Livro: C. Goodhart e M. Pradhan - The Great Demographic Reversal - Capítulo 11
Livro: Charles Goodhart e Manoj Pradhan - The Great Demographic Reversal
Pgs. 177-192
"CAPÍTULO 11: "A armadilha da dívida: podemos evitá-la?"
174 - A alavancagem alargada na economia global é o maior impedimento à normalização das taxas de juro, e da economia de forma mais ampla, que a demografia acabará por proporcionar. Tivemos décadas de expansionismo monetário (daí a alavancagem), para combater "tendências deflacionistas", a ser revertido.
175 - Colocam que uma diferença fundamental entre EUA e Europa foi que os primeiros usaram recursos públicos para recapitalizar os bancos sempre que necessário (tal de TARP durante 2009) no pós-crise de 2008. Na Europa, pelo contrário, não existia um conjunto equivalente de dinheiros públicos disponíveis para recapitalizar bancos com capital insuficiente. Os empréstimos (EUA) eram devolvidos pelos poucos bancos abrangidos assim que a situação melhorasse. Na Europa não houve como fazer "testes de stress" aos poucos. Com as autoridades a pressionar os seus próprios bancos com sede nacional, explícita ou implicitamente, para manterem os empréstimos aos mutuários locais, essa desalavancagem envolveu naturalmente uma redução maciça nos empréstimos transfronteiriços dos bancos europeus.
176 - E o expansionismo turbinado (QE)? Embora a primeira ronda de QE em 2009 tenha sido extremamente benéfica e bem sucedida na supressão da procura de pânico por liquidez que o GFC causou, é discutível se as medidas subsequentes tiveram efeitos positivos fortes, se é que tiveram, em parte devido aos potenciais efeitos adversos sobre a economia. rentabilidade bancária; para uma discussão sobre tudo isso, ver Altavilla et al. (2018); Bório et al. (2017); Brunnermeier e Koby (2018); Eggertsson et al. (2019); Goodhart e Kabiri (2019); Heider et al. (2019); e Xu et al. (2019).
177 - A armadilha da dívida torna dramática a manutenção de um patamar moderadamente elevado de juros. Afinal, para se protegerem desses riscos de insolvência, as empresas mais endividadas sentiriam a necessidade de reduzir drasticamente novos investimentos, agravando assim qualquer recessão subsequente.
178 - Razões de endividamento dos diversos agentes econômicos nos países ricos após a Grande Crise Financeira de 2008:
179 - Famílias: A razão de endividamento das famílias aumentou, em geral, menos, ou mesmo diminuiu, emos países mais expostos à crise imobiliária anterior, os EUA e a periferia europeia (incluindo o Reino Unido). Os países que não foram então afetados, como Austrália, Canadá, Noruega e Suécia, assumiram a vanguarda do boom imobiliário. Idem para os emergentes. O Norte da Ásia, a Polónia e o Chile registaram aumentos de dois dígitos na dívida das famílias. A dívida das famílias na China, Coreia, Malásia e Tailândia aumentou cerca de 20–25%.
180 - ...Com o sector privado a registrar um excedente considerável e os mercados de ativos muito fortes, a riqueza do setor familiar aumentou muito mais rapidamente na década pós-GFC, do que os seus passivos (o mesmo aconteceu na década anterior, 1997-2007). Preocupam-se muito mais com o endividamento das famílias jovens, que, em caso de aumento de juros, podem ter fortes restrições de consumo.
181 - Os rácios da dívida das empresas (não financeiras) aumentaram substancialmente nas EME, especialmente na China. As empresas estatais (SOEs) da China contraíram grandes empréstimos junto de bancos estatais. (...) Os graves problemas de alavancagem que a PEMEX, a Petrobras e a Eskom enfrentaram são o resultado dos excessos durante a primeira metade da expansão pós-GFC.
182 - Tendências financeiras da última década: mais dívidas de menor qualidade sendo emitidas (busca pela rentabilidade) e mais recompras de ações como destinação de recursos (livro fala em uso de dívida pra isso...) enquanto investimento estagna ou cai.
183 - No sector das famílias, a riqueza tem aumentado mais rapidamente do que a dívida. No sector empresarial, o dinamismo dos lucros e a queda/baixa das taxas de juro mantiveram baixo o rácio do serviço da dívida. Da mesma forma, no sector público, o aumento dos níveis da dívida foi, quase inteiramente, compensado pela queda das taxas de juro, deixando as taxas de serviço da dívida quase constantes, mesmo no Japão, ao longo das últimas décadas, conforme mostrado no Diagrama 11.5.
184 - Os QE's pioraram o perfil da dívida pública: ...as finanças fiscais do sector público sentirão quase imediatamente todo o sofrimento de qualquer aumento nas taxas de juro oficiais.
185 - Isto aqui eu tou por fora parcialmente: Além disso, como descrevem Alfaro e Kanczuk (2019), nos últimos anos “os credores não pertencentes ao Clube de Paris, nomeadamente a China, tornaram-se uma importante fonte de financiamento para países de baixo e médio rendimento. Em contraste com a dívida soberana típica, estes acordos de empréstimo não são públicos e outros credores não têm informações sobre a sua magnitude” e tais acordos “reduzem grandemente a sustentabilidade da dívida dos credores tradicionais/do Clube de Paris”. Como assim? Não conta pra "dívida/PIB" oficial? É dívida oculta?
186 - Um crescimento mais rápido dos países poderia resolver sem traumas grandes a questão do endividamento, porém, tal coisa não parece provável: ...a demografia está a provocar não só um declínio na taxa de crescimento, mas em muitos países, por exemplo, na Europa e na China, um declínio absoluto no número de trabalhadores, como já foi discutido. Mesmo que a produtividade regressasse às taxas de crescimento mais favoráveis das décadas até 2008, tais declínios na força de trabalho significam que a produção real agregada continuará a crescer a um ritmo lento. Ademais, o excesso de poupança que faz baixar taxa de juros e promove investimentos pelo mundo irá diminuir com as pressões demográficas - razões de dependência ativo/inativo e afins - chegando em todos os países.
187 - ...Ao mesmo tempo, a recuperação do poder do trabalho, à medida que os trabalhadores se tornam escassos e os impostos aumentam para fazer face às despesas adicionais do sector público, conduzirá ao aumento dos custos unitários reais do trabalho. Para compensar isso, as empresas deverão aumentar a sua procura de investimento. Assim, é provável que o equilíbrio entre investimento e poupança, ou seja, a procura e a oferta de fundos para empréstimos, possa conduzir a uma recuperação das taxas de juro reais. Se assim for, as futuras pressões poderão reduzir as taxas de crescimento, ao mesmo tempo que as taxas de juro reais aumentam, tornando cada vez mais difícil simplesmente superar os actuais elevados rácios de dívida.
188 - Outra difícil, mas mais possível solução para a dívida é a inflação inesperada (sem tempo pra grande parte dos agentes se protegerem). Metas de inflação são confiáveis? Embora a independência do BCE seja difícil de revogar, a independência de outros bancos centrais pode ser revertida por uma nova lei. Se os políticos descobrirem que as políticas dos bancos centrais para alcançar a estabilidade de preços atrapalham os objectivos de um crescimento mais rápido e de impostos mais baixos, poderão tentar acabar ou reduzir drasticamente a independência dos bancos centrais.
189 - As outras soluções são a renegociação e moratória/calote. O incumprimento pode ter efeitos sistémicos muito maiores do que a renegociação. Por fim, o capítulo faz um interessante breve histórico do hábito antigo de perdoar dívidas como forma de domínio social. Claro que isso foi caindo em desuso.
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