Vinicius Carrasco, João M. P. de Mello e Isabela Duarte - A Década Perdida - PARTE 2

   

Vinicius Carrasco, João M. P. de Mello e Isabela Duarte - A Década Perdida



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37 - Passam a investigar hipóteses macroeconômicas boazinhas com o Brasil. Exemplo: É possível que o benefício de crescermos menos foi conseguimos manter estabilidade de preços. Porém, o Brasil só "se dá bem" quando pesa a hiperinflação turca. 




38 - No mais, a culpa pela inflação não foi do câmbio (ou seja, tratou-se de "produto" 100% doméstico):



39 - A nossa taxa de poupança também passou longe de brilhar:



40 - Exportações foram medíocres mesmo com a melhoria dos termos de troca. Os autores chutam três possíveis culpados: a logística crescentemente precária, o aumento na insegurança regulatória e a falta de investimentos.




41 - Fato interessante: o melhor “grupo” de comparação é a Índia neste caso. Entre os emergentes, o Brasil é o mais fechado. O único que chega perto é a Índia. Por isso o procedimento atribui a ela todo o peso.


42 - ... A formação de campeões nacionais, financiada de maneira generosa pelo BNDES, tinha como objetivo criar competidores pujantes no mercado internacional o que deveria, em parte, se manifestar em mais exportações de qualidade. Os dados estão agregados, o que impede que avaliemos o desempenho relativo desses campeões nacionais em termos de exportações. Não obstante, o desempenho pífio das exportações brasileiras em relação ao melhor grupo de comparação sugere que o fomento aos grandes exportadores fracassou em produzir um efeito agregado relevante no valor das exportações.


43 - Os demais dados - importações e comércio internacional - seguem gráfico parecido ao das exportações. Até porque o país comparado escolhido como "grupo sintético" foi o mesmo: Índia.


44 - Receitas e despesas do Governo Geral e nítida piora fiscal no período:




45 - A contraparte dos dois gráficos anteriores é a melhora na relação dívida/produto do Brasil. Mas, em relação ao melhor grupo de comparação, a relação dívida produto diminuiu mais ou menos em linha:




46 - Colocam que os dados sobre juros e política monetária são meio complicados em alguns países, mas que deu pra fazer certo comparativo:



47 - ...No que tange ao spread, parece que somos "meio outlier"...



48 - Contas externas e reservas. Nem aqui um bom desempenho relativo (porém, tem "efeito China" em reservas):




49 - E a indústria? Foi pior também.



50 - Energia: a geração e consumo andaram em linha com o "sintético", mas vale lembrar que o Brasil tem maiores perdas em transmissão e distribuição a partir do governo Lula, o que talvez explique o desempenho ruim no que tange ao preço.




51 - Setor bancário:  Antes da estabilização monetária em julho de 1994, boa parte dos ativos bancários era de títulos públicos de curtíssimo prazo. Respondendo aos incentivos perversos da hiperinflação, os bancos competiam mais por depósito à vista do que por subscrever crédito. Uma fração grande das receitas advinha de float inflacionário, renda advinda de descasamentos temporários na liquidação de operações de pagamento. Não surpreendentemente, o setor bancário foi atingido adversamente pela estabilização. Parafraseando o investidor Warren Buffet, a hiperinflação era a maré alta. Quando veio a maré baixa da estabilização, ficou claro quem nadava nu.


52 - O desempenho dos bancos/crédito e mercado acionário/capitalização foi em linha desde 2003 ou até levemente melhor. Citam as reformas de microcrédito ajudando.


53 - Agricultura: O bom desempenho da agricultura se deve não só aos termos de troca favoráveis, como também aos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) feitos ao longo de muitos anos, muitos deles antes de 2003. De fato, a Embrapa é uma das histórias de êxito do fomento ao P&D no Brasil.



54 - Comparada à China e Austrália, a nossa principal indústria de exportação - a menos em 2010 era a mineração - voou baixo:



55 - Elegem "morosidade do licenciamento ambiental", do nada, como um dos possíveis motivos (a Vale possivelmente ia soterrar o Brasil inteiro de lama se fosse mais rápido, não apenas um estado).


56 - Sempre quando uma métrica do governo PT vai bem, o mérito é de FHC: O conhecimento da história da indústria nos últimos 20 anos sugere que o aumento espetacular nos anos 2000 foi produto das reformas feitas nos anos 1990, como a quebra do monopólio da Petrobras em junho de 1995 e a adoção do modelo de concessão. A manifestação do sucesso do modelo é o fato da produção já estar crescendo fortemente desde os anos 1990.


57 - De toda forma, Brasil teve muito mau desempenho relativo no que tange ao refino na comparação com o grupo sintético. Vemos que o Brasil foi obrigado a importar mais do que o melhor grupo de comparação, possivelmente pela incapacidade da Petrobras de entregar desempenho de alto nível no refino.



58 - O setor de telecomunicações foi em linha ou até melhor que o grupo sintético.


59 - Em linha com a fato agregado sobre o PIB, a análise setorial mostra que o Brasil foi pior em quase todos as indústrias importantes, com a exceção honrosa da produção óleo (possivelmente causada pela alteração do marco regulatório na última metade dos anos noventa) e pela agricultura, setor que sofreu um choque muito positivo de preços. (...) Alguns setores, como intermediação financeira e telecomunicações, ou subsetores, como a produção de petróleo, andaram em linha com o melhor grupo de comparação, ou até melhor. Atribuem quase tudo a "FHC": Na intermediação financeira, a limpeza do balanço do sistema financeiro nos anos 1990 e as reformas microeconômicas do primeiro governo Lula. Na produção petróleo, a quebra do monopólio nos anos 1990. Nas telecomunicações, a privatização bem sucedida do setor, com a construção conjunta de uma arcabouço regulatório sólido, ambos durante os anos 1990.


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