Livro: Acemoglu & Robinson – Por que As Nações Fracassam - Capítulo 2

                           

Livro: Acemoglu & Robinson – Por que As Nações Fracassam



Pgs. 53-75


"CAPÍTULO 2: "TEORIAS QUE NÃO FUNCIONAM"

 

40 - À industrialização da Inglaterra logo se seguiria a da maior parte da Europa Ocidental e Estados Unidos. A prosperidade inglesa não tardou a espalhar-se também pelas “colônias de povoamento” britânicas – Canadá, Austrália e Nova Zelândia.


41 - Países do Oriente Médio com pouco ou nenhum petróleo, como Egito, Jordânia e Síria, aglomeram-se em torno de um nível de renda próximo ao da Guatemala ou Peru. Sem suas reservas petrolíferas, as nações do Oriente Médio são tão pobres quanto as da América Central e dos Andes, ainda que não tanto quanto as da África subsaariana.


42 - Montesquieu simplesmente dizia que o pessoal tropical era preguiçoso. Montesquieu especulava também que as pessoas preguiçosas tendiam a ser governadas por déspotas, sugerindo que a localização nos trópicos justificaria não só a pobreza mas também parte dos fenômenos políticos associados ao fracasso econômico, como regimes ditatoriais.


43 - Afirmam que Sachs defende algo parecido até hoje, mesmo com os rápidos avanços na Malásia, Botswana ou Cingapura indo de encontro à tese. A "sofisticação" atual está em culpar mais as doenças tropicais e solo tropical e menos a "preguiça".


44 - Colocam que as Coréia, por exemplo, são claramente frutos de processos institucionais diferentes.


45 - Mais evidências que contrariam a "hipótese geográfica": Por exemplo, não é verdade que os trópicos tenham sido sempre mais pobres que as latitudes temperadas. Como vimos no capítulo anterior, na época da conquista das Américas por Colombo a faixa ao sul do Trópico de Câncer e ao norte do de Capricórnio, que hoje compreendem México, América Central, Peru e Bolívia, continha as grandes civilizações asteca e inca – impérios politicamente centralizados e complexos, que construíram estradas e prestavam auxílio contra a fome. Os astecas dispunham tanto de moeda quanto de escrita, e os incas, embora lhes faltassem essas duas tecnologias fundamentais, registravam vasta quantidade de informação em cordões cheios de nós, chamados quipos. Em agudo contraste, nessa mesma época, as áreas ao norte e ao sul daquela habitada por esses dois povos – onde hoje se encontram Estados Unidos, Canadá, Argentina e Chile – eram habitadas basicamente por civilizações na Idade da Pedra, desprovidas de tais tecnologias.


46 - ...Hoje está invertido. Tal inversão claramente nada teve a ver com a geografia, mas, como já vimos, com o modo como se deu a colonização dessas áreas. Na Ásia, a Índia e a China já foram as mais prósperas. (...)  Voltando atrás na história, novamente vemos muita prosperidade nos trópicos; algumas das grandes civilizações pré-modernas, como Angkor, no moderno Camboja, Vijayanagara, no sul da Índia, e Aksum, na Etiópia, floresceram nos trópicos, do mesmo modo como as civilizações do Vale do Indo, de Mohenjo Daro e Harapa, no atual Paquistão.


47 - Sobre os solos: Vamos demonstrar também que a desigualdade mundial não pode ser explicada por diferenças na produtividade agrícola. As profundas disparidades do mundo moderno nascidas no século XIX foram causadas pela disseminação desigual das tecnologias industriais e da produção manufatureira, não por diferenças no desempenho agrícola.


48 - A versão de Jared Diamond: O grande número de espécies domesticáveis tornou interessante para as sociedades fazer a transição de um estilo de vida de caça e coleta para outro agrário. Por conseguinte, a agricultura desenvolveu-se antes no Crescente Fértil que nas Américas. A densidade demográfica aumentou, possibilitando a especialização da mão de obra, o comércio, a urbanização e o desenvolvimento político.


