Livro: C. Goodhart e M. Pradhan - The Great Demographic Reversal - Capítulo 5

                                                                                                              

Livro: Charles Goodhart e Manoj Pradhan - The Great Demographic Reversal



Pgs. 86-103


"CAPÍTULO 5: "O ressurgimento da inflação"


76 - Não veem inflação como fenômeno puramente monetário. Os dependentes que não trabalham consomem e não produzem. Os dependentes são inflacionários. (...)  Quase por definição, uma melhoria na taxa de participação global é deflacionária, uma vez que os trabalhadores superam aqueles que não trabalham. À medida que o rácio de dependência cai, a desinflação provocada por mais trabalhadores supera o impacto inflacionista dos dependentes. Citou lá até estudo empírico em favor de sua tese.


77 - O grande aumento de oferta de trabalhadores das últimas décadas teria ajudado a manter os salários reais estagnados para  a maioria. Bom para os retornos do capital: Como o consumo proveniente dos lucros é menor do que o consumo proveniente dos salários, ver, por exemplo, Kalecki (1954), uma melhoria nas taxas de participação é deflacionária. Isso tenderá a se inverter agora, colocam. Nas próximas décadas, a taxa de crescimento dos dependentes ultrapassará a dos trabalhadores.


78 - Colocam que a taxa de desemprego estrutural caiu porque o poder de negociação dos trabalhadores ficou mais fraco. Tudo isso tornou, provisoriamente, a Curva de Phillips mais plana. Tudo tende a mudar:  O efeito combinado de uma redução na globalização, da oposição à imigração e do declínio de novos jovens que entram no mercado de trabalho conduzirá a uma redução da força de trabalho em países com desafios demográficos. À medida que isto acontecer, o poder de negociação do trabalho nesses países aumentará novamente. Prevê sindicatos recuperando força. Acham que, também por isso, o desemprego "natural" (digamos) aumentará.


79 - Onde tudo isso vai desaguar? Se o sector privado não financeiro (famílias e sector empresarial) começar a regressar ao défice, então o equilíbrio macroeconómico exigirá que o sector governamental mude para excedentes. No entanto, passar de um défice para um excedente quando as despesas relacionadas com o envelhecimento vão disparar será extremamente doloroso e consideramos que não é politicamente viável. A inflação torna-se então uma forma de restaurar o equilíbrio macroeconómico.


80 - Muitos daqueles que argumentam que a poupança do sector pessoal permanecerá suficientemente elevada para manter baixas as taxas de juro reais e a procura agregada (o campo da estagnação secular) fazem-no no pressuposto de que (i) a idade de reforma aumentará em relação à idade esperada de morte e/ou (ii) que os benefícios estatais para os idosos cairão em relação ao rendimento médio dos trabalhadores. Se alguma dessas coisas acontecesse, a taxa de aumento das despesas com os idosos seria inferior à produção gerada pelos trabalhadores. Ambas são possíveis, mas nenhuma delas é provável, por razões sociais e políticas.



81 - Moradia e envelhecimento. Curiosamente o investimento residencial não vai precisar cair tanto quanto alguns imaginam em razão da subocupação dos imóveis. O tamanho médio dos agregados familiares caiu de 2,48 em 1980 para 2,36 em 2018, em grande parte devido ao envelhecimento da população. Se o tamanho dos agregados familiares hoje fosse o mesmo que em 1980, haveria mais 1,3 milhões de habitações disponíveis. Se as pessoas vivessem em casas mais adequadas às suas necessidades, seriam necessárias menos 50 mil casas por ano. Uma das principais conclusões é que o número de pessoas que viverão sozinhas aumentará 30 por cento até 2040 – resultado principalmente do envelhecimento da população.


82 - Rebatem os "otimistas da poupança", digamos assim. Para estes, as pessoas perceberiam os prognósticos demográficos complicados e passariam a poupar mais, mantendo as taxas de juros reais baixas como consequência. Os autores discordam: As pessoas não poupam adequadamente para suavizar o seu consumo ao longo do ciclo de vida esperado. (...) A conclusão é absolutamente clara de que, pelo menos atualmente, as pessoas não poupam o suficiente para suavizar seu consumo ao longo de sua vida útil mais longa esperada. Cita o idoso do Japão como indício, por exemplo.


83 - A década de 2010 foi um período de valorização acionária e alta dos lucros corporativos:



84 - ...Apesar disso, a taxa de investimento não aumentou na maioria dos países. Elencam quatro possíveis motivos não-excludentes para tal "paradoxo": 1. Crescente concentração empresarial e monopolização; 2. Tecnologia (capital humano seria um investimento mais barato/eficiente que capital fixo e as novas tecnologias demandam mais o primeiro que o segundo...); 3. Incentivos gerenciais (Acionistas/proprietários e gestores felizes com a maximização da rentabilidade de curto prazo e recompras de ações da vida...); 4. Mão de obra barata (Por que  investir  em  equipamento  caro  no  país,  a  fim  de  aumentar  a  produtividade,  quando  se  pode  aumentar  a  produção  a  custos  mais  baixos  transferindo  a  produção  para  o  estrangeiro,  por  exemplo,  para  a  China  ou  a  Europa  Oriental,  ou  empregando  imigrantes?).



85 - Sobre monopolização:  Num recente documento de trabalho do NBER, Liu et al. (janeiro de 2019) argumentaram que a continuação de taxas de juro muito baixas conduziu, por si só, a uma maior concentração do mercado, a um menor dinamismo e a um ritmo mais lento. crescimento da produtividade. (Não sei bem o porquê de taxa de juros muito baixa fazer isso...).


86 - Sobre mão-de-obra, reforçam a aposta na virada: ...Entretanto, o ponto ideal demográfico, que conduz a um aumento maciço da força de trabalho e à queda dos rácios de dependência, está prestes a inverter-se acentuadamente, como já aconteceu no Japão. Isto terá o efeito de aumentar os salários reais na maioria das economias ocidentais, e é provável que leve os empresários a investir mais por unidade de trabalho, a fim de aumentar a produtividade e manter baixos os custos unitários do trabalho. (...) Por estas razões, pensamos que é bastante provável, embora longe de ser certo, que, no futuro, o investimento por trabalhador aumente. É incerto se isto será suficiente para compensar o declínio da taxa de crescimento dos trabalhadores, que tende a reduzir o investimento. Assim, o investimento empresarial pode aumentar ou diminuir, mas não irá, acreditamos, cair muito.


87 - O aumento dos custos unitários do trabalho e o aumento do poder de negociação relativo do trabalho reduzirão a rentabilidade, em comparação com as décadas de glória de 1980-2020, quando a globalização, a demografia e o dinheiro fácil proporcionaram um paraíso capitalista


88 - Preocupam-se com a questão fiscal: Historicamente, os défices contínuos à escala das últimas duas décadas (ver Diagrama 5.10) só foram observados em tempos de guerra e muitas vezes exigiram uma combinação de excedentes fiscais austeros persistentes e de inflação (inesperada) para serem controlados. Abaixo o quadro fiscal dos países mais importantes nas últimas décadas:



89 - O crescimento é a primeira e mais óbvia vítima, com um declínio na crescimento; e o total de horas trabalhadas cairá inevitavelmente.


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