Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte XXXII
Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte XXXII
Pgs. 835-860 (Fim!):
626 - O último capítulo é o 34: Macroeconomia de economia aberta. Suiça, com sua reputação de segurança frente a um mundo turbulento, atraiu tanta moeda (dólar, euro, etc) que chegou à acumulação de 33% do PIB só em reservas. Começou a vender francos para evitar tamanha apreciação - em relação ao euro já era quase 50% -, já que os custos de exportação estavam ficando insuportáveis. Em setembro de 2011 o BC suiço afirmou que faria o que fosse necessário para que a moeda se desvalorizasse até um patamar entre 15% ao que entendi. Ou seja, na prática, ameaçou um câmbio fixo. Iria acumular a reserva que fosse para que essa entrada de capital "maneirasse", digamos assim. (Googlei que mantiveram fixo mesmo e tornaram a promover outra desvalorização em 2015. Não sem motivo que suas reservas hoje já são mais que 100% do PIB).
627 - Os pagamentos aos call centers indianos são "importações de serviços". Entram na balança comercial. A primeira fileira.
628 - "Renda de fator", a segunda linha na balança de pagamentos, geralmente significa remessas entre multinacionais e filias/subsidiárias. Também entram salários de empregos temporários no exterior.
629 - A terceira fileira são as transferências. Remessas de imigrantes para famílias de seus países. O país que tiver mais emigrante que imigrante tende a ter fluxo positivo. Já os EUA... Negativo.
630 - ...Essas três primeiras fileiras formam a "conta-corrente". A quarta e a quinta fileiras englobam os fluxos de capital. A quarta dos governos e agências governamentais (tipo compra de títulos da dívida) e a quinta envolve fluxos entre empresas de outros países (compra de marcas, por exemplo).
631 - A "conta corrente" não cria passivos, mas os fluxos de capital sim. Obrigações com juros surgem. Isso porque tratam de negociação de ativos na verdade. Ações, títulos, propriedades e afins. É a "conta financeira", mais conhecida antigamente como "conta de capital". Também há a opção de usarem o seguinte nome: "balanço de pagamento em conta financeira".
632 - Krugman coloca que conta-corrente e conta financeira têm que dar soma zero. Diz que discrepâncias da tabela dos EUA são estatísticas não captadas. (Nunca pensei isso. Por isso que sempre achei estranho esse assunto e como a balança de pagamentos total do Brasil entre 2002 e 2012 nunca batia com a acumulação de reservas). Enfim, se a conta capital for positiva, a conta-corrente será negativa e vice-versa. (Não entendi, porém, se ele está pressupondo câmbio flutuante e em equilíbrio. Creio que sim. Senão, ainda parecerá errado para mim).
633 - Coloca que o PNB inclui a renda líquida em vez das exportações líquidas. No caso dos EUA, a renda nacional acaba sendo ligeiramente maior que a produção interna, já que exportam capital (e recebem entradas de lucros e juros estrangeiros superiores às remessas que residentes mandam para suas famílias em outros países somadas a juros que os EUA pagam a residentes de outros países que compram seus títulos). Economistas usam PIB porque as estatísticas sobre transferências internacionais são menos precisas e, portanto, podem enganar mais facilmente. Ademais, como já dito, a diferença não é muito grande.
634 - O que a conta financeira mede? A entrada e saída de capital no geral. Para países com ativos igualmente desejados e prestigiados, com conta-capital aberta e paridade cambial se mantendo intacta, as taxas de juros de equilíbrio tenderão a ser a mesma. Fluxos migrarão de modo a equilibrar a coisa.
635 - Países com grandes superávits em conta corrente em valores absolutos (2010): China ($ 210 bi), Japão, Alemanha, Rússia, Arábia, Noruega ($ 53 bi)...
