Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico - Capítulo 13
Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico
Pgs. 487-518
"CAPÍTULO 13: "Teorias do Imperialismo"
377 - Na África, por exemplo, apesar de séculos de comércio sangrento e infame de escravos, os países capitalistas europeus mal tinham ultrapassado as áreas costeiras no início do século XIX. No entanto, no início do século XX, após um ataque impiedoso e bárbaro, 26 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, 93% do território africano, tinham sido subjugados pela força ao domínio capitalista estrangeiro.
378 - Índia e a Companhia das Índias Orientais: Em fins do século XIX, essa exploração assumiu um caráter tão sério, que mais de dois terços da população estavam malnutridos; reinavam a fome, a doença e a miséria, e, em 1891, o hindu vivia em média menos de 26 anos e, geralmente, morria na miséria.
379 - EUA: O imperialismo norte-americano também foi desmedido naquela época. Por uma série de intrigas sangrentas, invasões e subjugação militar das populações nativas, os Estados Unidos assumiram, na Primeira Guerra Mundial, o controle de Samoa, da Ilha Midway, do Havaí, de Porto Rico, de Guam, das Filipinas, de Tutuíla, Cuba, República Dominicana, Haiti, Nicarágua e a Zona do Canal do Panamá.
380 - Durante o frenesi imperialista do último terço do século XIX, a Grã-Bretanha ocupou pela força cerca de 11,7 milhões de quilômetros quadrados, anexados ao seu império; a França ocupou mais de 9 milhões de quilômetros quadrados; a Alemanha, 2,6 milhões; a Bélgica, 2,3 milhões; a Rússia, 1,3 milhão; a Itália, 500 mil; os Estados Unidos, 350 mil. Ao todo, um quarto da população mundial estava subjugada e sob o domínio dos governos capitalistas da Europa e dos Estados Unidos.
381 - Há que se dizer, com toda a justiça, que poucos teóricos neoclássicos importantes foram direta e explicitamente apologistas da conquista militar. Simplesmente a ignoraram como sendo um assunto estranho à economia; depois, considerando-a um fato consumado, ignoraram o relativo poder de barganha dos agentes de troca (como fizeram, praticamente, em todas as suas análises de troca) e elogiaram os benefícios universais e a harmonia resultantes da troca.
A Teoria do Imperialismo Capitalista, de Hobson
382 - Na propaganda oficial que justificava o imperialismo, este era, em geral, descrito como uma tentativa bem-intencionada de “civilizar” e de “levar o cristianismo” às “raças inferiores”. O presidente dos Estados Unidos, McKinley, por exemplo, descreveu o sufocamento brutal, sangrento e militar do movimento de independência filipino por tropas americanas como uma tentativa bem-intencionada de “educar os filipinos, no sentido de elevá-los e torná-los cristãos”.
383 - O imperialismo era natural? era fruto do militarismo? Embora Hobson admitisse que os serviços militares “fossem, obviamente, imperialistas por convicção e por interesse profissional e que cada aumento das forças militares… fortalecia o poder político que elas exerciam”, achava que isso era um traço universal de todos os militares e que, portanto, não poderia explicar o recente surto de domínio imperialista. Os oficiais militares não constituíam o principal poder político na sociedade. Além do mais, o patriotismo e o chauvinismo não eram, para Hobson, características inerentes à natureza humana.
384 - ...O imperialismo agressivo que procuramos entender não é, basicamente, um produto de paixões cegas… ou da loucura associada à ambição dos políticos.
385 - Nas economias capitalistas avançadas, bancos gigantescos e instituições financeiras dominavam o investimento externo.
386 - Hobson, após ter examinado os dados empíricos que mostravam os lucros de investimentos externos e do comércio comum de exportação e importação, concluiu “que a renda obtida sob a forma de juros sobre os investimentos externos era muitíssimo maior do que a obtida sob a forma de lucro com o comércio… habitual”. Considerando essa enorme lucratividade e o enorme poder econômico e político dos grandes banqueiros e financistas, Hobson concluiu que eles – e não os missionários cristãos, os políticos irracionais, os militares ou o segmento chauvinista da população – é que eram os principais responsáveis pelo imperialismo. (...) "Um estadista ambicioso, um soldado de fronteira, um missionário superzeloso e um comerciante ativo podem sugerir ou mesmo dar início a um processo de expansão imperialista, podem ajudar na educação da opinião pública no sentido da necessidade urgente de uma iniciativa nova, mas a determinação final fica por conta do poder financeiro".
387 - ...Primeiramente vinham os financistas, que eram os mais importantes. Depois vinham “certas firmas grandes dedicadas à construção de navios de guerra… à fabricação de revólveres, rifles e outros suprimentos militares. Em terceiro lugar vinham “os grandes fabricantes de artigos de exportação, que ganhavam… satisfazendo às necessidades reais ou artificiais dos novos países conquistados ou cujas portas tivessem sido abertas”.
388 - Hobson colocava que a poupança dos capitalistas era crescente e precisa desaguar sobre cada vez mais áreas - oportunidades de lucro. "O luxo em que esta classe vivia, por maior que fosse, não conseguia acompanhar seu aumento de renda, e houve, em escala sem precedentes, um processo de poupança automática". Resumidamente, era tanto dinheiro que não tinha como gastar/consumir rápido, mesmo que os capitalistas assim quisessem.
389 - ...Quando a capacidade de produção crescia mais depressa que a demanda por consumo, logo surgia um excesso dessa capacidade (em relação à demanda por consumo) e, com isso, havia poucas possibilidades de investimento lucrativo no próprio país. (...) O problema era o desequilíbrio entre os recursos destinados ao consumo e os destinados a investimento.
