Livro: Mankiw, Gregory - Introdução à Economia (2010) XXXII

 

Livro: Mankiw, Gregory - Introdução à Economia (2010) XXXII


Pgs. 807-858:


686 - A parte XIII do livro é sobre considerações finais. O título do capítulo 36, último, é: Seis debates sobre a política macroeconômica


687 - Muitos estudos indicam que as mudanças na política monetária têm poucos efeitos sobre a demanda agregada antes que tenham passado seis meses de sua implementação. A fiscal pode ser mais lenta ainda. É verdade. 


688 - Corte de impostos ou gastos do governo? Quando o governo disponibiliza um dólar para uma família mediante um corte de impostos, uma parte desse dólar pode ser economizado em vez de ser gasto. (Isto será especialmente verdadeiro se as farm1ias visualizarem a redução de impostos como um evento temporário e não permanente.) A parte do dólar que foi economizada não contribui para a demanda agregada por bens e serviços. Por outro lado, quando o governo gasta um dólar na compra de um bem ou serviço, esse dólar é imediata e completamente acrescido à demanda agregada.


689 - Efeito multiplicador do gasto estatal é maior. Ao menos foram os cálculos do governo Obama. (e devem ser os de Biden). Os formuladores de políticas concentraram-se em três tipos de gastos. Primeiro, houve gastos com projetos vapt-vupt (shovel-ready: "pá-pronto"), ou seja: projetos de aplicação imediata. Tratava-se de projetos de obras públicas, como reparos em autoestradas e pontes, cuja construção podia começar imediatamente, colocando os desempregados de volta ao trabalhoSegundo, estendeu-se o auxílio federal aos governos estaduais e locais. Como, em decorrência de exigência constitucional, muitos desses governos devem executar orçamentos equilibrados, a queda das receitas tributárias durante as recessões poderia obrigá-los a demitir professores, policiais e outros funcionários públicos; a ajuda federal evitou esse resultado ou, pelo menos, reduziu sua gravidade. Por último, houve aumento dos pagamentos aos desempregados por meio do sistema de seguro-desemprego. Como os desempregados muitas vezes têm uma situação financeira difícil, eles são suscetíveis de gastar em vez de economizar sua renda extra.


690 - Corte de impostos podem ser feitos, talvez, de uma forma melhor (não me parece que Dilma tenha feito isto aqui, por exemplo): ... se as reduções de impostos assumirem a forma de uma expansão do crédito fiscal do investimento, elas podem induzir o aumento dos gastos com bens de investimento. Mankiw lembra que há incentivo a maior trabalho/investimento por parte das pessoas mais produtivas, já que poderão se apropriar de maior "fatia".


691 - Há vários problemas com o aumento dos gastos do governo durante as recessões. Antes de tudo, os consumidores entendem que o aumento dos gastos públicos, juntamente com o endividamento do governo necessário para financiá-los, provavelmente implicará impostos mais elevados no futuro. A antecipação de impostos futuros induzirá os consumidores a fazer cortes nas despesas de hoje.


692 - A questão da eficiência do gasto também conta a favor de corte de imposto: Os cortes dos impostos têm a vantagem de descentralizar as decisões dos dispêndios, em vez de depender de um processo altamente centralizado e politicamente imperfeito. O governo está sujeito a pressões políticas para realizar obras sem tanto sentido


693 - Perigos da intervenção do BC independente? Um banqueiro central que simpatize com o candidato à reeleição pode ser tentado a adotar políticas expansionistas às vésperas da eleição para estimular a produção e o emprego, sabendo que a inflação resultante não surgiria a não ser depois da eleição. Ciclo político de negócios. EUA com suas eleições  legislativas bianuais...


694 - Regulação do poder do BC seria uma solução? Uma maneira de evitar esses dois problemas da política discricionária é comprometer o banco central com uma regra política. Por exemplo, suponha que o Congresso aprove uma lei exigindo que o Fed aumente a oferta de moeda em exatamente 3% ao ano. (Por que 3%? Como o PIB real cresce, em média, cerca de 3 % ao ano e a demanda por moeda cresce com o PIB real, um crescimento na oferta de moeda de 3 % ao ano é aproximadamente a taxa necessária para produzir estabilidade de preços no longo prazo.) Uma lei como essa eliminaria a incompetência e o abuso de poder da parte do Fed e impossibilitaria o ciclo político de negócios. Além disso, a política não teria mais inconsistência temporal. O caso "Volcker-Carter" mostra que o BC costuma se importar mais com sua missão que com o "presidente que o nomeou". 


