Giovana Vasconcelos - Uma breve análise sobre o desenvolvimento sueco (TCC) III

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41 - A crise do petróleo, em 1973, intensificou este processo e tornou visível a queda de produtividade e taxas de lucro dos antigos parques industriais da Europa Ocidental (...). A crise do petróleo determinou o fim de um longo período de energia a baixos custos, o qual havia servido como subsídio para o crescimento do pós-guerra. (STEPHENS, 1995). (...) No entanto, assim como em outros países escandinavos, o governo sueco inicialmente considerou a crise estrutural como sendo somente uma crise temporária (STEPHENS, 1995)


42 - Governo sueco entrou pesadamente com subsídios a fim de manter o pleno emprego e passar pelo suposto ciclo ("Na Suécia, a crise da OPEP I resultou em uma perda de 9,9 pontos percentuais da renda real durante 1976-78 (...) A crise da OPEP II foi mais branda do que a da OPEP I em termos de perda de rendimento real, que somou apenas 1,9 ponto percentual. (...) o emprego não sofreu muito."). Setores como as indústrias siderúrgica e de transformação foram auxiliados. 


43 - Desvalorizações e déficits foram um método de combate à crise até 1982. ... o governo sueco se retira da serpente cambial europeia em 1976, alegando que a manutenção do câmbio fixo retirava a competitividade de sua produção. Logo, entre 1976 e 1977, três desvalorizações subsequentes provocaram uma queda de quase 14 por cento no valor da coroa.


44 - Pós-82 (ao que entendi): As desvalorizações, somadas à recuperação da economia internacional, estimularam as exportações. No entanto, para Delsen e Van Veen (1992), esta recuperação seria apenas um alívio temporário, pois escondia os problemas estruturais em vez de solucioná-los em definitivo


45 - A maior crise viria em 90: “The Swedish economy was hard hit by the crisis of the 1990s. It was one of the most severe downturns in the 20th century (…). Between 1990 and 1993 the loss of real income was 13.0 percentage points and of industrial production 17.0. Employment continued to decline for a year longer than the two other measures. Between 1990 and 1994 job losses totaled 16.6 percentage points”. (JONUNG; HAGBERG, 2005, p. 17)



46 - Desregulamentação do setor financeiro se deu gradualmente entre 1978 a 1990: "Entre 1986-1990, o setor bancário cresceu 174 por cento, as instituições hipotecárias 167 por cento.". Narra um processo de crescimento de especulação bem semelhante ao japonês ou dos EUA nos anos 00. A especulação com ativos financeiros e imóveis originou um quadro de superaquecimento na economia sueca durante a segunda metade da década de 1980. O desemprego atingiu o menor índice histórico, 1,4 por cento (ENGLUNG, 1999, p. 89). (...) Durante a década de 1980, construções foram estimuladas pelos subsídios da política habitacional do governo, e crescimento da demanda, proveniente da expansão do crédito, favorecendo o sobreinvestimento (JONUNG, 2009). Como resultado do boom de preços, o investimento em construção quase dobrou, um aumento de 88 por cento entre as médias de 1988-1980 e 1983-1985 (ENGLUNG, 1999, p. 89).


47 - A política monetária não poderia ser adotada para desacelerar a economia, pois o aumento de juros não era uma opção, dado que a coroa sueca participava do sistema monetário europeu. O retorno à regulação também não era uma ameaça factível e as medidas propostas pelo governo de política fiscal não foram suficientes. Desta forma, a economia sueca entrou em uma espiral inflacionária (KAMIKAWA et a.l, 2005). Gráfico:



48 - Vem o aperto fiscal e fura a bolha (não explica muito). A majoração dos juros foi provocada por mais dois fatores: o aumento das taxas de juros internacionais, após a reunificação alemã, e a mudança da política macroeconômica doméstica.


49 - Em paralelo, os preços dos ativos financeiros entraram em uma espiral descendente, alimentada por perspectivas pessimistas. Consequentemente, ocorreu uma queda acentuada na riqueza líquida das famílias, posto que esta tinha sido financiada por empréstimos cujo valor nominal permanecia inalterado (JONUNG, 2009). (...) A destruição do valor do patrimônio real privado provocou um rearranjo na carteira dos agentes econômicos suecos, com contração do consumo privado e venda de ativos para compensar a variação na renda. (...) Em 1991, o índice de preço do mercado imobiliário já apresentava uma queda de 40 por cento (KOHLBACHER, 2009, p.8). (...) Isto posto, a crise imobiliária contaminou rapidamente o setor bancário. As autoridades suecas encorajavam os bancos a concederem empréstimos vinculados a garantias tangíveis, e o resultado foi a excessiva exposição dos bancos ao setor imobiliário. (...) As mais de três décadas de experiência favorável com empréstimos imobiliários deram a impressão que a probabilidade de um colapso nos preços do setor imobiliário ser praticamente nula, estimulando, assim, os banqueiros a ignorarem os riscos associados à rápida expansão destes, logo, a desregulamentação foi vista como uma oportunidade para os bancos aumentarem lucros através da difusão de empréstimos.



