Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico - Capítulo 8 - "PARTE B"

              

Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico



(...) "continuação do CAPÍTULO 8"...


Pgs. 272-295


O Utilitarismo, de Mill


221 - Segundo os autores, tanto a filosofia social de Mill quanto sua teoria econômica eram ecléticas e, muitas vezes, incoerentes. Há um contraste com Bastiat. Mill foi o precursor da escola econômica neoclássica marshalliana – muito mais moderada – e que, quase sempre, defende reformas liberais e a intervenção governamental.


222 - Mill colocava que as leis da distribuição da produção eram obra humana, não de Deus ou da natureza. Têm sido modificadas durante os tempos e poderiam continuar mudando. Mesmo a propriedade não deixava de ser uma convenção: ...“inteiramente uma questão de facilitar as coisas de modo geral. Quando a propriedade privada… não facilitava as coisas… era injusta”. A troca é só parte da máquina, portanto. 


223 - Coloca que o utilitarismo de Mill era bem diferente do de Bentham: Mill, como veremos mais adiante em nossa discussão, não acreditava que todos os atos fossem motivados pelo interesse próprio. (...) A creditava apenas que a maioria das pessoas, cujas personalidades fossem moldadas por uma cultura capitalista concorrencial, agia com base no interesse próprio, em seu comportamento econômico. A guardava, porém, o futuro, quando, em uma sociedade socialista ou em uma sociedade comunista, as pessoas agiriam com base em motivos “mais elevados” ou “mais nobres”. Essa comparação negativa é totalmente estranha ao utilitarismo, que reduz todos os motivos ao interesse próprio e vê esses julgamentos como mero reflexo de preconceitos pessoais e subjetivos. Alguns prazeres são, assim, moralmente superiores a outros. Isso choca demais com Bentham. Em outras palavras, independentemente da quantidade de prazer envolvida, a poesia pode ser considerada mais desejável e mais valiosa do que apertar parafusos.


224 - O prazer, segundo esse enfoque, não é o critério normativo final. Mill não tinha dúvida alguma de que “era melhor ser um Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito”.


225 - Por tudo isso, é defensável até que Mill não fosse realmente um utilitarista.


A Teoria do Valor, de Mill


226 - Mill, de certa forma, é adepto de que o trabalho gera valor, mas nega a teoria do valor-trabalho. Isso porque mercadorias com a mesma quantidade de trabalho, digamos assim, podem possuir valores diferentes, a depender da rotação (vinho demora mais a "dar lucro" que o pão, por exemplo). Ricardo meio que sabia disso, mas, a seu ver, era exceção que confirmava a regra. Para Mill, a exceção é importante demais.


227 - Tem passagens que parecem meio incoerentes. Ora o lucro é excedente retirado do trabalho, ora é remuneração pela abstinência do capitalista (a la Senior). Cita ainda o "risco" e "habilidade de supervisionar". 


228 - Valor, para Mill, significava, simplesmente, valor de troca ou preço relativoEle não tinha qualquer noção de valor-trabalho.


229 - O insight de Mill sobre preços internacionais é válido, de alguma forma, até hoje: Dentro do mesmo país, Mill argumentava que os preços eram iguais aos custos de produção, porque a concorrência tendia a igualar esses custos (inclusive a equalização da taxa de lucro) e a forçar os preços a igualar os custos, mas os fatores de produção não podiam movimentar-se livremente entre os países. Portanto, a concorrência não igualaria os salários ou os lucros em países diferentes, as razões entre os preços não seriam iguais e os preços internacionais dependeriam exclusivamente da oferta e da demanda – e não dos custos de produção.


Mill e os Salários


230 - Sobre salários, rolava esse tipo de concepção: Mill, como Malthus e a maioria dos economistas clássicos, acreditava que a maneira mais eficaz de aumentar os salários do trabalho era através da educação, que diminuiria o tamanho das famílias dos trabalhadores.


231 - Com o passar do tempo, Mill repudiou essa teoria e adotou outra: O limite era determinado pelos lucros totais dos capitalistas menos o que eles precisavam “para manter a si próprios e a suas famílias”. Portanto, os salários não seriam determinados pelo fundo de salários, mas por disputa concorrencial entre trabalhadores e capitalistas. Luta de classes: "...Se um capitalista “tiver de pagar mais pelo trabalho, o pagamento adicional sairá de sua própria renda”.


