Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte I
Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte I
Pgs. 1-22:
1 - Devo anotar bem menos que no de Mankiw já que não quero ser redundante.
2 - O capítulo 1 é "o que é economia?". Krugman lembra que não há incentivos para que indivíduo ou uma família opte por preservas uma área verde sendo que há alguma incorporadora oferecendo grana pra, depois, desmatar e construir. Como, socialmente, uma comunidade tem interesse na preservação de áreas do tipo, diversas prefeituras dos EUA têm adotado uma política de comprar e preservar.
3 - O custo de fazer uma universidade não é só moradia/transporte ou gasto com alojamento extra. É também a renda que a pessoa estaria ganhando em um emprego de menor escolaridade durante o período. É ver se o benefício compensa.
4 - Krugman cita um estudo de Fryer Jr. sobre incentivos na educação usando pagamentos em dinheiro para os alunos. Em Nova York, foram pagos pelos resultados em testes. Em Washington DC foram pagos por cumprimento de normas de comportamento/frequência e notas. Já em Dallas, o pagamento foi por "livro lido". O melhor resultado foi em Dallas ao que entendi. Conclui-se que não adianta incentivo sem o melhor desenho possível. Em NY não conseguiram melhorar as notas, pois não sabiam (ou não achavam que pudessem) como atingir o objetivo. Imagino que preferiam nem tentar. Nos outros desenhos, o mero esforço já é premiado (imagino porém que o gasto total seja o mesmo, senão melaria a comparação) independentemente do resultado. Os incentivos pegam "o meio" da coisa, mais que o fim. Houve muito maior envolvimento dos alunos com dificuldades. Outra condição necessária era de que o pagamento fosse feito logo após o cumprimento. Intervalos curtos! Se fosse muito adiado surtia bem menos efeitos. Em Dallas, os bons resultados continuaram mesmo depois do fim dos pagamentos!
5 - Trade-off entre eficiência e igualdade? Um bom exemplo são as vagas em estacionamentos para pessoas com deficiência. Sem dúvidas não é uso mais eficiente das vagas. Volta e meia fica alguma sobrando enquanto alguém sem deficiência não encontra. Entretanto, a garantia do direito à igualdade acaba sendo preferível socialmente.
6 - Cita a intervenção do governo no trânsito como forma de melhorar os resultados "espontâneos". Pedágios, subsídios ao transporte público e imposto sobre a gasolina são alguns exemplos. Gera mais eficiência que deixar tudo meramente ao sabor das escolhas individuais. Outro exemplo de intervenção favorável do Estado costuma ser na questão dos bens que, pela própria natureza, não se prestam à gestão privada, como o Controle de tráfego aéreo.
7 - Lembra o princípio de que o gasto de uma pessoa é a renda da outra. Declínios e perda de empregos em um setor pode, se não houver deslocamento imediato da demanda e dos empregos, afetar toda a economia. E se um grupo decide gastar menos e poupar mais, a renda de todos diminui. Não tem como não afetar sem alguma intervenção externa. Ao menos no curto prazo. Se/quando o montante total dos gastos não é mais o total necessário para manter todos os empregos em uma "data x", desemprego e recessão surgem. Krugman coloca que 1930 foi bem isso.
8 - ...Traz o exemplo da cooperativa de bebês - Capitol Hill Baby-Sitting Co-op. Organizaram um sistema de créditos em horas de trabalho a ser distribuído para as famílias a cada noite cuidando de bebês alheios quando uma família diferente saísse. Ocorre que várias famílias, por serem cautelosas, resolveram poupar e acumular tais créditos, oferecendo-se para cuidar e tentando usá-los o mínimo possível (sair pouco). Queriam acumular mais antes de sair. Acumular antes de gastar. Resultado: oferta (de trabalho. E demanda por crédito) muito maior que a demanda (pelo trabalho. E oferta de crédito) sem poder mudar "o preço". A solução foi a organizadora emitir mais bilhetes do tipo artificialmente. Créditos que "inflacionaram" a coisa para livrar o mercado de "horas de cuidado" da "recessão deflacionária". As pessoas voltaram a sair e o mercado de créditos voltou a fluir melhor. Curioso.