50 - Enfim, um grande ensaio da crise mundial de 2008. 


51 - Os prejuízos acumulados entre 1990-1993 chegaram a um total de 17 por cento do total de empréstimos. Estes perderam valor progressivamente: 1,1 por cento em 1990, 3,6 por cento em 1991, 7,6 por cento em 1992, e 6,5 por cento em 1993 (KAMIKAWA et al., 2006, p.47). (...) Como poder ser visualizado na Tabela III.2, o Handelsbanken, cuja taxa de expansão foi singularmente abaixo das demais, não precisou de qualquer apoio do governo, ao contrário do Gotabanken, com o maior aumento e retenção de empréstimos imobiliário decretou falência em setembro de 1992, dois anos após o primeiro sinal da crise.


52 - Crise cambial nos anos 90 (o TCC demora para explicar algumas coisas, como o fato que percebi de que atrelavam a coroa ao euro por vontade própria, pelo jeito. Ou seria decorrência do Tratado de Maastricht?): Posto que, pelo reconhecimento internacional, o sistema bancário sueco não era capaz de sobreviver a um longo período de taxas de juros elevadas, ampliando deste modo a especulação contra a coroa sueca, e ocasionando aumentos recorrentes da taxa de juros, dado a decisão do Riksbank de defender a paridade cambial a quase qualquer custo (ENGLUND, 1999).


53 - A persistência em defender o câmbio fixo foi respaldada nas opiniões de formuladores de política e economistas suecos, que usavam as desvalorizações da década de 1970 e início de 1980 como exemplo da ineficiência dessas na resolução de problemas econômicos no longo prazo. (...) Segundo eles, as desvalorizações apenas mascarariam o problema no curto prazo, ocasionando um processo cíclico de depreciação cambial (JONUNG, 2009). No entanto, a valorização crescente do marco alemão, causada pela competitividade das exportações e da política econômica alemã, testava a capacidade da manutenção da paridade das demais moedas europeia (RYNER; LINDBERG, 2010). (...) A flutuação da moeda finlandesa, em 8 de setembro de 1992, foi considerado o marco inicial da crise do SME, e promoveu uma nova onda especulativa contra a coroa. Para defender a moeda o Riksbank elevou a taxa overnight para 75 por cento em 9 de setembro. Na semana seguinte, após Itália e Reino Unido abandonarem o SME, a taxa overnight atingiu seu pico em 500 por cento. (...) Sem qualquer apoio formal do Fundo Europeu de Cooperação Monetária, o câmbio fixo foi abandonado em novembro de 1992, o que levou a uma depreciação imediata de 9 por cento no dia seguinte, e de 20 por cento até a virada do ano. Assim, a taxa de câmbio foi substituída pela meta de inflação como âncora para a política monetária  (ENGLUND, 1999, p. 93)  (...) A crise só cedeu a partir de 1992, com a desvalorização da coroa sueca e a intervenção do Estado na crise bancária, o que ocasionou graduais reduções nas taxas de juros. (...) Além disso, a forte depreciação da coroa aumentou a competitividade da produção sueca, e os investimentos realizados durante a década de 1980 em P&D entraram em sua fase de maturidade. Logo, as exportações passaram de 28 por cento do PIB, em 1992, para 45 por cento no final da década, tornando-se o principal responsável da recuperação da economia sueca. (JONUNG, 2009, p. 10-11)


54 - O terceiro fato considerável é o declínio do paradigma tecnológico e produtivo do pós-guerra. O baixo crescimento da produtividade não conseguiu compensar o aumento dos juros reais. (...) O modo de produção fordista foi substituído pelo método Just in Time, ou seja, a produção em massa e padronizada foi preterida por um maior nível de especialização e estoques menores. Com isso as vantagens das grandes indústrias foram enfraquecidas, uma vez que empresas de menor porte apresentariam maior flexibilidade às novas demandas. (...) O setor industrial e sua crescente produtividade eram a base da política econômica sueca, e, segundo Rojas (2005), essa característica era corroborada pela análise do desenvolvimento internacional desde a Primeira Revolução Industrial, que apresentava uma clara tendência à concentração em grandes indústrias. Por isso, quando essas empresas apresentaram sinais de crise em 1970, o Estado comprometeu-se com a preservação dessa estrutura, apesar da queda visível no setor tradicional de sua indústria.


55 - Efeito da desregulamentação: o favorecimento dos investidores industriais em detrimento a outros usuários potenciais de crédito já não era possível, por causa da desregulamentação do mercado financeiro e da elevada taxa de juros internacional (STEPHENS, 1995, p. 21).


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