Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar - Capítulo 3 (PARTE "C")
Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar
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Pgs. 69-84
"CAPÍTULO 3: "Como foi que chegamos aqui? - UMA BREVE HISTÓRIA DO CAPITALISMO"
52 - Bretton Woods começa a cair: ...Com a reconstrução do pós-guerra e, em seguida, o rápido desenvolvimento de outras economias, a suposição não era mais válida. Uma vez que as pessoas perceberam que o dólar americano não era tão bom quanto o ouro, tiveram mais incentivo para converter dólares em ouro, o que reduziu ainda mais a reserva dos Estados Unidos e fez o dólar parecer ainda menos confiável. Os passivos dos Estados Unidos (notas de dólar e notas do Tesouro, ou seja, títulos do governo americano), que eram apenas da metade do tamanho das reservas de ouro do país até 1959, se tornaram uma vez e meia maiores em 1967.
53 - Segundo Chang, o termo "estagflação" traz uma ideia exagerada, pois o PIB per capita continuava crescendo ok nos anos setenta, mas as pessoas queriam mudança.
54 - O governo Thatcher reduziu os impostos para a faixa de renda mais elevada, cortou gastos do governo (especialmente na educação, habitação e transportes), introduziu leis reduzindo o poder dos sindicatos e aboliu o controle do capital (restrições às transferências transfronteiriças de dinheiro). A medida mais simbólica foi a privatização — a venda de empresas estatais a investidores privados. Gás, água, eletricidade, siderurgia, aviação, automóveis e setores da habitação pública foram privatizados. Os juros altos e valorização da libra, a fim de conter a inflação, causaram anos de pesada recessão e desemprego.
55 - Reagan: ...Ao mesmo tempo, os subsídios para os pobres (especialmente na habitação) foram cortados e o salário mínimo congelado, para incentivá-los a trabalhar mais.
56 - Critica a mentalidade corporativa que tomou conta dos EUA após a desregulamentação financeira: A maneira mais fácil para as empresas apresentarem um lucro rápido era por meio do downsizing, ou enxugamento — reduzindo o número de funcionários e minimizando investimentos não necessários para resultados imediatos, mesmo que essas medidas diminuam as perspectivas da empresa a longo prazo.
57 - Neoliberalismo chileno: A Codelco, maior mineradora de cobre do mundo, que havia sido nacionalizada em 1971 pelo governo de esquerda de Allende, foi mantida como estatal. Várias agências públicas e semipúblicas (como a Fundación Chile) deram consultoria técnica subsidiada e auxílio de marketing para exportações a produtores agrícolas.
58 - Sobre a queda do "socialismo real", Chang cita os problemas de incentivos e de organização de uma economia cada vez mais diversificada. Além da desigualdade definida pela política. Porém, avalia que... O grande problema, em última análise, era que as economias do bloco soviético tentaram construir um sistema econômico alternativo baseado em tecnologias fundamentalmente de segunda categoria. Havia, é claro, certas áreas como a exploração do espaço e as tecnologias militares, em que eles eram líderes mundiais (afinal, em 1957 a União Soviética colocou o primeiro homem no espaço), graças aos recursos desproporcionais ali investidos. No entanto, quando ficou claro que o governo só podia oferecer aos seus cidadãos produtos de consumo de segunda categoria — simbolizados pelo Trabant, carro da Alemanha Oriental com carroceria de plástico, que logo se tornou peça de museu após a queda do Muro de Berlim —, os cidadãos se revoltaram.
59 - O capitalismo na Rússia matou milhões? Na Rússia, o colapso econômico e o resultante desemprego e insegurança econômica causaram tanto estresse mental, alcoolismo e outros problemas de saúde que se estima que milhões a mais morreram do que seria o caso se as tendências pré-transição tivessem continuado.
60 - ...Em muitos países, a velha elite simplesmente “trocou de terno” e se transformou de apparatchiks do Partido Comunista em empresários, enriquecendo enormemente ao adquirir bens estatais a preços de liquidação através de práticas de corrupção e “relações privilegiadas” no processo de privatização. Os países da Europa central — Polônia, Hungria, República Tcheca e Eslováquia — se saíram melhor, em especial depois de 2004, quando aderiram à União Europeia, graças a uma filosofia de implantação mais gradual das reformas e a uma mão de obra mais especializada.
61 - Culpa a liberalização financeira que se inicia nos anos oitenta pela crise asiática: Agora, enfrentando menos restrições, seus bancos tomaram emprestado dos países ricos, que tinham taxas de juros mais baixas, agressivamente. Por sua vez, bancos dos países ricos viam pouco risco em emprestar a países com décadas de excelente histórico econômico. À medida que mais capital estrangeiro entrava, os preços dos ativos subiam, o que permitiu às empresas e famílias nos países asiáticos tomar emprestado ainda mais, utilizando seus ativos, agora mais valiosos, como garantia. Logo esse processo chegou à sua consequência lógica, com a expectativa de preços dos ativos sempre crescentes justificando ainda mais pedidos e concessões de empréstimos (isso soa familiar?). Quando mais tarde se tornou claro que os preços desses ativos eram insustentáveis, o dinheiro foi retirado, e as crises financeiras se seguiram.
62 - Crise asiática trouxe debates sobre regulamentação bancária. Quando essas crises foram postas sob controle, as conversas sobre reforma financeira global recuaram. Nos Estados Unidos, um grande impulso na direção oposta veio sob a forma de revogação, em 1999, da icônica lei do New Deal, a Lei Glass-Steagall (1933), que separava estruturalmente os bancos comerciais dos bancos de investimento.
63 - "Grande Moderação": Alan Greenspan, presidente do conselho do Federal Reserve entre agosto de 1987 e janeiro de 2006, foi reverenciado como o “Maestro”. Grandes baixas e altas teriam acabado.
64 - Crise de 08: Inicialmente, os empréstimos hipotecários problemáticos nos Estados Unidos foram avaliados de 50 bilhões a 100 bilhões de dólares — não é uma quantia pequena, mas uma quantia que pode ser facilmente absorvida pelo sistema (ou foi o que muitos alegaram na época). No entanto, a crise propriamente dita eclodiu em meados de 2008 com a falência dos bancos de investimento Bear Stearns e em seguida Lehman Brothers. Um pânico financeiro enorme varreu o mundo. Revelou-se que até mesmo alguns dos nomes mais veneráveis da indústria financeira estavam em apuros, tendo gerado e comprado uma grande quantidade de produtos financeiros compostos duvidosos. (...) Grandes instituições financeiras (por exemplo, o Royal Bank of Scotland, do Reino Unido) e empresas industriais (como a GM e a Chrysler, nos Estados Unidos) foram socorridas com dinheiro público.
65 - Período 2010 a 2012: O sucesso dos republicanos em obrigar o governo Obama, nos Estados Unidos, a aceitar um enorme programa de corte de gastos em 2011 e a reafirmação do viés antideficitário dos principais países europeus, sob a forma do Acordo Fiscal Europeu, assinado em 2012, empurraram as coisas ainda mais nessa direção. (direção do equilíbrio orçamentário). Chang temia uma década perdida para a maioria dos países. Porém, não chegou a tanto.
66 - A Suíça, sempre considerada o refúgio dos super-ricos, aprovou uma lei em 2013 impedindo remunerações elevadas para altos executivos com desempenho medíocre. Embora haja muito a ser feito em relação a reformas financeiras, essas medidas seriam de fato consideradas impossíveis antes da crise.
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