Livro: Ha-Joon Chang - 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo - Capítulo 20

                                                                                                                                                  

Livro: Ha-Joon Chang - 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo



Pgs. 167-174


"CAPÍTULO 20: "A igualdade de oportunidades pode não ser justa"


172 - Igualdade de oportunidades? A não ser que exista alguma igualdade no resultado (p. ex., a renda de todos os pais está acima de um certo limite mínimo, o qual possibilita que as crianças não passem fome), as oportunidades iguais (p. ex., a instrução gratuita) não são realmente significativas.


173 - Hoje, tendo presenciado o sucesso econômico de alguns países confucionistas, muitas pessoas acham que se trata de uma cultura particularmente adequada ao desenvolvimento econômico, mas ela foi uma ideologia tipicamente feudal até ser adaptada às exigências do capitalismo moderno na segunda metade do século XX. Adotava rígida hierarquia social e distribuía as ocupações de acordo com a origem. Foi somente depois que nos libertamos do jugo colonial japonês (1910-1945) que o sistema tradicional de castas foi completamente extinto e a Coreia se tornou um país onde a origem da pessoa não coloca um teto na realização individual.


174 - Luta dos oprimidos de todo tipo: Sem essas e um sem número de outras campanhas realizadas pelas mulheres, pelas raças oprimidas e pelos membros das castas inferiores, ainda estaríamos vivendo em um mundo no qual restringir os direitos das pessoas de acordo com uma “loteria da condição de nascimento” seria considerado natural.


175 - ...Chang coloca que o mercado ajuda a derrubar barreiras do tipo. Cita o exemplo dos japoneses no apartheid. O "governo" lá permitiu amplos direitos aos japoneses (considerados "brancos honorários") para poder contar com o know-how e investimentos dos mesmos. Não precisariam morar no Soweto, como todos os outros "não-brancos".


176 - Posição de Chang: Sem dúvida é verdade que as tentativas exageradas de igualar os resultados — digamos, a comuna maoista, onde praticamente não havia nenhum vínculo entre o esforço da pessoa e a recompensa que ela recebia — terão um impacto adverso no esforço de trabalho das pessoas. E isso também é injusto. Mas acredito que um certo grau de equalização de resultados se faz necessário para que possamos construir uma sociedade genuinamente justa. (...) De nada adianta que os sul-africanos negros tenham hoje as mesmas oportunidades que os brancos de obter um emprego altamente remunerado, se eles não têm o grau de instrução necessário para se qualificar para esse tipo de emprego. (...) muitas crianças britânicas da classe trabalhadora com talento acadêmico nem mesmo tentam ir para a universidade porque as universidades “não são para elas”.


177 - Ainda sobre as crianças com fome e problemas do tipo: Elas também podem ficar doentes com mais frequência, o que faz com que faltem mais às aulas. Se os seus pais forem analfabetos e/ou tiverem que trabalhar longas horas, as crianças não terão quem as ajude com o dever de casa, ao passo que as crianças da classe média serão ajudadas pelos pais e as ricas podem até ter professores particulares. Tendo ou não ajuda, elas podem nem mesmo ter tempo para fazer o dever de casa, caso tenham que tomar conta de irmãos mais novos ou cuidar das cabras da família. Sugestões paliativas (enquanto não acaba a pobreza): almoço gratuito na escola, vacinação, exames médicos básicos periódicos e alguma ajuda com o dever de casa depois do horário das aulas proporcionada por professores ou auxiliares de ensino contratados pela escola. No entanto, uma parte disso tudo precisa ser suprida em casa. As escolas têm uma certa limitação.


178 - Desemprego e proteção do Estado: Mesmo na vida adulta, é preciso que haja uma certa igualdade de renda. Todo mundo sabe que, uma vez alguém fique desempregado por um longo tempo, torna-se extremamente difícil para essa pessoa retornar ao mercado de trabalho. Entretanto, o fato de alguém perder o emprego não é inteiramente determinado pelo “valor” da pessoa. Algumas pessoas, por exemplo, perdem o emprego porque escolheram ingressar em um setor que parecia ter boas perspectivas quando elas começaram mas que depois foi duramente atingido pelo aumento da concorrência estrangeira. A conversão em outro emprego do mesmo nível nem sempre irá acontecer. Chang chega a dizer que raras vezes acontecerá, na verdade. Seguro-desemprego e programas de treinamentos seria uma "solução", como fazem os países escandinavos.


179 - Mobilidade: De acordo com um estudo cuidadoso realizado por um grupo de pesquisadores na Escandinávia e no Reino Unido, os países escandinavos têm uma mobilidade social mais elevada do que o Reino Unido, o qual, por sua vez, tem mais mobilidade do que os Estados Unidos. (Quanto maior  o Estado de Bem-Estar...) Particularmente no caso dos Estados Unidos, o fato de a baixa mobilidade geral ser em grande medida explicada pela baixa mobilidade na camada inferior indica que é a falta da garantia de uma renda básica que está impedindo que as crianças pobres aproveitem a igualdade de oportunidades.


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