695 - O argumento contra isso é obviamente a flexibilidade (acho muito melhor): Pode haver armadilhas na política monetária discricionária, no entanto ela também tem uma grande vantagem: a flexibilidade. O Fed se confronta com diferentes circunstâncias, e nem todas podem ser previstas. Na década de 1930, as quebras de bancos atingiram um número recorde. Nos anos 1970, o preço do petróleo subiu muito e rapidamente em todo o mundo. Em outubro de 1987, o mercado de ações caiu 22% em um só dia. De 2007 a 2009, os preços dos imóveis despencaram, as execuções de hipotecas aumentaram muito e o sistema financeiro teve problemas significativos. O Fed precisa decidir como reagir a esses choques.


696 - Metas de inflação: O Federal Reserve não adotou uma política explícita de metas de inflação (embora alguns analistas tenham sugerido que o FED tem uma meta de inflação implícita de cerca de 2%). Um defensor proeminente das metas de inflação é Ben Bernanke, ex-professor de economia, que se tornou presidente da Fed em 2006.


697 - E a "inflação zero"? É desejável? Mankiw relembra os custos que a inflação causa: sola de sapato... menu... distorções nos relativos e nos impostos... desigualdade indevida e etc. Alguns economistas argumentam que esses custos são pequenos, pelo menos para taxas de inflação moderadas, como a inflação de 3% registrada nos Estados Unidos durante os anos 1990 e início dos anos 2000. Mas outros economistas afirmam que esses custos podem ser substanciais, mesmo com inflação moderada. Argumentos contra invocam a tal "taxa de sacrifício" (sempre me pergunto se não é exagerada) de 5: Estimativas da taxa de sacrifício sugerem que reduzir a inflação em 1 ponto percentual exige abrir mão de 5 % da produção de um ano. Reduzir a inflação de, digamos, 4% para O exige a perda de 20% da produção de um ano. As pessoas podem não gostar da inflação de 4%, contudo não está totalmente claro se elas poderiam (ou deveriam) estar dispostas a pagar 20 % da renda de um ano para se livrar dela. (...) Quando a economia entra em recessão, as rendas não caem todas proporcionalmente. Em vez disso, a queda na renda agregada se concentra nos trabalhadores que perdem seu emprego. Os trabalhadores mais vulneráveis são, frequentemente, os que têm menos qualificação e experiência. Portanto, grande parte do custo de redução da inflação recai sobre as pessoas que têm menos condições de arcar com ele. (Para os defensores da inflação zero, tudo isso é dar um passo atrás pra dar dois na frente, como Volcker fez)Ademais, inflação zero deixaria pouco espaço para os "juros" agirem em crise, já que zero é quase um piso nominal. Dificultaria o reestimulo. "As vezes, a economia precisa de taxas de juros reais negativas para dar estímulos suficientes à demanda agregada, uma opção que é eliminada pela inflação zero."


698 - Alguns chegam a pedir elevação da meta (implícita ou não) para 4% a fim de desafogar as dívidas dos EUA. 


699 - ...Além disso, os formuladores de políticas podem reduzir muitos dos custos da inflação sem reduzir verdadeiramente a inflação. Podem eliminar os problemas associados ao sistema tributário não indexado reformulando a legislação tributária para que leve em consideração os efeitos da inflação. Também podem reduzir as redistribuições arbitrárias de riqueza entre credores e devedores; causadas pela inflação não esperada, emitindo títulos públicos indexados, como fez a administração Clinton em 1997. Tal iniciativa isola os detentores da dívida pública da inflação. Além disso, ao dar o exemplo, a política pode incentivar os tomadores de empréstimos e emprestadores a elaborar contratos de dívida indexados pela inflação.


700 - Mankiw e eu parecemos achar que o custo-benefício dessa desinflação pra chegar no "zero" é bem ruinzinho. Ele dá uma razão, até óbvia, de que eu não gosto, porém (rs). O fator psicológico/irracional da coisa: Um pouco de inflação pode até ser positivo. Alguns economistas acreditam que a inflação" engraxa os mecanismos" do mercado de trabalho. Como os trabalhadores resistem a cortes nos salários nominais, é mais fácil conseguir uma queda nos salários reais com o aumento de preços. A inflação, portanto, facilita o ajuste dos salários reais às mudanças nas condições do mercado de trabalho. Ademais, eu acrescentaria que mesmo uma desinflação muito bem feita e merecedora de crédito pode gerar alguma histerese e caos social. Capitalistas não costumam curtir principalmente o segundo aspecto.


701 - Alguns não acham o "juros zero" um problema ao reestimulo. Isso em razão das medidas adicionais de estímulo que o FED descobriu e tem usado, como QE, empréstimos, injeções diretas, etc. Faz quase que uma política fiscal rápida e artificial. 


