Carlos Feu Alvim - Produtividade do Capital: uma Limitação a mais ao Crescimento Brasileiro
Produtividade do Capital: uma Limitação a mais ao Crescimento Brasileiro
1 - Já começa barril: A preços internacionais, segundo Aumara Feu (2003), a produtividade do capital no Brasil, no fim da década de 90, era 8% inferior a dos países desenvolvidos que compõem a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - A produtividade do capital era de 0,39 e 0,36, respectivamente, na OCDE e no Brasil.
2 - Pelo modelo de Solow: se o Brasil, comparativamente aos países desenvolvidos, é um país com escassez relativa do fator capital seria de se esperar uma produtividade do capital maior neste país. É por isso que autores como Barro esperavam convergência inclusive.
3 - Segundo o modelo de Solow, com função Cobb-Douglas, a participação de cada fator no produto é constante ao longo do tempo. Portanto, segundo o modelo, as produtividades do trabalho (Y/L) e do capital (Y/K) se adequam de tal maneira que quando uma aumenta a outra é reduzida. Representação gráfico disso:
4 - Coloca que as funções se alteram se tecnologias são continuamente introduzidas:
5 - Segundo o modelo, à medida que a economia se aproxima do equilíbrio, a variação na produtividade do capital tende a zero e o crescimento do produto per capita se iguala ao crescimento tecnológico. Cabe observar que quanto maior o crescimento tecnológico menor a queda na produtividade do capital necessária para se atingir determinado nível de renda por trabalhador. A Figura 3 mostra a evolução da produtividade de capital em função da produtividade do trabalho para o Brasil, OCDE como um todo e para alguns de seus países membro. Como, geralmente, a renda por trabalhador dos países se eleva com o tempo a evolução temporal é representada pelo comportamento das curvas da direita para a esquerda.
(OBS: Também, devido a disponibilidade de dados, utilizou-se a taxa de investimento a preços correntes e o produto a preços constantes. Com isto não se está considerando a diferença na variação do preço do investimento e do produto ao longo do tempo. Segundo Aumara Feu (2003), esta forma de cálculo não altera a tendência verificada da série.)
6 - Muitos dos países da OCDE analisados, dada a disponibilidade de dados, já se encontram em estágio de desenvolvimento onde o processo de substituição de trabalho por capital parece ter se completado, sendo o crescimento da renda por trabalhador atribuído à variação da tecnologia. (...) Pode-se observar, na Figura 5, que Coréia do Sul, Japão e Itália seguem trajetória bastante semelhante às previsões do modelo de Solow sem crescimento de tecnológico.
7 - É interessante observar que, segundo a contabilidade do crescimento no modelo de Solow, com tecnologia Harrod-Neutra, apenas o avanço tecnológico negativo justificaria o comportamento da curva observado para o Brasil. (...) Esta constatação poderia ser explicada pela incorporação de tecnologia em um país periférico sem a correspondente qualificação da mão de obra existente. Ou seja, a nova tecnologia aumentaria o capital necessário para gerar uma unidade de produto, sem a correspondente queda na quantidade de trabalho necessária para gerar este produto. Em conseqüência, o resíduo de Solow, ou seja, a produtividade total dos fatores, teria que ser negativa para se adequar à contabilidade do crescimento.
8 - Furtado e os modelos de crescimentos relacionados ao perfil da demanda (interno ou induzido de fora): "Nas economias do centro as transformações têm lugar simultaneamente nas estruturas econômicas e na organização social: a pressão social faz a remuneração do trabalho acompanhar a elevação da produtividade física desse trabalho, à medida que esta se traduz em aumento de renda média da coletividade. O aumento da remuneração do trabalhador modifica o perfil da demanda - e por esse maio a alocação dos recursos produtivos - e condiciona a destinação do excedente - e por essa forma a orientação do progresso técnico. (...) Na economia periférica as modificações do sistema produtivo são induzidas do exterior. Pelo fato mesmo de que essas modificações se limitam - na fase formativa que estamos considerando - a uma reordenação no uso de recursos já disponíveis, seu impacto na estrutura social é reduzido ou nulo." Ou seja, as máquinas e novas práticas importadas, feitas para uma mão-de-obra altamente qualificada lá, não tinha a mesma produtividade aqui. É como se alguém desse a Mercedes de Hamilton para Hiro Matsushita pilotar.
9 - A respeito, segundo Acemoglu e Zibotti (2001), até mesmo quando todos os países têm o acesso igual às novas tecnologias, a má combinação entre tecnologia e habilidade pode conduzir às diferenças consideráveis na produtividade total dos fatores e na produtividade do trabalhador. De acordo com esses autores, a má combinação entre tecnologia e habilidades da força de trabalho pode esclarecer parte significativa das diferenças de produtividade do trabalhador observada.
10 - Modelo chileno: "O Chile fez uma clara opção de especializar-se em atividades em que dispõe de condições para competir internacionalmente. ... se especializou em produtos agrícolas e agroindustriais, aproveitando sua porta para o Pacífico. ... Foi o governo militar chileno que criou, em 1976, a empresa estatal CODELCO. Esta é a maior empresa chilena, tendo consolidado a nacionalização do cobre, decretada no governo Allende (derrubado pelos militares). ... Em 2002 e 2003, esse produto correspondia a cerca de 35% das exportações do Chile.
11 - Texto de 2004: "Apesar de todas as castas e de seus renegados “intocáveis”, a Índia tem melhor distribuição de renda que o Brasil, respectivamente 35o e 3o pior do mundo, de acordo com http://www.nationmaster.com."
12 - Uma característica interessante da economia sul coreana é que suas grandes empresas são de capital predominantemente nacional, com marcas próprias conhecidas em nível mundial. Isto pode ter facilitado uma escolha mais racional no uso dos meios de produção. É interessante notar que a Coréia dirigiu seus esforços, na década de sessenta, à política de exportação de setores intensivos em mão de obra. A partir de 1970, a ênfase passou para produtos químicos, automóveis e eletrodomésticos. O setor de manufaturas, que inclui as duas últimas categorias, é um setor onde a razão capital / produto é 31% inferior à do total da economia nos países da OCDE. Esta realocação de recursos para setores menos intensivos em capital poderia, portanto, explicar como a Coréia evitou a prematura queda na produtividade do capital observada em outros países em desenvolvimento
13 - Interessante verificar com andaram as produtividades da Coréia de 2000 para frente. Se foi corrigida a questão. Se a tecnologia agora cumpre algum fator de progresso. Não sei quando eles aumentaram o investimento em P & D por exemplo, mas hoje, salvo engano, é alto. Só sei que a produtividade do trabalho ainda é metade da de uma Noruega da vida ou 60% da dos EUA ou Alemanha.
14 - Portanto, um país com pequeno nível da produtividade do capital e do trabalho se encontra em uma armadilha da pobreza, necessitando de grande dotação de ambos os fatores para gerar uma variação positiva no produto per capita. Observou-se, no entanto, que o Chile, que passou por situação semelhante, conseguiu reverter este quadro. A Coréia, por outro lado, manteve-se durante quatro décadas alocando equilibradamente os insumos capital e trabalho o que explica, em parte, seu crescimento acelerado.
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