Dissertação de Mestrado - Parte da "Gerson Alves de Freitas Jr - Recursos naturais e desenvolvimento econômico"
Texto: Gerson Alves de Freitas Jr - Recursos naturais e desenvolvimento econômico
1 - Os autores comparam a experiência de países escandinavos e sul-americanos, ambos exportadores líquidos de recursos naturais. Eles observam que, por volta de 1870, as duas regiões possuíam economias relativamente próximas em tamanho. Naquele ano, a renda per capita de Finlândia, Noruega e Suécia era muito semelhante àquela de Argentina e Chile (ambos os grupos na faixa entre US$ 1.1 mil e US$ 1,6 mil). Em 1990, no entanto, esse valor alcançou a faixa entre US$ 16 mil e US$ 17 mil nos países escandinavos, mas ainda se encontrava no intervalo dos US$ 6 mil nos vizinhos sul-americanos. Para eles, o estoque inicial de capital humano das duas regiões foi um fator decisivo –embora, certamente, não o único – por trás dessa desigualdade. Entre 1870 e 1890, ponderam, a taxa média de alfabetização era de 99% na Dinamarca, 98%, na Noruega e na Suécia, e 89%, na Finlândia, mas não passava de 46%, na Argentina, 30,3%, no Chile e 14,8%, no Brasil. (...) O elevado nível educacional da força de trabalho nos países nórdicos teria facilita a alocação de trabalhadores entre diferentes atividades econômicas e o desenvolvimento de segmentos industriais atrelados ao processo de exploração dos recursos naturais: ainda no século 19, a Dinamarca começou a substituir a exportação de grãos pela de carnes; Suécia e Noruega migraram do comércio de madeiras para o de celulose e a Suécia foi capaz de adotar e aperfeiçoar as técnicas metalúrgicas britânicas, que lhe permitiram constituir sua própria indústria metalúrgica.
2 - Situações que teriam causado uma crise social na América Latina, como a provocada pela crise do nitrato, que levou a uma migração em massa para as cidades no Chile, se mostraram, na Escandinávia, um episódio schumpeteriano de destruição criativa (BRAVO-ORTEGA; DE GREGÓRIO, 2005, p. 9). A distinção entre o desempenho da América Latina e da Escandinávia também teria relação com questões institucionais. Já no começo do século 19, escandinavos empreenderam reformas agrárias e educacionais, além de práticas políticas favoráveis ao livre comércio, na contramão da maioria dos países latino-americanos.
3 - As indústrias madeireira e siderúrgica empregam, juntas, quase um quinto da força de trabalho industrial e garantem cerca de um quarto das exportações da Suécia, com participação ainda mais relevante na Finlândia.
4 - Carlota Perez e a quarta/quinta revolução industrial. A autoria tem defendido que o novo paradigma de industrialização demanda mais recursos naturas e, ao mesmo tempo, se aproveita dos salários mais baixos do proletariado asiático, o que permite uma suposta inversão nos termos de troca, já que os manufaturados vão podendo ficar cada vez mais baratos: A primeira consequência, que vai de encontro a um dos argumentos centrais da tese Prebisch-Singer, foi a queda nos preços relativos das manufaturas exportadas a partir da Ásia, revertendo a tendência que prevaleceu ao longo de praticamente todo o século passado. (...) Em contrapartida, o crescimento econômico gerado por esse padrão de globalização em países como China e Índia, com suas grandes populações e relativa escassez de recursos naturais, teve impactos importantes sobre a demanda mundial por minérios, energia e alimentos, com seu efeito já descrito sobre os preços relativos dessas matérias-primas.
5 - Pela tese de Carlota, as indústrias de processamento em setores afins também poderiam ser impulsionadas. A alta nos preços de energia pode fazer com que o processamento de matérias-primas, hoje realizado preferencialmente perto dos mercados consumidores, fique mais competitivo nas regiões produtoras.
6 - Durante os dois primeiros superciclos de preço das commodities (1894-1932 e 1932-1971), os termos de troca subiram por 23 anos e 19 anos, respectivamente, antes de começarem a cair. Como comparação, a atual fase de alta dos produtos primários começou há 11 anos, o que sugere haver espaço para pelo menos mais uma década de elevação, desde que os países em desenvolvimento continuem a puxar o crescimento mundial. Trabalho de 2012. Mais um exemplo de "previsão" furada.
7 - No marcador "Recursos Naturais" eu já salvei os gráficos desse trabalho numa das seções "Gráficos". Não vou repetir. Vale ver lá.
8 - À página 45 da dissertação há uma longa/interessante tabela com as valorizações e desvalorizações de cada superciclo das commodities. Períodos de duração e etc.
9 - Rostow (1979), citado por Erten e Ocampo (2012), observou longos ciclos de 50 anos nos preços das commodities, com fases de valorização entre 1790 e 1815, 1848 e 1873 e, finalmente, 1896 e 1920, e quedas acumuladas entre 1815 e 1848, 1873 e 1896 e 1920 e 1936. (...)
10 - Segundo McKinsey (2011), as commodities combustíveis dispararam 190% e os alimentos, 135%, entre 2000 e 2011, o suficiente para corrigir a queda acumulada ao longo de todo o século 20. (...) Entre 2002 e 2007, por exemplo, a fatia do país no consumo global de minério de ferro saltou de 22,3% para 43,9%; no de cobre, de 18,2% para 27,1%; e no de alumínio, de 21,1% para 33,2%. Neste período, os preços dessas matérias-primas saltaram 184,7%, 356,5% e 95,4%, respectivamente (JENKINS, 2011, p. 75).
11 - "Maldição dos recursos naturais"? Depende do modelo. Manzano e Rigobón (2001) sustentam que os achados obtidos por Sachs e Warner e outros autores foram influenciados por fatores que, embora correlacionados com a dotação de recursos naturais, foram omitidos nas regressões. Em sua pesquisa, os autores sugerem que a “maldição dos recursos naturais” sobre o crescimento desaparece quando se adota a dívida externa como uma variável de controle. Sua conclusão é que foi o excesso de dívida, e não a dotação de recursos naturais, a causa do fraco desempenho econômico dos países exportadores de matérias-primas entre as décadas de 1970 e 1990. Há alguma imbricação pelo fato de que, segundo a própria dissertação, países ricos em recursos naturais, usaram a pujança anterior para garantir financiamento que depois, na Era Volcker, iria se mostrar um problemão. Altos juros e com preços das commodities em baixa.
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