Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico - Capítulo 8 - "PARTE A"

             

Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico



Pgs. 256-271


"CAPÍTULO 8: "Os Escritos de Bastiat e Mill"


207 - O livro de Mill foi o último grande esforço para manter as perspectivas da utilidade e do trabalho no mesmo corpo das doutrinas econômicas. O livro de Bastiat representava o produto final, em quase todos os aspectos essenciais, do utilitarismo econômico puro levado às suas conclusões lógicas.


A Disseminação das Ideias Socialistas


208 - Socialismo: É possível dizer que o socialismo se originou igualmente de ideias inglesas e francesas, muito embora suas doutrinas econômicas tenham se originado quase todas na Inglaterra.


209 - Porém, ideias socialistas já existiam desde a Revolução Francesa. Um de seus líderes foi Gracchus Babeuf (1760-1797). A pós a queda de Robespierre, ele encabeçou uma conspiração para derrubar o governo francês e substituí-lo por um governo que implantasse a igualdade e a fraternidade. O complô foi traído, e Babeuf foi executado.


210 - Saint-Simon: ...Também condenava o grande número de ricos ociosos que viviam da diligência da gente trabalhadora. Era favorável à propriedade privada, quando usada para promover o bem-estar das massas, mas insistia em que só uma intervenção ampla do governo na produção, na distribuição e no comércio poderia garantir isso. Seus seguidores eram mais radicais.


211 - As cooperativas sociais foram popularizadas na França por Charles Fourier, na década de 1830. Ele achava que, em uma economia capitalista, só cerca de 1/3 do povo realmente realizava trabalho socialmente útil. Os outros 2/3 ou eram dirigidos para ocupações inúteis, pela corrupção e pela distorção causadas pelo sistema de mercado ou eram parasitas inúteis e ricos.


212 - Fourier teria sido ainda um dos primeiros socialistas a perceber que o capitalismo levaria ao monopólio. "Os extremos se tocam e, quanto maior o grau de concorrência anárquica, mais se chega perto do monopólio universal, que é o extremo oposto…".


213 - Proudhon: Enquanto a quantidade de trabalho empregada determinava a quantidade produzida, em uma sociedade capitalista, a propriedade determinava a divisão da produção, de modo que os que produziam recebiam quase nada e os que tinham propriedades podiam usar as leis da propriedade privada para “roubar legalmente” os trabalhadores. Negócio é que ele era contra até a industrialização. Produção em larga escala, etc. 


Fundamentos e Escopo da Economia Utilitarista, de Bastiat


214 - Quando Bastiat proclamou que “a troca é Economia Política”, certamente afastou-se muito de Adam Smith, que tinha dedicado apenas algumas dezenas de páginas para falar sobre troca, nas quase mil páginas de A Riqueza das Nações, ou de David Ricardo, que definiria Economia Política como o estudo das leis que regulam a distribuição da produção da economia entre as três grandes classes da sociedade. (...) As poucas páginas que Smith dedicou à descrição da “mão invisível” tinham se transformado, com Bastiat, em toda a Economia Política. 


Utilidade e Troca

 

215 - Bastiat colocava que o valor vinha da utilidade, mas que essa vinha dos "serviços". Na teoria confusa dele até o dinheiro "prestava serviço". Então estava tudo sempre justificado. Nesse sentido, Say foi mais próximo do que viria a se tornar a economia neoclássica, afinal, colocava, desde já, o valor diretamente vinculado à utilidade. Bastiat ia do serviço à utilidade.


Bastiat e a Defesa da Propriedade Privada, Capital, Lucros e Renda da Terra


216 - Bastiat e a sacralidade da propriedade: Não bastava, porém, insistir em que a propriedade era sagrada. Hodgskin teria concordado com essa afirmação, mas teria insistido em que era antinatural e injusto que a terra e os instrumentos, que eram extensões das faculdades produtivas das pessoas, fossem, quase todos, de propriedade dos que não a usavam como tal, quer dizer, dos que não produziam com ela. Portanto, Hodgskin teria concordado que a propriedade era natural, mas teria afirmado que a propriedade capitalista era antinatural, porque era o meio pelo qual o ocioso roubava o trabalhador.


217 - Bastiat nunca chegou a levar em conta a crença dos socialistas de que um homem trabalhador comum ganhava apenas o suficiente (e às vezes menos) para a subsistência de sua família; que não havia, de modo algum, qualquer possibilidade de ele economizar os milhões necessários para se transformar em um capitalista com seu magro salário; que, em realidade, a origem de quase todas as fortunas dos capitalistas era o logro, a traição, a fraude, a coação e o suborno e que, uma vez estabelecido o capitalismo, dentro de uma ou duas gerações a origem da fortuna de quase todos os capitalistas seria a herança. Dos lucros de seu capital, os capitalistas poderiam, quer fossem virtuosos ou maus, inteligentes ou ignorantes, econômicos ou perdulários, destinar uma parte à acumulação de mais capital – para mais riqueza, renda e poder, no futuro – e destinar a outra parte ao luxo e ao consumo extravagante.


218 - ...Único limite? ...não se poderiam tornar tão extravagantes e perdulários a ponto de matar a galinha dos ovos de outro – isto é, tinham de viver de seus lucros, juros e rendas e não dissipar a fortuna herdada que lhes dera poder. Eram esses os sofrimentos e privações que, segundo Bastiat, davam aos capitalistas o direito moral de receber seus lucros, juros e rendas.


219 - Bastiat é a prova de que, não importa quão absurda é a situação, sempre haverá alguém para justificar todo tipo de canalhice.


Bastiat e a Troca, a Harmonia Social e o Papel do Governo


220 - Bastiat criticava o governo por facilitar monopólios enquanto fazia a apologia do autointeresse como motor econômico. Ora: ...Como todos se motivavam pelo interesse próprio, era mais vantajoso, para os funcionários do governo, aceitar os subornos ou angariar contribuições de campanha dos ricos do que seguir os preceitos de Bastiat. (...) Não é de se admirar que, em seu sistema de harmonia, Bastiat tivesse ignorado esse tipo de troca.


(...)


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