Livro: Mankiw, Gregory - Introdução à Economia (2010) XVI
Livro: Mankiw, Gregory - Introdução à Economia (2010) XVI
Pgs. 430-460:
365 - Renda "não-monetária" e afins: As transferências aos pobres dadas em forma de bens e serviços, em vez de dinheiro, são chamadas transferências em espécie. As medidas padrão do grau de desigualdade não consideram esse tipo de transferência. (Aqui no Brasil já vimos que o Gini permanecerá alto mesmo assim). (...) De acordo com um estudo do Census Bureau, se as transferências em espécie fossem incluídas na renda pelo seu valor de mercado, o número de famílias em estado de pobreza seria cerca de 10% menor do que indicam os dados padronizados.
366 - Jovens endividados com faculdade e experientes desfrutando dos salários maiores é algo que também contribui pra desigualdade. O mero "ciclo da vida". ... mas não representa verdadeira desigualdade em termos de padrão de vida.
367 - Lembra também que há diferenças transitórias, mas podem se inverter ano a ano, então não têm muita importância. Em um ano, a geada destrói a safra de laranja da Flórida, e os produtores de laranjas veem sua renda cair temporariamente. Ao mesmo tempo, a geada na Flórida faz o preço da laranja subir, e os produtores da Califórnia veem sua renda aumentar temporariamente. No ano seguinte, pode acontecer o inverso. No fundo, a renda permanente determina o padrão médio. Empréstimos e coisas do tipo, se normais, "passam".
368 - Outra questão: o quinto superior tem mesmo 15 vezes (EUA) mais renda que o quinto inferior? Quão permanente é isso? Com o sistema progressivo de impostos baixa pra 14. Por outra métrica, baixa muitíssimo mais: o consumo (o que indica que conjunturas transitórias influenciam muito a desproporção). A diferença diminui significativamente quando se observa o consumo em vez da renda. As famílias que tiveram um bom ano apresentam maior probabilidade de ficar no grupo superior e poupar uma fração maior da renda. As famílias que excepcionalmente não tiveram um bom ano apresentam maior probabilidade de ficar no grupo inferior e consumir todas as economias. Conforme Cox e Alm, o consumo do quinto mais rico foi apenas 3,9 vezes maior que o consumo do quinto mais pobre. Segundo eles, tem mais: De acordo com os autores, as famílias no quinto superior tinham em média 3,1 pessoas, enquanto as do quinto inferior tinham em média 1,7 pessoa. Como resultado, o consumo por pessoa no quinto mais rico foi apenas 2,1 vezes maior que o consumo por pessoa no quinto mais pobre.
369 - Um artigo cita que, devido aos programas do governo, crescentes há algum tempo, a taxa de pobreza real é bem menor do que se diz, nos EUA. Sem contar que os dados mascaram as diferenças regionais de custo de vida, para mais ou para menos, ao unificar nacionalmente a "linha" da pobreza.
370 - ...Mas atenção para as subtrações também na definição dessa linha. Não basta adicionar os programas do governo a valor de mercado. ... Custos inevitáveis (...) foram subtraídos da renda porque o trabalho exige o gasto de dinheiro com transporte e, com frequência, escola ou creche para os filhos. ... Em Nova York, onde as medidas oficiais de pobreza dos Estados Unidos indicam que 18% da cidade são pobres, a nova medida (em grande parte por causa dos custos da moradia) aponta 23%. Mas o quadro será mais preciso. Nova York descobriu que as taxas diferiam pouco para crianças, mas eram muito maiores para os idosos devido às despesas médicas pagas do próprio bolso.
371 - EUA: Como a mobilidade econômica é grande, muitas das pessoas abaixo da linha de pobreza só estão ali temporariamente. (Brasil nem isso). Não sei bem o que Mankiw chama de grande, pois os dados que apresenta são fracos. Porém, concordo com sua conclusão: Como é provável que os temporariamente pobres e os persistentemente pobres enfrentem problemas diferentes, as políticas que tenham como propósito o combate à pobreza precisam distinguir entre esses grupos.
372 - ...Este dado foi o melhor indicativo que ele deu da forte mobilidade nos EUA: De acordo com um estudo realizado, cerca de quatro ou cinco milionários fizeram sua riqueza por si próprios, seja fundando uma empresa, seja subindo a escada da hierarquia corporativa. Apenas um de cada cinco milionários herdou sua fortuna. (Só vendo o estudo, "fundar uma empresa" ou "subir hierarquia" não indica exatamente de onde partiram).
373 - Filosofia Política e desigualdade: O argumento utilitarista para a redistribuição da renda se baseia na hipótese da utilidade marginal decrescente. Parece razoável que um dólar a mais de renda para uma pessoa pobre proporcione a ela mais utilidade adicional do que um dólar a mais para uma pessoa rica. (...) Essa suposição bastante plausível, somada ao objetivo utilitarista de maximização da utilidade total, implica que o governo deveria tentar atingir uma distribuição de renda mais igualitária. ... tirar um dólar de Peter (rico) e entregá-lo a Paul (pobre) reduzirá a utilidade de Peter e aumentará a utilidade de Paul. Mas, por causa da utilidade marginal decrescente, a utilidade de Peter cai menos que a utilidade de Paul aumenta.