9 - (Krugman por sinal é um crítico da HME. Logo, não considera que maximizar o valor das ações seja tudo que a economia precise fazer. Há muita de irracionalidade nesse "cassino" - termo de Keynes ao comparar com apostar/acertar vencedora de concurso de beleza. Não é nada fácil precificar algo). E nos anos 1980, economistas financeiros, notavelmente Michel Jensen da Escola de Negócios de Harvard, argumentavam que porque os mercados financeiros sempre acertam corretamente os preços, a melhor coisa que os caciques das corporações podem fazer, não só por eles mesmos mas pelo bem da economia, é maximizar o preço de suas ações. (...) Larry Summers, atual economista chefe da administração Obama, uma vez zombou dos professores de finanças com uma parábola sobre “economistas ketchup” que “haviam demonstrado que uma garrafa de 2/4 de ketchup invariavelmente é vendida por exatamente o dobro do preço de uma garrafa de 1/4 de ketchup” e concluem a partir disso que o mercado de ketchup é perfeitamente eficiente. (...) Mas nem essa zombaria nem críticas mais educadas por parte de economistas como Robert Shiller de Yale tiveram muito efeito.
https://periodicos.uff.br/revistaeconomica/article/download/34876/20132
10 - Krugman chama tudo isso de "Finanças Panglossianas" rs. (...Na verdade, creio que não é que o mercado precifique perfeitamente, mas sim que, como isso é extremamente difícil, dificilmente existirá método mais eficiente de precificação, Ainda mais porque as preferências mudam todo o tempo. E isso não anula a objetividade do limite total que o tempo de trabalho necessário nos traz. Enfim, longa história).
11 - Critica, a partir do exemplo dos bebês, os economistas de água doce (interioranos, neoclássicos). Na visão deles... "escassez de demanda não é possível porque os preços sempre variam para coincidir oferta e demanda". (...) Em 1970 o macroeconomista interiorano líder, o laureado com o Nobel, Robert Lucas, argumentou que as recessões eram causadas por confusões temporárias: os trabalhadores e as empresas tinham problema para distinguir mudanças globais nos níveis de preços causadas por inflação ou deflação das mudanças nos seus próprios negócios particulares.
12 - Nos anos 1980, contudo, mesmo essa aceitação limitada da ideia de que recessões são ruins foi rejeitada por muitos economistas interioranos. Ao invés disso, o novo líder do movimento, especialmente Edward Prescott, que estava então na Universidade de Minnesota (você pode ver de onde vem o apelido interioranos), argumentou que as flutuações de preço e mudanças na demanda na verdade não tinham nada a ver com o ciclo de negócios. Antes, o ciclo de negócios refletia as flutuações na taxa do progresso tecnológico, que é amplificado pela resposta racional dos trabalhadores, que voluntariamente trabalham mais quando o ambiente é favorável e menos quando é desfavorável. Desemprego seria uma decisão deliberada dos trabalhadores para terem tempo livre. Krugman, por sinal, considera uma suposição absurda, mesmo tendo sido agraciada pela academia e formulada em um modelo matemático. ...E Friedman certamente nunca comprou a ideia de que desemprego em massa representa uma redução voluntária nos esforços de trabalho ou a ideia que recessões são na verdade boas para a economia. (...) Pode alguém afirmar seriamente que perdemos 6,7 milhões de empregos porque menos americanos querem trabalhar? Mas é inevitável que os economistas interioranos se descubram presos neste beco sem saída: se você começa com a suposição que pessoas são perfeitamente racionais e mercados são perfeitamente eficientes, você tem que concluir que o desemprego é voluntário e as recessões são desejáveis.
13 - Tudo isso é do artigo do link. Essencialmente critica, com exemplos de discursos, a ideia de que bolhas não acontecem e de que tudo é bem regulado ou justificado nas próprias precificações do mercado livre. Numa entrevista de 2007, Eugene Fama, o pai da hipótese dos mercados eficientes, declarou que “a palavra ‘bolha’ me deixa doido”, e seguiu explicando porque podemos acreditar no mercado imobiliário: “os mercados imobiliários são menos líquidos, mas as pessoas são muito cuidadosas quando comprar casas. Este é tipicamente o maior investimento que elas fazem, então elas procuram com bastante cuidado e comparam preços. Os processos de compra são bastante detalhados”.
14 - Por fim, Krugman deposita esperança em que as novidades das finanças comportamentais façam os economistas de água doce se tocar pra realidade. Primeiro, muitos dos investidores do mundo real se parecem muito pouco com o calculista frio da teoria dos mercados eficientes: eles são muito suscetíveis a comportamentos de manada, a surtos de exuberância irracional e a pânico injustificado.
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