49 - Colocam que hoje há mais distância entre o padrão de vida de um espanhol médio e um peruano médio do que havia na época dos incas. Estima-se que estes tinham renda média maior que a metade da dos espanhóis da época. A tese de Diamond sugere que, uma vez que os incas viram-se expostos a todas as espécies e tecnologias delas resultantes que não haviam sido capazes de desenvolver por conta própria, deveriam ter atingido rapidamente o padrão de vida dos espanhóis. Todavia, não foi em absoluto o que aconteceu. Pelo contrário...


50 - ...Também não explica bem (Diamond) as extremas diferenças intercontinentais: Por exemplo, por mais que a orientação da massa de terra eurasiática possa explicar como a Inglaterra logrou beneficiar-se das inovações do Oriente Médio sem precisar reinventá-las, não explica por que a Revolução Industrial se deu na Inglaterra em vez de, digamos, na Moldávia.


51 - Fazem uns ataques a Diamond no próprio campo dele (mas aí eu teria que conhecer os detalhes de sua tese). Um exemplo: O Mapa 5 mostra a distribuição de alguns dos ancestrais selvagens dos produtos agrícolas domesticados de hoje, como o Oryza sativa, antecessor do arroz cultivado asiático, e os ancestrais do trigo e cevada modernos. A ilustração demonstra que o ancestral selvagem do arroz estava amplamente distribuído por todo o sul e sudeste da Ásia, ao passo que os antecessores do trigo e da cevada distribuíam-se ao longo de um comprido arco que ia do Levante e passava pelo Irã e Afeganistão até os “istões” (Turcomenistão, Tadjiquistão e Quirguistão). Essas espécies ancestrais encontram-se presentes em grande parte da Eurásia, mas sua ampla distribuição sugere que não há como justificar as desigualdades nesse continente com uma teoria baseada na incidência das espécies.


52 - O Oriente Médio liderou o mundo na revolução neolítica, e as primeiras cidades desenvolveram-se onde atualmente fica o Iraque. O ferro foi fundido pela primeira vez na Turquia e, até a Idade Média, o Oriente Médio era dinâmico em termos tecnológicos. Não foi a geografia do Oriente Médio que levou a revolução neolítica a florescer naquela parte do mundo, como veremos no Capítulo 5, assim como tampouco foi a geografia que tornou o Oriente Médio pobre. Pelo contrário, a expansão e a consolidação do Império Otomano − o legado institucional desse império − é que mantêm a região imersa em pobreza ainda hoje.


53 - Também crítica as teorias que associam subdesenvolvimento às culturas ibéricas ou africanas.


54 - ...Evidentemente, muitos já acreditaram que a cultura chinesa e o confucionismo fossem incompatíveis com o crescimento econômico, muito embora a importância da ética de trabalho chinesa como motor do crescimento na China, Hong Kong e Cingapura seja agora alardeada.


55 - Colocam que cultura é importante, pois pode influenciar as instituições, mas não são determinantes. Como exemplo de traço cultural que prejudica as coisas: ...nas pesquisas, os mexicanos normalmente dizem confiar em outras pessoas menos do que os cidadãos dos Estados Unidos declaram confiar nos outrosContudo, a falta de confiança dos mexicanos não surpreende, tendo-se em vista que seu governo mostra-se incapaz de eliminar os cartéis de drogas ou assegurar um sistema jurídico imparcial.


56 - Mais uma vez traz as "coréias" como evidência de que as instituições são o importante: A península coreana tem um longo período de história comum. Até a Guerra da Coreia e a divisão no paralelo 38, apresentava uma homogeneidade sem precedentes em termos de idioma, etnicidade e cultura.


57 - Sobre a África, dá vários exemplos de adoção de tecnologias estrangeiras após os contatos com os portugueses e demais estrangeiros depois. Não havia uma "recusa cultural" a se deixar "penetrar". Citam escrita, roupas, arquitetura, uso de pólvora, religião e outros exemplos de coisas/fatores que passaram por enormes mudanças. Segundo Acemoglu, trata-se, como sempre, da questão dos incentivos institucionais. (...) promissores experimentos econômicos foram obliterados, não pela cultura africana nem pela incapacidade dos africanos comuns de tomar iniciativas em prol de seus próprios interesses, mas pelo colonialismo europeu, em primeiro lugar, e mais tarde pelos governos africanos pós-independência. O problema era que o homem comum africano enfrentava elevado risco de expropriação e tributação de sua produção pelo monarca todo-poderoso. (...) Muitos eram capturados e vendidos como escravos – condições que dificilmente serviriam de estímulo para investimentos que aumentassem a produtividade em longo prazo. Ademais, exportar escravos era rentável demais para que um rei africano se preocupasse com outros meios mais difíceis de prosperar aumentando a produtividade.


