Livro: C. Goodhart e M. Pradhan - The Great Demographic Reversal - Capítulo 10
Livro: Charles Goodhart e Manoj Pradhan - The Great Demographic Reversal
Pgs. 163-176
"CAPÍTULO 10: "O que poderia compensar o envelhecimento global? Índia/África, Participação e Automação"
162 - Os contra-argumentos à tendência à escassez do trabalho (ou ao menos atenuantes): A robótica, a inteligência artificial e a automação estão a mudar a natureza do capital e a tornar o trabalho redundante em muitos setores. A participação dos idosos está a aumentar à medida que as pessoas vivem mais tempo e trabalham até mais tarde nas suas vidas. Finalmente, tanto a Índia como a África parecem destinadas a desfrutar de um regime de forte crescimento com uma oferta abundante de mão-de-obra e o seu papel na economia global está a aumentar. E então? Tudo verdade, mas... Argumentamos abaixo que nenhuma destas vias tem poder de fogo suficiente para compensar os ventos contrários demográficos.
163 - Creem que tudo é, no máximo, atenuante. Por exemplo, para cada trabalho que a automação pode ou não tornar redundante, há um trabalho que é quase garantido que surgirá nos cuidados relacionados com a idade. Sem automação, a demografia teria um efeito económico muito mais adverso do que o descrito. Trabalhos "improdutivos", como o cuidado aos idosos enfermos, crescerão. Admitem, porém, que é tudo muito difícil de prever nesse campo. A realização da quarta revolução industrial depende da capacidade da IA de continuar o progresso desde os seus primórdios e de o traduzir em aplicações generalizadas.
164 - Emergentes e automação (IA e etc.): Ironicamente, pensamos que a automação será inequivocamente benéfica e amplamente aplicável numa parte do mundo que não precisa tanto dela do ponto de vista demográfico, ou seja, nas EME onde o stock de capital e a relação capital-trabalho os índices são ambos baixos. Nessas economias, a perturbação causada pela automação é muito baixa. Em vez disso, ao ajudar estas economias a contornar toda uma geração de capital que se está a tornar redundante nas AE, a automatização pode aumentar a produtividade nas EME muito mais rapidamente e a um custo muito mais baixo.
165 - Nas décadas anteriores, entre as décadas de 1950 e 1970, as taxas de participação dos maiores de 65 anos na maioria das economias avançadas eram mais elevados do que são hoje. (...) No entanto, a esperança de vida continuou a aumentar e isso deveria significar que a taxa de participação deveria ter continuado a cair, uma vez que o impacto dos idosos mais velhos na as taxas de participação dos maiores de 65 anos aumentaram (Diagrama 10.1). (...) Porém, isso tem mudado de novo, pelas razões ditas no capítulo anterior. (...) A combinação de viver mais com pensões mais baixas é provável que tenha levado a um aumento nas taxas de participação. A Alemanha pós-reforma da previdência de 2003 foi um grande exemplo disso.
166 - O problema é que os autores imaginam um teto curto para essa tendência de aumento. Se grande parte do aumento necessário na participação já tiver sido realizado hoje, há menos espaço para melhorias no futuro quando o tamanho do o problema demográfico torna-se mais grave. Ademais, faltaria "incentivo": a nossa principal suposição é que a pensão/aposentadoria os benefícios podem ser reduzidos, mas não em quantidades drásticas.
167 - Quanto à imigração, por enquanto é uma força por demais tímida. Os fluxos migratórios líquidos para as AE e para fora das EME atingiram o pico em 2007, cerca de 24 milhões cada. Quando normalizado em relação ao tamanho de população, no entanto, estes fluxos são demasiado pequenos para fazerem diferença (Diagrama 10.5). E o cenário político torna tudo cada vez pior.
168 - O resto do mundo vai compensar os países envelhecidos? Mesmo se a imigração permanecer uma política controversa demais, então o capital pode fluir para as economias abundantes em mão-de-obra. Estes fluxos de capital podem ser combinados com a oferta local de mão-de-obra nas economias com abundância de mão-de-obra para produzir bens e serviços que, por sua vez, podem ser exportados de volta para economias com mão-de-obra deficiente. Índia parece, por exemplo, o país perfeito pra isso. Razão capital-trabalho ainda baixa. O stock incremental de capital não só melhorará a relação capital-trabalho, como também transformará a qualidade dessa interacção de forma múltipla.
169 - ...Não acham, porém, que a Índia será exatamente a próxima China. Talvez ela tenha que enfrentar um mundo mais antiglobalização, por exemplo. O declínio nas taxas de juro nominais e reais durante (e causado em grande medida pela) ascensão da China criou condições benignas a nível interno nas economias avançadas. (...) Agora, a Índia tem de enfrentar uma oferta de mão-de-obra em declínio, não apenas nas economias avançadas, mas também nas poderosas economias industriais do Norte da Ásia e da Europa Oriental. Se isso significar que o crescimento real dos salários, a inflação e as taxas de juro nominais vão subir, então será bastante difícil melhorar o crescimento nas economias envelhecidas e, portanto, a oposição política à transferência da produção para a Índia seria maior. No mais, dão outro fator de explicação mais cultural. A estrutura social chinesa estaria mais acostumada, por milênios, a inovações e empreendedorismo.
170 - ...Por fim, só faltaram dizer que a ditadura chinesa seja uma vantagem (e em algum sentido talvez seja...): O capital administrativo da Índia está a partir de um nível extremamente fraco e as colisões internas no seu sistema multipartidário, bem como entre os estados e o governo federal, tornam difícil a gestão de uma política coordenada de crescimento. (...) A fricção política, mesmo em questões mundanas, sugere uma probabilidade muito baixa de conceber e cumprir uma estratégia nacional para direccionar recursos financeiros e físicos para uma mobilização ao estilo da China.
171 - Sobre a África, colocam que não pode ser vista como uma unidade - como a China -, sendo cada país uma situação diferente (assim fica faltando a "soma de um bilhão coordenados para a prosperidade", digamos). Ademais, em segundo lugar, e mais importante, falta-lhes a quantidade de capital humano de que a Índia dispõe, bem como o sistema profundamente enraizado e generalizado de aprendizagem, guildas e eficiência que foi aperfeiçoado ao longo dos séculos na China. (...) No Índice de Capital Humano do Banco Mundial para 2019, a Índia está classificada no terceiro quartil. Apenas cerca de meia dúzia de economias em África partilham esta classificação.
172 - ...A fragmentação geográfica interage com a demografia de uma forma significativa. A demografia da Índia pode ser considerada unitária graças à liberdade de circulação dentro das suas fronteiras. A mão de-obra pode deslocar-se para áreas de crescimento rápido com bastante rapidez e, portanto, ser um complemento significativo ao capital onde quer que seja aplicado. No entanto, as fronteiras de África são menos porosas do que abertas.
173 - Não haverá próxima China então? O progresso será provavelmente sólido e, por vezes, espectacular, mas muito provavelmente ficará aquém do tipo de impulso que uma economia global envelhecida necessita. Colocam que alguns são otimistas com certas regiões de alta densidade populacional da Ásia e África. Tal cenário facilitaria alta produtividade via transferência de tecnologia. Supostamente. Não aprofundam muito. Goodhart e Pradhan acham a hipótese "sonhadora", digamos. Chegaríamos ao ponto de dizer que as economias emergentes que não conseguem transformar-se em economias avançadas fracassam não por causa da chamada armadilha do rendimento médio, mas por causa de uma armadilha administrativa. As previsões de Desmet et al., embora inspiradoras, estão condicionadas ao desenvolvimento do stock de capital administrativo que falta a estas economias.
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