Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. I - Capítulos "15", "16", "17" e "18"

                                           

Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. I (Os Economistas) (1890)



LIVRO QUARTO - Os Agentes de Produção: Terra, Trabalho, Capital e Organização  


Pgs. 201-208


"CAPÍTULO 15: "Introdução"


76 - Trabalho em Marshall pode ser manual ou intelectual, mas coloca "poréns"...: O trabalho é classificado como econômico desde que ele é “efetuado parcial ou totalmente tendo em vista alguma coisa além do prazer dele diretamente derivado”. Ver Livro Segundo. Cap. III, § 2. Um trabalho mental que não tende direta ou indiretamente para promover produção material, por exemplo, o do escolar nas suas tarefas, é posto de lado, pois que estamos limitando a nossa atenção à produção, no sentido comum do termo.


77 - Capital em Marshall é toda provisão acumulada para produção de bens materiais. O capital consiste, em grande parte, em conhecimento e organização: desta, uma parte é propriedade privada, outra não. O conhecimento é nossa mais potente máquina de produção.


78 - As dificuldades da oferta: Estas são geralmente de duas ordens: o trabalho, e o sacrifício que existe em adiar um consumo. É suficiente aqui dar um esboço do papel do trabalho corrente na oferta.


79 - Todo "salário de eficiência" tem limite: ...os empregadores freqüentemente constatam que, em casos de grande necessidade, um aumento temporário de salários induzirá os seus empregados a dar uma soma de trabalho que eles não sustentarão muito tempo, por mais que paguem por ele. Uma razão disso é que a necessidade de descanso se torna mais urgente a cada aumento nas horas de trabalho, depois de um certo limite. O desprazer do trabalho adicional aumenta, em parte porque, à medida que o tempo deixado para repouso e outras atividades diminui, o prazer do tempo livre adicional aumenta.



Pgs. 209-214


"CAPÍTULO 16: "A Fertilidade da Terra"


80 - Embora o homem não tenha poder de criar a matéria, ele cria utilidades dando às coisas uma forma útil.


81 - O que é a "terra"? ...há outras utilidades sobre cuja oferta o homem não tem controle: são oferecidas em quantidades fixas pela natureza e portanto não têm preço de oferta. A palavra “terra” tem sido empregada pelos economistas de maneira a incluir as fontes permanentes dessas utilidades, quer sejam encontradas na terra no sentido comum da palavra ou nos mares e rios, na luz do sol ou na chuva, nos ventos ou nas cachoeiras. (...) Algumas partes da superfície terrestre contribuem para a produção principalmente pelos serviços que prestam à navegação, outras têm valor sobretudo para a mineração, outras — conquanto essa escolha seja feita mais pelo homem que imposta pela natureza — para edificação.


82 - Tudo o que jaz logo abaixo da superfície contém uma grande soma de capital, produto do trabalho do homem no passado. Aqueles dons gratuitos da natureza que Ricardo qualificou como “inerentes” e “indestrutíveis” propriedades do solo, foram largamente alterados, em parte empobrecidos e em parte enriquecidos pelo trabalho de muitas gerações.


83 - O homem e a terra: ...Em cada caso ele trabalha até que o rendimento adicional obtido do emprego de mais capital e trabalho tenha diminuído tanto que não mais os compenseOnde esse limite é logo atingido, ele deixa à natureza quase todo o trabalho. Onde seu papel na produção foi grande é que pôde trabalhar bastante sem alcançar tal limite. Somos assim levados a considerar a lei do rendimento decrescente.


84 - ...Essa lei só diz respeito a quantidade, não aos outros fatores: É importante notar que o rendimento do capital e do trabalho, ora em estudo, se mede pela quantidade do produto obtido independentemente de quaisquer alterações que entrementes possam ter ocorrido no valor de troca ou no preço do produto, como as que podem suceder pela construção de uma estrada de ferro na vizinhança, pelo grande crescimento da população do condado, quando os produtos agrícolas não podem ser facilmente importados.



Pgs. 215-234


"CAPÍTULO 17: "A Fertilidade da Terra (continuação) — A Tendência ao Rendimento Decrescente"


85 - A meu ver, ele passa boa parte do capítulo tentando complicar e confundir uma lei simples, que vem da mera diferença de fertilidades dos solos, salvo engano, exigindo mais ou menos trabalho.


86 - Se acontece haver na vizinhança uma terra cultivada que apenas dá para as despesas, e nada deixa para fazer em face da renda, podemos supor que se lhe aplica a dose marginal; podemos, então, dizer que a dose que lhe é aplicada está no limite ou margem de cultivo, e essa forma de linguagem tem o mérito da simplicidade. Depois, ele dá explicações chatas a essa simples sentença, tentando confundir o que está claro nela, a meu ver. Inclusive todo gráfico do livro é meio horrível. Parabéns aos livros atuais!