636 - Coloca que o fluxo de capital ocorreu fortemente da Grã-Bretanha para os EUA entre os anos de 1870 a 1914. A industrialização ainda tinha muito o que avançar nos EUA, a população deste crescia bem mais rápido e se expandia para o Oeste. O excedente de poupança dos ingleses migrava para lá em busca de maiores retornos para o capital. Argentina, Canadá e Austrália também surfaram esse "boom" dos fluxos de capital.
637 - No ano de 2005, Bernanke, tentando explicar porque os EUA se tornavam cada vez mais receptáculo de grandes excedentes de poupança, teorizou que era um fenômeno global, responsável inclusive pelos juros baixos no mundo inteiro. A profundidade e sofisticação do mercado financeiro nos EUA explicavam a crescente demanda por sua moeda (faz sentido, viu). A sequência de crises nos emergentes entre 1997 e 2002 levavam investidores desses países a buscar portos seguros ou com maior diversificação. O problema é que os EUA passaram a usar boa parte desse "capital barato" para especular no mercado imobiliário, afirma. Estima-se que 40% da poupança britânica fluía para tais lugares. Krugman coloca que os fluxos dessa época eram mais intensos porque a migração de pessoas em geral também era. Havia poucas restrições. O dinheiro acompanhava a população (deve ter a ver com aquele negócio do trabalho produzir valor...).
638 - ...Ainda segundo Krugman, havia mais confiança de que ativos estrangeiros não seriam expropriados. Até porque governos estrangeiros costumavam até enviar tropas e exércitos quando os "direitos" dos investidores do seu país eram violados. Isso quando não simplesmente colonizava e pronto. Enfim... não é apenas a taxa de juros que vai dizer quanto de dinheiro vai para país x ou y. Pode ser melhor ter retorno menor em países "mais seguros". Enfim, coloca o final do Século XIX como "era de ouro dos fluxos de capital (e populacionais também, ao que entendi)".
639 - Na crise de 2008, a entrada de capitais nos EUA caiu, afinal, a taxa de juros desceu muito.
640 - A taxa de câmbio de equilíbrio iguala quantidade demanda e ofertada da moeda estrangeira no balanço de pagamentos. Exemplo hipotético abaixo:
641 - Se, por uma razão qualquer, fluxos de capitais resolverem deixar em massa os EUA rumo à Europa, o dólar irá se depreciar, fazendo com que exportações estadunidenses aumentem e importações diminuam. Uma coisa, no câmbio flutuante/livre (creio), vai sempre compensar a outra.
642 - Ensina a calcular a evolução da taxa de câmbio real, a qual tem que descontar as inflações de ambas as moedas. Preços relativos reais podem se modificar muito pouco se filtradas possíveis grandes variações nominais decorrentes de inflações diferentes. Por isso que ter moeda estrangeiro de país de baixíssima inflação pode dar retorno até maior que comprar uma NTN-B mais sete, mesmo moeda estrangeira rendendo juros algum.
643 - ...Se em dois anos há inflação de 10% no real e 0% no dólar, o real tenderá a se depreciar 10%, mas o câmbio real permanecerá intacto.
(De fato, mas os fluxos de capitais levarão em conta possíveis inflações ao olharem para o juros do título ou ativo em moeda local, não é isso? Afinal, quando/se o dinheiro for repatriado, a inflação não pode comer todo ou quase todo o retorno, senão era melhor ficar com o dólar mesmo. Então o investidor tenderá a pensar no diferencial de inflação, além de possíveis desvalorizações artificiais/incentivadas do câmbio, creio, ou mudanças não-controláveis nos termos de troca mesmo, nos preços relativos/câmbio real, portanto. Comprar titulo ou ativos desindexados da inflação parece algo bem arriscado).
644 - ...O turista que vem visitar um país que teve inflação-sem-mudança-no-câmbio-real-de-equilíbrio não irá perceber qualquer mudança no poder de compra. Os prelos relativos não mudaram. A diária no hotel subiu de 100 para 150 reais, digamos, mas 100 dólares eram 100 reais e agora são 150, digamos.
