Masser e De-Losso - Vieses comportamentais em projeções macroeconômicas

     

Masser e De-Losso - Vieses comportamentais em projeções macroeconômicas


1 - Este trabalho documenta o otimismo na projeção de PIB e IPCA. (...) Os resultados confirmam a existência de viés otimista na projeção de PIB e IPCA, e esse viés permanece nas revisões subsequentes para PIB. 


2 - Na Europa e Ásia também há esse erro, colocam. Batchelor (2007) relata, por exemplo, um viés sistemático de otimismo nas projeções de crescimento de PIB e inflação dos profissionais de mercado, chamados de private forecasters, nas economias do G7 entre os anos de 1990-2005, especialmente para Japão, Itália, Alemanha e França.


3 - Uma hipótese: Em seguida, testam-se se os erros das projeções anuais de PIB e IPCA podem estar relacionados a incentivos desses profissionais de ganhar publicidade (a chamada publicity hypothesis) ao publicarem suas projeções de modo mais diferenciado e extremo ao consenso, ou seja, se existe algum viés antimanada (anti-herding bias) nos erros das projeções de PIB e IPCA a depender da instituição da qual fazem parte. (...) Em outras palavras: A ideia é constatar se bancos errariam mais que consultorias, ou seja, se há algum tipo de viés antimanada relacionado à hipótese de publicidade baseada nos incentivos de revelar publicamente suas projeções, a fim de diferenciar seu produto de research e ganhar publicidade. Os resultados foram negativos: ...a hipótese de publicidade para o viés antimanada parece não se confirmar de modo agregado por tipos de instituição.


4 - Por que resolveram testar isso? Por que os erros irracionais não deveriam acontecer. Os erros pra cima e pra baixo deveriam se compensar levando a uma média que servisse como boa previsão. Daí surge a hipótese de que poderia ser "erro racional": Em Campbell e Shape (2009) vemos que os profissionais podem “errar racionalmente” se houver outros fatores sendo buscados por eles no processo de revisão, fatores estes que vão além da acurácia. Um exemplo seria a publicidade gerada por previsões extremamente fora do consenso. Só que também não se confirmou...


5 - E as revisões? Para Campbell e Shape (2009) os erros sistemáticos de previsões de agregados econômicos mensais podem estar relacionados a fatores comportamentais como, por exemplo, a heurística de ancoragem descrita por Tversky e Kahneman (1974). Resulta daí que são enviesadas a partir dos dados efetivos dos meses anteriores, ou seja, os participantes do mercado criam expectativas inconscientemente a partir de um valor inicial após serem expostos a ele, e os ajustes acabam sendo insuficientes para corrigir tais vieses, levando a projeções tendenciosas em relação aos valores iniciais. Ou talvez também...: ...profissionais tenderiam a não revisar frequentemente suas projeções mesmo quando erradas, pois, ao fazê-lo, estariam atestando publicamente que suas projeções estariam constantemente incorretas e, assim, ver-se-ia uma persistência maior dos erros nas projeções ao longo dos meses até a data de divulgação efetiva do dado econômico.


6 - Citam um estudo - Amir e Ganzach (1998) - sobre revisões: ...mostram que analistas tendem a subestimar revisões negativas e superestimar revisões positivas, ou seja, que o sinal da revisão importa. Quando as revisões são positivas, há uma reação exagerada nas revisões. Já quando as revisões são negativas, há uma sub-reação nas revisões.


7 - Foram consideradas no painel de dados não balanceado final somente as instituições que reportaram as expectativas por um período maior que 24 meses, totalizando 81 instituições classificadas posteriormente entre bancos de investimento com forte presença nacional, consultorias e firmas de pesquisa independentes nacionais, outras instituições financeiras nacionais e internacionais, outras firmas de pesquisa independente, agências de risco e seguradoras. Foram feitas comparações das projeções individuais das instituições cujas expectativas possuem sobreposição entre bases e viu-se que há consistência entre as três bases.


8 - ...Comparou-se o painel criado e o consenso de mercado do Boletim Focus em termos de projeções absolutas para PIB real e desvio-padrão de projeções, a fim de possibilitar o uso da amostra criada das projeções desagregadas por instituição, como forma de representar o consenso na segunda parte do presente estudo. Nos dois gráficos a seguir, pode-se ver na representação à esquerda a comparação entre o valor da projeção de consenso do Boletim Focus e do painel de instituições criado para os mesmos meses anteriores ao dado de PIB efetivo para cada um dos anos do estudo.



9 - ...correlação de 99,3% entre o painel elaborado e Boletim Focus. ... sendo que no painel elaborado o desvio padrão é levemente maior do que o do consenso do Boletim Focus em cerca de 0,13 pontos em média.


10 - As próximas páginas são todas explicando as técnicas econométricas usadas.


11 - Tabela de vieses:



12 - Mesmo em anos de PIB positivo... Note como as projeções vão-se ajustando para baixo em quase todos os anos:



13 - Note como as projeções de IPCA ajustam-se para cima ao longo do tempo.



14 - ...E poderia ter errado em só um dos itens, pois não há muita associação entre as duas variáveis (PIB Real e Inflação), conforme se vê abaixo:



15 - Mais dados:



16 - ...Interpretando: ...em média, para os anos em que a projeção de PIB apresenta um viés otimista, a maioria dos casos historicamente no período analisado, a primeira projeção dos profissionais, ou seja, 24 meses antes do dado anual efetivo, está em média superestimando em 2.14 pontos percentuais o real crescimento da economia, e 12 meses antes do dado, a superestimação é da ordem de 0.95 pontos percentuais. Quanto à inflação, esta é a tabela:



17 - E sobre a hipótese de publicidade? Tal resultado parece indicar que as projeções dos bancos de investimento são levemente mais extremas do que as de firmas independentes, em linha com o indício do estudo de referência, porém tal diferença entre esses dois grupos não é estatisticamente significante.


18 - Além disso, conforme indicado por Laster et al. (1999), a tendência é de que projeções mais extremas levem a erros maiores de projeção. Assim, a tabela a seguir mostra que o erro médio dos bancos de investimento 12 meses antes da divulgação do dado efetivo de PIB e IPCA é levemente maior (menos negativo versus o erro médio) do que o das firmas de pesquisa independentes, sendo estes dois grupos também mais assertivos do que os outros avaliados. (...) Assim, pela metodologia proposta por Ashyia (2009) e Laster et al. (1999), embora os resultados possam indicam que os bancos de investimento publicam projeções um pouco mais distantes do consenso do que firmas de pesquisa independentes eles não são discrepantes o suficiente para afirmar tal hipótese da publicidade. Mesmo assim, os erros médios absolutos das projeções 12 meses antes do dado efetivo destes dois grupos de instituição são menores do que para os outros grupos.


19 - O que é curioso nessas constatações é não se observar a correção desses vieses ao longo do tempo. Ou seja, eles parecem-se manter, não obstante os agentes possam perceber que existe um excesso de otimismo nas projeções de PIB e IPCA. O Banco Central precisa corrigir esse viés em suas projeções para determinar a taxa de juros compatível com a meta de inflação.


20 - ...(Aí que a taxa de juros vai pra lua, rs)


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