BC - Relatório Trimestral de Inflação do BC (Março de 2021)

 

BC - Relatório Trimestral de Inflação do BC (Março de 2021)


1 - A literatura econômica indica que taxas de inflação elevadas e voláteis geram distorções que levam a aumento dos riscos e impactam negativamente os investimentos. Essas distorções encurtam os horizontes de planejamento das famílias, empresas e governos e deterioram a confiança de empresários. Taxas de inflação elevadas subtraem o poder de compra de salários e de transferências, com repercussões negativas sobre a confiança e o consumo das famílias. Além disso, produzem dispersão ineficiente de preços e diminuem o valor informacional que os mesmos têm para a eficiente alocação de recursos na economia. Inflação alta e volátil tem, ainda, efeitos redistributivos de caráter regressivo.


2 - Crise da Covid x Mundo x Dívidas: Não obstante, a expansão dos gastos fiscais e a queda na arrecadação levaram ao aumento do endividamento público de 84% para 98% do produto agregado global em 2020, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) no Fiscal Monitor.


3 - Os níveis de mobilidade (fonte: Google Mobility) estavam, em novembro/dezembro de 2020, já próximos do nível pré-pandemia. A queda abrupta mesmo foi em fim de março. Recuperação rápida até fim de maio e gradual de junho a novembro. Desde dezembro, a mobilidade tem caído um pouco. As mobilidades de varejo e lazer seguem lógica parecida, mas com nível um pouco abaixo.


4 - O nível de utilização da capacidade instalada (Nuci), que se aproxima da média histórica e está acima da média dos últimos anos, também corrobora o momento favorável da indústria de transformação.


5 - Pessoas voltaram a procurar emprego mais do que a criação de novos empregos avançou. Logo, apesar desse último dado, o desemprego cresceu. A taxa de desocupação, como esperado no último Relatório de Inflação, aumentou no 4º trimestre, refletindo a continuidade do crescimento da força de trabalho em ritmo superior ao da população ocupada, e atingiu os valores mais elevados desde o início da série em 2012. As elevações recentes ocorreram concomitantemente à diminuição do distanciamento social e das transferências de renda extraordinárias. (...) Apesar da incorporação de mais de 5 milhões de pessoas desde agosto, a população ocupada ainda está cerca de 9% abaixo do patamar pré-pandemia.


6 - População ocupada (exclui desempregados e quem não estiver procurando emprego), distribuição atual:



7 - Diferenças entre desalentado (hoje são 5,9 milhões que "pessoas que não estão trabalhando e que, embora queiram trabalhar, desistiram de procurar vagas, pois não acreditam que vão encontrar emprego") e desempregado (desocupados, que são hoje 14 milhões de pessoas): 

https://www.universia.net/br/actualidad/actualidad.emprego.desalentado-desocupado-ou-subocupado-entenda-esses-termos-1167251.html

Outros links com dados:

https://www.istoedinheiro.com.br/ibge-desalento-anota-recorde-de-59-milhoes-de-pessoas-no-trimestre-ate-janeiro/

https://www.brasildefato.com.br/2020/12/29/brasil-fecha-2020-com-14-milhoes-de-desempregados


8 - ... Ao que entendi, caso sejam incluídos, ainda, os subocupados (em suas diversas modalidades) temos o seguinte dado: No trimestre terminado em janeiro de 2021, faltou trabalho para 32,380 milhões de pessoas no País, segundo o IBGE


9 - Já os governos regionais e as empresas estatais contribuíram com superávits fiscais em 2020. O resultado positivo dos governos regionais foi influenciado pelo apoio financeiro da União. No período, as medidas de auxílio aos entes subnacionais mais que compensaram a piora na arrecadação e o aumento das despesas acarretadas pelas ações contra a pandemia, resultando no maior superavit dos governos regionais na série histórica iniciada em 2002.


10 - Apesar do elevado deficit e da dívida em patamar recorde em 2020, os juros nominais do setor público, apropriados por competência, somaram R$312 bilhões ou 0,7 p.p. do PIB abaixo do ocorrido em 2019.


11 - A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) e a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) encerraram o ano em 89,2% e 63,0% do PIB, respectivamente. 


12 - Crê que, em 2021, um déficit primário de 3% possa garantir estabilização da dívida em razão de "não-recorrentes". Entre os riscos, possíveis devoluções antecipadas de títulos por parte dos bancos públicos podem contribuir para redução da dívida bruta.


13 - Por que a precaução com a inflação? Vi o principal motivo aqui (embora fosse um pouco esperado pela imperfeição na "filtragem"): "A piora recente do quadro inflacionário repercutiu também sobre as medidas de inflação subjacente. Considerando dados dessazonalizados, a taxa trimestral anualizada da média dos núcleos encontra-se em 5,39%, sugerindo que o aumento recente de preços não se restringe aos componentes voláteis, que são os principais fatores de pressão. Ressalte-se que os núcleos podem conter resíduos dos choques voláteis, que não são perfeitamente filtrados na sua construção."