702 - Quanto à possível elevação das metas de inflação (2 para 4, por exemplo), alguns alertam que o tumulto ou incerteza pode fazer com que ela escape muito mais do controle. Uma meta de inflação mais alta "teria um efeito imediato e bastante perturbador" sobre os mercados, afirmou Bruce Kasman, economista-chefe do J. P. Morgan Chase.


703 - ... Curiosa a continuação do raciocínio: Bernanke concluiu que não queria mexer com as frágeis expectativas das pessoas. Ele alegou que uma mudança para uma meta mais elevada correria o risco de fazer com que "o público perdesse a confiança na disposição do banco central em resistir ainda mais a altas na inflação e, assim, comprometer a eficácia da política monetária daqui para frente''. A meta de inflação de 2%, que é tão popular entre os banqueiros centrais do mundo todo, pode não ter sido a meta ideal em retrospecto. No entanto, parece que todo mundo está amarrado a ela, para melhor ou pior, no futuro previsível.


704 - Mankiw apresenta a crítica à dívida nos EUA. Não houve muita justificativa para crescimento já que as recessões foram fracas: A dívida do governo norte-americano como uma porcentagem do PIB aumentou de 26%, em 1980, para 50%, em 1995. Durante esse período, os Estados Unidos não tiveram grandes conflitos militares nem grandes quedas na atividade econômica. (...) Os déficits orçamentários da primeira década de 2000 podem, talvez, ser racionalizados pelas guerras do Iraque e do Afeganistão e pelos efeitos das recessões de 2001 e 2008-2009.


705 - Alguns argumentam que a dívida não é "essas coisas" por corresponder a meio que um ano de PIB. (100%, por exemplo). Ademais, nem toda escolha é pior que o déficit. Se o setor a ser cortado for a educação com reflexos na escolaridade média... Melhor ter déficit.


706 - Acionistas nos EUA: Quando a empresa obtém lucro com seus investimentos de capital, primeiro paga impostos sobre esse lucro na forma de imposto de renda das pessoas jurídicas. Se a empresa distribuir o restante do lucro a seus acionistas na forma de dividendos, estes pagarão um novo imposto sobre essa renda, na forma de imposto de renda das pessoas físicas. Essa dupla tributação reduz substancialmente o retorno para o acionista, reduzindo, portanto, o incentivo à poupança. (Não lembro se a soma dá ou não próxima ao valor do nosso IRPJ).


707 -  Os pais podem legar algum dinheiro a seus filhos sem incidência de impostos, mas, quando os legados são grandes, a alíquota do imposto sobre a herança pode chegar a 55%. Em grande medida, a preocupação com a poupança nacional é motivada por um desejo de garantir a prosperidade econômica das gerações futuras. E estranho, portanto, que a legislação tributária desestimule a maneira mais direta pela qual uma geração pode ajudar a seguinte. (Muito chororô nessas coisas. EUA são podres de rico. Ninguém vai deixar de poupar porque só vai sobrar sei lá quantos mil ou milhão de dólares.)


708 - Alguns defendem regressividade na veia: Uma alternativa defendida por muitos economistas é um imposto sobre o consumo. Com um imposto sobre o consumo, as famílias só pagam impostos com base no que gastam. A renda que é poupada fica livre de tributação até que a poupança seja retirada e gasta em bens de consumo.


709 - No lado crítico, ainda é lembrada essa questão vista em capítulo anterior: A teoria econômica não oferece uma previsão clara quanto a se uma maior taxa de retomo aumentaria a poupança. O resultado depende da magnitude relativa de dois efeitos conflitantes, chamados efeito substituição e efeito renda. Outra obviedade esquecida por algum motivo: Em vez de tentarem alterar o código tributário para incentivar maior poupança privada, os formuladores de políticas podem simplesmente aumentar a poupança pública, reduzindo o déficit orçamentário, talvez pelo aumento dos impostos sobre os ricos.


710 - Texto de 2009 problematizava como os EUA iriam enfrentar seu desafio fiscal: O Congressional Budget Office (CBO) prevê que as políticas atuais levariam o déficit dos 10% atuais do produto interno bruto para mais de 20% em 2020 e mais de 40% em 2040. (...) "Uma situação muito pior seria as taxas de juros permanecerem baixas enquanto acumulássemos quantias sem precedentes de dívidas apenas para reagir prontamente quando os mercados financeiros ou os credores estrangeiros decidissem que os Estados Unidos não são um bom risco de crédito''. (...) O CBO possui um livro cheio delas, indo desde um aumento na idade para se aposentar até a tributação do efeito carbono.


710  - Gráfico/gif que achei num site:



711 - No fim do livro há glossário e índice que parecem bem completos. Vale a pena pesquisas rápidas.


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FIM DO LIVRO


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