Livro: Kupfer e Hasenclever - Economia Industrial (2013) - Capítulos 16 e 17

                                                            

Livro: David Kupfer e Lia Hasenclever - Economia Industrial (2013)



Pgs. 222-241


"CAPÍTULO 16: "Cooperação Interindustrial e Redes de Empresas (Jorge Britto)"


228 - Achei isto aqui meio anos 90 (como tendência), mas deve ter sido uma inovação que se manteve: A consolidação de um paradigma organizacional baseado na experiência de empresas japonesas, incorporando novos princípios gerenciais que enfatizam a cooperação interindustrial nas articulações entre produtores e fornecedores.


229 - Tudo bem abstrato na primeira metade deste capítulo. Em resumo, rede de empresas = organização de externalidades positivas entre elas. Na verdade, são "milhares" de frases, mas nenhuma me pareceu interessante neste capítulo. Parece o gerador de lero lero, só que com mais sentido/inteligência/articulação. "Blablablá integração de competências"... Pena que só tarde percebi que dava pra ser pulado. Por sinal, ele mesmo falando da análises dessas redes coloca: "...O primeiro deles decorre do fato de que essas estruturas são, na verdade, construções abstratas elaboradas com o intuito de reforçar o poder explicativo de um determinado tipo de análise. Em particular, não se deve esperar que os agentes econômicos integrados a essas redes tenham maior clareza sobre as características morfológicas dessas estruturas. Um segundo problema refere-se à dificuldade prática para se definir os limites dessas redes."

 

230 - À pg. "232" traz umas tipologias dos tipos de rede, a quem achar interessante o tema.


231 - Elemento do toyotismo: A presença de uma estrutura piramidal de fornecedores era originariamente mais nítida no caso da indústria automobilística japonesa, fazendo com que as montadoras operassem com um número de fornecedores diretos menor que empresas americanas e europeias. (...) Essas normas operavam como instrumento para transferência e socialização de inovações organizacionais – just-in-time, programas de qualidade total, kan-ban  etc. – e para intensificação do intercâmbio de informações no âmbito da redePara garantir uma maior eficiência no processo de subcontratação, as empresas japonesas procuraram reduzir o número de fornecedores com os quais interagiam diretamente, ao mesmo tempo em que intensificaram o intercâmbio de informações com eles. Além disso, as redes de subcontratação japonesas reforçaram a sua estruturação em vários “níveis” hierárquicos, nos quais se diferenciam, sucessivamente, fornecedores de primeira ordem, segunda ordem e assim sucessivamente.


232 - No primeiro nível, a subcontratada é quase uma parte da empresa, acabando até por incorporar suas técnicas organizacionais. ...observa-se que o agente subcontratado desempenha uma função de concepção, adequando-se à especificação de resultados e às normas funcionais definidas pelo contratante, mas gozando de autonomia para desenvolver o produto de acordo com suas competências. Nesse tipo de relação, os agentes contratados desempenham uma função completa, beneficiando-se de um contrato plurianual que amplia as possibilidades de interação e aprendizado mútuo com o contratante. A informação técnica que circula na rede é extremamente densa e sofisticada, movendo-se em um duplo sentido que permite a compatibilização dos patamares de eficiência técnico-produtiva e a integração das competências tecnológicas e organizacionais. Já no segundo nível,  predominam relações particularizadas entre os agentes, que se aproximam das relações mercantis tradicionais, contemplando um baixo grau de interatividade e um fluxo informacional relativamente restrito. Nesse segmento, é possível à empresa contratante substituir com facilidade as empresas subcontratadas, minimizando os custos de troca de fornecedores e favorecendo a flexibilidade operativa.


233 - ...Observa-se que a integração de competências no âmbito dessas redes e a consolidação de relações interativas em seu interior requerem uma certa proximidade espacial entre os agentes, estimulando a organização de subsistemas locais.


234 - Para as empresas contratantes, a consolidação de relações cooperativas também resulta em importantes impactos. Em linhas gerais, observa-se uma paulatina reconfiguração organizacional dessas empresas, que tendem a se especializar em funções mais nobres, associadas a um maior conteúdo intelectual e relacional. Dentre essas atividades, destacam-se: pesquisa e desenvolvimento; concepção; montagem e controle final; disseminação de normas relativas a procedimentos operacionais e à sistemática de controle e garantia da qualidade; compatibilização técnica e tecnológica dos insumos adquiridos; venda e financiamento etc.


