Celso Furtado - Desenvolvimento e Subdesenvolvimento

 

Celso Furtado - Desenvolvimento e Subdesenvolvimento


1 - Trata-se de um texto numa publicação da CEPAL. Na real, é o capítulo 4 do livro "Desenvolvimento e Subdesenvolvimento" de 1961 ao que entendi. Salvo engano, foi indicação de leitura de Juliana Furno. Estranho que longe de ser introdutório, a mim pareceu, na verdade, bem confusa primeira parte e cheia de termos que não entendi em que sentido estavam sendo usados, nem a importância para o raciocínio (por vezes, repito, bem confuso). Algumas coisas me parecem inclusive bem contestáveis a depender da interpretação. Porém...


2 - ...Alguns trechos, especialmente na parte II, são muito bons, ainda que eu já tenha visto anteriormente. Por exemplo, explica bem que que há duas fases de crescimento (e isso é mesmo interessante em nível de introdução), uma geralmente com oferta de mão-de-obra totalmente elástica em que o salário real permanece baixo enquanto grandes contingentes são arrancados ou expulsos do campo (e do sistema artesanal, ainda que urbano) pelas indústrias e seus bens de capital a aumentar constantemente a produtividade do trabalhador. A segunda, após todo esse deslocamento de mão-de-obra terá que ser comandada pela maior eficiência na alocação de fatores e incremento tecnológico. Outro insight batido pra mim é o de que recursos naturais abundantes devem ser avaliados "per capita" (a exploração capitalista desses recursos no caso): Assim sendo, o fator decisivo era o volume de mão-de-obra absorvida pelo núcleo capitalista. Ora, a experiência demonstra que esse volume de mão-de-obra não atingia, via de regra, grandes proporções. No caso das economias especializadas na exploração de minérios, dificilmente alcançava 5% da população em idade de trabalhar.


3 - Mais um exemplo de trecho no qual ele fala desse "segundo momento": Fase anterior ao momento em que o setor capitalista, em expansão, absorveria a totalidade ou quase totalidade dos recursos de mão-de-obra, permitindo que os salários reais, antes determinados em função das condições preexistentes de vida, passem a ser condicionados pelo nível de produtividade.


4 - O deslocamento da fronteira econômica européia traduziu-se, quase sempre, na formação de economias híbridas em que um núcleo capitalista passava a coexistir, pacificamente, com uma estrutura arcaica.


5 - Somente quando o tipo de empresa requeria a absorção de grande número de assalariados — como foi o caso das plantações de chá, no Ceilão, e de borracha, na Birmânia — é que o efeito da organização capitalista sobre a economia local assumia maior importância. Se a oferta de mão-de-obra local era relativamente escassa, como ocorreu nesses dois países, apresentava-se, desde cedo, a possibilidade de elevação do salário real, ainda que tal tendência pudesse ser parcialmente anulada — e assim ocorreu nos dois casos citados — mediante a importação de mão-de-obra proveniente de países de baixo nível de vida. (...)  E desde o momento em que as condições externas deixaram de permitir que continuasse a expandir-se, naqueles países, a produção de chá ou borracha, criou-se uma situação de equilíbrio em um nível permanente de subemprego de fatores, que seria inconcebível numa economia tipicamente capitalista


6 - A primeira fase de grande expansão cafeeira no Brasil — terceiro quartel do século passado — teve como base a mão-de-obra que havia permanecido semi-utilizada, na região mineira, desde que entrara em decadência a economia do ouro; na segunda etapa de expansão — último quartel do século passado — o problema da mão-de-obra foi resolvido mediante a imigração européia; a expansão dos anos 1920, 1940 e 1950 fez-se com base na absorção de excedente de mão-de-obra, proveniente de Minas Gerais e dos estados do Nordeste.


7 - Os "pós-anos 30": Passam a coexistir, então, três setores, dentro da economia: no primeiro, predominam as atividades de subsistência e é reduzido o fluxo monetário; no segundo, estão as atividades diretamente ligadas ao comércio exterior; no terceiro, finalmente, as que se prendem ao mercado interno de produtos manufaturados de consumo geral. Depara-se-nos, portanto, um tipo de estrutura econômica subdesenvolvida bem mais complexo que o da simples coexistência de empresas estrangeiras com remanescentes de um sistema pré-capitalista. 


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