645 - ...Em outras palavras: a conta-corrente (Balança comercial e afins) só vai responder a mudanças no câmbio real. Serve para todos os bens e serviços. Câmbio nominal não altera a coisa. Krugman comparar peso mexicano e dólar. Nominalmente saiu de 3 pesos para 12 pesos entre 1993 e 2011. Entretanto, o câmbio real se manteve quase igual e até razoavelmente constante.
646 - "Big Mac em dólares" como medida de apreciação/depreciação. Baseia-se em paridade do poder de compra (PPP). Ao fim de 2011, um dos preços mais altos era o do Brasil, o que mostrava enorme apreciação do Real na época (e um potencial de inflação represado, vale dizer), já que entrava muito capital. O franco suíço ocupava o topo, mesmo com a depreciação feita pelo governo para diminuir a demanda (os suíços passaram a impedir a flutuação de modo a acumular muitas reservas e manter a moeda um pouco depreciada). Um turista dos EUA que visitasse o Brasil, acharia tudo bem caro.
(Fui no site da "The Economist" e percebi que hoje a situação é bem inversa para o Brasil. Real depreciado, estima-se que em 30%. Por sinal, o dólar está apreciado em relação a quase todas as moedas - https://www.economist.com/big-mac-index - ):
647 - ...Advertência sobre o índice acima: geralmente os países emergentes, pelos custos de serviços mais baratos, tenderão a ter preço menor do sanduíche em dólar mesmo se não houver apreciação/depreciação. Outro gráfico leva em conta a renda per capita e câmbio em 2011 para mostrar o quanto o Brasil da época estava "outlier" na apreciação (será que foram as duas décadas de juros nas nuvens que levaram a isso?):
648 - EUA e Canadá: câmbio nominal variou pra cima e pra baixo do câmbio real entre 1990 e 2011, mas este último se manteve praticamente estável. Os preços nominais iam divergindo, mas o poder de compra se mantinha parecido. Ou seja, não adiantava visitar o Canadá ou os EUA para comprar mais barato.
649 - Com o dólar fraco frente ao Euro em 2008, indústrias europeias investiram em plantas nos EUA. Produzir lá ficou mais barato. (Não sei se foi boa ideia. Depois apreciou tudo de novo, o dólar).
650 - Para apreciar artificialmente a própria moeda (para além do "câmbio de equilíbrio"), o BC precisa comprá-la. Como? Método 1: Oferecendo dólares ou algo do tipo em troca. Logo, precisa ter reservas. E precisa vender dólares, portanto. Brasil venderia dólar e compraria real, por exemplo. Método 2: aumentar as taxas de juros para atrair carry trades e afins. O spread em relação à taxa de juros de outros países mais seguros tem que ser considerável para tanto. Ninguém vai se arriscar à toa. Método 3: controle cambial. Distribuir licenças limitadas para comprar moeda estrangeira. Como a oferta de reais é reduzida pela medida, aprecia-se o Real, salvo ocorrência de outros fatores (queda igual ou maior da demanda por reais, por exemplo). Isso gerará sérias dificuldades para importar, porém.
651 - Para depreciar a própria moeda (para além do "câmbio de equilíbrio"), é o contrário. BC compra dólar. Reforça o lado "comprador" do dólar e vendedor do "real". Vende real em troca de dólar. Método 2 aqui é baixar taxas de juros. O método 3 aqui seria proibir estrangeiros de comprarem reais. A oferta de dólar ou euro ou similar é, assim, reduzida e a moeda se deprecia. Quem quer exportar bens, serviços ou vender ativos aos estrangeiros se dá mal.
652 - Câmbio fixo: estimula comércio em razão da diminuição das flutuações/incertezas; diminui também o risco de inflação se a paridade for atrelada a um país seguro, sem flutuações desnecessárias na oferta. Não à toa, Bretton-Woods e o Euro (meio que um Bretton Woods europeu, na prática) foram esforços na direção de estabilização de câmbios de economias diversas.
