Ações, Bolsa, Finanças - Dois Textos

 

Por que é tão difícil bater o mercado?


https://www.moneytimes.com.br/por-que-e-tao-dificil-bater-o-mercado/amp/


1 - Uma pesquisa mostra que apenas 1% dos traders ativos realmente consegue superar o índice de referência mais popular dos EUA: o S&P 500.

2 - Nem acredito: "Em 2007, Warren Buffett ficou famoso por apostar 1 milhão de dólares que um fundo de índice S&P 500 da Vanguard superaria o desempenho de um conjunto de hedge funds no período de 10 anos. ... Buffett venceu a aposta com facilidade, pois o S&P 500 gerou um retorno líquido de 7,1% ao ano, em comparação com apenas 2,2% líquidos do grupo de hedge funds. 

3 - Pesquisei e vi que aposta foi com um conjunto de fundos de um mesmo gestor. Único que topou. Assim, não é tão impressionante. De toda forma, só o fato de ninguém ter aceitado a aposta já mostra a dificuldade da coisa. Vale a pena ler toda a matéria:

https://www.infomoney.com.br/mercados/warren-buffett-ganha-us-2-milhoes-com-uma-aposta-feita-10-anos-atras/

4 - HME (Mercados eficientes): Essa teoria defende que, como o mercado reflete toda a informação conhecida atualmente, bater o mercado de forma consistente é impossível.

5 - Informação é cada vez mais democratizada, em tese. Sites sobre mercado, produtos, etc. HME se impõe ainda mais então? Antigamente era mais fácil descobrir informação ainda não-publicizada.

6 - Outra questão é apontada: ... a maioria dos investidores profissionais tem acesso aos mesmos dados em tempo real e consegue usar algoritmos para agir imediatamente; segundo, Wall Street abriga algumas das mente mais brilhantes do mundo financeiro e, como cada transação precisa de um vendedor e um comprador, não é nada fácil ser mais inteligente do que todo mundo.

7 - Outra razão para que seja tão desafiador superar o desempenho do mercado é que poucas ações se saem melhor do que o mercado mais amplo. Em 2017, uma pesquisa da Universidade do Estado de Arizona, nos EUA, descobriu que quatro em cada sete ações ordinárias apresentam retornos de longo prazo abaixo dos títulos do Tesouro americano de um mês. (...) O estudo mostrou também que, desde 1926, apenas 4% das empresas listadas com melhor desempenho geraram o ganho líquido de todo o mercado acionário. ... Em 2018, por exemplo, essa estatística teria incluído a Advanced Micro Devices (AMD), a Netflix (NFLX) e a Amazon (AMZN), que se valorizaram 103%, 62% e 49% respectivamente, enquanto o S&P 500 mais amplo gerou um retorno de -6,5%. (...) Montar uma carteira diferenciada aumenta as chances de um investidor não incluir uma das ações integrantes desses 4%, as quais poderiam impulsionar seus retornos a ponto de fazê-lo bater o mercado em determinado ano.

8 - Outros fatores, mais óbvios, são taxas e impostos envolvidos no giro de patrimônio e o fato de que os seres humanos não são 100% racionais, tomando decisões na base da emoção muitas vezes. Aversão exagerada ao risco ou o mesmo o extremo oposto.


Valorização de ações se iguala a 'crash' de 1929 e cria 'sinuca' para investidores


https://outline.com/NRhZgu


9 - A Apple demorou anos para atingir US$ 1 trilhão em valor de mercado, em 2018. Mas terminou o difícil 2020 valendo US$ 750 bilhões a mais. (...) Tudo somado, o valor das ações de empresas negociadas globalmente nas Bolsas supera agora US$ 100 trilhões, um recorde histórico.

10 - O mais respeitado indicador para o cálculo do preço de uma ação (o "cape ratio - cyclically adjusted price/earnings ratio”, criado por Robert Schiller, prêmio Nobel de Economia) divide o seu valor presente pela média do lucro da empresa, ajustado à inflação, nos dez anos anteriores. (...) Se o índice é muito alto, significa que as ações estão caras em relação aos lucros, permitindo antever anos de retorno medíocre à frente. (...) No final de 2020, o índice equivalia a 33 no conjunto das ações do S&P 500 da Bolsa de Nova York, uma espécie de “termômetro" do mercado global —projetando rendimento de 3%. (...) As duas únicas vezes em que o indicador ficou acima de 30 foram em 1929 e no biênio 1999-2000 —anos do “crash" da Bolsa de Nova York, que precedeu a Grande Depressão, e do estouro da chamada “bolha da internet”, respectivamente.

11 - A diferença agora é o BC injetando liquidez como nunca antes e juros baixos (juro real negativo) por mais de uma década. Assim, o mercado de ações, mesmo se derem baixo retorno, são atrativos para toda essa liquidez, eis que os títulos da dívida rendem zero real ou pior que isso. Aceita-se correr mais risco para não ficar nesse zero-a-zero ou pior.

12 - Com a pandemia e a paralisação abrupta das atividades, o Fed voltou à carga: o total de papéis de empresas e outros ativos adquiridos pelo banco central americano, que significam na prática injeção de dinheiro na economia, pulou de US$ 4,1 trilhões em fevereiro de 2020 para US$ 7,4 trilhões na semana passada.

13 - Afirma o FED que a taxa de juro será baixa nos próximos anos para que se mantenha o pleno emprego.

14 - ...Nesse fluxo, as companhias norte-americanas puderam captar em 2020, ano teoricamente difícil, US$ 342 bilhões com a venda de novas ações, 76% mais que em 2019. (...) Outros US$ 2,3 trilhões, um recorde, foram embolsados com a venda de títulos (“bonds”/dívida), 60% a mais que em 2019, segundo a Securities Industry and Financial Markets Association. (...) A quantidade de dinheiro disponível é tamanha que mesmo companhias mal avaliadas por agências de classificação (com notas “CCC”) captam recursos, vendendo papéis, aos juros mais baixos da história para seu padrão: menos de 7,5% ao ano.

15 - Pelos seus cálculos, o lucro das empresas globais listadas em Bolsa caíram cerca de 15% em 2020 —um resultado muito ruim diante da previsão de ganhos de 10% que havia no começo daquele ano. "Apesar das perdas, as ações globais subiram 18%. O Nasdaq [das empresas de tecnologia], 51%. É quase como se a pandemia nunca tivesse acontecido.”

16 - A resposta para se existe ou não uma “bolha" prestes a estourar depende, portanto, de outra pergunta: por quanto tempo os bancos centrais despejarão dinheiro e manterão juros próximos de zero ou negativos, empurrando investidores para ativos de risco?

17 - Afirma que alguns economistas pensam que as pessoas estão poupando mais e que, por isso, todo esse "novo normal" de juros baixíssimos permanentes e mercado acionário mais "inflado" se justifica portanto.

18 - Segundo pesquisa conduzida em janeiro pelo banco Morgan Stanley entre investidores com mais de US$ 1 milhão em ativos nos EUA, apenas 9% disseram acreditar que o mercado não esteja vivenciando uma “bolha”. (...) Os demais acham que ou ela está próxima (29%) ou que já estão em menor ou maior grau metidos nela (62%) —indicativo de que podem estar considerando deixar a festa mais cedo ou se posicionando perto da saída.

19 - (Numa coluna de Krugman no NYT, ele diz que o fato de os juros médios (? acho) terem caído de 3% no final de 2018 para 0,6% no meio da crise da Covid tornaram as ações a única aposta potencialmente lucrativa. Empresas para o futuro. Ademais, o "forward guidance" promete afrouxamento nessas taxas por um bom tempo). 

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