Livro: Dalto et al. - Teoria Monetária Moderna - MMT - Capítulo 7

                                                                                     

Livro: Teoria Monetária Moderna – MMT: a chave para uma economia a serviço das pessoas (2020)


Pgs. 183-210


"CAPÍTULO 7: "ENDIVIDAMENTO PRIVADO, DÍVIDA PÚBLICA E INSTABILIDADE MACROECONÔMICA"


126 - Coube ao banqueiro Marriner Eccles, em fevereiro de 1933, apontar ao Congresso Americano o absurdo de uma economia abençoada por fantásticas e abundantes oportunidades produtivas que as estivesse desperdiçando por incapacidade do Governo de restabelecer a demanda agregada a nível compatível com o produto potencial da economia


127 - ...Incapazes de seguir vendendo tanto quanto antes, os empresários reduziram as compras de matérias-primas, equipamentos e tecnologias e demitiram vários dos funcionários, deprimindo ainda mais a demanda agregada e, com ela, a economia.


128 - Keynes versus o resto: Para economistas neoclássicos, o gasto voluntário dos agentes privados (consumo e investimento) funcionaria como regulador da demanda agregada, restabelecendo seu equilíbrio com o produto agregado, qualquer que fosse o valor, sempre que algum dos seus componentes aumentasse ou diminuísse, graças ao ajuste automático da taxa de juros.


129 - Ignorando-se os componentes da demanda agregada influenciados por fatores externos à dinâmica do gasto privado (isto é, as variações nos gastos governamentais e as transações com o setor externo), podemos identificar como determinantes das flutuações no nível da demanda agregada as flutuações no consumo e no investimento privados. Especialmente o investimento, que tem mais espaço pra crescer, já que o consumo está muito subordinado à renda real.


130 - Keynes: Basicamente, a eficiência marginal do capital é a taxa de retorno esperada pelo investidor em mais uma unidade de capital ou, mais precisamente, é a taxa de desconto que iguala o preço pelo qual um ativo real pode ser comprado no presente às rendas que o investidor espera receber dele no futuro. Todo ativo possui a sua própria eficiência marginal exprimível em termos de uma taxa de desconto (comparável a uma taxa de juros).


131 - Colocam que só em Keynes ficou ressaltado o papel que a moeda poderia ter como reserva de valor, sendo um ativo valiosíssimo em algumas situações: Embora outros ativos representem oportunidades de expandir riquezas graças ao recebimento de lucros, juros, aluguéis e ganhos de arbitragem, a moeda oferece a garantia absoluta de preservação do valor de uma aplicação em termos nominais e, principalmente, a oportunidade de ajustar, com máxima rapidez e sem custos, a composição de uma carteira de ativos. Liquidez.


132 - Minsky complementará a explicação das crises capitalistas alertando para a alavancagem, digamos assim: ...quando a compra de um ativo real é financiada com recursos próprios, o comprador simplesmente ajusta a composição dos seus ativos reduzindo a liquidez da sua carteira em troca de uma maior rentabilidade potencial, sem incorrer nos custos associados ao aumento de suas obrigações financeiras. Já quando a compra do ativo real é financiada externamente, há riscos adicionais de perda patrimonial tanto para o credor como para o tomador do empréstimo. O primeiro estará preocupado com a possibilidade de o lucro gerado pelo investimento não ser suficiente para que as obrigações financeiras assumidas pelo investidor (juros e amortizações) sejam cumpridas. Já o investidor estará alerta para as consequências negativas caso não consiga cumprir as suas obrigações financeiras, como a execução da sua dívida e a liquidação forçada de seus ativos. Quanto maior o risco para o credor, maior será o juro cobrado por ele e maiores serão as garantias exigidas ao investidor. Alternativamente, quanto maior for o risco para o tomador do empréstimo, menor será a sua disposição de investir. Dessa forma, uma situação em que um risco – ou ambos, aumente deprimirá, necessariamente, o investimento. Um ciclo virtuoso de expansão pode assim chegar ao fim. Ou vice-versa. Reduções de incertezas e/ou injeções de liquidez podem ser o ânimo que falta numa situação de crise.


133 - A estabilidade econômica é desestabilizadora. Essa é, essencialmente, a mensagem central da teoria de Hyman Minsky. Ou, em outras palavras, "a galera é emocionada"... "a galera se empolga"... Toma-se cada vez mais risco, enxergando-se uma apreciação "certa" dos ativos. Enfim, há efeitos retroalimentadores que tornem o investimento cada vez mais atraente.