87 - ...A renda fundiária integral de uma exploração agrícola num velho país é composta de três elementos: o primeiro, devido ao valor do solo como foi entregue pela natureza; o segundo, a melhoramentos feitos pelo homem; e o terceiro, que por vezes é o mais importante, ao crescimento de uma população densa e rica, e às facilidades de comunicação por estradas, ferrovias etc.


88 - ...Deve notar-se também que é impossível num velho país descobrir o que era o estado original da terra antes da primeira cultura. Os resultados de muito do trabalho humano são, para o bem ou para o mal, incorporados à terra, e não podem distinguir-se daqueles devidos à natureza: a linha de divisão é apagada e só se pode traçá-la mais ou menos arbitrariamente.


89 - Noutra parte chata, limita-se a dizer, em resumo, que as curvas de rendimento decrescente podem ser bem diferentes para cada tipo de solo e contexto, tendo inclusive caráter crescente em parte dele. Exemplos deste tipo: ...não precisamos supor que, começando a diminuir o rendimento ao capital e trabalho suplementares, isso continuará sempre assim. (...) um agricultor, dispondo de capital e trabalho suplementares, pode por vezes obter um rendimento crescente, mesmo num avançado estágio de cultivo. Enfim, fica divagando tanto que escreve até isto aqui: ...Naturalmente, seu rendimento pode diminuir, aumentar depois, e novamente diminuir; e ainda uma vez aumentar...


90 - Cada terra é mais adequada a algum tipo de contexto. Não podemos, ...dizer que um campo é mais fértil do que outro, se não conhecemos as habilitações e a capacidade de empreendimento dos seus cultivadores, e a soma de capital e trabalho de que dispõem; e se não sabemos se a procura do produto é suficiente para tornar vantajosa a cultura intensiva com os recursos disponíveis. Se a melhor cultura será intensiva ou extensiva... se a melhor aplicação dos recursos será em grande terreno ou pequeno... Tudo depende de vários fatores. O termo fertilidade não tem sentido senão com referência às circunstâncias especiais de um lugar e um tempo determinados.


91 - Mesmo, porém, com essas limitações, há muita incerteza no uso do termo. Por vezes, a atenção se dirige principalmente para o poder que a terra tem de dar rendimentos adequados à cultura intensiva e assim fornecer uma grande produção total por acre; outras vezes, visa-se a sua capacidade de dar um grande excedente de produção ou renda, mesmo que sua produção bruta não seja muito grande: assim na Inglaterra, presentemente, uma terra arável rica é muito fértil no primeiro sentido, um rico prado no segundo. Para muitos fins, não importa em qual dos dois sentidos o termo é usado: nos poucos casos em que a distinção é importante, uma referência interpretativa se deve incluir no contexto.


92 - Circunstâncias e valores dos terrenos: ...Do mesmo modo, a crescente procura de madeira na Europa Central para ser usada como combustível ou em construções elevou o valor dos terrenos montanhosos cobertos de pinheiros relativamente a quase todos os outros tipos de terra. Mas na Inglaterra esse aumento foi evitado pela substituição da lenha pelo carvão como combustível, e da madeira pelo ferro como material de construção naval, e finalmente pelas facilidades especiais da Inglaterra de importar madeira.


93 - Vê uma tendência à igualação. O avanço técnico vai facilitando trabalhar mesmo com os solos outrora mais difíceis: Na ausência de alguma causa especial em contrário, o crescimento da população e da riqueza faz com que os solos mais pobres ganhem sobre os ricos. A terra que em algum tempo era inteiramente abandonada chega à força de muito trabalho a produzir ricas colheitas; sua provisão anual de luz, de calor e de ar é provavelmente tão boa como a dos solos mais ricos: enquanto as suas deficiências podem ser muito reduzidas pelo trabalho.


94 - O mau e o bom cultivo também vai variar a cada terreno.


95 - Perdoa a "inexatidão" de David Ricardo: ...Em todo o caso, ele teria tido razão em pensar que essas condições não eram de grande importância nas circunstâncias peculiares da Inglaterra, ao tempo em que escreveu, e para os fins especiais dos problemas práticos que tinha em vista. Naturalmente, ele não poderia prever a série de grandes inventos que estavam a ponto de abrir novas fontes de abastecimento e, ajudados pela liberdade de comércio, de revolucionar a agricultura inglesa.


