Economia - Estudos de Otaviano Canuto

                  

A novela do Fed, escreve Otaviano Canuto


1 - BCs tendem a tratar, agora, os 2% como teto da meta de inflação, não como média mais. Sinalizam maior tolerância com a mesma, portanto.


2 - Spread entre os juros do FED-BC e nossa situação é algo a ser monitorado: "Segundo, já que falamos de “tantrum”, qual a probabilidade de que a eventual subida de juros e mudança no QE possam suscitar um novo “taper tantrum”, como aquele que atingiu os “5 frágeis” (África do Sul, Brasil, Indonésia, Índia e Turquia) em 2013, quando o Fed anunciou em abril daquele ano que começaria a planejar a reversão do QE?". Por que eram? Tinham déficit em conta-corrente à época. Risco de depreciação forte, portanto (e inflação?).


3 - Otaviano coloca que, hoje, assim como em 2018 (quando realmente veio o QE esperado desde abril de 2013), não há mais tal déficit (embora tenha havido em 2020, acho, já deve estar sendo revertido).


Otaviano Canuto on Global Current Account Imbalances (Vídeo)


4 - Neste vídeo, em que analisa as contas-correntes dos países, Canuto menciona que esses emergentes "cinco frágeis" meio que inverteram a situação (exceção da Turquia). A própria China diminuiu seu superávit. 



5 - Coloca que Alemanha, Japão e Holanda estiveram com demanda interna fraca e superávit nas contas externas (década de 10). Exportando muito. 


6 - Considera que a valorização acionária extraordinária dos EUA tem mais a ver com o forte aumento da liquidez global (expansionismo da política monetária global) que o excesso de poupança asiática (que era a tese principal de Bernanke).  


7 - Alguns gráficos mostram que, durante a década de 10 - ao menos da primeira metade -, os superávits asiáticos não foram crescentes. Até caíram em alguns países e períodos. Logo, o sucesso financeiro dos EUA na década possivelmente tem mais a ver com o crescimento dos excedentes em conta-corrente da zona do Euro mesmo. Saíram de déficits para superávits e, com isso, mandaram fluxo de capital para ativos dos EUA. Ao que entendi, coloca que os ajustes fiscais na zona do Euro ajudam a entender esse crescimento de poupança.



8 - Canuto coloca que não há necessariamente problemas nessas diferenças entre países, desde que não se devam a algum "boom" maluco de crédito por ausência de regulamentação financeira, por exemplo, ou a alguma política fiscal excessiva. Afinal, alguns países terão mesmo resultados diferentes de zero nas suas contas-correntes, podendo isso se dar em razão de inúmeros fatores e combinações possíveis: preferência temporal diferentes (talvez advindas de pirâmides etárias diferentes); desenhos institucionais; variações cíclicas nas commodities ou oportunidades de investimentos diferenciadas...


9 - Coloca que o aumento da busca por ativos seguros pode estar por trás da baixa da taxa de juros de longo prazo nas economias avançadas (e o QE?). Não seria apenas a "estagnação secular". (Por sinal, penso se esse "terceiro assunto" também não teria a ver com o "primeiro"... Vejo bons motivos). 


Reunião com Otaviano Canuto, professor na George Washington University (Vídeos)


10 - As grandes variações são típicas do super ciclos de commodities. Abaixo os principais eventos associados a cada um (metais para fazer guerras... reconstrução pós-II Guerra:



11 - Por que varia tanto? Tendências inesperadas de aumento da demanda para uma oferta pouca elástica. Responde de maneira lenta. Enquanto isso, a alta de preços equilibra as coisas. É diferente dos aumentos de curto prazo que tenham a ver com fatores bem rápidos/temporários de restrição ou desorganização da oferta (pode ser o caso de algumas delas no quadro atual). Nos super ciclos, a tendência de alta é por um tempo bem maior.


12 - Coloca que hoje em dia a oferta de produtos agrícolas reage de forma mais rápida que antigamente (colo que isso é meio que um consenso hoje em dia). Os "ciclos" agrícolas serão mais de quantidade do que de preço (infelizmente para produtores e especuladores). A questão do preço será mitigada.



13 - O cobre - ótimo condutor de eletricidade -, lítio e metais das terras raras são as "bolas do momento", digamos, já que parece que a "descarbonização" vem pra valer. Será preciso de quatro a cinco vezes mais cobre para construir um veículo elétrico, por exemplo. Mercado já está antecipando isso. Até sucata de cobre se valorizando dada a atual escassez. Estima-se que pode ser o último ciclo de alta do petróleo, que tende a ficar para trás. (Um membro da XP coloca que lembra de uma palestra de um especialista em petróleo num encontro do FMI, acha que de 2007/8, no auge do otimismo com o petróleo, dizendo que este ia para os "três dígitos" no futuro e que o primeiro dígito não seria 1... Logo antes da cotação beijar 30).


14 - Pacotes fiscais dos países, tecnologia verde e alguma retomada da China estão puxando a alta de alguns grupos de commodities.


15 - Coloca que a alta do petróleo atual tem a ver com o sucesso da OPEP em aparar as arestas entre Rússia e Arábia. Porém, a tendência a violar o cartel existe. O incentivo. 


16 - Coloca que a inflação de alimentos está em cerca de 37% para os emergentes entre março de 2020 e março de 2021. A razão é que o câmbio permaneceu desvalorizado em relação ao dólar e o preço das commodities continuou subindo. 


17 - O preço da terra agrícola no Brasil decolou com a volta das altas das commodities (não entendo a galera que diz que a terra tem "valor" por si só. Na real, nada tem valor por si só):



18 - Coloca que a atual alta da demanda por madeira, inesperada no momento e que até incentiva as madeireiras e desmatamentos no Brasil, tem a ver com os juros baixos fazendo bombar a construção civil/residencial. Escassez de madeira. 


19 - Afirma que o pecado dos BC's dos anos 70 foi subestimar a propagação dos choques na inflação. O BC tem que evitar que isso se transforme numa espiral. FED acredita, hoje em dia, porém, que os choques não irão se propagar. Nas últimas décadas, a inflação nos desenvolvidos tem sido baixa não só pelos choques positivos - e ele dá o seguinte exemplo de choque positivo de oferta: asiáticos desvalorizando a moeda tornam a importação de commodities por parte dos EUA algo mais barato, além da própria produção a salários mais baixos - , mas pela própria credibilidade adquirida/conquistada pelos bancos centrais, ou seja, internalização de expectativas não-inflacionárias. A confiança dos agentes privados no FED.


20 - Coloca que a China, há quinze anos, anunciou, para ele, que ia ver como produzir soja num território lá. Agora, 2021, anunciaram que chegaram lá. Coloca que é arriscado crer que a China possui dependência em relação ao Brasil, que ela já deu, por exemplo, umas "porradas" no minério australiano quando foi preciso.


21 - Afirma que dá para ampliar a produção agrícola brasileira sem qualquer desmatamento da Amazônia. Afirma que tem dados. Seria um grande perigo insistir no desmatamento em razão de medidas ambientais cada vez mais restritivas por parte dos europeus. Cuidado com as consequências comerciais. Coloca que mesmo os agricultores da "parte boa" serão prejudicados. Principalmente eles.


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