14 - Esperam ainda a normalização da escassez de matéria-prima durante o semestre. Resumindo: Nesse contexto de forte elevação dos preços de commodities nos últimos meses e de pressão dos preços industriais, a mediana das expectativas para a inflação em 2021 subiu de 3,34% para 4,60% e situa-se acima da meta de inflação para o ano (3,75%), mas dentro do intervalo de tolerância (de 2,25% a 5,25%).


15 - Transações correntes. Espera-se bom cenário para 2021:




16 - Adicionalmente, as contas de serviços e de renda primária foram revisadas marginalmente. A primeira foi motivada principalmente pela expectativa de menor deficit na conta de viagens, refletindo o prolongamento das restrições a viagens internacionais e o movimento do câmbio.


17 - A surpresa inflacionária é em grande medida explicada pela depreciação do real e pela forte alta dos preços de diversas commodities.


18 - Método: O desvio da inflação em relação à meta é decomposto em cinco componentes: (i) inércia do ano anterior (desvio da inflação do ano anterior em relação à meta); (ii) expectativas (diferença entre expectativas de inflação dos agentes e a meta para a inflação); (iii) inflação importada (diferença em relação à meta); (iv) hiato do produto; (v) choques de alimentos; e (vi) demais fatores. Vale ressaltar que essas estimativas são aproximações construídas com base em modelos e, portanto, estão sujeitas às incertezas inerentes ao processo de modelagem e estimação.


19 - As expectativas de inflação (como desvio da meta) contribuíram para a inflação ficar abaixo da meta (contribuição de -0,52 p.p). Ao longo de 2020, as expectativas para a inflação doze meses à frente (suavizada) da pesquisa Focus (Gráfico 3), apesar de apresentarem flutuação, situaram-se abaixo da meta em todo o período considerado, exceto por um pequeno período em meados de dezembro de 2020. (...) Em sentido contrário, a inflação importada (como desvio da meta) apresentou contribuição positiva para o desvio da inflação em relação à meta (contribuição de 0,48 p.p.). O fator responsável foi a depreciação cambial observada no primeiro semestre de 2020 (Gráfico 4), refletindo, principalmente, a eclosão da pandemia da Covid-19 (...). O hiato do produto apresentou a principal contribuição negativa para o desvio da inflação em relação à meta (contribuição de -2,62 p.p.). O hiato do produto é uma variável não observável, sujeita a elevada incerteza na sua mensuração, e é medido pelo BCB utilizando-se diferentes metodologias. (...) Os choques de alimentos foram o principal fator com contribuição positiva para o desvio da inflação em relação à meta em 2020, com contribuição de 1,65 p.p. Após registrar valor de 7,84% em 2019, a inflação dos preços de alimentação no domicílio encerrou 2020 em 18,15% (Gráfico 8).


20 - Parece ser mais a estrutura interna do nosso mercado cambial quem explica mais a volatilidade do dólar. Muito mini-dólar (minicontratos de dólar futuro na bolsa brasileira). Inclusive cita este dado: "Ao considerar apenas o período da pandemia, utilizando essa mesma especificação, a participação do diferencial de juros na alta da volatilidade é pequena. Da véspera da pandemia (28.2.2020) ao final da nossa amostra (30.12.2020), período em que a meta da taxa Selic foi de 4,25% a 2,00% a.a., a queda do diferencial de juros de 1 ano foi de 0,32 p.p. (de 3,03% para 2,71%), o que geraria um aumento de apenas 0,13 p.p. na volatilidade. Entretanto, nesse período, a volatilidade do câmbio aumentou 9,77 p.p., de 10,98% para 20,75%."


21 - Cita-se, como resultado do modelo, que o VIX lá dos EUA explicariam "só" 20% da volatilidade. A especulação com o dólar futuro em minicontrato chega a explicar 54%.


22 - Estimativas do modelo que o BC usa: Nos Gráficos 1a a 1c, observa-se que um aumento temporário de 1 p.p. na taxa Selic, com duração de quatro trimestres, gera um efeito máximo de redução na inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumulada em quatro trimestres, de 0,26 p.p. Nota-se que, inicialmente, o efeito é mais elevado no setor de alimentação no domicílio e mais baixo no setor de serviços. Contudo, a partir do sétimo trimestre, o efeito torna-se mais forte no segmento de serviços.


23 - E o poder do câmbio na inflação? Uma depreciação do câmbio de 10%, por sua vez, produz um efeito máximo de aproximadamente 0,7 p.p. no IPCA (Gráficos 2a a 2c) e impacta mais fortemente a inflação de alimentação no domicílio, gerando um efeito máximo de cerca de 1,4 p.p. Enquanto o setor de bens industriais também apresenta uma resposta importante ao câmbio, o setor de serviços é o menos afetado. Cabe notar que, embora a inflação de serviços não seja diretamente impactada pelo câmbio, é influenciada indiretamente pela inércia da inflação do IPCA e pelas expectativas de inflação.


24 - Outra estimativa importante: Um choque adverso de 1 p.p. no hiato do produto ocasiona redução de 0,35 p.p. na inflação do IPCA após quatro trimestres.


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