Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XXIV
Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XXIV
Pgs. 428-443:
...
418 - Na crise de 29, desemprego chegou a 24,9% em 1933. Somente nove anos mais tarde, em 1942, é que a taxa de desemprego voltou para 4,7%. (...) "O resultado do alto desemprego foi uma grande deflação de 1929 a 1933".
419 - Na verdade, "uma recessão já havia efetivamente começado antes do colapso".
420 - "A razão dividendo−preço (a razão entre os dividendos pagos por uma ação e o preço da ação) caiu de 6,5%, em 1921, para 3,5% em 1929. Em 28 de outubro de 1929, o índice de preços da bolsa de valores caiu de 298 para 260. No dia seguinte, caiu ainda mais, para 230." Deve ter um tanto de "efeito-deflação" aí no meio do gráfico, mas enfim...
421 - "Grave erro de política monetária": De 1929 a 1933, M1 diminuiu de US$ 26,6 bilhões para US$ 19,2 bilhões, uma queda de 37%. (...) Observe agora que, de 1929 a 1933, a base monetária, H (mostrada na segunda coluna da Tabela 22.2), aumentou de US$ 7,1 bilhões para US$ 8,2 bilhões. Isso significa que a diminuição de M1 não veio de uma redução da base monetária, mas de uma diminuição do multiplicador monetário, M1/H (mostrado na terceira coluna da Tabela 22.2), que caiu de 3,7 em 1929 para 2,4 em 1933. Por que o multiplicador monetário caiu tanto? A resposta sucinta é: por causa das falências bancárias. Aqui está o motivo: com o grande declínio do produto, um número crescente de tomadores de empréstimos viu-se incapaz de quitar seus empréstimos com os bancos, fazendo com que mais e mais bancos se tornassem insolventes e fechassem as portas. As falências bancárias aumentaram continuamente de 1929 até 1933, quando o número de falências atingiu um pico de 4 mil dos cerca de 20 mil bancos em operação na época.
422 - ...A razão "moeda em mãos/depósitos" foi só crescendo. Ou seja, o multiplicador estava diminuindo, rumo a 1 na pior das hipóteses. A corrida aos bancos estava a todo vapor e os depósitos dos bancos que iam à falência eram muito retidos manualmente em vez de reinvestidos em bancos mais sólidos. Enfim, a oferta de moeda caiu apesar do aumento da base monetária no período acima. Friedman e Schwartz constataram, então, que o FED é quem deveria ter agido e compensado, de forma bem expansionista, toda essa contração. Muito mais que o leve aumento da base monetária que houve. (...) o estoque real de moeda (M1/P, mostrado na quarta coluna da Tabela 22.2) permaneceu aproximadamente constante, eliminando um dos mecanismos que poderiam ter levado a uma recuperação. Em outras palavras, a curva LM permaneceu praticamente inalterada — não se deslocou para baixo, como teria feito se o estoque nominal de moeda tivesse permanecido constante, implicando um aumento do estoque real de moeda. Estoque nominal é o M1. Não poderia ter diminuído como diminuiu.
423 - Todo esse quadro de excessivo conservadorismo monetário - quase que sem expansão - causava um imenso juro real que, por sua vez, dificultava qualquer recuperação:
424 - "A recuperação teve início em 1933. Exceto por outra queda acentuada da taxa de crescimento do produto em 1937 (veja a Tabela 22.1)". ... De 1933 a 1941, o estoque nominal de moeda cresceu 140% e o estoque real de moeda cresceu 100%. Blanchard atribui a grande parte do sucesso a isso. Christina Romer chega a prever - o que ele considera exagero - PIB 50% menor em 1942 se a política monetária continuasse a mesma da era Hoover. O papel de outros fatores, dos déficits orçamentários ao Novo Contrato (New Deal) — o conjunto de programas implementado pelo governo Roosevelt para tirar a economia dos Estados Unidos da Grande Depressão —, é bem menos claro.