374 - Mankiw se apresenta cético a respeito de que um igualitarismo utilitarista radical poderia manter "o bolo". Com a diminuição dos incentivos, uma igualdade total ou quase traria redução substancial do bolo, acredita. As pessoas mais produtivas não veriam necessidade de trabalhar tanto. Afirma que seria como transportar água que sobra para um habitante do deserto levando um balde furado. A depender do furo... Melhor nem fazer.
375 - Traz o critério de justiça de Rawls. Sobre estar sob "véu da ignorância". Já sei mais ou menos. Uma pessoa não sabe em "que quinto" vai nascer. No dos infernos ou no dos céus. Então como deve ser a sociedade sem considerar sua própria origem? O que escolheríamos se estivéssemos construindo tudo "do zero" antes do sorteio que vai definir as posições? É tipo a polêmica da divisão de herança que vi na minha família.
376 - ...Mankiw acredita que as pessoas teriam forte aversão ao risco e escolheriam proteger bastante o(s) quinto(s) inferior(es), taxando ricos por exemplo, mas cogita resultado diferente: De fato, como uma pessoa na posição original poderia ficar em qualquer ponto da distribuição de renda, ela poderia tratar todos os resultados possíveis da mesma maneira ao estabelecer políticas públicas. Nesse caso, a melhor política por trás do véu de ignorância seria maximizar a utilidade média dos membros da sociedade, e a noção de justiça resultante seria mais utilitarista que rawlsiana.
377 - Como exemplo da posição "libertarista" traz Nozick, que propõe "impedir" que as pessoas pensem sobre a questão da produção social. Tem que tratar tudo de forma individual. (Como isso não é voltar a lei do mais forte eu não sei, mas acreditam que "leis naturais" acabariam por se impor).
378 - Salário mínimo é para quem tem baixa qualificação demandada. Os defensores de um salário mínimo elevado argumentam que a demanda por mão de obra não qualificada é relativamente inelástica, de modo que um salário mínimo elevado diminuiria muito pouco o nível de emprego. Os críticos lembram que a medida gera desperdício por ser menos focada que bolsas. Parte dos que recebem salário mínimo são adolescentes de famílias de classe média, os quais quase que inevitavelmente ganharão mais ou bem mais futuramente.
379 - Não parecem ser as políticas de bem-estar que geram as famílias desestruturadas. Críticos argumentam que elas criam tais incentivos. Difícil: Desde o início da década de 1970, os benefícios do bem-estar social (descontada a inflação) diminuíram, mas a porcentagem de crianças que vivem com apenas um dos pais aumentou.
380 - E o imposto de renda negativo? Por um lado, um imposto de renda negativo não incentiva nascimentos ilegítimos nem a desestruturação familiar, como os críticos do sistema de bem-estar social acreditam que a atual política faça. Por outro lado, um imposto de renda negativo subsidiaria não apenas os menos afortunados, mas também aqueles que são simplesmente indolentes e que, na visão de algumas pessoas, não merecem apoio do governo.
381 - Ajudas muito altas podem gerar grandes desincentivos, coloca. Hipótese de ajuda anual de até $20k (governo se propõe a complementar qualquer valor até alcançar esse mínimo): qualquer pessoa que ganhasse menos de $20.000 trabalhando teria pouco incentivo para procurar e manter um emprego. Para cada dólar que essa pessoa ganhasse, o governo reduziria a renda complementar em um dólar. Na prática, o governo taxaria 100% de cada ganho adicional. Uma alíquota marginal efetiva de 100% é certamente uma política com grande peso morto.
382 - Possíveis soluções ao "desincetivo": a) reduzir benefícios das famílias pobres de forma mais gradual à medida que sua renda aumenta. Por exemplo, se uma família pobre perder 30 centavos em benefícios para cada dólar que ganhar, sua alíquota marginal efetiva será de 30%; b) exigir que qualquer pessoa que receba os benefícios aceite um emprego dado pelo governo - um sistema por vezes chamado workfare; c) ... a reforma do sistema de bem-estar social, em 1996, que determinou um limite de cinco anos para aqueles que recebem benefícios. Bill Clinton falou em evitar que a coisa se tornasse um meio de vida.
383 - Comenta-se a falta de bom planejamento para com o problema da desigualdade como uma das possíveis causas para a crise de 2008: a resposta política para o aumento da desigualdade - quer como cuidadosamente planejada, quer como o caminho mais fácil - foi expandir os empréstimos para as famílias, especialmente para aquelas de baixa renda. Afirma-se que o crédito "populista" já gerava problemas desde o início do Século XX, quando crédito rural em excesso foi uma das causas mais relevantes das falências dos bancos durante a Grande Depressão.
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