YT - Seminários Cebrap 2019 - "Os ricos e a desigualdade de renda no Brasil" [Pedro Ferreira de Souza]

 

Seminários Cebrap 2019 - "Os ricos e a desigualdade de renda no Brasil" [Pedro Ferreira de Souza]


1 - Resumo geral: de 1960 pra trás só se sabe que a desigualdade era alta, mas não quanto exatamente. Sabe-se também que 1960 a 1970 houve crescimento forte da já alta desigualdade. De 1970 a 2000 houve pouca novidade significativa. Estável. De 2000 a 2015, redução relevante. 

2 - O problema da pesquisa domiciliar é que rola muito estimativa errada ou mentiras. Pesquisar o imposto de renda para estudar desigualdade parece mais interessante, apesar de também ter desvantagens. Serve para melhorar a nitidez do topo. 

3 - Diferencia renda monetária da renda total. Esta última tem as rendas não-monetários (aluguel imputado das famílias se a pessoa mora num apartamento próprio, por exemplo. Rendimentos ano-a-ano de um Funpresp da vida... fundos de pensão em geral. Lucros retidos de empresas). 

4 - A renda total por adulto (deflacionada) está crescente se ignorarmos o "boom" não-sustentável do periodo militar, que custou mais de uma década, Porém, está estagnada desde o topo desse "bom" (1980). Isso certamente reflete nossa produtividade estagnada. Economia cresce por bônus demográfico e outros fatores não-sustentáveis.

5 - O gráfico de concentração dos 1% mais rico não dá muita pista de nada. Há algumas ondas marcantes. A dobradinha "Estado Novo-II Guerra" mostra crescimento nítido (do abocanhamento do 1%). O periodo "fim da guerra-redemocratização" mostra significativa queda. O período da ditadura mostra uma forte alta inicial, estagnação meio que durante os anos 70, com alguns ziguezagues, e nova alta no início dos 80. Tudo vai persistir (com ziguezagues) até o Plano Real. O 1% volta a crescer muito durante o segundo mandato de FHC para frente. E continua até hoje. 

6 - Os primeiros oito ou dez anos da ditadura foram bons para o 1%. A subida vem bem antes do milagre. O PAEG já em Castello e Costa e Silva foram responsáveis por quase toda a alta. Assim, ela não vem "naturalmente do crescimento", como era a tese de muitos economistas da época, talvez pensando na curva de Kuznets. 

7 - Brasil sempre foi mais desigual até do que os EUA. Os 1% mais ricos de lá foram perdendo continuamente a partir de 1930, quando acumulavam 20% (o Brasil uns 30%) de tudo e chegaram a quase 10% nos anos 70. Reagan reinicia a marcha dos EUA rumo ao Brasil, que nunca mais parou. Hoje os 1% de lá concentram 20% de novo (contra 28% da gente).

8 - ... Mais dados sobre a concentração dos 1%: França e Japão também eram tão desiguais quanto os EUA antigamente. Desigualdade desaba com a II Guerra (diferentemente da queda gradual dos EUA 1930-1970, até por não terwm sido centro de ataques) e, mesmo hoje, nunca volta a subir mais que uns 11% (chegando a 6 em alguns momentos). Pedro atribui isso a uma série de medidas radicais para adquirir legitimidade para o esforço de guerra. União da nação e tal. 

9 - Dados dos ricos e dos periféricos:





10 - Coloca que não somos o campeão mundial e que certamente há países sem dados que estariam bem na nossa frente. Não somos nem o campeão dos que possuem dados. Enfim, somos horríveis, mas há piores.

11 - A desigualdade não é culpa do nosso passado colonial. Antes de 1930 todo mundo era desigual. 

12 - Pedro crê que "inclusão" dos pobres no consumo pode ser mais rentável eleitoralmente que redistribuição. Afirma ainda que políticas pró-ricos são menos visualizáveis. Não se vê que é para beneficiar os ricos. Também argumenta que a politicagem dificulta e que os formuladores de políticas econômicas têm medo de prejudicar o crescimento. Além de tudo, os ricos possuem mais facilidade para concentrar renda sem muito embate. Os pobres precisam da luta. Enfim, são hipóteses dele.

