Giovana Vasconcelos - Uma breve análise sobre o desenvolvimento sueco (TCC) II

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14 - A alfabetização já era elevada antes da industrialização na Escandinávia, e sua origem estava na tradição do ensino doméstico para fins religiosos, com a leitura da bíblia pelos protestantes suecos. A educação formal só foi se ampliar com a lei da educação obrigatória de 1842, que estabeleceu a criação de pelo menos uma escola primária em cada área paroquial, introduzindo assim a educação em massa. Em 1870, o ensino obrigatório foi estendido de quatro para seis anos, e a parcela do PIB destinada a gastos com educação foi ampliada. O objetivo oficial era garantir uma capacidade básica para leitura, escrita e matemática para facilitar a divulgação de novas tecnologias (LJUNGBER, 2002)


15 - No topo da pirâmide da educação formal se encontravam as universidades de Uppsala e Lund, remanescentes dos séculos XV e XVII, que se expandiram durante dos séculos XIX, com todo o foco direcionado para as ciências naturais. Na primeira metade do século XIX foram criadas instituições de formação técnica, como o Instituto Tecnológico de Estocolmo em 1826 e a Técnica de Chalmers em 1829. (BLOMSTRÖM e KOKKO, 2002). (...) Com o sistema de guildas abolido em 1846, as escolas técnicas passaram a ser a principal fonte de formação profissional e assim a segunda metade do século XIX marcou a expansão da educação profissional. (...) O número de trabalhadores qualificados aumentou constantemente a partir de 1850.


16 - Paralelamente, o período presenciou a formação de institutos que estariam a seguir envolvidos no desenvolvimento da indústria, como a Real Academia de Ciências de 1739 e a Associação de Produtores de ferro de 1747, ambas responsáveis pela difusão de novas tecnologias (BLOMSTRÖM e KOKKO, 2002).


17 - Desenvolvimento sueco: O mercado doméstico só ganharia destaque depois de 1890 (BOHLIN, 2007). A diversificação produtiva ia avançando já na virada do século:





18 - Até a virada do século empresas pioneiras como Ericsson, Alfa Laval, ASEA, AGA, Nobel e SKF foram instituídas, todas associadas com inovações ou inovadores suecos como Dalén, Wenström, Ericsson, de Laval e Wingquist. (SCHÖN, 2007)


19 - Durante o fim do século XIX, havia também o bloqueio à propriedade estrangeira sobre os recursos nacionais.


20 - O espírito inovador sueco foi ‘reforçado’ pelas características típicas da região, a qual no inicio do século XX ainda possuía uma das menores densidades populacionais da Europa. A escassez de trabalhadores encorajou a inovação como uma forma de compensar a escassez de mão de obra. (Não creio que tenha sido fator tão fundamental. No Brasil, quando a escassez da mão-de-obra foi surgindo, resolveram "corrigir" com importação/imigração, por exemplo. Foram pelo "caminho inferior"). (...) e a quantidade limitada de mão de obra interna concedeu uma posição de barganha melhor aos camponeses e operários. Esta seria uma das possíveis origens da igualdade pertinente às negociações trabalhistas na cultura sueca com o passar do tempo (BAKER, 2011).


21 - Schon crê que o incremento da produtividade na virada do século tem a ver com a emigração: Deste modo, o crescimento dos salários ultrapassou o do produto interno, ocasionando um incremento no mercado interno e uma maior demanda por máquinas


22 - O período de 1870 até o estopim da Segunda Guerra Mundial foi decisivo para a industrialização Sueca, nele o país apresentou um crescimento per capita médio de 2%, média acima de qualquer outra experiência europeia desta data. Também foi neste ínterim a participação do setor industrial no PIB se sobrepôs a da agricultura. Chegou a 46% do PIB a indústria (em 1939).


23 - Suécia cresceu até ligeiramente acima da OCDE na "época de ouro": Isto ocorria pelo contexto favorável em que o país se encontrava, pois sua capacidade de produção tinha sido preservada pela política externa neutra durante as duas grandes guerras, e pela reconstrução europeia, financiada pelo Plano Marshall, assegurando uma demanda consistente para a indústria sueca de exportação, especializada em matérias-primas, produtos semiacabados e bens de investimento (ERIXON, 2008, p.4). (...) as exportações se mantiveram, em média, a um nível de 20 por cento do PIB sueco em todo o período (MAGNUSSON, 2000, p. 211).


24 - Os produtos da indústria de matéria-prima foram caindo de participação durante a Era de ouro (61 para 38%) enquanto que as empresas de engenharia cresciam na pauta, atingindo 24% em 1973.


25 - Com o aumento da renda dos suecos, a indústria de bens de consumo também crescia. 


26 - Avalia-se que o plano Rehn-Meidner tenha todo um papel nos dados de produtividade a seguir:



27 - Dilemas do pós-guerra: Como alternativa foi apresentado no Congresso Sindical de 1951 o programa ‘O Movimento Sindical e o Pleno Emprego’, formulado por dois economistas vinculados à LO. Estes dois economistas, Gösta Rehn e Rudolf Meidner elaboraram um modelo baseado em quatro objetivos – manutenção do pleno emprego, baixa inflação, alto crescimento econômico e equidade social (ERIXON, 2008b, p.8).


28 - Criou-se um fundo que era um misto de tributação e subsídio para substituir o antigo sistema de imposto cíclico sobre investimento (Subia no boom e descia na recessão). A lógica era parecida, mas talvez mais flexível: "Por este sistema as empresas poderiam transferir até 40% de seus lucros para um fundo de investimento não tributável. Porém, 46% da quantia aplicada, 41% até 1961, seria retida pelo Banco Central em uma conta sem direito a capitalização, e sua liberação estaria condicionada à prévia autorização do governo, ademais, quando o fundo fosse liberado, ainda seria concedido um abono fiscal extra de 10% sob a tributação de bens de investimentos, servindo como uma espécie de subsídio. O restante do valor transferido para o fundo estaria automaticamente disponível para fins de investimento. (LINDBECK, 1968, p. 42-43). (Não entendi bem alguns detalhes. Qual era a alternativa a isso? O tributo sobre investimento?)


