Karl Marx - Glosas marginais ao Manual de economia política de Adolph Wagner
Karl Marx - Glosas marginais ao Manual de economia política de Adolph Wagner (1882)
1 - Começa irritado que Wagner queria justificar a pilhagem dos povos como algo normal da época histórica, afinal, todo mundo era "pirata". "Juízo ético está exposto a mudança histórica", diz após enaltecer o "impulso da satisfação".
2 - As patadas dele são engraçadas: Segundo o sr. Wagner a teoria do valor de Marx é "a pedra angular de seu sistema socialista" (p. 45). Uma vez que eu nunca erigi um "sistema socialista", isso é uma fantasia de Wagner.
3 - Corrige as confusões de Wagner: "Em nenhum lugar eu falo da "substância social comum do valor de troca", mas sim que valores de troca (não existe valor de troca sem ao menos dois deles) representam algo a eles comum, algo totalmente independente "de seus valores de uso" {i.e., aqui, sua forma natural}, a saber, o "valor". (...) A continuação da investigação nos levará de volta ao valor de troca como o modo de expressão ou forma de aparição (Erscheinungsform) necessária do valor, mas este tem de ser, por ora, considerado independentemente dessa forma
4 - Quando o sr. Wagner diz que isso não é "nenhuma teoria geral do valor", então, em seu sentido, ele tem plena razão, pois entende por teoria do valor o falatório delirante acerca da palavra "valor", o que também o habilita a permanecer na tradicional confusão professoral alemã entre "valor de uso" e "valor", já que ambas têm em comum a palavra "valor".
5 - Eu adverti para o fato de que valor e preços de produção (que exprimem apenas em dinheiro os custos de produção) não coincidem.
6 - Vou pular algumas partes engraçadas porque tem alguns argumentos de Wagner tão toscos que não vale a pena anotar.
7 - Marx diz que qualquer falsificador de mercadoria sabe que o valor de troca - algo que é o que ele, falsificador, visa e que já está formado - é diferente do valor.
8 - Marx e os choques de oferta (colheita ruim, mais especificamente): quando o preço do grão sobe numa má colheita, o que sobe primeiro é seu valor, pois uma dada massa de trabalho é convertida em menos produto; no mais, seu preço de venda sobe ainda bem mais. O que isso tem que ver com minha teoria do valor? Quanto mais, no caso, o grão for vendido acima de seu valor, tanto mais, justamente, as outras mercadorias, seja na forma natural ou na forma dinheiro, serão vendidas abaixo de seu valor, e isso ainda no caso em que seu próprio preço em dinheiro não cai. A soma de valor permanece a mesma, mesmo se a expressão em dinheiro dessa soma de valor total tenha crescido, ou seja, segundo o sr. Wagner, tenha aumentado a soma do "valor de troca". É esse o caso se assumirmos que a queda do preço na soma das outras mercadorias não coincide com o preço acima do valor (excedente de preço) do grão. Mas nesse caso o valor de troca do dinheiro caiu pro tanto abaixo de seu valor; a soma de valor de todas as mercadorias não apenas permanece a mesma, mas permanece a mesma inclusive em sua expressão monetária, se contamos o dinheiro como uma mercadoria entre as outras.
9 - Do conceito de valor é que devem ser deduzidos, d'abord, o valor de uso e o valor de troca do sr. Wagner, e não, como no meu caso, da mercadoria enquanto algo concreto, e é interessante perseguir esse escolasticismo em seus mais novos "fundamentos".
10 - Os homens descobrindo, na história, que as coisas são externas (critica que Wagner coloca isso como se fosse desde o primeiro projeto de homem e não fruto de um processo de muita repetição, hábito, que gera ao fim alguma reflexão bem parcial que vai evoluindo): "eles as chamam talvez de "bens" ou do que quer que exprima que eles empregam essas coisas num sentido prático, que essas coisas lhes são úteis, e dão à coisa esse caráter de utilidade como algo que ela possui, apesar de que ser comida para o homem dificilmente pareceria a uma ovelha uma de suas propriedades "úteis"."
