produtos (palavras) – ele tem potencial de produzir. (...) Consequentemente, associando o número de produtos com VCR do país (diversificação) e o número de outros países capazes de produzir esse mesmo bem com VCR (ubiquidade), é possível estabelecer níveis de complexidade para cada produto e país.
3 - Em 2009, produtos primários e manufaturados baseados em produtos primários tiveram participação de 79% nas exportações da Austrália, 62% no Brasil e 46% no Canadá. Todos os três países têm níveis de complexidade muito baixos, ocupando a posição 82 (Austrália), 54 (Brasil) e 39 (Canadá) no ranking da complexidade econômica.
4 - Entretanto, verifica-se na periferia baixa capacidade de investimentos. Por um lado, isso se explica pela pouca busca de investimentos, em parte fruto do elevado gasto de consumo das elites (FURTADO, 1961), em parte fruto da baixa habilidade de investir dos empresários da periferia (HIRSCHMAN, 1958), aliada ainda à elevada necessidade de capital.
5 - Dificuldades permanentes na balança de pagamentos em razão da necessidade de modernização do setor produtivo: De acordo com Prebisch (2000), assim como Thirlwall (1979), isso ocorre devido à maior elasticidade-renda das importações da periferia em relação à elasticidade-renda das suas exportações. (...) Essa tendência ao desequilíbrio externo, parcialmente superada em períodos de elevada liquidez internacional, implica a necessidade de redução do ritmo de crescimento em momentos de baixa liquidez, de forma a reequilibrar as contas externas.
6 - (Parênteses para um texto que acabei pesquisando aqui por fora deste. É sobre produtividade do capital. Decrescente em Japão, Coréia, Itália e Espanha, as quais precisam aumentar taxas de investimentos já mais altas que a dos EUA, para obter produto por vezes até inferior ao dos "americanos". Razoavelmente crescente nos EUA, Reino Unido, Austrália e até um pouco na França. No Brasil, vinha caindo, mesmo sendo esperado o contrário para um país em desenvolvimento, e ficou estancada desde os anos 90. Comenta-se em pleno 2011: "A falta de planejamento urbano acarreta maiores investimentos a posteriori ou mesmo investimentos desperdiçados como as construções prediais em favelas que mais tarde terão que ser refeitas ou reinstaladas. ... O Brasil só conseguiu crescer nos últimos anos porque interrompeu o ciclo de queda na produtividade de capital. (...) Uma das razões para a baixa produtividade de capital no Brasil é a opção “commodista”, que foi anteriormente assinalada (Revista Economia e Energia № 67). A solução para o desenvolvimento seria buscar um mix de incremento na taxa de investimentos e melhoria na produtividade de capital. O Brasil tem uma oportunidade magnífica nos próximos anos que encerra, no entanto, desafios importantes. Com efeito, o petróleo, não obstante ser intensivo em investimentos, apresenta, mesmo nos atuais preços de petróleo já reduzidos pela crise, alta produtividade de capital. Este esforço pode ser perdido tanto na hipótese da opção pelo menor investimento comprando os equipamentos no exterior como na hipótese de gastos excessivos na indústria nacional, que acabariam tendo por efeito a redução da produtividade de capital. Deve-se ainda considerar o retardo que naturalmente existe na indústria de petróleo e energética em geral (é mais grave na geração hidrelétrica) entre o investimento e sua contribuição para a produção. Um programa de produtividade de capital ou, melhor ainda, de produtividade geral dos fatores é condição essencial para, ao mesmo tempo, aproveitar as oportunidades do pré-sal e aquela que existe nessa como em todas as crises.")
7 - Primarização: Conforme argumenta Gala (2015), países periféricos especializados na produção de bens primários enfrentam os efeitos de se comercializar em um mercado de concorrência próxima da perfeita, ou seja, baixos preços e lucros comprimidos. Já a especialização produtiva em bens tecnológicos situa-se em um mercado de concorrência imperfeita, o que permite maior margem de lucro.
