Textos aleatórios de Economia e sociedade dos últimos meses III

   

Textos aleatórios de Economia e sociedade dos últimos meses III



Consiste numa coletânea de textos curtos que fui juntando nos últimos meses para ler e fichar.



Leonardo Leite - Escravidão e Revolução Industrial


1 - Fio de Twitter. Trata de um paper gringo com o seguinte objetivo: Eles testam a hipótese de Eric Williams de que a riqueza acumulada com escravidão  através  do comércio triangular foi importante no financiamento dos investimentos que acabaram desembocando no que chamamos de Revolução Industrial entre final século 18 e começo do 19.


2 - Para começar: ...as regiões da Inglaterra com maior proporção de riqueza oriunda da escravidão, medida pela compensação que os proprietários de escravos receberam com  a abolição de 1833, foram aquelas que tiveram maior desenvolvimento Industrial. (...) Eles fizeram o mesmo que a @ritaalmico fez para o Brasil, no artigo sobre raízes escravas da modernização capitalista no Brasil, quando mostrou que regiões com maior proporção de escravidão foram as que mais se modernizaram e enriqueceram na 2a escravidão nos 1800.


3 - ...Seria correlação baseada em fator exógeno? Pra resolver eles usam um procedimento de econometria chamado de regressão em 2 estágios (MQ2E) usando variáveis instrumentais. Basicamente é o seguinte: eles precisam encontrar variáveis exógenas que afetem um dos lados da equação que sofre de endogeneidade. (...) Dá uma explicada sobre como isso envolveu utilizar a variável exógena (condições climáticas) para constatar que viagens mais longas reduziam as receitas do tráfico, mas nem entendi bem a econometria da coisa. 


4 - ...O passo seguinte é mais fácil de entender: Controlando pelo nível de riqueza anterior à entrada no comércio escravo, eles comparam regiões inglesas com maior e menor densidade de riqueza escrava e estimam que quanto maior  a posse de escravos nas colônias, maiores os investimentos na grande indústria nascente. (...) Interessante ver que o aumento de 1 desvio-padrão na riqueza escrava em 1833 aumenta em 1,78 desvios-padrões o número de motores a vapor.


Leonardo Leite no Twitter:



Raphael Corbi - A Revolução Cultural Chinesa e a Desigualdade


5 - Fio de Twitter. Não conseguiram impedir a marcha da desigualdade quando esta teve a chance. Em um dos últimos trabalhos do economista Alberto Alesina com @marlon_seror @david_yang Yang You & Weihong Zeng, os autores mostram que as revoluções homogeneízam economicamente a população no curto prazo. No entanto, o padrão de desigualdade pré-revolucionário acaba voltando:


w27053.pdf (nber.org)

The grandchildren of China’s pre-revolutionary elite are unusually rich | The Economist



6 - Quase meio século após as revoluções, os indivíduos cujos avós pertenciam à elite pré-revolucionária ganham 16% a mais de renda e completaram mais de 11% anos adicionais de escolaridade do que aqueles de famílias não pertencentes à elite. (...) O capital humano (como conhecimento, habilidades e valores) foi transmitido dentro das famílias, e o capital social incorporado nas redes de parentesco sobreviveu às revoluções.


7 - ...Outra análise vem de um comentário que invoca Bourdieu: É muito simples. Como Pierre Bourdiue mostrou em seu trabalho A Distinção, você não pode redistribuir o Capital Social/Cultural porque leva muitas, muitas gerações para construir. Assim, a engenharia social, mesmo em sua forma mais atroz e horrenda (a China de Mao), não mudará issoOld Whig. 🇺🇲🇸🇪🇫🇮🇪🇪🇦🇹 no Twitter:


8 - ...Este comentário veio de outro fio gringo, que parece ter uma interpretação que não leva o tal "capital social/cultural/geracional/humano,seja-qual-for" em conta... Nicholas says, Twitter ... (...O argumento dele parece ser que mesmo a educação escolar foi nivelada. Porém, isso não implica, a meu ver, nivelamento cultural.)


 9 - ...os filhos da elite pré-revolução valorizam mais a educação e têm melhor desempenho (apesar de terem negado a educação formal) do que seus pares. Eles também trabalham mais – 235 horas a mais por ano, em média, no trabalho.


Raphael Corbi no Twitter:



YT - Daniel Nigri - Situação do Brasil


10 - Vídeo de Youtube: Porque eu Não Estou Preocupado - YouTube


11 - Nada muito interessante. Perspectivas da bolsa para os próximos anos. A bolsa do Brasil é "commodities e serviços financeiros". Mercado interno é só cerca de um terço. 


12 - Não está tão preocupado porque se petróleo dispara, por exemplo, Brasil aumenta os gastos estatais e ainda sai no lucro. A alta das commodities é mais importante que algumas "farras" do governo.



YT - BBC News - Por que Brasil e EUA ficaram tão diferentes? Curso na Universidade de Chicago tenta explicar


13 - Universidade de Chicago estuda as diferenças no curso Brazil: Another American History (“Brasil: Outra História Americana”, em tradução literal), sendo a responsável por ele a historiadora Brodwyn Fischer.


14 - Ela vê a diferença entre os dois países mais a partir de 1831 (acho isso complicado, pois dados já parecem mostrar uma produção per capita dos EUA bem maior nesse período, com um estágio mais avançado de manufaturas etc. Porém, realmente foi só piorando no decorrer do Século XIX). Brasil acelerou a importação de escravizados temendo o fim do tráfico (cita 700 a 800 mil pessoas). (EUA, ao que entendi e/ou lembro, não).


15 - Nos EUA, leis e direitos aparecem como tão importantes que eles legalizam as escrotidões, digamos assim. A perversidade é levada a sério. O poder informal é maior no Brasil


16 - EUA têm uma autoimagem de um povo que segue regras, por mais que existam as contradições lá.


17 - Isto aqui é uma explicação, mas vai justamente no sentido de mostrar que a coisa é menos parecida do que se supõe. Os africanos escravizados foram cinco milhões no Brasil e duzentos e cinquenta mil nos EUA. Aqui era mais difícil não haver miscigenação até por isso, coloca. Nos EUA, os negros são minoria. 


18 - Alforrias eram inclusive mais comuns aqui no Brasil. Parece colocar, também, que havia mais mobilidade na escravidão brasileira em geral também, o que tornava o sistema mais flexível/menos inaceitável. Nos EUA, de mobilidade praticamente inexistente, as tensões sociais se tornaram mais visíveis, coloca.


19 - Miscigenação no Brasil era vista até, por vezes, como instrumento de mobilidade social. Eram estratégias para tentar algum alívio na vida. Ela relata a tristeza envolvida em pesquisar os casos judiciais a respeito. 


20 - Pelas particularidades do nosso sistema, até mesmo Dubois teria se equivocado a respeito do Brasil, citando-o como exemplo de sua época de democracia racial. Cita Abdias do Nascimento como grande autor contraponto a essa ilusão.


21 - Enfim, parece-me que o vídeo, embora importante, não chega a atingir o objetivo.


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