390 - Os resultados inevitáveis da incapacidade dos ricos de investir lucrativamente toda a sua renda excedente eram os ciclos econômicos, as depressões e um imperialismo cada vez mais ambicioso.
391 - Parecia óbvio, para Hobson, que o imperialismo não beneficiava uma nação capitalista como um todo. Beneficiava os ricos a um preço muito alto para os trabalhadores comuns, tanto em termos de impostos quanto de sacrifícios.
392 - ...Estava convencido de que um “Estado completamente socialista, que mantivesse suas contas em dia e equilibrasse suas despesas, logo se livraria do imperialismo”.
A Teoria do Imperialismo Capitalista, de Luxemburg
393 - Defendia o desequilíbrio permanente entre setor I e setor II da economia. Com isso, esperava mostrar que era absolutamente necessário o capitalismo estar sempre conquistando novos mercados não capitalistas, a fim de vender esses excedentes de mercadorias, para que os capitalistas pudessem obter lucros. Os autores colocam que essa teoria foi falha, mas que não vão aprofundar. Remetem a escritos de Joan Robinson.
394 - Luxemburgo colocava, ainda, que o capitalista tinha paixão maior por acumular que por consumir.
395 - ...Além do mais, como Marx tinha mostrado, a concorrência entre os capitalistas tornava a acumulação progressiva absolutamente necessária para qualquer capitalista, se ele quisesse evitar ser destruído por seus rivais. Portanto, havia uma contradição básica entre o modo como um capitalista gostaria (e precisaria) que seus colegas capitalistas se comportassem e o modo como o sistema concorrencial obrigava-o a se comportar.
396 - Luxemburgo e a acumulação primitiva contínua: A única maneira de poder continuar assegurando oportunidades de investimentos lucrativos era por meio da destruição, à força, de economias tradicionais que não fossem as de mercado (ou economias “naturais”, como ela as chamava). Abrindo essas economias tradicionais à exploração capitalista, ficariam disponíveis, para a exploração potencial, novas reservas ricas em matérias-primas e mão de obra barata.
397 - O militarismo estava transformando-se rapidamente em uma importante fonte de compensação parcial da deficiência crônica de demanda que assolava o capitalismo maduro. Isso poderia ajudar a estabilizar as crises, digamos assim. É mais estabilidade e previsibilidade na demanda.
A Teoria do Imperialismo Capitalista, de Lênin
398 - Lênin admitiu expressamente a influência das ideias de Hobson.
399 - Tinha que ter no mínimo "um capitalista" para ficar de olho nos administradores profissionais, digamos assim. Era, na opinião de Lênin, o setor bancário ou financeiro que desempenhava essa função de supervisionar os interesses de todos os capitalistas. Esse controle do capital financeiro sobre o capital industrial era, na opinião de Lênin, uma característica distintiva do estágio imperialista do desenvolvimento capitalista. Era o auge da oligarquia financeira. Tudo isso favoreceu o crescimento das posições monopolistas.
400 - Lênin e Hobson: Ambos concordavam que a exportação de capital era mais importante do que a exportação de mercadorias e viam que a exportação de capital levava a um aumento relacionado ou induzido do volume de exportações de mercadorias.
401 - Kautsky chegava a pensar que a divisão imperialista do mundo poderia levar a certa paz. Lênin, porém, via perigo certo e criticou severamente a posição de Kautsky. A fonte dos conflitos era o fato de que nenhum capitalista, empresa, truste ou cartel capitalista ficava satisfeito com seu nível de lucro. Caso se calculasse que o novo lucro pudesse compensar o prejuízo...
402 - ...Entre as potências capitalistas imperialistas, “as alianças, independente da forma por elas assumida… nada mais são, inevitavelmente, do que uma ‘trégua’ nos períodos entre as guerras”.
403 - As previsões em si eram um pouco confusas. Chamava "capitalismo moribundo", mas dizia que este estava crescendo até mais depressa que antes apesar da dita decadência da Inglaterra. Lênin parecia estar descrevendo um sistema capitalista mundial em crescimento e que demonstrava um equilíbrio mutável de poder entre os diferentes países capitalistas, mas insistia em que esse era o último estágio do capitalismo e um prelúdio do colapso inevitável do sistema.
Comparação das Teorias de Hobson, Luxemburg e Lênin
404 - Diferenças: Embora Hobson fosse socialista e achasse que, no socialismo, não haveria motivo algum para a conquista imperialista, acreditava que as reformas do capitalismo poderiam diminuir os males do imperialismo e fazer do capitalismo uma sociedade um pouco mais humana.
405 - Segundo os autores, os erros de Lênin e Rosa têm a ver com o contexto que viviam: O marxismo da Segunda Internacional tendia a reduzir a rica complexidade e as sutilezas das ideias de Marx a uma visão mecanicista e determinista da morte inevitável e iminente do capitalismo.
406 - Determinismo: Em uma história acadêmica rigorosa do movimento comunista, Fernando Claudín mostrou como a noção de capitalismo moribundo de Lênin contribuiu para muitos erros organizacionais e táticos importantes por parte dos líderes da Terceira I nternacional. Esses erros foram, na opinião de Claudín, pelo menos em parte, consequência do fato de que “Lênin, como Rosa Luxemburg,… via o capitalismo mundial no estágio do imperialismo monopolista como tendo atingido uma situação final”.
407 - Elogiam a teoria de Rosa ao final: ...só Luxemburg mostrou os extremos de destruição social atingidos inevitavelmente para se transformar sociedades tradicionais em países capitalistas.
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