Livro: C. I. Jones - Introdução à Teoria do Crescimento Econômico - Capítulos 5, 6 e 7
Livro: Charles I. Jones - Introdução à Teoria do Crescimento Econômico (2000)
Pgs. 90-114
"CAPÍTULO 5: "O MOTOR DO CRESCIMENTO"
74 - "Teoria do crescimento endógeno" ou "nova teoria do crescimento": Em vez de supor que o crescimento se dá em decorrência de melhorias tecnológicas automáticas e não-modeladas (exógenas), a teoria busca entender as forças econômicas que estão por trás do progresso tecnológico. (...) A teoria específica que apresentaremos neste capítulo foi construída por Paul Romer em uma série de artigos que inclui um publicado em 1990 e intilado "Endogeneous Technological Change" . (...) Outras contribuições notáveis à literatura relativa aos modelos de crescimento embasado em P&D incluem Grossman e Helpman (1991) e Aghion e Howitt (1992). Esses modelos são, às vezes, chamados de modelos schumpeterianos de crescimento, pois foram antecipados pelo trabalho de Joseph Schumpeter em fins dos anos 1930 e início dos anos 1940.
75 - No novo modelo, entra retorno crescente de escala: se você duplicar o capital, o trabalho e o estoque de ideias, então você obterá mais do que o dobro de produtos.
76 - Transformando o "A" de Solow em endógeno: De acordo com o modelo de Romer, A(t) é o estoque de conhecimento ou o número de ideias que foram inventadas ao longo da história até o momento t. Então A é o número de novas ideias geradas em qualquer ponto do tempo. Isso vai depender do número de pessoas tentando criá-las e a eficiência delas, digamos assim:
77 - Tendências contrárias no que tange ao conhecimento: a tendência a que as ideias mais óbvias sejam descobertas primeiro compensa exatamente o fato de que as ideias antigas possam facilitar a geração de novas ideias - isto é, a produtividade da pesquisa independe do estoque de conhecimento.
78 - A meu ver, na prática a "endogeneidade" de Romer acaba sendo vincular o progresso tecnológico ao número de pessoas envolvidas de forma eficiente na descoberta de novas ideias. Dado que uma fração constante da população esteja empregada na geração de idéias (o que mais adiante veremos ser o caso), o modelo segue os passos da versão neoclássica ao atribuir ao progresso tecnológico todo o crescimento per capita. (...) Ao longo da trajetória de crescimento equilibrado, a taxa de crescimento do número de pesquisadores deve ser igual à taxa de crescimento da população.
79 - Uma consequência é que, ao contrário do modelo de Solow, o crescimento populacional pode ser algo positivo para o crescimento, desde que devidamente aproveitado: As pessoas são o insumo-çhave para o processo criativo. Uma população maior gera mais ideias, e como ideias não são rivais, todos na economia se beneficiam. Porém, o modelo também significa que uma estagnação populacional tornaria o estoque de ideias passada cada vez maior (mais significativo) relativamente a capacidade atual de novas ideias por período. Assim sendo, a taxa de crescimento tenderia a decair. O esforço em pesquisa e inovação precisaria ser crescente. Há uma exceção a isso tudo - hipótese de o estoque maior ajudar a acelerar o crescimento da produtividade -, mas o próprio Jones descarta, baseado nos resultados do Século XX. O estoque de ideias tem algum papel positivo, mas certamente não tem um poder tão grande quanto algumas hipóteses pensam, que seria (em alguns casos, supõe-se até que ele compensaria totalmente um estagnação populacional, digamos).
80 - A população empenhada em P & D no modelo de Romer é tipo a variável investimento no de Solow. No longo prazo, não muda a taxa. Pode ajudar na questão do nível apenas. Portanto, um aumento permanente na proporção da população dedicada à pesquisa aumenta temporariamente a taxa de progresso tecnológico, mas não o faz no longo prazo.
81 - Apresenta a matemática/modelagem da coisa toda, mas não ficou claro, pra mim, em que isso acrescenta alguma coisa. Lembra que retornos crescentes exigem concorrência imperfeita. Isto aparece no modelo do setor de bens intermediários. As empresas neste setor são monopolistas, e os bens de capital são vendidos a um preço superior ao custo marginal. Contudo, os lucros auferidos por essas empresas são captados pelos inventores e simplesmente os compensam pelo tempo despendido para "explorar" em busca de novos projetos. A esse quadro denominamos concorrência monopolística. Não há lucros econômicos no modelo; todas as rendas compensam algum insumo de fator.
