Textos aleatórios de Economia e sociedade dos últimos meses I
Textos aleatórios de Economia dos últimos meses
Consiste numa coletânea de textos curtos que fui juntando nos últimos meses para ler e fichar.
Fernando Ferreira - A recessão global já terminou?
1 - Diz que nunca antes tantos economistas quiserem prever uma recessão. Cita uma porcentagem até.
2 - ...Entretanto, alguns fatores no início desse ano de 2023 estariam mudando o jogo de modo a tornar "apostável" a hipótese do "soft landing": a) Maior resiliência da economia global, comprovada por dados econômicos recentes que mostram força do mercado de trabalho e consumidor nos EUA e na Europa; b) A reabertura da economia chinesa, que deve impulsionar não só a China, mas também vários países dependentes da economia chinesa (Alemanha, Brasil, entre outros); c) Arrefecimento da inflação. Os últimos dados de inflação publicados nos EUA vieram melhores que o esperado, e o presidente do Fed, Jerome Powell, já sinalizou que poderá mudar a postura, caso essa desinflação continue; d) Melhora no balanço de oferta e demanda de energia, o que levou a uma queda expressiva dos preços de gás natural na Europa, e mantém o preço do petróleo abaixo dos US$90/barril.
3 - Diz, porém, que ainda é cedo para cantar vitória.
Maurício Weiss - Keynes
4 - Fio de twitter. Uma lista que achei interessante resumindo os aspectos listados por Keynes em seu livro, objetivos e subjetivos, que afetam o consumo/poupança.
5 - Objetivos: a) Uma variação na unidade de salário; b) uma variação entre renda e renda líquida; c) variações imprevistas nos valores de capital; d) variação intertemporal da taxa de desconto (efeito juros é incerto, mais importante é o efeito sobre o preço do ativo); e) variações na política fiscal (expectativa e distribuição de renda); f) modificações nas expectativas quanto a variação na renda presente e futura.
6 - Subjetivos: a) Construir uma reserva para incertezas futuras; b) preparar-se para novas demandas de padrão de consumo (velhice/educação dos filhos etc); c) beneficiar-se dos juros; d) gasto progressivamente crescente (percepção, pois a capacidade de usufruir pode diminuir); e) sensação de independência; f) garantir recursos para realizar projetos especulativos ou econômicos; g) legar uma fortuna; h) satisfazer a pura avareza.
Sérgio Gobetti - Os desafios da política fiscal e o impacto do petróleo
7 - No blog do IBRE/FGV. Constata que o setor petrolífero foi responsável por 83% da alta da receita primária de 2022 acima da média histórica. (...) Já comparado a 2021, 68% do aumento de receita em proporção do PIB se deve ao setor petrolífero.
8 - ...Em 2022, a receita primária da União está crescendo 2,0 pontos porcentuais do PIB em relação a 2021 e 2,1 pontos porcentuais acima da média histórica (duas décadas). Trata-se de um crescimento surpreendente, ainda mais considerando que o governo não adotou nenhuma medida discricionária de aumento de arrecadação – muito pelo contrário: tivemos significativas desonerações no IPI e no PIS/Cofins em 2022, com impacto anualizado da ordem de 0,8% do PIB.
9 - ...Antes que alguém venha conjecturar que o ganho extraordinário de arrecadação possa ter relação com a famosa curva de Lafer, um alerta: não há quaisquer evidências de que redução de impostos, sobretudo sobre bens de consumo inelásticos, produzam um efeito multiplicador significativo, ainda mais da magnitude que estamos tratando.
10 - ...As receitas associadas à renda do setor petrolífero, que inclui desde os royalties do petróleo até a parte do lucro absorvida pelo governo sob a forma de impostos ou dividendos da Petrobras, está batendo recorde absoluto em 2022, devendo atingir a cifra de 2,75% do PIB ante 1,35% do PIB em 2021 e uma média histórica de 0,93% do PIB.
11 - ...Parte disso vem de um crescimento natural da produção petrolífera brasileira, ao que entendi, depois de tantos anos de investimentos. A produção de petróleo cresceu em média 4% ao ano na última década, ante apenas 0,5% ao ano de expansão do nosso PIB. (...) Se nossa economia tivesse crescido ao ritmo da produção petrolífera, a relação entre a receita do setor petrolífero e nosso PIB estaria em 1,96% do PIB; cerca de 0,8 pontos porcentuais do PIB mais baixa do que hoje, mas ainda assim 1 ponto porcentual do PIB acima da média histórica.
12 - ...Para se ter uma ideia do peso do preço internacional do petróleo sobre o comportamento da receita recorrente, nosso modelo de simulação mostra que, se o preço do petróleo tivesse se mantido em US$ 71 em 2022, o governo teria arrecadado do setor petrolífero 1,53% do PIB em vez de 2,75% do PIB; ou seja, a receita primária teria sido 1,2 pontos porcentuais do PIB menor do que está sendo e muito próxima da observada em 2021 (excluindo não-recorrentes).
