Livro: C. Goodhart e M. Pradhan - The Great Demographic Reversal - Capítulo 6

                                                                                                               

Livro: Charles Goodhart e Manoj Pradhan - The Great Demographic Reversal



Pgs. 104-116


"CAPÍTULO 6: "A determinação das taxas de juros (reais) Durante a Grande Reversão"


90 - Mundo precisa ter poupança = investimento. Assim, se apontarmos para um determinado país, digamos a China, onde as poupanças excederam o investimento e há um excedente na balança corrente, então, por definição, existe outro país (ou países como o Reino Unido ou os EUA) onde as poupanças têm sido inferiores ao investimento e há um déficit em conta corrente


91 - Citam uma tabela que lista fatores que influenciam a taxa de juros real.



92 - O abrandamento do crescimento do PIB terá impactos na taxa de juros real? Num estudo empírico desenhado para investigar os determinantes da taxa de juro real de equilíbrio nos EUA, Hamilton et al. (2015) concluem que a única relação significativa entre as taxas de juro reais dos EUA é que estas são cointegradas com as taxas de juro reais no resto do mundo. O crescimento desempenha um papel, tal como muitos outros factores, mas não apresenta qualquer relação dominante na determinação da taxa de juro real de equilíbrio, utilizando dados de 1858-2014. Veja também Rachel e Summers (2019, pp. 11/12) e Rachel e Smith (2015).


93 -  Excesso de poupança: A tendência decrescente das taxas de juro reais nas últimas décadas, de 1980 a 2015, é uma prova prima facie de que a poupança ex ante excedeu o investimento ex ante durante este período


94 -  Um crescimento populacional mais lento reduzirá a poupança (assumindo um rácio de dependência constante), mas diminuirá igualmente a necessidade de mais capital, casas, equipamento, etc.


95 - Ciclo de vida e o consumo aumentando com a idade: ...A miopia e uma subestimação da longevidade causariam uma descida ainda maior do consumo relacionado com a idade. Mas, na verdade, os dados (Diagrama 6.1) mostram que o consumo relacionado com a idade se estabiliza, ou mesmo aumenta, com a idade. Isto deve implicar, e implica, uma transferência considerável dos trabalhadores para os idosos



96 - ... O nosso principal pressuposto de economia política é que a rede de segurança permanecerá em vigor, evitando que a poupança aumente proporcionalmente à longevidade. Os gastos com saúde pública têm aumentado e tendem a aumentar.




97 - O impacto económico da China na economia mundial tem sido grande. Uma das dimensões desta situação tem sido a pressão ascendente sobre o preço das matérias-primas, incluindo, nomeadamente, o petróleo. Muito petróleo foi produzido em países relativamente escassamente povoados (Arábia Saudita, Golfo e Noruega). (...) Na verdade, todos os países que tiveram excedentes na balança corrente (grandes poupanças líquidas) ou estão a envelhecer rapidamente (China e Alemanha), ou são susceptíveis de ver a sua vantagem relativa reduzir (os países com moeda petrolífera).


98 - Sobre a tese deles de que o investimento em habitação não vai cair devido a preferência dos idosos e famílias pelos espaços subocupados: ...O comportamento social poderia mudar? Os idosos poderiam vender as suas casas e viver juntos com a sua família alargada? É claro que isso poderia acontecer. Mas pensamos que é mais provável que isso aconteça nas EME do que nas EAs. Neste último caso, quebrar costumes sociais de longa data exigiria que as pressões demográficas se agravassem substancialmente antes de tais mudanças se generalizarem.


99 - Apostas: ...Mesmo antes de a demografia começar a impulsionar o crescimento dos salários, o preço dos bens de capital já estava a cair. À medida que os salários começarem a subir, será mais fácil compensar o trabalho mais caro graças a um custo mais baixo dos bens de capital. O aumento resultante na produtividade irá moderar um pouco o aumento dos salários e da inflação. Porém, mais à frente colocam: Esperamos plenamente que a tecnologia tenha um impacto benéfico significativo na produtividade e, portanto, na contenção da inflação e das taxas de juro nominais. Mas preferimos ter uma visão agnóstica porque não temos conhecimentos específicos em prever o ritmo das inovações. 


100 - ...Continuam a especular: ...Se o crescimento salarial consumir os lucros das empresas, como começou recentemente, então deverá desenvolver-se uma maior vontade de investir, a fim de aumentar a produtividade do trabalho e proteger a rentabilidade das empresas. Ainda não se sabe se esse pouco de lógica económica será suficiente para relançar o investimento. A razão de endividamento das empresas não-financeiras também preocupa, pois uma subida relevante e longa dos juros pode ser algo catastrófico para o nível de investimento. (...)  No geral, há tantas correntes cruzadas para traçar o futuro do equilíbrio de investimento/ poupança das empresas não financeiras que faz girar a cabeça. 


101 - Equilíbrio macro: Esperamos que as taxas de juro reais aumentem. Isso porque o sector público não poupará o suficiente.


102 - Trazem gráfico que põem em dúvida a argumentação de alguns que o baixo nível estrutural da taxa de juros tenha a ver com o crescimento da aversão ao risco. Fosse assim, o spread entre títulos corporativos AAA e BBB deveria, por exemplo, ter aumentado. (Na maioria do tempo foi até o contrário). (Mas será que não seriam os QE's dos BC's mudando artificialmente isso?)



103 - (Penso se, apesar de tudo que diz o livro, o "excesso de poupança" global não continuará. Afinal, cada vez mais o mundo tem condição de poupar visto que mais e mais as pessoas se livram das necessidades mais básicas, salvo retrocesso econômico).


104 - O futuro dos BC's:  Durante estes últimos 30 anos, os banqueiros centrais continuaram a ser os melhores amigos dos Ministros das Finanças. Ao reduzirem as taxas de juro de forma constante, permitiram que o peso da dívida resultante do aumento acentuado dos rácios da dívida fosse completamente compensado. No futuro, isto irá mudar, e de uma forma que tornará a vida de ambas as partes mais difícil. O aumento das taxas de juro nominais, numa altura em que a perspectiva é de continuação e, em alguns casos, de agravamento dos défices fiscais, e de rácios da dívida ainda em forte aumento, irá tornar a vida dos Ministros das Finanças e dos Primeiros-Ministros, consideravelmente mais problemático. Além disso, o aumento dos rácios da dívida no sector empresarial, fora dos bancos, vai significar que a tentativa de manter a meta de inflação poderá deixar o sector empresarial, e a macroeconomia, em maior risco de incumprimento e de recessão.


105 - Resultado disso tudo? Apostam que a curva de juros vai mudar bastante: As taxas de juro de curto prazo são determinadas por decreto oficial, pelo menos no curto e médio prazo, enquanto as taxas de juro de longo prazo dependem mais das forças de mercado. Em grande parte devido ao contexto político que vemos desenrolar-se, pensamos que é altamente provável que as taxas curtas se mantenham abaixo do aumento da inflação que vemos desenvolver-se nas próximas décadas. Em contraste, porém, à medida que este novo e desconfortável mundo emerge com mais clareza, as taxas longas começarão a subir e muito provavelmente subirão acima da actual taxa de inflação.


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