29- ... O governo teria o poder de optar pela liberação do fundo de investimento vinculada a um determinado fim, para, assim, estimular algum setor específico da economia.


30 - A opção pelo fundo de investimento favorecia empresas com lucros acumulados e histórico de investimentos (LINDBECK, 1968, p. 47). A destinação dos lucros para a conta do Banco Central equivalia a uma redução da taxa de imposto sobre o capital das empresas, influenciando o nível desejado de capital no setor corporativo no longo prazo. (...) As empresas suecas eram estimuladas a reaplicarem constantemente parte de seus lucros em novos investimentos. Dado que ao pagar 46% de “imposto” ao Banco Central, em vez de 52% para o governo, em 1955, a taxa de imposto efetiva na íntegra seria reduzida para 49,67, mesmo se os recursos do fundo nunca forem usados, incentivando, assim, as empresas a utilizarem o fundo de investimento em seu limite máximo.


31 - Isso tudo gerava um efeito curioso, afinal, em alguns momentos:



 

32 - Este dado a seguir tem tudo a ver com os "salários/trabalho caro(s)": Essa racionalização pode ser observada quando se compara a distribuição sueca do emprego por tamanho de empresa com a do restante da Europa. Em 1986, empresas com pelo menos 500 funcionários eram responsáveis por 60,4% do emprego total na Suécia, em comparação com apenas 30,4% na União Europeia, enquanto empresas com menos de 10 funcionários eram responsáveis por apenas 9,5%, menos da metade da participação de pequenas empresas na União Europeia.


33 - No início do século XX Suécia era o país com maior número de greves e mais propenso a conflitos trabalhistas da Europa Ocidental (MAGNUSSON, 2000, p.233), ou seja, não havia nenhum indicativo de um futuro compromisso histórico entre trabalho e indústria, característica central da economia sueca no final do século XX. Esta perspectiva só seria alterada após a grande recessão de 1929, com os graves conflitos trabalhistas comprometeriam o desenvolvimento econômico durante quase toda década de 1930, o que, no entanto, serviu para demonstrar a importância de uma maior harmonia no mercado de trabalho para o avanço socioeconômico do país, acrescentando, assim, a ‘paz industrial’ aos objetivos de empregadores, empregados e do governo socialdemocrata (MAGNUSSON, 2006, p.4). 


34 - Acordo Saltsjöbaden, em 1938: previu o processo de negociação centralizada, e serviu como pedra angular para o modelo de mercado de trabalho sueco, onde as mais expressivas organizações nacionais negociariam livremente, sem a intervenção do governo, com a responsabilidade de manter os salários dentro dos limites de equilíbrio macroeconômico (DELSEN e VAN VEEN, 1992, p. 85). (...) O acordo era considerado vantajoso tanto para SAF, pois, supostamente reduziria o risco de elevações salariais generalizadas, exigidas por sindicatos mais fortes, quanto para LO, uma vez que a negociação centralizada aumentava seu poder de barganha e evitava conflito de interesses entre diferentes sindicatos (MAGNUSSON, 2000, p. 234). 


35 - Solidariedade salarial dos qualificados com salário mais alto para com os menos qualificados: A proposta, considerada utópica em 1938, foi resgatada por Gösta Rehn e Rudolf Meidner, economistas já mencionados vinculados à LO, em 1951, sendo empregada em uma plataforma maior, que combinaria a manutenção do pleno emprego com combate a inflação. (...) Os salários seriam padronizados de acordo com os setores mais eficientes da indústria sueca, não levando em consideração a capacidade de pagamento dos setores menos produtivos da economia. As menos rentáveis ou se "maquinizavam", digamos, ou saiam do mercado. O acordo garantia taxas de lucros altas (já que salários não precisariam crescer sempre para atrair mão-de-obra extra) e novos investimentos.


36 - Números da política salarial: 



37 - A política salarial solidária, como discutido na seção anterior, promoveria a racionalização da indústria sueca, contudo, como principal resultado negativo criaria ‘ilhas de desemprego’ (LUNDBERG, 1972, p.484) (...) Portanto, a PMTA procurava adequar o trabalhador às necessidades do mercado, empregando cursos de reciclagem e qualificação do operariado e bolsas de deslocamento para estimular a mobilidade profissional e regional, sempre focando as áreas com maior concentração de postos de trabalho disponíveis (ERIXON, 2008, p.12).


38 - Trabalhadores classificados como de difícil reintegração seriam encaminhados para cursos de formação de qualidade garantida, em algumas circunstâncias o impasse era previsto antes mesmo do desemprego se concretizar. (ERIXON, 2008, p.11) (...). Apenas em último caso o Estado agiria como ‘empregador de ultima instância’, criando vagas temporárias no setor público.


39 - Entre 1965 a 1970, gastava-se cerca de 1% e pouco do PIB com isso. Meados da década de 70, gastou-se meio que 2%. De 1977 a 1984, gastou-se cerca de 3%. 


40 - Ou seja, a estabilidade institucional sueca foi essencial para a sua prosperidade entre o final na Segunda Guerra Mundial e a primeira crise do petróleo. A manutenção do partido socialdemocrata no governo entre 1932 e 1976, e a harmonia no mercado de trabalho, estabelecida pelo acordo de 1938, propiciaram um maior grau de certeza para os formuladores suecos de política econômica.


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