Livro: Ha-Joon Chang - Chutando a Escada - Capítulo 1 e 2 ("PARTE A")

                                                                                                                                                     

Livro: Ha-Joon Chang - Chutando a Escada



Pgs. 1-29


"CAPÍTULO 1: "Como os países ricos enriqueceram de fato?"


1 - Chang, Ha-Joon. Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica/ Ha-Joon Chang; tradução Luiz Antônio Oliveira de Araújo. - São Paulo: Editora UNESP, 2004


2 -  É possível que uma ou duas pessoas saibam até que, no século XIX, a Suíça se alçou à categoria de líder mundial em tecnologia sem contar com uma só Lei de Patentes. Holanda entra no bolo também, segundo li mais à frente.


3 - O livro de List - o pai do conceito de indústria nascente: ...foi traduzido nos Estados Unidos já em 1856 (Henderson, 1983, p. 214) refletindo a afinidade de então entre os Estados Unidos e a Alemanha como os dois centros de economia "nacionalista" (cf. também Dorfman, 1955; Balabkins, 1988; 2001). Entretanto, a tradução britânica, versão utilizada neste livro, só viria a ser em 1885, o que reflete o domínio da doutrina do livre-comércio na Grã-Bretanha da metade do século XIX. List tinha insights avançados: A história também ensina que os indivíduos derivam grande parte de sua energia produtiva das instituições sociais e das condições que lhes são dadas.


4 - Inglaterra e as antigas manufaturas segundo List: Deram-se conta de que a recém-criada indústria nacional não teria chance de sucesso em livre concorrência com as estrangeiras, estabelecidas havia muito mais tempo (as italianas, as hanseáticas, as belgas e as holandesas)List prossegue alegando que o livre-comércio é benéfico entre países de nível semelhante de desenvolvimento. Quando há desnível... Afirma que o livre-comércio certamente beneficia os exportadores de produtos agrícolas dessas economias, se bem que, a longo prazo, em detrimento da manufatura local e da prosperidade da economia nacional. (...) Seria o suposto destino dos EUA por sinal. Em "A riqueza das nações", Adam Smith (1937, p.34 7-8) aconselha seriamente os norte-americanos a não caírem na tentação de promover sua indústria incipiente.


5 - Chang parece ver a escola histórica alemã como subestimada. Coloca que até mesmo Marshall a elogiou como importante, tamanha era influência da mesma à época. No fim do século XIX e no início do XX, muitos destacados economistas norte-americanos sofreram a influência direta ou indireta dessa escola (Balabkins, 1988, cap.6; Hodgson, 2001; Dorfman, 1.955). (...) Balabkins (1988, p.95) cita uma pesquisa feita em 1906, mostrando que a metade dos norte-americanos que estudaram ciências sociais na Europa fizeram-no na Alemanha.


6 - Estudiosos como Arthur Lewis, Walt Rostow e Simon Kuznets formularam suas teorias dos "estágios" de desenvolvimento econômico com base num conhecimento profundo da história da industrialização nos países desenvolvidos. Igualmente prestigiosa foi a tese do "desenvolvimento tardio" do historiador econômico russo-americano lexander Gerschenkron, que, com base na experiência da industrialização européia, argumentava que o ritmo continuamente crescente do desenvolvimento tecnológico impunha aos países que estavam empreendendo a industrialização a criação de veículos institucionais mais eficazes para mobilizar o financiamento industrial.


7 - É a favor de que se adote a maioria das boas instituições, mas observa que são mais consequência que causas do desenvolvimento. Chang diz que algumas são bem discutíveis mesmo hoje, como o banco central independente.


8 - Este primeiro capítulo acaba sendo mais uma apresentação do livro mesmo. A tese? O fomento à indústria nascente (mas, convém ressaltar, não exclusivamente via proteção tarifária) foi a chave do desenvolvimento da maioria das nações, ficando as exceções limitadas aos pequenos países da fronteira tecnológica do mundo ou muito próximos dela, como a Holanda e a Suíça.



Pgs. 30-43


"CAPÍTULO 2: "Políticas de desenvolvimento econômico: perspectiva histórica das políticas industrial, comercial e tecnológica"


9 - A lenda: Essa ordem liberal mundial, aperfeiçoada por volta de 1.870, apoiava-se em: políticas industriais do laissez-faire internamente; poucas barreiras aos fluxos internacionais de bens, capital e trabalho; e estabilidade macroeconômica nacional e internacional, a qual era garantida pelo padrão-ouro e pelo princípio do equilíbrio orçamentário. Seguiu-se um período de prosperidade sem precedentes. A I Guerra é que teria trazido fechamento das economias e começado a estragar a história. Além dos EUA... Outros países, como a Alemanha e o Japão, erigiram elevadas barreiras comerciais e também passaram a criar poderosos cartéis, os quais se ligaram estreitamente ao fascismo e às agressões externas por eles perpetrados nas décadas seguintes. Até a Inglaterra reintroduziu as tarifas em 1932.


