Livro: C. Goodhart e M. Pradhan - The Great Demographic Reversal - Capítulo 8
Livro: Charles Goodhart e Manoj Pradhan - The Great Demographic Reversal
Pgs. 132-143
"CAPÍTULO 8: "A curva de Phillips"
124 - Quando o desemprego é baixo, a procura de mão-de-obra é elevada em relação à oferta disponível e os salários aumentam mais rapidamente. Quando o desemprego é muito mais elevado, a oferta supera a procura e os salários/preços podem começar a cair.
125 - Por que a primeira (e "errada") curva era um "L"? (Os preços/salários só começavam a aumentar depois que praticamente todo mundo empregável estivesse empregado, digamos assim) Essa abordagem não foi tão ingénua/simplista como pode parecer agora. Os salários/preços permaneceram aproximadamente constantes no Reino Unido entre 1815 e 1914.
126 - No pós-guerra surge a curva: ...Uma vez lá, a curva L keynesiana reversa passou a parecer obviamente simplificada demais. As indústrias e o trabalho diferiam nas suas características e heterogeneidade, com estrangulamentos ocorrendo sob diferentes pressões da procura agregada.
127 - A estagflação melou tudo nos anos setenta. Inflação e desemprego avançavam ao mesmo tempo. A curva se deslocava "para fora". De certa forma, o nível inflacionário já vinha subindo antes mesmo do grande choque do petróleo. As expectativas de inflação eram incorporadas, o que levava a uma possível aceleração do novo nível a qualquer momento que houvesse algum choque, por exemplo. Uma vez que a importância das expectativas de inflação foi considerada no análise, de Phelps (1968) e Friedman (1968), isso levou ao conceito de a Taxa de Desemprego Natural (ou de Inflação Não Acelerada) (NAIRU ou NRU).
128 - Os reparos de Friedman mudaram tudo: Este conceito, de uma curva de Phillips vertical de longo prazo, foi um apoio importante para a subsequente mudança para a independência do Banco Central, com um mandato para se concentrar na estabilidade de preços através de um objetivo de inflação. A oferta era quem comandava o longo prazo (inclusive exclusivamente, passou-se a pensar).
129 - O "desemprego natural" (u) é constante? Friedman parecia sugerir que sim. Mas a evidência é contrária. u* parece ter sido mais variável ao longo do tempo do que r* ou g*.
130 - "Detalhe": Economistas como Dennis Robertson e Paish foram então amplamente criticados por sugerirem que o equilíbrio poderia exigir uma taxa média de desemprego acima de 2%, por exemplo, Robertson (1959). Nota: A ideia de que poderia haver uma taxa de desemprego de equilíbrio, e que as expectativas eram importantes, tinha sido expressa muito antes de Friedman/Phelps. Mas a narrativa parecia menos convincente então.
131 - A gestão da procura e as políticas de pleno emprego reforçaram enormemente o poder de negociação dos trabalhadores e dos sindicatos. A alternativa a não concordar com a oferta salarial do empregador seria outro emprego noutro local, em vez do desemprego. Além disso, como observado nos Capítulos 3 e 5, a demografia levou a uma melhoria do rácio de dependência.
132 - Houve recentemente, no período 2007-2020, mais uma reviravolta nesta história. Enquanto o foco na (infeliz) década de 1970 estava numa curva de Phillips (vertical), o oposto ocorreu nos anos (igualmente infelizes) da GFC e nas suas consequências. (...) O desemprego variou bastante, desde um pico em 2009 até um ponto baixo em 2019, enquanto a inflação permaneceu bastante baixa e estável. (...) Este resultado surpreendeu, e na verdade confundiu, os economistas, dentro e fora do governo, com as previsões para a inflação a exagerarem sistematicamente os resultados subsequentes, à medida que o desemprego diminuía. Por tudo isso, surgiu a discussão recente inclusive se a "Phillips" ainda serve pra alguma coisa. Estaria morta?
133 - Expectativas são tudo que importa e por isso que a curva horizontalizou/"endoidou"? ...Assim, por vezes fica implícito que, enquanto as expectativas de inflação futura permanecerem “bem ancoradas”, no objectivo do Banco Central, o crescimento dos salários e a inflação real também permanecerão estáveis em níveis aproximadamente actuais. Os autores creem que, no longo prazo, não tem como fugir da necessidade de evitar uma taxa de desemprego que acelere a inflação. (Mas pelo visto veem essa taxa como algo bem mutável, o que torna a teoria, a meu ver, meio nebulosa).
134 - Outra hipótese: política monetária bem sucedida visa estabilizar a inflação. Nessas condições, a correlação entre o desemprego, também afectado por outros factores estruturais, e a inflação salarial, ou de preços, seria zero. Porém, a curva de Phillips aparentemente horizontal pode ser apenas um artefato de melhores políticas monetárias e de menos choques de oferta.
135 - Outra hipótese: Karl Marx opinou que os salários seriam mantidos baixos pelo “exército de reserva dos desempregados”. (Obs do rodapé: Embora a ideia do exército industrial de reserva de trabalho esteja intimamente associada a Marx, já estava em circulação no movimento operário britânico na década de 1830.) Talvez hoje em dia seja mais correcto sugerir que foi o exército de reserva dos idosos que desempenhou um papel importante na limitação. (...) Parece que eles podem ser tentados a voltar ao trabalho de forma bastante elástica em resposta a oportunidades razoáveis em termos de vagas e salários. Na verdade, como mostram Mojon e Ragot, (2019), se retirarmos os idosos da relação calculada, então a curva de Phillips ajustada tende a ajustar-se muito melhor. Eles desinflacionam a coisa. Há boa elasticidade entre retorno ao trabalho e aposentadoria.
136 - ...Implicação prática: ...a existência de um exército de reserva de idosos significou que o NRU terá caído, uma vez que é possível gerir a economia com uma pressão de procura mais elevada, desde que esse exército de reserva funcione como uma válvula de segurança. O limite fica bem estendido.
137 - A parte sobre índice/medição de inflação eu não entendi bem onde quiseram chegar.
138 - Enfraquecimento dos sindicatos e queda das greves:
139 - Período pós-1980: ...Tal como no período anterior (1945-1980), mas agora ao contrário, as autoridades, e os macroeconomistas que as aconselham, não conseguiram perceber recentemente que u* (NRU) estava a descer cada vez mais, em linha com o declínio do poder de negociação dos trabalhadores. (...) Mas agora os trabalhadores retaliaram, não na mesa de negociação salarial, mas na cabine de votação. A globalização foi travada pelo populismo, precisamente no momento em que os factores demográficos voltam a beneficiar a mão-de-obra.
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