Vinicius Carrasco, João M. P. de Mello e Isabela Duarte - A Década Perdida - PARTE 3
Vinicius Carrasco, João M. P. de Mello e Isabela Duarte - A Década Perdida
(...)
60 - No que tange ao IDH, tudo andou em linha:
61 - O problema do sucesso do mercado de trabalho no governo petista: ...concomitantemente à incorporação de mais pessoas à força de trabalho, a produtividade do trabalho se estagnou e a falta de mão de obra qualificada se acentuou.
62 - A política de aumentos do salário mínimo além da variação no PIB nominal tende a aumentar a participação da massa salarial no PIB sempre e quando não causar desemprego ou informalidade. Sabemos que a formalização aumenta no Brasil durante o período (não há suficientes dados de outros países emergentes para avaliar o contrafactual).
63 - Estão escrevendo isto aqui em 2013, logo, estavam corretos na previsão: ...o estoque de capital deve se reduzir relativamente (como documentado acima), o que implicará um futuro com produtividade baixa. Ou seja, o custo de maiores salários hoje – descolados da produtividade do trabalho –será menores salários no futuro.
64 - A massa salarial não tem como não crescer, mesmo quando há mera manutenção de poder de compra, se aumenta muito o emprego. (Ambos melhoraram, porém, a maior discrepância foi na quantidade de emprego). A Figura 67 abaixo mostra a evolução, no Brasil e no melhor grupo de comparação, da taxa de emprego, isto é, a população empregada como porcentagem da população acima dos 15 anos de idade.
65 - ... grande parte da queda do desemprego no Brasil durante os anos 2003 – 2012 pode ser atribuída às melhores condições do mundo emergente de forma geral.
66 - O salário mínimo nominal brasileiro até andou em linha ou levemente melhor que o sintético, mas o real não muito: Não importa a correção do salário mínimo nominal, se pelo deflator implícito do PIB ou pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), o salário mínimo real no Brasil aumentou em linha com melhor grupo de comparação, se deflacionarmos pelo IPC, ou menos, se deflacionarmos pelo deflator implícito do PIB.
67 - E o salário médio? Como vimos, a produtividade brasileira não aumentou relativamente, o que nos obriga a concluir que o aumento relativo no salário médio no Brasil adveio de razões de procura: mercado de trabalho mais aquecido pela demanda por trabalho.
68 - A despeito do grande crescimento dos gastos em Educação, mesmo a escolaridade teve desempenho relativo aquém do esperado:
69 - (Vejo que, muitas vezes, a Turquia - e um pouco a África do Sul - aparece pesadamente no grupo sintético. Seria interessante um estudo econômico comparativo entre ambos. De 1994 a 2023 ou algo assim.)
70 - A escolaridade entre os jovens também não mostrou desempenho vistoso:
(o último grupo controle aí era basicamente Índia, México e Polônia)
71 - Colocam que dez anos deveriam ser suficientes para que se observasse grandes melhoras com o aumento dos gastos:
72 - Na segurança, o Brasil prendeu aceleradamente mais gente e, ao mesmo tempo, assistiu a queda menor da taxa de homicídios (Ou seja, a resposta de política brasileira à insegurança foi aumentar o encarceramento.):
73 - Na Saúde, a expectativa de vida andou em linha. Porém, gastamos mais com saúde.
74 - A Figura 78 mostra a evolução do saneamento no Brasil e no melhor grupo de comparação. O ajuste no período anterior ao ano 2003 é bastante bom, ainda que o melhor grupo de comparação comece a ter um melhor desempenho desde 2002. Depois disso a diferença aumenta ainda mais.
75 - No acesso à agua potável, porém, o Brasil subiu de 94 a 98% e o "sintético" de 94 a 96 e pouco %.
76 - Vulnerabilidade da adolescente:
77 - Para a desigualdade, o sintético foi basicamente a Turquia de novo. Desempenho ficou até levemente aquém.
78 - Na queda da pobreza, resultados mistos:
79 - No que tange á fome/subnutrição, há um muito bom desempenho relativo:
80 - Na conclusão, retornam à grande crítica geral: O quadro da economia brasileira nos últimos anos está claro. Houve aumento relativo na utilização do fator trabalho, mas sem aumento equivalente de produtividade, sem investimento em capital físico e sem investimento em capital humano. (...) O eleitor típico, mesmo que racional, talvez tenha dificuldade de avaliar o contrafactual. A década foi perdida no contrafactual, não no factual. Portanto, nossos resultados são perfeitamente compatíveis com o sucesso eleitoral do PT na década de 2000.
81 - (O resto são apêndices sobre a metodologia, escolhas e fontes dos dados. Meu problema com o método do "grupo de controle sintético" (embora este tenha interessantes méritos) é que, em algumas comparações, a amostra acaba sendo bem pequena, o que dá certa aleatoriedade na coisa. E pode acabar "sorteando" um concorrente notadamente forte em tudo (efeito China, por exemplo), digamos assim. Porém, como o Brasil acabou indo relativamente mal na grande maioria das comparações, creio que não faria tanta diferença qualquer outro método.)
82 - Origem do método: Os resultados apresentados ao longo do trabalho foram obtidos por meio do método do grupo de controle sintético, tal como proposto por Abadie e Gardeazabal (2003) e posteriormente refinado por Abadie, Diamond e Hainmueller (2010). O método é útil para se estimar efeitos sobre uma unidade que sofreu algum tipo de tratamento. No caso de Abadie, Diamond e Hainmueller (2010), a unidade que sofre um tratamento (uma mudança na legislação referente ao fumo) é o estado da Califórnia. Caso soubéssemos como seria a Califórnia sem essa alteração legal, então seria simples de computar o efeito de interesse. Todavia, já que na prática não sabemos como a Califórnia seria sem essa intervenção, precisamos de um método estatístico objetivo que simule como a unidade tratada se comportaria sem tratamento e, assim, estime de forma precisa o efeito da intervenção.
83 - A defesa do método: ...Dessa forma, temos grupos de comparação que são definidos não a partir de uma escolha do pesquisador, mas a partir dos dados considerados na avaliação.
84 - Por fim, uma figura comparando países com PIB per capita próximos em 2003 (tirando um lá que se destaca). Deles, o Brasil só foi melhor que o México.
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