Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. I - Capítulos "19" e "20"
Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. I (Os Economistas) (1890)
Pgs. 251-260
"CAPÍTULO 19: "A Saúde e o Vigor da População"
114 - Associa o grande esforço muscular à moralidade: ...ela se revela em grandes feitos, em grandes pensamentos e na capacidade de verdadeiro sentimento religioso.
115 - Marshall até queria uma teoria racial ou racista, digamos assim, mas não achava lá muito possível: ...A história das raças é um estudo sedutor, mas decepcionante, para o economista: pois as raças dominadoras geralmente incorporaram as mulheres das vencidas; não raro carregavam muitos escravos de ambos os sexos nas suas migrações, e os escravos tinham menor possibilidade que os homens livres de serem mortos nas batalhas, ou de fazerem o voto monástico. Em conseqüência, quase todas as raças carregam muito sangue servil, que é sangue estrangeiro: e como a quota de sangue escravo era maior nas classes trabalhadoras, uma história racial dos hábitos de trabalho parece inviável.
116 - Efeitos da carestia: Mesmo em Londres, nos séculos XVII e XVIII, a mortalidade foi de 8%, maior nos anos de carestia do trigo do que nos anos de trigo barato.
117 - Situação "atual" (1900 e pouquinho, no caso): Presentemente na Inglaterra é raro que a falta de alimentação seja causa direta de óbito. Mas freqüentemente é a razão do enfraquecimento geral de todo o ser, que assim fica incapaz de resistir à moléstia. Esta a principal causa da ineficiência no trabalho.
118 - Cita inúmeros malefícios das habitações precárias. Seria outro fator de ineficiência do trabalho e também de perversão moral, digamos assim, em razão da promiscuidade. Moléstias surgem. Uma deficiência de habitação ou de combustível força as pessoas a viverem numa atmosfera viciada, nociva à saúde e ao vigor.
119 - Coloca o descanso como essencial ao trabalho eficiente. Defende, ainda, o trabalho "livre": A seguir vêm três condições do vigor, estreitamente ligadas, a saber: esperança, liberdade e mutabilidade. Toda a história está cheia de lembranças de ineficiência devida, em graus diversos, à escravatura, à servidão, e outras formas de opressão e de repressão civis e políticas. Atribui o sucesso de algumas colônias inglesas a isso. Seria um trabalho mais prazeroso. No mais, ...a segurança da pessoa e da propriedade são duas condições dessa esperança e liberdade; mas a segurança implica sempre restrições à liberdade e constitui dos mais difíceis problemas da civilização descobrir como obter segurança, que é uma condição da liberdade, sem um sacrifício muito grande da própria liberdade. (...) Até aqui se tem considerado liberdade a não sujeição a laços externos. Mas aquela liberdade mais elevada, que nasce do governo de si mesmo, é uma condição ainda mais importante para os afazeres superiores.
120 - No começo do século XIX as condições do trabalho nas fábricas eram desnecessariamente malsãs e opressivas para todos, especialmente para as crianças.
121 - Nota da Tradução acerca da evolução da legislação fabril na Inglaterra: ...Série de leis que pretendiam suavizar, senão eliminar, a desabrida exploração do trabalho humano nas fábricas e minas da Inglaterra que, desde os primórdios da Revolução Industrial no final do século XVIII, prevaleceu ao longo do século XIX, quando a máquina era ainda escassa e cara relativamente à mão-de-obra. Esta a principal razão de ordem econômica da tenaz resistência dos industriais a melhorar as atrozes e mesmo desumanas condições de trabalho em suas fábricas e minas, tais como a jornada de 12 horas ou mais por dia, a que eram submetidas mulheres e crianças menores de nove anos, ambientes insalubres, nenhuma segurança industrial ou assistência médica e social. (...) A primeira dessas leis “trabalhistas” data de 1802, proibindo o trabalho de aprendizes por mais de 12 horas consecutivas. Em 1819 outra lei proibia o emprego de menores de nove anos. Como os empregadores sempre encontravam meios de burlar essas prescrições legais, novas leis foram promulgadas em 1820, 1825 e 1830, repetindo-se por serem inócuas. Em 1833, porém, por iniciativa de lorde Shaftesbury, um político aliás conservador, outra lei, que tomou seu nome, entrou em vigor, reiterando a proibição do emprego de menores de nove anos; limitando o trabalho dos que tivessem nove a treze anos a 9 horas por dia e os de doze a dezoito anos, a 12 horas; e, enfim, dispondo sobre a fiscalização do cumprimento da lei, para o que seriam designados “Fiscais de Trabalho”. Essa legislação teve outros “Atos” em 1840, 1842, 1850, 1860, 1874, 1891, 1901, 1920, até nossos dias, melhorando paulatinamente as condições de trabalho, em particular das mulheres e crianças, inclusive quanto à segurança e salubridade das fábricas e minas. (N. dos T.). Nas "indústrias domésticas" e pequenas oficinas, porém, havia mais descumprimentos.