13 - No início da hiperinflação, os pobres (50% mais) chegaram a ter só 7% da renda. Com o Plano Real sobe para uns 12 a 13%, chegando até a 14% em 2014. OS 10% mais ricos é que perdem com a estabilização da inflação. Interessante que os 40% "intermediários" (50 a 10% mais ricos) parecem cair de 35 para 32 ou até 30% gradualmente durante os anos PT. Talvez venha daí alguma sensação de menor riqueza relativa. Tragicômico que, na verdade, tenha sido tudo às custas dos 10% mais ricos, que engordaram um pouco. 

NA VERDADE, se colocarmos uma lupa nos 10% mais ricos (Pedro fez isso), só o 0,1% mais rico cresceu a renda no período PT. A galera do "1% sem o 0,1" ficou estagnada. A galera dos 10% sem o 0,1" até perdeu também! Enfim... Só os super-ricos e os muito pobres é que se deram bem relativamente. São esses 0,1 que puxam pra cima o gráfico dos 1% (quando estão incluídos lá) e dos 10% (quando estão incluídos lá).

14 - Nível de renda de cada faixa dessa. Renda por adulto:



15 - Em paridade de poder de compra, os mais ricos brasileiros têm tanto poder de compra quanto os mais ricos europeus, mesmo existindo um PIB per capita quatro ou cinco vezes menor aqui..

16 - O GINI da renda monetária diminui quase nada de 2000 pra frente (em "renda não-monetária" nem dá pra dizer que diminui). A queda forte só pode ser vista se tomarmos a base de dados do PNAD que subestima o topo. 

17 - Pedro especula possíveis motivos do sucesso dos 0,1% no período. Boom acionário, imobiliário e das commodities. BNDES subsidiando campeões nacionais. Juros altos. Reajustes para elites da elites do funcionalismo. Brechas tributárias crescentes. 

18 - Afirma que os dados PNAD são cada vez mais imprecisos. A subestimação vai crescendo MUITO proporcionalmente a quanto avança no topo. Quanto mais rico, mais subestima o total que ganha (e declara no IR, chegando a 66% entre os 0,1% mais ricos)

19 - A desigualdade chilena é parecida com a nossa (até em trajetória). Um pouco abaixo. Os 1% deles flutuam entre 20 e 25 enquanto o nosso entre 25 e 30%. 1985 a 2015, no caso. Os 1% de Espanha (7 a 10%, e a alta é bem recente) e mesmo Coréia (7 a 13%, cresceu desde a crise asiática) e China (7 a 15%) concentram bem menos que a gente. 

20 - Relação riqueza per capita e concentração nos 1% mais rico:



21 - Entre os 17 ali: a galera do petróleo, geralmente. A maioria dos ricos está entre os 42. 

22 - Traz um quadro de previsões 2015-2030 que só vê beco sem saída. Teria que ter uma coalizão política muito forte e isso pode dar muito errado (cita a Venezuela). Desigualdade geralmente só cai rápido num choque muito forte - tipo guerra. 

23 - Pedro crê que a grande queda da desigualdade entre 1942 e 1950 no Brasil se deveu a um fator econômico e provisório: o fato de as indústrias brasileiras terem acessado um mercado que se abriu por causa da II Guerra,. Depois voltariam a se fechar. Não explica muito. Não teria sido, portanto, a redemocratização a causa do desempenho desse período. Ele admite, porém, que não sabe explicar porque a forte queda continuou durante toda a década de 50 (luta popular?)

24 - Pedro afirma que quedas da desigualdade em tempos de paz são sempre mais longas-graduais. Período curto não rola. 

25 - Geisel teve política salarial mais frouxa, talvez por isso a desigualdade parou de subir na média.

26 - África do Sul ao fim do apartheid continuou aumentando a desigualdade. 

27 - Ponto de partida muito alto de desigualdade: escolarização hiper-tardia; nenhuma reforma agrária; escravidão longuíssima.

28 - Continuidade da desigualdade brasileira: políticas institucionais continuamente pouco preocupadas com isso. Arrochos salariais do PAEG e etc. Ausência dos choques como guerras...

29 - Diz que é difícil acessar dados mais minuciosos. O país (Receita) valoriza muito o sigilo fiscal. 

30 - Afirma que países ricos quase não analisam mais dados do tipo baseados em PNAD.

31 - Outros tipos de desigualdade podem ter diminuído, coloca um perguntador. Acesso a bens e serviços não-monetários. (da minha parte, quero dados).

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