13 - O texto inteiro explica várias coisas: O que explica que um aumento de aproximadamente 43% no preço internacional do petróleo tenha um efeito quase duas vezes maior sobre a arrecadação em proporção do PIB é o fato de estamos tratando de participações governamentais sobre a renda petrolífera que predominantemente incidem sobre o lucro ou sobre agregados de receita líquida de custos de produção. (...) Como esses custos tendem a ser invariantes a mudanças no preço do petróleo no curto prazo, a receita do governo sobre o valor bruto de produção cresce mais do que proporcionalmente ao próprio preço do petróleo. Nas condições atuais dos regimes de concessão e partilha vigentes no Brasil, estimamos que a participação do governo sobre a receita do petróleo cresce de 25 dólares por barril quando o Brent é cotado US$ 70 para 44 dólares por barril quando o preço sobe para US$ 100. (...) Ou seja, a participação do governo sobe de 35% para 44% quando o preço do petróleo cresce 30 dólares. E esse porcentual apropriado pelo governo tende a crescer na próxima década com o aumento da produção sob partilha e queda ou estabilização da produção sob concessão, visto que o government-take da partilha é maior e pode chegar a 55% com o Brent cotado a US$ 100.
14 - No curto prazo, falando dos riscos inicialmente mencionados para a política fiscal, a manutenção do petróleo em um patamar em torno de 80 dólares, por exemplo, implicaria uma queda nas receitas primárias da ordem de 0,7% do PIB. Essa queda seria compensada no longo prazo com o aumento da produção de petróleo sob o regime de partilha, que poderia elevar as receitas petrolíferas para 3,3% do PIB entre 2029 e 2030 no cenário H_3 da tabela abaixo.
15 - Limites da reforma tributária, que dificilmente trará ajuste fiscal pela parte dos impostos: Um exemplo da ilusão com o potencial arrecadatório da reforma tributária pode ser dado a partir do caso da tributação de dividendos. Como essa medida deve ser acompanhada da redução simultânea do imposto de renda das empresas (impositivo da competitividade internacional), não se deve esperar ganho expressivo de receita, ainda mais considerando que a nova tributação só se aplicará sobre dividendos distribuídos e é de se esperar que, em maior ou menor grau, as empresas reduzam a distribuição de dividendos como resposta ao retorno da tributação sobre eles.
Os desafios da política fiscal e o impacto do petróleo | Blog do IBRE (fgv.br)
Naercio - Brasil e salário mínimo
16 - Twitter. Um paper - Chris Moser, @economoser - constatou o seguinte: Artigo publicado este mês na American Economic Review mostra que os aumentos no salário mínimo explicam 45% da grande redução na desigualdade que houve no Brasil, e não tiveram efeitos sobre o desemprego nem sobre a produção. Os trabalhadores foram simplesmente realocados a firmais mais produtivas.
17 - ...Nos comentários, "retruca-se" uma possível razão para tanto, baseada em fatos reais: Mas é bom considerar q o SM como percentual do salário médio era muito baixo na década de 1990 e, por isso, havia espaço para reajustes. Além disso, houve aumento da escolaridade o q justificou o aumento do SM. Por esses fatores não teve impacto no desemprego.
Augusto de Franco - Pobreza
18 - Neste fio, Augusto de Franco, liberal e ex-petista, apresenta as redes sociais como responsáveis pela manutenção ou superação da pobreza (queria eu que fosse tão simples, mas há algumas reflexões que podem ser úteis): ...E isso, tanto em termos individuais (de cada pessoa) e coletivos (dos clusters de pobres que se formam – porque a pobreza clusteriza – transmitindo intergeracionalmente a pobreza: o filho do pobre terá amigos pobres e, assim, mais condições de continuar pobre). É como se a pessoa vivesse em tempos mais atrasados, segundo entendi. "O lugar onde estamos pode indicar também o tempo em que vivemos." Ou trechos como: ...Como a pobreza é uma defasagem temporal e o tempo corre mais depressa quando a interatividade aumenta, trata-se, fundamentalmente, de possibilitar que a fenomenologia da interação se manifeste com mais frequência.
19 - Conectividade seria essencial: Esses pesquisadores encontraram evidências de que o PIB per capita está positivamente correlacionado com o IP per capita. (...) Eles estimam que um aumento de 10% no IP per capita corresponde a um aumento de 0,8% no PIB per capita (Cf. ACKERMANN, Klaus, ANGUS, Simon & RASCHKY, Paul (2017)
20 - Qual seria o ponto de virada?: Quando fenômenos interativos – como clustering, swarming, cloning, crunching, reverberação, retroalimentação de reforço (feedback positivo), looping de recursão (e tantos outros que ainda não descobrimos) – começam a se manifestar espontaneamente e com mais frequência...
21 - ...Quanto maior a frequência, mais rapidamente as defasagens temporais diminuem. A contração (amassamento) do tamanho social do mundo – com a diminuição dos graus de separação – é também uma contração do tempo.
22 - Isto aqui é verdade: Não se trata de ensinar os pobres a deixarem de ser pobres, seja capacitando-os para se tornarem bons empregados ou tentando modificá-los para que eles se tornem empreendedores por meio de alguma receita milagrosa ministrada em cursos de empreendedorismo. Por sinal...: Essas intervenções só podem ajudar se as pessoas desejarem fazer isso. (...) não se trata de ensinar o que queremos ensinar porque imaginamos que lhes será útil e sim de deixar-aprender o que elas querem aprender (não o que queremos que elas aprendam).
23 - Em alguns momentos, tem uma linguagem menos técnica sobre o que aconselha: a) aumentar a conectividade geral dos ambientes onde vivem essas pessoas, possibilitando a multiplicação dos laços fracos entre elas; e b) incrementar as relações amistosas que podem surgir entre essas pessoas quando elas se conectam a partir de seus desejos congruentes para fazer qualquer coisa juntas.
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