235 - ... destaca-se o intercâmbio de informações sobre o desempenho e a qualidade dos componentes entre empresas montadoras e seus fornecedores. Esse intercâmbio facilita o aperfeiçoamento dos produtos existentes e a geração de novos modelos com base em ajustes na arquitetura modular do produto. A intensificação dos fluxos de informações entre montadoras e fornecedores é resultado também do codesenvolvimento de novos componentes. Nesse caso, os fluxos de informação assumem um caráter bidirecional, utilizando uma infraestrutura sofisticada e estando associados ao desenvolvimento de códigos específicos de comunicação.


236 - Traz também as redes em "distritos industriais", identificadas desde Marshall. Cita inúmeras características desse distrito, tal como a presença de uma pluralidade de protagonistas no nível local, associada à existência de um grande número de agentes locais satisfatoriamente capacitados e à ausência de uma empresa dominante claramente identificável para o conjunto de atores participantes da rede. (...) Apesar da cooperação produtiva e/ou tecnológica não estar necessariamente presente nessas aglomerações, supõe-se que a estruturação destas estimula um processo de interação local que viabiliza o aumento da eficiência produtiva, criando um ambiente propício à elevação da competitividade dos agentes integrados ao arranjo


237 - ...Brasil dos anos 90: Em alguns setores (como têxtil, calçados, madeira/mobiliário e metalúrgico) é comum a presença de aglomerações industriais que concentram mais de 60% do emprego industrial. A princípio, é possível caracterizar essas atividades como indústrias com tendência à clusterização. (...) Análises sobre essas redes também ressaltam os impactos das articulações entre agentes em termos da geração de efeitos de aprendizado e da dinamização do processo inovativo em escala local ou regional.


238 - O conceito de parques tecnológicos refere-se à montagem de redes relativamente semelhantes aos distritos industriais que, entretanto, direcionam-se especificamente para setores de alta tecnologia. Os parques tecnológicos, por sua vez, compreendem a integração numa mesma região de componentes, softwares e serviços necessários à obtenção de produtos com elevado conteúdo tecnológico – como computadores, produtos biotecnológicos etc. Esse tipo de configuração, em geral, localiza-se próximo a regiões que dispõem de uma infraestrutura científico-tecnológica consolidada em universidades e institutos de pesquisa, aproveitando os avanços científicos gerados por essas instituições e absorvendo uma parcela da mão de obra especializada formada a partir destas. (...) Muitas vezes, inclusive, essas empresas podem surgir a partir de instalações comuns relativas à infraestrutura e a equipamentos repartidas no interior daqueles parques, as denominadas incubadoras de empresas. (...) Há indícios também de que a morfologia institucional dos parques tecnológicos varia consideravelmente de indústria para indústria.


239 - Ainda sobre os distritos, alguns estudos mostram forte impacto cooperativo. Essa eficiência coletiva é geralmente associada a um processo dinâmico que permite a redução dos custos de transação e o aumento das possibilidades de diferenciação de produto ao longo do tempo, em virtude do intercâmbio de informações e do fortalecimento de laços cooperativos entre os agentes. Traz detalhes lá de como essas redes se beneficiam das interações dos seus membros.


240 - ...A capacidade de realizar aperfeiçoamentos constantes no design dos produtos gerados, inclusive visando à conquista de novos mercados, é um aspecto que distingue os distritos industriais mais dinâmicos daquelas que envolvem uma mera parcelização de tarefas visando à redução de custos.


241 - As tais "redes tecnológicas" eu achei mais esquisito ainda (saber o que é "na prática"). Cada ponto é um "como assim?", tipo: ...no caso de inovações cujos direitos de propriedade não estejam claramente estabelecidos;.  Então trabalham pro povo?...