82 - Ainda sobre o modelo de Romer: Todavia, ... a produção da economia se caracteriza pelos retornos crescentes e nem todos os fatores podem ser pagos de acordo com seus produtos marginais. Isto fica claro ao observarmos o exemplo de Solow que acabamos de apresentar: como rK + wL = Y, não sobra produto na economia para remunerar alguém por seus esforços na criação de novo A. Isto é o que determina a necessidade de concorrência imperfeita no modelo. Aqui, o capital recebe menos do que seu produto marginal, e o restante é empregado na remuneração dos pesquisadores que geram novas ideias. (...que visam aumentar o retorno de capital, não? Logo... Dá praticamente no mesmo).
83 - Pesquisa e falha de mercado: o mercado atribui um valor à pesquisa de acordo com o fluxo de lucros auferidos com os novos projetos. O que o mercado não percebe é que a nova invenção pode afetar a produtividade da pesquisa futura. Como > 0, tem-se que a produtividade da pesquisa aumenta com o estoque de ideias. O problema aqui é que os pesquisadores não são remunerados pela sua contribuição ao melhoramento da produtividade dos futuros pesquisadores. Por exemplo, as gerações subsequentes não remuneraram suficientemente Isaac Newton pela invenção do cálculo. Portanto, com > 0, há uma tendência, tudo o mais mantendo-se constante, a que o mercado proporcione pesquisa de menos. Essa distorção é, muitas vezes, chamada de "transbordamento de conhecimento", porque parte do conhecimento criado "se derrama" em direção a outros pesquisadores. Esse é o efeito de "subir sobre os ombros". Neste sentido, ele é muito semelhante a uma externalidade positiva clássica: se as abelhas que um fazendeiro cria para produzir mel proporcionam à comunidade um benefício adicional que o fazendeiro não capta (elas polinizam as macieiras da área circunvizinha), o mercado proporcionará um número inferior de abelhas.
84 - ...A segunda distorção, o efeito de "pisar nos pés", também é urna externalidade clássica. Ela ocorre porque os pesquisadores não levam em conta o fato de que reduzem a produtividade da pesquisa, por meio da duplicação (...). Contudo, nesse caso a externalidade é negativa. Portanto, tudo mais mantendo-se constante, o mercado tende a oferecer um excesso de pesquisa.
85 - Por fim, coloca, como terceira distorção, que o excedente do consumidor tende a ser maior que o lucro privado monopolístico apropriado, o que reduz o potencial de novas invenções. Essas distorções podem ser até importantes para a P&D empreendida por empresas. Pense nos benefícios decorrentes do excedente do consumidor nos casos da invenção do telefone, da iluminação elétrica, do laser e do transístor. Autores como Zvi Griliches, Edwin Mansfield e muitos outros produziram uma vasta literatura econômica buscando estimar a taxa de retomo "social" de pesquisa desenvolvida por empresas. Griliches (1991) fez uma revisão dessa literatura e encontrou taxas de retorno da ordem de 40% a 60%, bem superiores às taxas de retorno privadas. Como questão empírica, isto sugere que as externalidades positivas da pesquisa superam as externalidades negativas de modo que o mercado, mesmo com o moderno sistema de patentes, tende a oferecer pesquisa de menos.
86 - ...A teoria econômica clássica argumenta que os monopólios são ruins para o bem-estar e a eficiência porque criam "pesos mortos" na economia. Esse raciocínio está por trás de regulamentações destinadas a impedir as empresas de cobrar preços superiores ao custo marginal. Já a economia das ideias sugere que é importante que as empresas possam determinar seus preços acima do custo marginal. É exatamente essa cunha que permite os lucros que incentivam a inovação nas empresas. Ao decidir questões antitrustes, a moderna regulamentação da concorrência imperfeita tem que ponderar as perdas provocadas pelo peso morto face aos incentivos à inovação.