134 - O cenário otimista seria incubador de "Ponzi's", na classificação de Minsky. Unidades endividadas que conseguem pagar integralmente as amortizações e juros com os recursos gerados por suas próprias rendas são denominadas, na nomenclatura de Minsky (1992), de unidades financeiras hedge . Unidades financeiras especulativas, por sua vez, são as que conseguem pagar os juros devidos aos seus credores com recursos próprios, mas não conseguem fazer amortizações do principal. Finalmente, temos as unidades Ponzi que não têm renda suficiente para pagar aos seus credores, sequer os juros incidentes sobre as dívidas.


135 - ...Quanto mais duradoura e aparentemente permanente é a tendência de alta de preço do ativo, mais confiantes se tornam os agentes de que os ganhos de capital de fato serão realizados se e quando o ativo for liquidado


136 - ...Quando a economia se torna predominantemente povoada por unidades Ponzi, a inversão do ciclo financeiro se torna iminente. No entanto, mesmo essa estrutura financeira muitíssimo frágil pode se sustentar por algum tempo, bastando para isso que os mecanismos de causalidade reflexiva entre a demanda especulativa por um ativo e o seu preço estejam especialmente calibrados. Afinal, a crença generalizada de que o preço de um ativo aumentará é uma profecia poderosamente autorrealizável. Enquanto houver demanda especulativa generalizada por um ativo, haverá motivos suficientes para que o ativo seja demandado especulativamente, mesmo na ausência de outras justificativas inteligentes para que se compre o referido ativo. (Citam as criptomoedas como exemplo atual disso. Com razão apenas parcial a meu ver).


137 - Uma hora a bolha estoura: "...há um incentivo cada vez mais forte para que os agentes liquidem logo suas posições de modo a garantir a realização dos seus ganhos de capital antes que a tendência de alta do preço chegue ao fim. Esse incentivo é tão mais forte quanto maior for o ganho de capital não realizado comparado ao preço originalmente pago pelo ativo."


138 - Mencionam as "chamadas de margem" do linguajar financeiro, que podem matar uns Ponzi. Quanto maior a taxa de alavancagem de uma unidade financeira, menor será a redução porcentual no preço do ativo dado como garantia que fará com que a unidade devedora se torne insolvente – e não consiga responder a uma eventual chamada de margem, ou que impedirá que as unidades Ponzi refinanciem suas dívidas.


139 - ...Crises financeiras deflacionárias podem decorrer disso aí. O sistema financeiro fica muito "sensível". Quedas percentuais que em situação normal fariam estrago x passam a fazer 2x, por exemplo. 


140 - ...A liquidação de garantias de dívidas executadas pelas instituições credoras reforça explosivamente a tendência deflacionária, expondo outras unidades alavancadas também à insolvência. É "dada a largada" das vendas...


141 - ...Na medida em que aumenta o valor da liquidez e seca o crédito, despenca, também, a eficiência marginal de ativos reais. Investidores potenciais desistem de investir e instituições bancárias se tornam menos dispostas a oferecer novos empréstimos. O ciclo de expansão se inverte e dá início a uma recessão.


142 - ...Em ambientes econômicos instáveis em que ocorra um aumento generalizado da preferência pela liquidez haverá não somente o entesouramento de ativos líquidos pelos proprietários de encaixes monetários – que se tornarão muito menos propensos a investir em ativos reais, mas, também, uma redução significativa nas fontes de financiamento acessíveis aos investidores potenciais, na medida em que bancos comerciais se tornam menos dispostos a emitir/emprestar moeda bancária à população.


143 - O Estado é "obrigado" a entrar: Na ausência de intervenções estabilizadoras pelas autoridades econômicas, uma crise de deflação de preços financeiros terminaria na simplificação e desalavancagem completa dos balanços patrimoniais privados. Neste cenário, teriam evaporado os valores de obrigações emitidas por unidades privadas falidas e de ativos reais tornados inúteis pela demanda colapsada.


144 - ...Dificilmente não será o Estado o salvador. Exceção, numa economia aberta, é esta: ...a situação em que a economia em crise é “abençoada” por um aumento na demanda externa pela produção doméstica. O déficit público entra lutando contra o déficit privado, provendo liquidez e ajudando a retomar a confiança. Chamam de boa gestão macroeconômica anticíclica.


FIM!


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