10 - Também segundo a versão liberal da história, nos meados do Século XX, ainda prevaleceram teorias "equivocadas", como o argumento da indústria nascente, a teoria do big push de Rosensetin-Rodan (1943) e o estruturalismo latino-americano.


11 - Inglaterra e sua guinada pelo livre-comércio após a revogação das Corn Laws em 1846: baseava-se em sua incontestável superioridade econômica na época e estivesse inextricavelmente ligada à sua política imperialEntre 1860 e 1880, muitos países europeus aboliram substancialmente a proteção tarifária. Ao mesmo tempo, a maior parte do resto do mundo foi obrigada a praticar o livre-comércio pelo colonialismo (ver a seção 2.3.1) e, no caso de algumas nações nominalmente "independentes" (como as latino-americanas, a China, a Tailândia (Sião na época), o Irã (Pérsia) e a Turquia (Império Otomano)), mediante tratados desiguais (ver seção 2.3.2). Ademais, mal existia política fiscal ou monetária nessa época. Eram modestas e evitavam o expansionismo.


12 - ...Apesar de todo esse quadro, políticas industriais e comerciais não deixavam de ser adotadas: Na frente comercial, os subsídios e os reembolsos aduaneiros aos insumos eram usados com freqüência para estimular a exportação. O Estado tanto subsidiava a indústria quanto recorria a diversos programas de investimento público, sobretudo em infra-estrutura, mas também na manufatura. "Outras paradas": ...Financiava a aquisição de tecnologia estrangeira, às vezes por meios legais, como o financiamento de viagens de estudo e treinamento, outras por meios ilegais, entre os quais figuravam o apoio à espionagem industrial, o contrabando de maquinário e o não-reconhecimento de patentes estrangeiras.


13 - Quadro completo sobre proteção tarifária:



14 - A Grã-Bretanha tomou providências para impedir a transferência de tecnologia para os concorrentes potenciais (por exemplo, o controle da migração da mão-de-obra especializada ou da exportação de maquinaria) e pressionou os países menos desenvolvidos para que abrissem seus mercados, inclusive empregando a força quando necessário.


15 - Acredita-se que Eduardo III (1327-77) foi o primeiro monarca a procurar, deliberadamente, desenvolver a manufatura local de tecido de lã. Dando o exemplo para o resto do país, ele só usava roupa de pano inglês, atraiu tecelões de Flandres, centralizou o comércio de lã bruta e proibiu a importação do tecido de lã (Davies, 1966, p.28-1; 1 999, p.349). A fase áurea do protecionismo inglês viria com os Tudor: Nele, narra minuciosamente como os Tudor, especialmente Henrique VII (1485-1509) e Elizabete I (1558-1603), transformaram a Inglaterra, uma nação muito dependente da exportação de lã bruta para os Países Baixos, numa das maiores fabricantes de lã do mundo (Defoe, 1728, p.81-101). (...) As medidas adotadas incluíram o envio de missões reais para identificar os lugares adequados à instalação das manufaturas, a contratação de mão-de-obra especializada dos Países Baixos, o aumento das tarifas e até mesmo a proibição temporária da exportação de lã bruta.


16 - Política protecionista (ultra?-)gradualista: Tão logo se evidenciou que a Grã-Bretanha não tinha condições de processar toda a sua produção de lã, ele voltou a suspender os impostos e liberou a exportação. Segundo Defoe (1.728, p.97-8), foi só no reinado de Elizabete I (1587), quase cem anos depois de Henrique VII ter inaugurado sua política de substituição de importações (1489), que a Grã-Bretanha ganhou suficiente confiança na competitividade internacional da sua indústria para proibir definitivamente a exportação de lã bruta. Isso acabou por levar os fabricantes dos Países Baixos à ruína.


17 - ...Conforme a análise de Defoe, além dessa política de substituição de importações, outros fatores favoreceram o triunfo britânico na indústria de lã no reinado de Elizabete I. Alguns deles foram fortuitos, como a migração dos tecelões protestantes de Flandres depois da guerra de independência contra a Espanha, em 1.567. No entanto, outros elementos foram criados deliberadamente pelo Estado. Para abrir novos mercados, Elizabete I enviou emissários comerciais ao papa e aos imperadores da Rússia, da Mongólia e da Pérsia. O investimento maciço da Grã-Bretanha na obtenção da supremacia naval possibilitou a entrada em novos mercados, os quais muitas vezes foram colonizados e mantidos cativos (ibidem, p.97-101). Ainda sobre a indústria de lã, sem o apoio dessa indústria-chave, que chegou a representar pelo menos a metade da renda da exportação no século XVIII, a Revolução Industrial britânica seria, no mínimo, dificílima.


18 - Navigation Acts: comércio com britânicos só podiam ser feitos em navios britânicos.


(...)


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