Pgs. 115-125
"CAPÍTULO 6: "MODELO SIMPLES DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO"
87 - O componente que acrescentaremos ao modelo é um caminho para a transferência de tecnologia. Tornaremos endógeno o mecanismo através do qual diferentes países adquirem a capacidade de usar vários bens de capital intermediários.
88 - Por enquanto vejo apenas algumas adições às considerações anteriores. Tipo: "Qualificação" será definido agora como o conjunto de bens intermediários que uma pessoa aprendeu a utilizar.
89 - Achei a apresentação meio decepcionante. Um monte de álgebra pra dizer: ...Economias que destinam mais tempo à acumulação de qualificações estarão mais próximas da fronteira tecnológica e serão mais ricas. (...) As pessoas nos países desenvolvidos aprenderam, ao longo dos anos, a usar bens de capital muito avançados, enquanto as pessoas nos países em desenvolvimento investiram menos tempo no aprendizado do uso das novas tecnologias. (Em parte porque algumas dessas primeiras pessoas estavam montadas no lombo do segundo grupo).
90 - Bélgica e Cingapura não crescem apenas, ou mesmo principalmente, em conseqüência das idéias geradas por cidadãos de cada um desses países. As populações desses países são simplesmente pequenas demais para gerar um grande número de idéias. Na verdade, essas economias crescem ao longo do tempo porque - em maior ou menor medida - são bem-sucedidas no aprendizado do emprego de novas tecnologias inventadas em outros lugares.
Pgs. 126-142
"CAPÍTULO 7: "INFRA-ESTRUTURA E DESEMPENHO ECONÔMICO DE LONGO PRAZO"
91 - Aqui basicamente diz que não se investe na Rússia, por exemplo, porque a corrupção é grave. Prejudica o ambiente de negócios. Curiosamente, a Rússia cresceu até bem nas duas últimas décadas.
92 - No verão de 1983, De Soto e uma equipe de pesquisadores começaram a implantar uma pequena fábrica de artigos de vestuário nos arredores de Lima, Peru, com o objetivo explícito de avaliar os custos do cumprimento de todos os regulamentos, trâmites burocráticos e outras restrições ao pequeno empresário que desejava iniciar um negócio. Os pesquisadores se depararam com 11 exigências oficiais, tais como certificado de zoneamento, registro junto às autoridades tributárias, e obtenção de alvará municipal. Para atendê-las, foram necessários 289 dias-homem. Incluindo o pagamento de 2 propinas (embora tivessem sido exigidas 10, "só" foram pagas 2 propinas porque eram absolutamente imprescindíveis para a continuação do projeto), o custo da implantação da pequena empresa foi estimado no equivalente a 32 vezes o salário mínimo mensal. - "3 Ver De Soto (1989)."
93 - Além dos custos de instalação do negócio, quais são os determinantes da lucratividade esperada do investimento? Vamos classificar esses elementos em três categorias: (1) tamanho do mercado; (2) extensão em que a economia favorece a produção em vez do desvio e (3) a estabilidade do ambiente econômico.
94 - Tamanho do mercado de um novo sistema operacional, por exemplo: Teria valido a pena gastar as centenas de milhões de dólares exigidas para o desenvolvimento do projeto se a Microsoft só pudesse vender o sistema operacional no estado de Washington? Provavelmente, não. Mesmo se todos os computadores daquele estado rodassem tal sistema operacional, a receita obtida com sua venda não cobriria os custos de desenvolvimento - simplesmente, o número de computadores no estado é muito pequeno.
95 - Além do "efeito escala" há a abertura comercial: A extensão em que uma economia está aberta ao comércio internacional tem uma profunda influência potencial no tamanho do mercado. Por exemplo, construir uma fábrica que produza discos rígidos em Cingapura pode parecer uma idéia não muito boa se o mercado inteiro se restringir àquele país: há mais habitantes na baía de San Francisco do que em toda Cingapura. Contudo, o país é um porto natural que serve às principais rotas internacionais e é uma das economias mais abertas do mundo. A partir de Cingapura é possível vender discos rígidos para o resto do mundo.
96 - Por fim, as propinas e afins da vida. A medida em que a infraestrutura da economia favorece a produção ou o desvio é determinada, em primeiro lugar, pelo governo.