96 - ...Ricardo afirmou que os primeiros colonos numa região nova invariavelmente escolhem as terras mais ricas, e à medida que a população cresce, terrenos cada vez mais pobres são postos em cultivo, o que é exprimir-se imprecisamente, como se houvesse padrão absoluto de fertilidade. Mas, como já vimos, onde a terra é livre, cada qual escolhe a que melhor convém ao seu objetivo e dará, computadas todas as condições, o melhor rendimento ao seu capital e ao seu trabalho. Procura, pois, terrenos que possam de logo ser cultivados e deixa atrás os que tenham quaisquer elos frágeis na corrente dos seus elementos de fertilidade, por fortes que possam ser os outros elos. Depende dos recursos que "o cara" tem. Do quanto pode aguentar inicialmente, etc. (...) Além de ter que evitar a malária, deve pensar na comunicação com os mercados de consumo e os centros de aprovisionamento; e, em alguns casos, a necessidade de segurança contra os inimigos e as feras sobrepuja qualquer outra consideração...


97 - Mineração é diferente. Em outros termos, a oferta dos produtos da agricultura e da pesca é uma corrente perene; as minas são como que reservatórios da NaturezaQuanto mais rápido um reservatório se exaure, maior o trabalho de esvaziá-lo.


98 - Terrenos em geral: ...por grande que seja o preço do arrendamento de um terreno, chega-se finalmente a um limite, depois do qual é melhor pagar mais por uma área maior do que empilhar andar sobre andar; tal como o agricultor que chegou a um ponto em que uma cultura mais intensiva não mais compensará as despesas, e é melhor pagar mais renda por um terreno adicional do que enfrentar a diminuição no rendimento que pode obter do emprego de mais capital e trabalho em sua antiga terraDaí resulta que a teoria das rendas dos terrenos de construção é substancialmente a mesma da relativa aos terrenos rurais.


99 - Generalizar a lei dos rendimentos decrescentes para qualquer tipo de produção enseja um perigo: Quer dizer, está-se exposto a negar a existência daquela condição — a fixidez do total de terra cultivável num velho país — que foi o principal fundamento das grandes discussões clássicas da lei do rendimento decrescente, que temos estado considerando.


100 - Cada caso é um caso. Sem dúvida, num país novo em que existe abundância de terra rica ainda virgem, essa fixidez da quantidade total de terra é inoperante. Os economistas americanos dizem freqüentemente que o valor ou renda da terra varia com a distância dos bons mercados mais que com a fertilidade, porque mesmo presentemente há uma grande porção de terras ricas em seu país, ainda não cultivadas inteiramente.



Pgs. 235-250


"CAPÍTULO 18: "O Crescimento da População"


101 - O estímulo ao crescimento ou decrescimento - controle de natalidade - da população variou a cada momento histórico. Esse movimento de opinião chegou a um tal ponto que, em 1796, Pitt declarou que um homem que enriqueceu o seu país com grande número de filhos tinha direito a ser assistido por ele.


102 - Se as idéias humanitárias dos fisiocratas tivessem podido vencer a frivolidade e a dureza das classes privilegiadas da França, o século XVIII não teria talvez expirado no mundo e na carnificina, a marcha da liberdade na Inglaterra não teria sido detida e o progresso numa só geração teria ido além do que está hoje. Mas no estado em que estavam as coisas, pouca atenção se prestou ao protesto cauteloso mas enérgico de Quesnay: “Mais do que aumentar a população, o que se deve é aumentar a renda nacional, pois uma situação de maior conforto resultante de uma boa renda é preferível à de uma população excessiva relativamente aos seus rendimentos e em carência contínua dos meios de subsistência”.


103 - Critica a situação da classe trabalhadora inglesa nos primórdios da Revolução Industrial: O século XVIII chegava ao seu término e o novo século começava, cada ano a condição das classes trabalhadoras na Inglaterra se tornando mais sombria. Uma série espantosa de más colheitas,193 uma guerra ruinosa e uma revolução nos métodos da indústria, que desfez velhos laços, combinaram-se com uma imprudente lei de amparo aos pobres (Poor Law) para levar as classes trabalhadoras à maior miséria que jamais sofreram, pelo menos de que se tem notícia a partir de registros fidedignos da história social inglesa. 


104 - ...Efeitos da referida guerra: No começo do último século, os impostos no Império — na maior parte impostos de guerra — elevaram-se a 1/5 de toda a renda do país; enquanto hoje não passam muito de 1/20, e em grande parte mesmo são gastos em educação e outros benefícios que o Governo então não provia.