653 - ...Desvantagens? Possível queima de reservas com ataques especulativos; política monetária pode ter de vir à resgate, meio que a reboque, prejudicando outros objetivos - Brasil final de 98 foi meio que isso. Controles cambiais, que seriam outra solução, podem distorcer incentivos e/ou servir de incentivo à corrupção e burocracia, com custos de fiscalização.
654 - ...Política monetária expansionista fica muito mais amarrada/limitada. Em 1992, a Inglaterra não sabia como combater um desemprego de 10% mantendo seu câmbio fixo. Não podia baixar a taxa de juros sem desequilibrar demais o câmbio. Reservas encolhiam rapidamente sem câmbio de equilíbrio e especuladores tornavam esse movimento ainda pior. Soros que o diga. Em setembro, cederam - abandonaram o câmbio fixo - e a libra afundou 20% em relação ao marco. (Política fiscal também teria o risco de gerar crowding out? Poderiam ter tentado? Seria lenta demais?)
655 - Coloca que a China, que tem recebido grande fluxo de capital, comprou mais da metade do PIB em reservas para impedir a apreciação, dando, assim, competitividade às suas exportações.
656 - Europa nunca ficou muito satisfeita com a queda do Bretton-Woods. Tentaram desde os anos 70 estabilizar o câmbio entre os países até que conseguiu a partir de 1987. Foi o primeiro passo para o Euro.
657 - Na verdade, parece que o termo "desvalorização" só deve ser usado para mudança de metas em câmbios fixos. No flutuante, seria mera depreciação. Ambas têm efeito sobre as exportações e dificultam naturalmente importações. Conta-corrente tenderá a melhorar, podendo ter superávits. Isso pode ser positivo para fechar hiatos do produto, aumentando a demanda agregada. O fluxo de capital, porém, tenderá a piorar. Juros e ativos "de fora" se tornam mais atraentes, já que agora são relativamente mais altos (ninguém quer Selic a 2% ou ativo em Real permanentemente desvalorizando).
658 - Obviamente tudo também serve ao contrário. Uma valorização vai estimular fluxo de capitais, juros mais altos, menores exportações líquidas (talvez negativas, com déficit em conta-corrente) e poderá retrair a demanda agregada, portanto. Vantagens? Reduz pressões inflacionárias, barateando alguns custos de produção e importações e atrai capital externo com mais facilidade, o que pode, em alguns casos, implicar investimentos (ao que me parece, isso dificilmente vai compensar a queda no consumo, investimento e exportações líquidas causada pelos juros altos).
659 - No câmbio flutuante, os juros vão jogar o mesmo papel, mas sem a ajuda de intervenções agressivas de compra ou venda de reservas. Ao menos em regra. De toda forma, juros mais altos implicarão pressão pela apreciação. Atraem capital externo. Juros mais baixos implicarão tendência à depreciação, eis que reduzem a demanda por moeda e ativos locais e fazem com que residentes busquem o exterior para retornos mais elevados.
660 - Até 2008, depreciações cambiais naturais concomitantes à queda nas exportações geradas por crises externas, faziam com que uma economia que adotasse câmbio flutuante conseguisse meio que manter a quantidade exportada. Como o câmbio não é fixo, ele pode depreciar a fim de manter o balanço de pagamentos saudável em crises. (O mal é que isso pode gerar pressões inflacionárias né, mas ok...). Na crise de 2008, porém, a queda da demanda agregada internacional foi tão grande que nem isso evitou que alguma economia passasse incólume por tudo. Exportações líquidas diminuíram para praticamente todo mundo. Mesmo onde teve depreciação cambial. Enfim, ao que entendi, foi uma questão de magnitude mesmo.
FIM DO LIVRO
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