97 - ...Finalmente, a estabilidade do ambiente econômico pode ser um determinante muito importante dos retornos ao investimento. Uma economia na qual as regras e as instituições mudam com freqüência pode ser um lugar arriscado para se investir. Embora as políticas de um dia possam favorecer as atividades econômicas em uma economia aberta, talvez isso não seja válido no dia seguinte. Guerras e revoluções são formas de extrema instabilidade para uma economia.
98 - Em uma economia na qual o roubo é um problema sério, os gerentes investirão capital em grades e sistemas de segurança em vez de investir em máquinas e fábricas. Ou, em uma economia na qual os empregos públicos possibilitam o ganho de renda mediante a arrecadação de taxas ou propinas, as pessoas podem investir em habilidades que lhes permitam obter emprego público em vez de se qualificarem para empregos produtivos.
99 - Traz gráfico que correlaciona abertura comercial e alta taxa de investimento. Inclui também, no eixo "x", um tal de PPAD. Primeiro, um índice de "políticas públicas antidesvio" (PPAD) é usado para medir a extensão em que a infraestrutura de uma economia favorece a produção em relação ao desvio. Essa medida foi organizada por uma empresa de consultoria que se especializa em oferecer orientação para investidores multinacionais.
100 - ...Ademais, os trabalhadores buscam melhores qualificações nesse tipo de país:
101 - A PTF (ou TFP) também mostra boa correlação com a "abertura + PPAD". Há menor desperdício de insumos (por exemplo, precisam comprar menos sistemas de segurança pra se proteger de roubo...):
102 - (Em tempo, acho esquisitos esses exemplos e explicações referentes ao PPAD. Não se gasta uma fortuna, por exemplo, em segurança privada num EUA da vida? Proporcionalmente é pouco? Gostaria que tivesse sido melhor explicado)
103 - Esse raciocínio pode nos ajudar a reescrever a função de produção agregada de uma economia, como aquela empregada no Capítulo 6 na equação (6.3), como:
104 - ...onde I representa a influência da infraestrutura da economia sobre a produtividade de seus insumos. (...) As economias crescem ao longo do tempo porque novos bens de capital são inventados e os agentes econômicos aprendem a usar os novos tipos de capital (o que é captado por h). Contudo, duas economias com os mesmos K, h e L podem ainda gerar montantes de produto diferentes porque os ambientes econômicos em que esses insumos são empregados diferem. Em uma delas, o capital é usado em grades, sistemas de segurança e navios piratas e as qualificações das pessoas podem ser aplicadas para enganar os investidores e arrancar propinas. Em outra economia, todos os insumos se destinam às atividades produtivas.
105 - Durante vários séculos, na Idade Média e tendo seu ponto culminante no século XIV, a China foi a sociedade tecnologicamente mais avançada do mundo. Papel, arreios, tipos móveis para impressão, bússola, relógio, pólvora, construção de embarcações, tecelagem e fundição de ferro foram inventados na China séculos antes de serem conhecidos no Ocidente. (...) "A ausência de competição política não significa que o progresso tecnológico não pudesse ter lugar, mas implicava que um tomador de decisões poderia administrar-lhe um golpe mortal. Imperadores interessados e esclarecidos incentivavam o progresso tecnológico, mas os governantes reacionários do final do período Ming preferiam claramente um ambiente estável e controlável. Os inovadores e transmissores de idéias estrangeiras eram considerados criadores de caso e foram suprimidos. Na Europa também existiram esses governantes, mas como nenhum controlava todo o continente, eles não fizeram mais do que transferir o centro de gravidade econômico de uma região para outra [p. 231]".
106 - Faz umas previsões que talvez tenham se mostrado muito otimistas? Não sei bem: ...Por exemplo, em 1960 apenas 3% dos países registravam mais de 80°/o da renda dos EUA e 20% mais de 40% da mesma. No longo prazo, de acordo com as estimativas, 19% dos países apresentarão renda relativa de mais de 80% da renda da economia líder, e 49%, mais de 40%. Alterações semelhantes verificam-se no extremo inferior da distribuição: em 1988, 17% dos países tinham menos de 5% da renda dos EUA; no longo prazo, apenas 8% deverão incluir-se nessa categoria. Estavam muito influenciados pelos dados do período: Nos últimos trinta anos, vimos mais milagres de crescimento do que desastres.
.
Comentários
Postar um comentário