Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico - Capítulo 17 - "PARTE A"

                      

Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico



Pgs. 631-654


"CAPÍTULO 17: "Economia Contemporânea I"

 

A Revolução Bolchevique e a Industrialização Soviética


496 - Lembra que Bukharin queria incentivar o excedente agrícola, mas sem expropriação. A própria industrialização estaria voltada a "capitalizar" a produção no campo. Já Trotsky e afins, defendiam pagar preços baixos pelos produtos agrícolas, a fim de financiar a industrialização. A agricultura, em sua opinião, deveria ser organizada de modo mais eficiente, consolidando lotes privados em grandes fazendas coletivas.


497 - Josef Stalin usou os antagonismos surgidos nos debates como meio de conquistar poder. No início se alinhou com os conservadores para formar uma coalizão que isolou Trostsky e seus simpatizantes esquerdistas. Então se voltou para Bukharin e seus seguidores e lhes tirou o poder, ficando com o controle total. Uma vez obtido o poder, ele começou a agir de acordo com as linhas defendidas por Trotsky e Preobrazhensky, embora num ritmo muito mais rápido e truculento.


498 - ...Somente os camponeses pobres foram convencidos a aderir voluntariamente à coletivização, mas eles possuíam tão poucos animais e tão pouco capital que as fazendas coletivas não poderiam obter sucesso contando apenas com eles. Já os camponeses de renda média e alta resistiram à coletivização forçada com determinação. Foi praticamente uma nova guerra civil. 


499 - ...Quando os camponeses mais ricos perceberam que não poderiam derrotar diretamente o governo, começaram a queimar prédios, destruir equipamentos e abater animais. Por volta de 1931, um terço do rebanho russo, metade do qual formado por ovelhas e cabras, e um quarto dos cavalos tinham sido abatidos.


500 - ...Quando a coletivização colocou um significativo excedente econômico nas mãos do governo, na década de 1930, a industrialização soviética avançou aceleradamente por meio de sucessivos planos quinquenais


501 - Dados soviéticos oficiais mostram que nessa década a taxa média anual de crescimento da produção industrial girou em torno de 16%. Estudos de economistas ocidentais que usaram métodos diferentes obtiveram índices de produção industrial que revelam taxas algo menores (entre 9% e 14%), mas qualquer que seja a estimativa adotada, esse desempenho não teve precedentes históricos.


502 - Antes de 1928, a taxa de analfabetismo era de 80%; em 1938, 90% da população podia ler e escrever.


503 - Pior momento da II Guerra no território soviético: O território ocupado pelos alemães era responsável por 70% das minas de carvão, 60% da produção de minério de ferro, 50% da produção siderúrgica e 33% da área de plantio de cereais. As políticas de terra arrasada foram prejudicando tudo isso. 


A Grande Depressão


504 - A renda real caiu de um índice 100, nos Estados Unidos em 1929, para 68 em 1931. Os países capitalistas da Europa ocidental registraram quedas semelhantes. Lá o desemprego aumentou de pouco mais de 3 milhões para um número recorde de 15 milhões de desempregados em 1932. Na Alemanha, 43% da força de trabalho estava sem emprego em 1932.


505 - ...Em 1943, no auge da Segunda Guerra Mundial, os gastos militares foram de quase 40% de um PIB bem maior.


506 - Nos Estados Unidos, por exemplo, a intervenção do governo assumiu a forma de várias agências regulatórias ou do “keynesianismo militar” dos gastos em programas espaciais e militares. (...) Para muitos milhares de pequenas e médias empresas capitalistas, a expansão do governo na economia minou persistentemente sua capacidade de concorrer com os gigantes corporativos. (...) Para eles, um governo grande significa uma deterioração de sua posição competitiva em faces das empresas gigantes, muita burocracia e impostos sempre mais altos. Essas pequenas e médias empresas são geralmente controladas por pessoas que apoiam com firmeza uma filosofia política de laissez-faire ultraconservadora que defende uma redução da magnitude e da extensão do papel do governo na economia.


W. Arthur Lewis e as Origens da Economia do Desenvolvimento


507 - W. Lewis, em seu livro Teoria do Crescimento Econômico, defendia a reorientação da produção para fabricação de bens de capital. Isso nos países atrasados. Nesse sentido, cada país acaba tendo que fazer a sua "acumulação": ...Já na União Soviética, embora os trabalhadores tivessem sofrido durante a industrialização, boa parte do excedente econômico necessário foi obtido mediante a expropriação de ativos e das altas rendas das classes dos capitalistas e dos proprietários de terras ricos.