425 - ...O FDIC - tipo nosso FGC - veio em 1933. E, de fato, houve poucas falências bancárias após. Afirma que "...outros programas incluíram programas de auxílio e de obras públicas para desempregados e um programa administrado pela Administração da Recuperação Nacional (National Recovery Administration — NRA), para garantir uma ‘concorrência bem-comportada’ na indústria. Os economistas em geral concordam que esses programas tiveram poucos efeitos diretos sobre a recuperação. Mas alguns argumentam que os efeitos indiretos desses programas — particularmente a percepção do compromisso do governo de tirar a economia da depressão — foram importantes para mudar as expectativas em 1933 e nos anos seguintes."
426 - As taxas de juros reais caíram, afinal, "o resto da década foi caracterizado por uma inflação pequena, mas positiva. O IPC foi de 81,8 em 1940, em comparação com 75,6 em 1933".
427 - Expectativas agindo já em 1933? Parece que sim. Durante seus primeiros cem dias de mandato, o governo Roosevelt deixou claro que estava comprometido com o término da deflação. Ele substituiu o presidente do Fed, e logo depois esse novo presidente passou a diminuir a taxa de juros. Em abril de 1933, Roosevelt permitiu que o dólar flutuasse, e o dólar rapidamente depreciou 30% ou mais em relação a outras moedas. É plausível que essas mudanças da política econômica tenham exercido um efeito sobre a inflação esperada e, por sua vez, um efeito sobre a inflação efetiva.
428 - Não aprofunda todas as discussões da crise de 29 e passa a abordar a crise japonesa:
429 - Coloca que 5% de desemprego para o Japão já é nível alto. Por que? "as empresas japonesas oferecem a seus trabalhadores proteções substanciais ao emprego. Assim sendo, quando essas empresas vivenciam uma queda na produção, tendem a manter seus funcionários, fazendo com que a baixa do produto tenha um efeito pequeno sobre o desemprego". (Proteções substanciais não tornam mercado de trabalho rígido e leva justamente ao contrário, ou seja, alto desemprego "estrutural"? O jeito é eu revisar essa aula antes de criticar mais ainda esses modelos "neoclássicos").
430 - Traz gráficos do Nikkei. Por conveniência, ambas as variáveis foram normalizadas para 1 em 1980. Claramente houve especulação absurda. Nas palavras de Blanchard sobre a escalada do índice nos anos 80: "os investidores podem ter esperado grandes aumentos dos dividendos futuros, mesmo que os dividendos atuais não estivessem aumentando. Mas a conclusão sugere fortemente que o aumento do Nikkei tinha um grande componente de bolha e que a queda subsequente foi em grande parte um estouro dessa bolha".
431 - ...Coloca que daí os números ruins do investimento após o colapso de 90. "O investimento, que foi muito forte durante a subida do Nikkei, despencou".
432 - Segundo Blanchard, a política monetária foi usada, mas tarde demais. Quando finalmente foi utilizada, enfrentou a dupla de problemas da armadilha da liquidez e da deflação. (...) A taxa nominal de juros foi alta em 1990, próxima de 8%. Isso ocorreu em parte porque o Banco do Japão (Bank of Japan, frequentemente chamado de BoJ), preocupado com a subida do Nikkei, tentou diminuir os preços das ações por meio do aumento da taxa de juros. Com a inflação em torno de 2%, essa taxa nominal de juros implicou uma taxa real de juros de cerca de 6%. À medida que o crescimento diminuiu, o BoJ cortou a taxa nominal de juros. Mas ele fez isso muito lentamente, e, em 1996, quando a taxa nominal de juros baixou para menos de 1%, o efeito acumulado do baixo crescimento foi tal que a inflação passou a ser deflação.
433 - Política fiscal no período: "...governo japonês diminuiu os impostos e aumentou os gastos mesmo com a persistência da crise, fazendo com que o déficit orçamentário chegasse a 8% do PIB em 2003. Desde então, o déficit diminui, embora continue alto. Grande parte desse aumento dos gastos tomou a forma de projetos de obras públicas, muitos deles de utilidade duvidosa. Mas, sob o ponto de vista da demanda crescente, um projeto é tão bom quanto qualquer outro; portanto, esse aumento dos gastos do governo deve ter contribuído para um aumento da demanda total. (...) na ausência de gastos do governo maiores, o produto teria diminuído mais ainda."