122 - Mortalidade infantil e trabalho fabril na visão de Marshall: Os salários mais altos, maior instrução e melhor atendimento médico de que dispõem os habitantes das cidades deveriam resultar em menor mortalidade infantil entre eles do que no campo. Mas é geralmente maior, em particular nos lugares onde há muitas mães que negligenciam seus deveres familiares a fim de ganhar salários.
123 - O retrato do lamentável estado das ideias da época nesse comentário de Marshall...: O prof. Haycraft (Darwinism and Race Progress) sustenta o contrário. Ele atribui grande importância aos males que advirão à raça humana da diminuição de certas doenças, como a tuberculose e a escrofulose, que atacam principalmente pessoas de fraca constituição, e assim exercem uma influência seletiva na raça, a não ser que tal seja acompanhado de progressos correspondentes em outros sentidos. Mas a tuberculose não mata todas as suas vítimas; existiria, certamente, alguma vantagem na diminuição de seus efeitos debilitantes. ...Ou como este: ...Da mesma sorte, na costa do Pacífico, houve em certa ocasião justos motivos para temer que todos os trabalhos, com exceção dos altamente especializados, viessem a cair nas mãos dos chineses; e que o homem branco passasse a viver uma vida artificial na qual uma família se torna uma grande despesa. Nesse caso, os chineses tomariam o lugar dos americanos, e a qualidade média da raça humana teria decaído.
124 - Algumas indignações são tragicômicas na verdade: ...O motivo é muita vez egoístico, e talvez fosse melhor que as pessoas rudes e frívolas deixassem menos descendentes semelhantes a elas. Segundo Marshall, o progresso da raça é devido em muito maior extensão do que parece à primeira vista aos descendentes de poucas famílias excepcionalmente grandes e vigorosas.
Pgs. 261-274
"CAPÍTULO 20: "A Aprendizagem Industrial"
125 - A habilidade manual, especializada a ponto de não poder ser transferida de uma ocupação para outra, está-se tornando um fator de produção de importância cada vez menor. (...) As qualidades que fazem um grande povo industrial são a capacidade de ter em mente muita coisa ao mesmo tempo, cada coisa pronta a seu tempo, agir rapidamente e saber resolver as dificuldades que se possam apresentar, de se acomodar facilmente com qualquer mudança nos detalhes do trabalho executado, de ser constante e digno de confiança, de ter sempre uma reserva de forças para serem utilizadas em caso de emergência.
126 - A habilidade geral depende, em grande parte, do ambiente da infância e da juventude. Baseado em Galton, dá bastante importância à educação materna.
127 - Critica sistemas similares aos de castas. O trabalhador habilidoso deve "subir" na empresa e quiçá comandá-las. Diz que o atraso de algumas partes da Inglaterra se dá por falta de mobilidade social.
128 - Todas as despesas feitas, durante muitos anos, para dar às massas uma oportunidade de se instruírem melhor, ficariam perfeitamente compensadas se fizessem surgir um novo Newton, um Darwin, um Shakespeare ou um Beethoven.
.
Comentários
Postar um comentário