11 - ... Critica que a partir disso, Wagner passe a chamar de "valor" a mera satisfação dessa "carência". É "a aspiração natural" de um professor de economia alemão deduzir de um "conceito" a categoria econômica "valor", e ele só o consegue rebatizando, "segundo o uso da língua alemã", como "valor" pura e simplesmente aquilo que, na economia política, é chamado comumente de "valor de uso". E tão logo o "valor" pura e simplesmente é encontrado, ele serve, novamente e por outro lado, para deduzir o "valor de uso" a partir do "valor pura e simplesmente". Para isso, basta pôr novamente o fragmento "de uso", que havia sido deixado de lado, depois do "valor" pura e simplesmente.
12 - Não queremos desperdiçar nenhuma palavra sobre o fato de que o sr. Wagner deduz o valor da avaliação (ele mesmo adiciona entre parênteses "avaliação" à palavra estimação, a fim de trazer a questão "à clara consciência e compreensão"). "O homem" tem a "aspiração natural" de fazer isso, de "estimar" os bens como "valores", e permite assim ao sr. Wagner deduzir a sua prometida operação do "conceito do valor em geral".
13 - Coloca que, da mesma conceituação arbitrária de tudo, Wagner poderia dizer até que este homem que estima tudo já está criando a categoria "preço", como se ele fosse um professor de economia alemão. Ou então poderia chamar de "tesouro!", já que o homem a estima. Avalia. É tudo tesouro então!, brinca Marx.
14 - Coloca que Wagner diz que Rodbertus já tinha conversado com ele sobre valor ser uma coisa só: valor-de-uso.
15 - Marx coloca que jamais deixou de afastar o valor-de-uso da análise científica. Apenas não o confunde com o valor. Também o valor de troca não se confunde com o valor. De prime abord, não parto de "conceitos", portanto, tampouco do "conceito de valor", e por isso de modo algum tenho de "dividi-lo". Parto da forma social mais simples em que o produto do trabalho se apresenta na sociedade atual, e essa é a "mercadoria". Analiso a mercadoria, e de pronto na forma como ela aparece. Aqui encontro então o fato de que ela, por um lado, é, em sua forma natural, uma coisa de uso, aliás valor de uso; por outro lado, ela é portadora de valor de troca, e sob este ponto de vista, é ela mesma "valor de troca". A análise ulterior da última me mostra que o valor de troca é apenas uma "forma de aparição", um modo de apresentação autônomo do valor contido na mercadoria, e assim parto para a análise deste último, o valor. Consta lá, então, explicitamente: "Quando, no começo deste capítulo, dizíamos, como quem expressa um lugar-comum, que a mercadoria é valor de uso e valor de troca, isso estava, para ser exato, errado. A mercadoria é valor de uso ou objeto de uso e ‘valor’. Ela se apresenta em seu ser duplo na medida em que seu valor possui uma forma de aparição própria, distinta de sua forma natural, a saber, a forma do valor de troca". (...) para mim o "valor" de uma mercadoria não é nem o seu valor de uso nem o seu valor de troca.
15 - Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho humano sem ser mercadoria. Quem, por meio de seu produto, satisfaz sua própria carência cria certamente valor de uso, mas não mercadoria.
16 - Coloca Marx que, do caráter duplo da mercadoria, ele (Marx) já avança para a duplicidade do trabalho: útil (concreto e criador de valor de uso) e trabalho abstrato.
17 - Wagner "não percebeu, também, que no desenvolvimento da forma-valor da mercadoria, em última instância de sua forma dinheiro, portanto, do dinheiro, o valor de uma mercadoria se apresenta no valor de uso da outra, ou seja, na forma natural da outra mercadoria; não percebeu, ainda, que o mais-valor é ele mesmo derivado de um valor de uso "específico" da força de trabalho e exclusivamente correspondente a ela etc. etc., que, portanto, o valor de uso desempenha, para mim, um papel importante e completamente distinto do da economia...".
18 - As partes sobre a etimologia da palavra "valor" são um pé no saco, mas fazem sentido.
19 - O resto são anotações meio caóticas.
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