434 - Inflação ajudaria, no caso japonês. ...o Banco Central ainda pode ser capaz de baixar a taxa real de juros ao afetar as expectativas de inflação. Isso pode não ser fácil de fazer. Suponha que o Banco Central anuncie uma meta de inflação, uma taxa de inflação que tentará atingir nos próximos anos. Se as pessoas acreditarem no anúncio, a inflação esperada de fato aumentará, ajudando a economia a sair da crise. Mas, se as pessoas não acreditarem no anúncio e continuarem a esperar deflação, a deflação continuará. (...). Diz que isso parece estar funcionando em algum grau e que "isso parece ser um dos fatores por trás do forte aumento dos gastos de investimento desde 2003". ("Vim do presente" e afirmo que o Japão está preocupado e lutando contra deflação até hoje, pleno 2021/22).
435 - Por fim, passa a tratar da "faxina bancária": Em suma, os empréstimos irrecuperáveis deprimiam ainda mais os gastos de investimento e, por conseguinte, a demanda agregada. E, mantendo as empresas de baixa produtividade em funcionamento, conseguiu-se também reduzir a oferta agregada. Às vezes empresas boas não conseguiam se financiar e as ruins permaneciam, coloca. ... Em tal caso, a política econômica correta é clara. Os bancos com empréstimos irrecuperáveis em excesso devem ser forçados ou a fechar, ou a reestruturar-se. As empresas que não podem quitar seus empréstimos devem ser forçadas a fazer o mesmo. Essas medidas visam a dois objetivos. Primeiro, elas eliminam as empresas insolventes, levando, em última análise — conforme essas empresas são substituídas por outras, mais produtivas —, a uma produtividade maior e a um nível natural de produto maior. Segundo, elas permitem que as empresas com bons projetos de investimento encontrem os fundos de que precisam para investir, levando a um aumento dos gastos de investimento e, assim, a um aumento da demanda e do produto. Coloca que, como toda reestruturação gera demissões e é politicamente impopular, o Japão pouco fez em tal sentido. Até 2002: Os bancos continuaram a emprestar para empresas insolventes, e a proporção de empréstimos irrecuperáveis aumentou continuamente.
436 - Dois primórdios - bem conhecidos... - da crise bancária japonesa: Primeiro, na década de 1980, os bancos começaram a perder seus melhores tomadores de empréstimos — as grandes empresas japonesas. Essas grandes empresas passaram cada vez mais a se financiar emitindo títulos em vez de tomar emprestado de bancos. Consequentemente, os bancos emprestaram a clientes com maior risco, alguns dos quais teriam dificuldades para quitar seus empréstimos mesmo na ausência de uma crise. (...) Segundo, para piorar as coisas, muitas das empresas utilizaram terras como garantia (...). O problema é que os preços das terras despencaram junto com a bolsa de valores no início da década de 1990. Consequentemente, o valor daquela garantia também despencou.
437 - Por que os empréstimos irrecuperáveis podem não "morrer" - o que sanearia logo a economia? "...Para manter seu emprego, o gerente do banco pode fingir que nada aconteceu e que o empréstimo ainda pode ser pago. De fato, o gerente pode decidir emprestar ainda mais para a empresa, de modo que esta possa quitar o empréstimo anterior. Assim, tudo fica parecido com a prática normal dos negócios. Isso é claramente colocar dinheiro bom em um negócio ruim, mas, ao fazer isso, o gerente ganha tempo e mantém seu emprego, pelo menos por algum tempo. (...) Até mesmo os proprietários do banco podem compactuar. Se o banco fechar agora, eles perderão tudo (o patrimônio líquido é claramente igual a zero). Se houver a mínima chance de que a empresa se recupere e seja capaz de quitar o empréstimo, os proprietários do banco poderão acabar com um patrimônio líquido positivo (isso é conhecido como ‘jogo da ressurreição’) (...) Os depositantes não se importam com o que o banco faz. Seus depósitos estão segurados, independentemente do que o banco faça. Até mesmo o órgão regulador dos bancos, se existir algum, pode preferir fechar os olhos: o reconhecimento da existência de empréstimos irrecuperáveis e o fato de que o banco deve ser fechado podem complicar sua vida — novamente, é melhor esperar.".
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