58 - E a ética protestante de Max Weber? Embora seja verdade que países predominantemente protestantes, como Holanda e Inglaterra, foram os primeiros grandes sucessos econômicos da Era Moderna, há pouca ligação entre religião e prosperidade econômica. A França, país predominantemente católico, rapidamente reproduziu o desempenho econômico dos holandeses e ingleses no século XIX, e a Itália é tão próspera quanto qualquer desses países hoje. Isso sem falar no Leste Asiático. 


59 - ...Sim, países como Síria e Egito são pobres e suas populações são basicamente muçulmanas. Contudo, apresentam outras peculiaridades bem mais significativas para efeitos de prosperidade. Em primeiro lugar, todos foram províncias do Império Otomano, o que afetou intensa e adversamente o modo como se desenvolveram. Após o colapso do domínio otomano, o Oriente Médio foi absorvido pelos impérios coloniais inglês e francês, que continuaram tolhendo suas possibilidades. Seriam, então, as instituições autoritárias o problema.


60 - Seria a "cultura inglesa" progressista?  Sim, Canadá e Estados Unidos foram colônias britânicas, mas Serra Leoa e Nigéria, também.


61 - Seria a "cultura dos descendentes europeus" a resposta? Argentina e Uruguai apresentam descendentes de europeus em proporções maiores de sua população total que o Canadá e os Estados Unidos, mas o desempenho econômico tanto de uma quanto do outro deixa muito a desejar. Japão e Cingapura nunca tiveram mais que uma gota de descendentes de europeus entre seus habitantes, mas são tão abastados quanto muitas áreas da Europa Ocidental.


62 - Citam o crescimento chinês como evidência de o que "mera" mudança institucional pode trazer. Desde as reformas de Xiaoping, o desenvolvimento decolou. A cultura permanece a mesma. 


63 - A "cultura indígena" também é injustamente culpada para alguns. Colômbia, Equador e Peru têm níveis de renda similares, mas a Colômbia hoje apresenta muito poucos indígenas, ao contrário do Equador e Peru.


64 - Sobre a "hipótese da ignorância", colocam que políticos escolhem seguir conselhos piores, do ponto de vista econômico, por motivos pragmáticos. Não é que sejam burros. A questão são as distintas delimitações institucionais encontradas pelos presidentes e elites. Incentivos. Os governantes se  importam apenas com seu sucesso político e muitas vezes este se choca com as medidas certas. Dá exemplos da história de Gana no pós-independência. 


65 - ...A experiência do primeiro-ministro de Gana em 1971, Kofi Busia, ilustra o quanto a hipótese da ignorância pode ser ilusória. Busia enfrentava uma perigosa crise econômica. Tendo ascendido ao poder em 1969, como o seu antecessor Nkrumah, adotou políticas econômicas insustentáveis e impôs vários mecanismos de controle de preços, por meio de organizações comerciais e da sobrevalorização cambial. Embora Busia tivesse feito oposição a Nkrumah e conduzisse um regime democrático, deparou-se com muitas das mesmas restrições políticas. (...) Porém, o populismo cambial tinha limites e... Gana logo sofreria de uma série de crises no balanço de pagamentos e escassez de moeda estrangeira. Diante de tamanhos dilemas, em 27 de dezembro de 1971, Busia assinou um acordo com o Fundo Monetário Internacional que incluía a desvalorização em massa da moeda do país. (...) A consequência imediata da desvalorização da moeda foi uma série de levantes e tumultos em Acra, capital de Gana, que sofreu escalada vertiginosa até Busia ser derrubado pelos militares, encabeçados pelo Tenente-Coronel Acheampong, que imediatamente tratou de reverter a desvalorização. Enfim, é a política, estúpido. Não é uma questão de desconhecimento. Erram, não por equívoco ou ignorância, mas de propósito.


66 - Como observou o economista Abba Lerner, na década de 1970, “a economia conquistou o título de Rainha das Ciências Sociais ao escolher como domínio problemas políticos já resolvidos”.


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