A Tendência Decrescente da Taxa de Lucro


232 - Mill concordava com Ricardo sobre a queda gradual da taxa de lucro. Curiosamente, antes dos marxistas, já previa contratendências (freios): a exportação de capital para novos mercados e as crises comerciais periódicas (destruição periódica de capital devido à euforia/especulação e expansão exagerada). 


233 - Diz que superprodução é, na verdade, "suboferta monetária" (interessante se pensarmos nos BCs de hoje). Mas enfim, acaba sendo um jogo de palavras.


234 - ...A objeção teórica de Mill à doutrina de Malthus e sua consequente defesa da Lei de Say era, simplesmente, uma afirmação de que, a longo prazo, o capitalismo de mercado automaticamente sairia das depressões e acabaria atingindo o pleno emprego. Ele concordava que “esses desarranjos dos mercados” eram um “mal” social, mas insistia em que eram “temporários”.


O Socialismo, Segundo Mill


235 - Diversamente de Senior e de Bastiat, ele tinha lido muito sobre História concreta e não inventou uma “história” da propriedade privada e da riqueza na qual as pessoas virtuosas e com iniciativa acumulavam capital e os pecadores perdulários esbanjavam tudo, a ponto de eles e suas famílias nada terem.


236 - Posicionava-se contra parasitas que viviam do capital. Para ele, não havia dúvida de que uma sociedade comunista seria moralmente superior à sociedade capitalista de sua época.


237 - O socialismo só não era possível, segundo Mill, porque ainda não se tinha desenvolvido o caráter para tal. Ou seja, "por enquanto não", digamos. "Deixar as energias da humanidade continuarem sendo empregadas na luta por riquezas… até as melhores cabeças conseguirem educar as outras para fazerem coisas melhores, é, sem dúvida alguma, melhor do que deixar as energias da humanidadeenferrujarem e estagnarem." A solução, por ora, era o aperfeiçoamento do sistema de propriedade, segundo o inglês.


O Reformismo Intervencionista, de Mill


238 - Mill criticava que Bastiat quisesse amarrar os governos à defesa da propriedade: "...não é admissível que a proteção das pessoas e de sua propriedade seja a única finalidade do governo. Os fins do governo são tão amplos quanto os da união social. Consistem em todo o bem e toda a imunidade do mal, que podem ser conseguidos, direta ou indiretamente, com a existência do governo."


239 - ...Limitar a centralização/concentração de capital (monopólios) e redistribuir renda (na prática, achei que faltaram recomendações práticas significativas da parte dele, ao menos do que foi exposto) seriam funções de um governo, segundo Mill.


240 - Leis que limitassem a duração da jornada de trabalho eram necessárias devido à falta de poder de um trabalhador isolado em suas negociações com um capitalista. (...) Seria possível apresentar um argumento semelhante para as leis que obrigassem à obediência dos padrões mínimos de segurança em todas as fábricas


Uma Crítica ao Reformismo de Mill


241 - Alguns problemas com o utilitarismo, por exemplo: O misantropo sente prazer com a dor dos outros. (...) Não temos base alguma, no utilitarismo,para considerar os desejos de um filantropo (se, de fato, puder haver quem aja exclusivamente baseado no interesse próprio) superiores aos desejos de um misantropo.


242 - Problema dois: o autointeresse leva a ciladas: É difícil imaginar uma troca mais benéfica para as partes envolvidas do que a feita entre os políticos em um sistema capitalista e os que obtêm a sua enorme riqueza e renda a partir das bases legais do capitalismo. Assim, o "político bem-intencionado", digamos assim, de Mill vai por água abaixo. A esperança de Mill parecia ser que a ganância dos ricos tivesse um limite. A partir de tal ponto, começariam a pensar no coletivo, digamos: “quando os ricos se contentarem em ser ricos e não reivindicarem, por isso, privilégios políticos, seu interesse e o dos pobres serão, em geral, os mesmos”.


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