Felipe Taufer (Blog de Eleutério Prado) - Quatro mitos sobre Marx

 

Quatro mitos sobre Marx

1 - É um texto de Felipe Taufer. Coloca que o mito das três fontes do marxismo (Lênin e Kautsky, principalmente o último) leva muitos a pensar o mesmo como uma colcha de retalhos. (Sociologia francesa, economia política inglesa e filosofia alemã). Critica isso. Debate ficou todo abstrato e desimportante para mim, do jeito que foi colocado.

2 - Já mesmo no jovem Marx, a propriedade privada já aparece como algo próprio a um determinado tipo de sociabilidade, a capitalista. Não que não existisse nas demais, mas nelas tinha outro papel, muito menos central.

3 - Taufer parece discordar de quem quer colocar em Marx o "economicismo" de que o trabalho é sempre o mais importante aspecto humano. O problema todo é que quando o trabalho vira elemento antropológico central da vida humana, outras possibilidades de relação entre “ser humano” e “natureza” são bloqueadas. Seria algo da sociabilidade também.

4 - Marx, Proudhon e as contradições da vida: Por essa razão, Marx sugere que é preciso se emancipar do trabalho enquanto meio de vida e não “concluir em favor do trabalho”. Caso fosse a “favor do trabalho”, Marx pleitearia, junto de Proudhon, digamos, igualdade salarial. 

5 - Marx: Em 11 de Janeiro de 1861, ele escreveu em carta para Engels comemorando a eleição do presidente Abraham Lincoln: “Na minha visão, a coisa mais importante que está acontecendo hoje no mundo é o movimento dos escravos – por um lado, nos Estados Unidos da América, aqueles iniciados após a morte de John Brown e, de outra parte, na Rússia […]” (MARX, 1985 [1861] p. 4).

6 - Por fim, uma mera uma curiosidade: entre os anos de 1879 e 1880 Marx glosou um livro escrito por um professor alemão chamado Adolph Wagner. Marx sublinhou reiteradamente passagens desse professor de economia que distorciam o conteúdo de seu livro (O Capital) e lhe visavam imputar uma fundamentação geral sobre a teoria econômica do valor. Entre outras passagens, hoje trata-se de um texto célebre por conta de duas afirmações icônicas de Marx nas quais se diz que: (i) não analisa conceitos, mas formas sociais; (ii) nunca parte do homem em geral, mas de um período social economicamente dado.

7 - "Produção simples de mercadorias". Diz Felipe que isso não existe. Por sinal... "“A única ocorrência do termo ‘produção simples de mercadorias’ no conjunto dos três volumes de O Capital ocorre no volume III, mas isto está em uma passagem dada a nós subsequentemente ao trabalho editorial de Engels, como ele próprio nos diz numa nota. Isto agora é possível de ser verificado conferindo-se o próprio manuscrito, que tem sido publicado na Marx-Engel Gesamtausgabe (MEGA2). Ali fica claro que o parágrafo inteiro foi inserido por Engels […]” (ARTHUR, 2020, p. 176)."

8 - Elogia a defesa do método dialético que faz Engels: Note-se que esse problema já toca, por si só, em um problema fundamental na marxologia contemporânea: o método de exposição de Marx. Infelizmente aqui não será o lugar de tocar nessa querela. Porém, gostaria de começar apresentar esse mito assinalando a objeção de Engels a Peter Fireman nesse contexto: “É evidente que, quando as coisas e suas relações recíprocas não são concebidas como fixas, mas como mutáveis, também seus reflexos mentais, os conceitos, estão igualmente submetidos à modificação e renovação; que estes não se encontram enclausurados em definições rígidas, mas desenvolvidos em seu processo de formação histórico ou, a depender do caso, lógico.” (ENGELS, 2016, p. 39). ... Até aqui Engels defende brilhantemente a necessária fluidez que é cara ao “estilo dialético” do método de exposição de Marx.

9 - Ao que entendi, critica-se quem quer colocar os modos de produção como uma etapa histórica sucessiva: De acordo com Arthur, mesmo teóricos e economistas marxistas renomados como Karl Kautsky, Ernest Mandel, Paul Sweezy, Oskar Lange, R. L. Meek, teriam repetido esse mito e endossado um tal modo de leitura que distorceria, finalmente, por completo a análise de Marx. “Por completo” porque tiraria do centro das atenções justamente o que era mais caro a Marx: a historicidade que confere a “diferença específica” de um modo de produção.

10 - ...Assim, a "produção capitalista" não deriva da suposta "produção simples de mercadorias".

11 - Seja como for, transformar a especificidade histórica do complexo categorial de Marx em uma lógica de teorias gerais não é algo que apenas Engels acidentalmente contribuiu para. Alguém como György Lukács ao insistir, em sua obra tardia, no caráter decisivo de que, para Marx, categorias são “formas de ser, determinações da existência”, constantemente esqueceu de acrescentar que elas são “formas de ser, determinações da existência […] com frequência de uma sociedade específica”. (Para brevemente mencionar contra Lukács, as “determinações da existência” a que Marx se refere não são os complexos categoriais de todas as sociedades que fundamentariam uma teoria geral do ser social, mas formas de ser da sociabilidade capitalista. Por isso é que muito importa a Marx o fato de que as “formas sociais” concretizam e historicizam a análise e não o “conteúdo” dessas “formas” apartado delas).

12 - Se há algo como “materialismo histórico” ele é uma teoria da sociedade capitalista e não um método de investigação universal. A lei do valor, por exemplo, não seria algo eterno, presente até na suposta "produção simples de mercadorias". 

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