105 - Marshall defende Malthus dos críticos, destacando passagem em que o autor conservador não era tão pessimista/fatalista quanto se diz: Mas muitos dos seus críticos o supõem como tendo exposto sua opinião com muito menos reservas do que na realidade; esqueceram passagens como esta: “Comparando o estado da sociedade em idades primitivas com o da época atual, posso dizer com segurança que os males resultantes do princípio da população mais têm diminuído que aumentado, mesmo com a desvantagem de uma ignorância quase total de sua causa verdadeira. E, se podemos alimentar a esperança de que essa ignorância seja gradualmente dissipada, não parece desarrazoado esperar que esses males serão reduzidos ainda mais. O aumento da população absoluta, que naturalmente se produzirá, só tenderá a enfraquecer muito pouco essa esperança, uma vez que tudo depende das proporções relativas existentes entre a população e os alimentos, e não do número absoluto da população. Na primeira parte desta obra mostrou-se que os países que possuíam menos habitantes eram, freqüentemente, os que mais haviam sofrido os efeitos do princípio da população”. Essay. Livro Quarto. Cap. XII. Em outro rodapé, dá mais "passada de pano" ao tentar justificar a história da "progressão aritmética" de alimentos. Que Malthus foi ficando menos pessimista com o tempo e etc... Fato é, porém, que a esperança de Malthus era a castidade do povo.


106 - Mais advocacia: "...não se pode culpar Malthus de não ter previsto os grandes progressos do transporte a vapor, por terra e pelo mar, que permitiram aos ingleses da geração presente obter os produtos dos países mais ricos da Terra a um custo relativamente pequeno." Seguida de uma previsão furada, a qual eu vou "deixar pra lá" (..."será impossível que se estendam os hábitos de conforto da Europa ocidental sobre o mundo inteiro e que se mantenham por muitos séculos.").


107 - (Boa parte da discussão está bem datada a meu ver, por vários motivos, mas estou lendo).


108 - Assim como Acemoglu colocou no livro dele, destaca como a Peste ter dizimado a mão-de-obra acabou levando a uma flexibilização das relações feudais. Por todos esses meios, foi introduzida alguma elasticidade no sistema rígido da economia medieval, e a população pôde em certa medida aproveitar da crescente procura de mão-de-obra, que veio aos poucos com o progresso dos conhecimentos, o estabelecimento do direito e da ordem, e o desenvolvimento do tráfego oceânico.


109 - ...Segundo o Domesday Book,* a população da Inglaterra em 1086 era de 2 a 2,5 milhões. Antes da Peste Negra (1348), devia haver entre 3,5 e 4,5 milhões; e logo depois 2,5 milhões. Começou uma rápida recuperação, mas o progresso foi lento entre 1400 e 1550; o aumento foi mais veloz nos cem anos seguintes, e atingiu os 5,5 milhões em 1700. A crermos em Harrison (Description of England. Livro Segundo. Cap. XVI), os contingentes de homens capazes para as fileiras em 1574 se elevaram a 1 172 674. A Peste Negra foi a única grande calamidade inglesa. A Inglaterra não estava sujeita, como o resto da Europa, a guerras devastadoras, como a dos Trinta Anos, que destruiu mais da metade da população da Alemanha, exigindo mais um século para ser reparada a perda. (Ver Rümelin, no seu instrutivo artigo sobre “Bevölkerungslehre”. In: SCHÖNBERG. Handbuch).


110 - A partir de 1760, os que não podiam se estabelecer na sua terra natal passaram a encontrar pouca dificuldade para obter emprego nas novas zonas industriais e mineiras, onde a procura de mão-de-obra freqüentemente impedia às autoridades locais a aplicação dos dispositivos de portadores da Lei de Domicílio. Afluíam os jovens livremente para esses centros, onde a natalidade se tornou excepcionalmente elevada.


111 - Quadro geral do crescimento populacional inglês: ...Os efeitos da Grande Guerra e o alto preço do trigo se fizeram sentir no crescimento lento entre 1790 e 1801; e os resultados das pensões indiscriminadas da Lei dos Pobres, a despeito da situação mais aflitiva, se apresentaram no rápido aumento dos dez anos seguintes, e no crescimento ainda maior, quando a crise passou, na década terminada em 1821. A terceira coluna mostra a percentagem do aumento da população em relação com a que havia no início da década.



112 - O preço do trigo elevado inibia a nupcialidade nas classes populares, afirma com dados. Porém, ao que entendi, isso muda na segunda metade do século XIX, com ambos caindo.


113 -  A mortalidade geral é grande onde é elevada a taxa de nascimentos. Por exemplo, ambas são altas nos países eslavos, e baixas no norte da Europa. As taxas de mortalidade são baixas na Australásia onde o crescimento “natural” é bastante elevado, embora a natalidade seja baixa e esteja caindo muito rapidamente.


.


Comentários