8 - Hidalgo et al. (2007) usaram a definição de Vantagens Comparativas Reveladas (VCR), elaborada por Balassa (1965). Segundo essa abordagem, um país tem VCR num dado produto quando a razão entre a quantidade total exportada desse produto sobre a quantidade total de bens exportados é maior que a razão do produto exportado no mundo sobre o total de exportações mundiais de todos os bens. (...) A ideia se baseia na suposição de que, se um país exporta determinado bem, mas em baixa proporção em relação ao total de exportações, então sua competitividade (via preço ou via qualidade) é inferior à dos competidores.
9 - Cada produto exportado implica uma necessidade de capacidades e conhecimentos em relação ao mesmo. A partir dessa afirmação, Hidalgo et al. (2007) propõem uma medida da distância entre os produtos, que leva em conta as capacidades requeridas para a produção do bem. Quanto maior a probabilidade de coexportação de dois bens, maior sua proximidade, ou seja, mais semelhantes devem ser as capacidades produtivas requeridas para produzir esses bens. E a partir daí, dessas proximidades e coexportações, ele cria um mapa (uma rede, "Product Space") de todos os produtos. Dessa forma, bens com maior probabilidade condicional de exportação (capacidades semelhantes) se posicionam mais próximos, e bens com menor probabilidade condicional de exportação (capacidades menos semelhantes) se encontram mais distantes.
10 - A quantidade de conexões que cada produto possui representa as capacidades requeridas para sua produção. Assim, quanto mais conexões, maior a sofisticação do produto. Isso implica que o desenvolvimento e crescimento econômico de países, cuja produção gira em torno de produtos pouco complexos, sejam mais lentos que nos países que exportam bens complexos com VCR. Uma vez que bens pouco sofisticados são produzidos utilizando menos capacidades, as chances de um país com poucas capacidades conseguir produzir outros bens e diversificar sua estrutura produtiva é mais reduzida. Observando o Product Space, elaborado por Hidalgo et al. (2007), é fácil explicar essa ideia. Conforme observado na Figura 1, produtos localizados longe do centro do espaço normalmente possuem quantidade menor de conexões com seus arredores (menos capacidades), o que explica a dificuldade de países produtores desses bens em conseguir alcançar a elaboração de produtos mais complexos e diversificar sua produção:
11 - Assim, produtos mais complexos costumam ficar ao centro e os mais "primários" nas periferias (que ironia...).
12 - Bens complexos costumam apresentar baixa ubiquidade, posto que exigem muitas capacidades e conhecimentos (algo que só se consegue com uma estrutura diversificada). (...) Contudo, deve-se ficar atento ao fato de que alguns produtos, apesar de raros, não são complexos, como o ouro e o diamante.
13 - Portanto, para calcular a complexidade dos produtos (ICP) e dos países (ICE), juntam-se os conceitos de ubiquidade e diversidade por meio de sucessivas iterações. (...) Segundo Hidalgo e Hausmann (2011), a complexidade econômica é responsável por 12,1% na taxa de crescimento econômico, enquanto que as variáveis de educação influenciam apenas em 2,6%.
14 - Pautas dos países do artigo (1963 a 2009):
15 - Após analisar outras figuras (agora sobre a diversidade), conclui sobre o Brasil: "Nesta figura, observa-se, novamente, a considerável mudança da estrutura das exportações brasileiras até a década de 1990. Iniciando-se com poucas indústrias competitivas nos setores de baixa, média e alta tecnologia, a economia brasileira passa a ter estrutura muito semelhante à canadense em 1990, com cerca de 30 indústrias competitivas de produtos primários, 60 de manufaturas baseadas em produtos primários, 35 de baixa tecnologia, 30 de média tecnologia e 3 de alta tecnologia." (...) Vale notar, ainda, que, a partir de 1995, Brasil e Canadá permanecem com um total de indústrias competitivas em torno de 160, enquanto na Austrália o número de indústrias competitivas permanece em torno de 140. (Ok, mas aí a gente vai ver a população total de cada país e vê porque eles são ricos e o Brasil pobre)
(continua...)
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