508 - As elites locais tinham muitas vezes uma mentalidade “pré-capitalista”, lembrando mais senhores feudais do que capitalistas industriais.


509 - Lewis achava que a teoria neoclássica dos salários só servia nos países ricos. Já nos países do Terceiro Mundo, prosseguia seu argumento, o capitalismo ainda não se desenvolvera completamente e os salários não eram determinados pela produtividade marginal. Ali os salários eram determinados pela tradição.


510 - O segredo, para ele, era aumentar a poupança e, consequentemente, o potencial de investimento:  os lucros dos capitalistas são baixos relativamente à renda nacional. (...) O problema era promover o que Marx rotulara de “acumulação primitiva”, isto é, expandir o setor controlado pelo capital e reduzir até finalmente destruir a economia tradicional.


511 - Rostow era um economista do desenvolvimento "curioso": ...Ele também admitiu claramente com uma sinceridade incomum entre os economistas conservadores que seus ataques intelectuais ao comunismo foram financiados pela CIA.


512 - Enfim, era um abandono temporário de "laissez-faire" para tornar o "terceiro mundo" capitalista de verdade, digamos assim.


Economia Neoclássica Liberal e Conservadora

 

513 - O liberalismo dominante/mainstream: Assim, da década de 1950 até o presente, os economistas neoclássicos liberais não apenas não defendem o laissez-faire extremado, como apoiam com entusiasmo a intervenção do governo na economia. O governo se torna um deus ex machina que convenientemente permite aos liberais reconhecer a validade de muitas objeções à teoria neoclássica e ao mesmo tempo defender sua fé nos três princípios ideológicos fundamentais do neoclassicismo. Eles admitem que a mão invisível não é suficiente.


Paul A. Samuelson Versus Milton Friedman e os Neoclássicos Conservadores


A Defesa do Utilitarismo, de Samuelson

 

514 - Samuelson defendia uma economia mista, para domar os ciclos e monopólios - legislações antitruste e afins - e regular os bens públicos (socialmente necessários mas que os capitalistas não podem produzir e vender de forma lucrativa) e externalidades.


515 - Samuelson considera que ao destinar dinheiro à compra de produtos, os consumidores estão “votando” por esses produtos.


516 - Colocava que Adam Smith estava com alguma razão, pois a "mão invisível" existe desde que não seja interpretada de modo a não deixar certos espaços para a intervenção dos planejadores. Nada é perfeito. Do jeito que se fala, pode parecer "conto de fadas" demais: "...na concorrência perfeitamente perfeita, onde todos os preços se igualam aos custos marginais, onde todos os preços de fatores se igualam aos valores dos produtos marginais e onde todos os custos totais são minimizados, onde os desejos autênticos e o bem-estar das pessoas são todos representados pelas suas utilidades marginais tal como manifestado por seu voto em dólares."


517 - ...Os autores, é claro, vão criticar a "solução": Samuelson, como vimos, não afirma que o livre-mercado possa alcançar automaticamente esse estado de bem-aventurança harmonioso. Para isso se exige a ajuda desse benevolente deus ex machina – o governo. O leitor deveria voltar ao exame feito no Capítulo 14 para ver a premissa incrivelmente irreal e espúria que está subjacente à economia neoclássica do bem-estar e então julgar se o deus ex machina de Samuelson pode encarregar-se da tarefa.


518 - Samuelson defende o não-abandono, porém, da base da concorrência perfeita: Desnecessário dizer, as exigências para uma concorrência perfeita absoluta são tão rigorosas quanto, na física, os pressupostos para um movimento pendular perfeito sem atrito. Podemos chegar cada vez mais perto da perfeição, mas nunca a alcançaremos. Contudo, este fato não prejudica seriamente a utilidade do emprego do conceito idealizado… .


519 - Criticam que Samuelson se recuse a enxergar o óbvio sobre a retroca. Ou seja, já que ele mesmo admite que Sraffa tinha razão no ponto dele (ao que entendi), não deveria falar em "técnicas mais intensivas em capital". Não há como quantificar sem apelar para a circularidade "produtividade-preço".


520 - Outras críticas: Ele deixa de examinar o fato de que as agências regulatórias do governo em geral promovem os interesses dos ramos oligopolistas que deveriam regular.


(...)


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