Pgs. 242-252


"CAPÍTULO 17: "A Empresa Transnacional (Reinaldo Gonçalves)"


242 - Finalmente um marxista, pra partir de algo um pouco mais concreto rs. No capitalismo contemporâneo, a ET encontra-se cada vez mais identificada com a categoria de grupo econômico do que com a de empresa. O grupo econômico (ou a grande empresa) tem sofrido transformações importantes  (ver Quadro 17.1 para alguns fatos estilizados). Meio oito ou oitenta o quadro abaixo, mas tudo bem:



243 - A ET responde pela quase totalidade dos fluxos de investimento externo direto (IED). Penrose e a predominância da grande empresa transnacional nesse sentido: ...assinala que capacidade gerencial, conhecimento tecnológico e inovações constituem os elementos que criam, em grande parte, as condições para expansão da empresa. Assim, coloca-se indireta e pioneiramente a ideia de que uma empresa, a fim de realizar IED, deve possuir alguma vantagem especial. (...) Dessa forma, os custos associados com a operação internacional – devido à falta de conhecimento do novo meio ambiente, discriminação eventual e outros tipos de riscos e incertezas – devem ser compensados por lucros extras derivados dessas vantagens. Nem que seja o segredo industrial da Coca-Cola... (Parênteses do livro: "...A Coca-Cola contém 17 ou 18 ingredientes. Aí entram o tradicional corante caramelo e açúcar, bem como um mix de óleos conhecido por 7X (segundo boatos, uma mistura de laranja, limão, canela e outros). Destilar substâncias naturais como essas é complicado, já que há milhares de elementos em sua composição, diz Tom Murray, especialista em química analítica da Chemir/Polytech Laboratories. Uma empreitada dessas sairia por cerca de US$ 100 mil. E ainda assim, Murray não teria como descobrir o volume exato de cada ingrediente. Uma coisa ninguém deve achar no xarope: cocaína. Embora a fórmula original de Pemberton incluísse uma dose mínima da droga, a Coca-Cola de hoje não contém cocaína. Desde quando? É outro segredo.”)


244 - ...Hymer apresenta outra razão importante para o IED: empresas podem investir no exterior a fim de se antecipar à competição. Ele também assinala como outro objetivo a redução de riscos por meio da diversificação, em termos do número de mercados onde a empresa tem atividades. No entanto, essa explicação não é tão importante quanto.


245 - Alternativas ao IED? Exportação e concessão de licença de uso. (...) a decisão é entre apropriação direta dos benefícios da vantagem monopolística, via IED, ou apropriação indireta por meio da concessão de licença a outras empresas. (...) se algum tipo de conhecimento é transferido para uma dada empresa torna-se necessário proteger o caráter sigiloso e inovador da tecnologia. Espera-se que, com o objetivo de evitar a difusão do conhecimento e, portanto, o desaparecimento de uma vantagem monopolística, as empresas prefiram investir no exterior em vez de conceder licença. (...) Outro fator importante, que induz empresas a investirem em vez de concederem licenças, origina-se das políticas governamentais orientadas para contrabalançar o poder de barganha da ET no processo de negociação dos contratos de transferência de ativos intangíveis.


246 - E quando a tendência é contrária? O IED toma como garantido o tamanho do mercado e sua estabilidade. Quando o mercado do ponto de vista do concessor não é suficientemente grande e estável, é mais sensato conceder licenças a produtores domésticos, com o objetivo não somente de ter um retorno sobre um ativo intangível que é um bem público dentro da empresa, mas também testar o mercado para investimento futuro.


247 - Exportar ou IED?  O processo de substituição de importações tende, de modo geral, a mudar a forma da internacionalização (do comércio para o IED)Experiência mais recente mostra, também, que o IED japonês na Europa e nos EUA foi, em certa medida, determinado pelo neoprotecionismo de meados dos anos 1970 até o final dos anos 1980. (...) Outro aspecto é a necessidade de se ter controle sobre o mercado, de modo que uma previsão mais acurada da demanda seja feita, e, consequentemente, isso induziria ao IED. Vale também mencionar que atitudes do tipo “compre o produto nacional” existente em alguns mercados, de forma que consumidores tenderiam a dar maior valor aos produtos nacionais do que aos estrangeiros, poderiam também ser determinantes do IED.


248 - A ET que opera em oligopólio diferenciado, por meio do seu conhecimento único sobre a comercialização e adaptação do produto, é capaz de se apropriar de uma quase-renda.


249 - O "ciclo do produto" também entra em jogo. A pesquisa e desenvolvimento que envolve os produtos novos tende a ser feito nos países-sede-desenvolvidos. IED costuma ser nos "produtos já padronizados". ...nesta última fase, o país de origem da empresa inovadora pode se tornar um importador líquido do produto (importações provenientes, inclusive, de subsidiárias da empresa-matriz localizadas em países com custos mais baixos). Porém, tudo isso é só tendência, ocorrendo inclusive o contrário em alguns casos.


250 - (Esperava mais do texto)



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