Livro: Reda Cherif (FMI) - The Return of the Policy That Shall Not Be Named (PARTE "D")
Livro: Reda Cherif (FMI) - The Return of the Policy That Shall Not Be Named: Principles of Industrial Policy
Pgs. 51-63
"CAPÍTULO 6: "DICA ATRAVÉS DA HISTÓRIA"
65 - Avalia que nem toda política industrial é igual. ...empresas de transporte, como companhias aéreas, empresas de energia, redes de telecomunicações ou turismo, não se qualificam como parte do TIP.
66 - O período 1965-1980: ...durante o auge das políticas industriais, muitas economias em desenvolvimento atingiram taxas de crescimento relativamente altas na manufatura, estimuladas pelas políticas de substituição de importações. Entre os melhores desempenhos, o valor agregado per capita da manufatura cresceu a uma taxa média anual de cerca de 10% na Indonésia, 7% na Nigéria e 6% no Brasil entre 1965 e 1980. Já os prodígios asiáticos cresceram de 12 a 15% (valor agregado da indústria). (...) Oferecemos evidências de que, entre as economias em desenvolvimento, muito poucas adotaram uma política de industrialização orientada para a exportação em larga escala, como foi o caso dos milagres asiáticos.
67 - Há meio-termos: Na prática, os países podem ter uma orientação exportadora mista, com pouca intervenção estatal em alguns setores com políticas de substituição de importações em outros. Esse foi o caso da Malásia, por exemplo, que buscou a substituição de importações na indústria automotiva enquanto era orientada para a exportação em eletrônicos, confiando fortemente em multinacionais (veja Cherif e Hasanov 2015).
68 - A Coreia se destaca, pois nenhum país sequer remotamente acompanhou o ritmo dela em termos de exportações de manufatura. Na melhor das hipóteses, países como Malásia e Tunísia, que exportaram mais bens manufaturados per capita do que a Coreia em 1965, representaram cerca de 40% e 20% das exportações da Coreia em 1980.
69 - Conclusão do autor: Nossa hipótese é que a orientação exportadora da Coreia foi crucial para sustentar o crescimento de sua produção manufatureira. Ademais, Cherif, Hasanov e Wang (2018), empregando regressões de crescimento entre países e instrumentos de países adjacentes, constataram que indicadores de sofisticação das exportações, como o EXPY (Hausmann, Hwang e Rodrik, 2007), a parcela nas exportações de manufaturados e as exportações de manufaturados per capita, são determinantes consistentes para o crescimento econômico de longo prazo..
70 - Indícios de sucesso: ...Por exemplo, em 2010, o peso da Suíça na população mundial era de cerca de 0,11% e sua participação de mercado na exportação de manufaturados era de 1,7%, produzindo o nível de intensidade de exportação de manufaturados de cerca de 150%, que era 250 vezes maior que o da Índia (a Índia representava perto de 18% da população mundial na época). (...) Em 1970, a intensidade média de exportação de manufatura em economias de renda baixa e média era de 5%, em comparação com 270% em economias de renda alta. Em 2014, era de 8% em economias de renda baixa e média e 370% em economias de renda alta. A lacuna entre países pobres e ricos em termos de intensidade de manufatura era imensa e aumentou ainda mais.
71 - Importante: Com efeito, em 1990, a Coreia aproximou-se do nível de intensidade de exportação inicial de um país de renda alta médio. Paralelamente, nações como China e Indonésia registraram taxas de crescimento notavelmente elevadas na produção manufatureira (7–10 por cento em média per capita) sem grandes mudanças na intensidade de suas exportações manufatureiras. Isso indica fortemente que uma política de substituição de importações permanecia ativa até o final dos anos 80. Países que adotaram políticas de substituição de importações nos anos 70 e 80, como Egito, Nigéria e Índia, apresentaram um padrão similar de alto crescimento na produção industrial com uma tendência negativa na intensidade de exportação de manufaturas. Os demais países mostraram pequenos crescimentos na produção industrial e pouca ou nenhuma mudança na intensidade de exportação de manufaturados. O Chile destaca-se como uma exceção, já que sua política de laissez-faire resultou em um crescimento anêmico na produção manufatureira e um declínio na intensidade de exportação de manufaturados. Em suma, com exceção da Coreia e de alguns outros, as economias em desenvolvimento não adotaram uma estratégia de industrialização acelerada junto com uma política voltada para a exportação.
72 - O problema da substituição de importações não seria a escala, afinal, a política industrial da Índia fracassou, por exemplo. A falta de orientação para exportação leva à falta de melhorias de produtividade, inovação e dinamismo, enquanto as políticas de ISI também são geralmente acompanhadas por distorções e incentivos perversos. Coloca que a Índia até conseguiu virar uma "autarquia", digamos, na época, mas com baixa produtividade. A meta de substituição de importações foi alcançada por meio de uma intrincada rede de regras e regulamentos no centro da qual estava o sistema de licenciamento. Produtores nacionais foram completamente protegidos da competição internacional por meio de restrições a importações e, às vezes, proibições de importações.
73 - ...Para poder produzir um determinado bem (acabado ou intermediário), um industrial precisava solicitar várias licenças, incluindo uma licença de capacidade que permitisse produzir um bem específico e definisse a capacidade total e a produção anual, bem como o número de turnos (e às vezes no nível de modelos específicos no caso da indústria automobilística). Para importar insumos e máquinas, uma licença separada era necessária para garantir a divisa estrangeira necessária. Até mesmo o suporte técnico associado a alguma compra de máquinas tinha que ser licenciado separadamente como licença de “colaboração estrangeira” (ver Krueger 1975). Controles de preços também eram aplicados em muitas indústrias e os atrasos para obter licenças aprovadas podiam ser da ordem de vários anos.
74 - ...Ainda a Índia: Krueger (1975) argumenta que muitas das empresas apoiadas pelas políticas ISI poderiam competir globalmente se tivessem acesso a matérias-primas e insumos intermediários, que eram fortemente restritos (por exemplo, requisitos de licenciamento). (...) as rendas monopolistas no enorme mercado interno garantiam que as empresas não tivessem interesse sério nos difíceis e arriscados mercados de exportação.
75 - O problema de se confiar em tarifas e subsídios: ...ao longo do tempo, a falta de competição significaria pouco investimento em P&D e inovação e dependência quase total de bens intermediários importados, especialmente altas tecnologias críticas. Em economias relativamente pequenas, as empresas protegidas teriam que implementar unidades de produção em escala relativamente pequena e não aproveitariam as economias de escala. (...) nos milagres asiáticos, as tarifas eram apenas uma ferramenta entre muitas para promover exportações, garantindo uma renda mínima para produtores nacionais, enquanto a competição era feroz tanto em casa quanto no exterior. (...) As empresas tinham que investir pesadamente em P&D e inovar para competir em mercados internacionais. Elas também teriam que definir grandes capacidades de produção, muito maiores do que se fossem limitadas pelo mercado interno e colher os benefícios das economias de escala.
76 - Neoliberalismo no Chile: ...descartou políticas de substituição de importações (por exemplo, suspendeu tarifas unilateralmente) e evitou políticas setoriais completamente, fundamentando sua estratégia na expectativa de que setores de vantagem comparativa surgiriam naturalmente na ausência de intervenção estatal, desde que o ambiente de negócios e as principais falhas governamentais fossem enfrentadas.
77 - ...Em 1970, a intensidade de exportação de manufaturados do Chile era de cerca de 200%, em comparação com uma mediana de 5% nas economias em desenvolvimento e muito maior do que a da Malásia, que era de cerca de 80%. Em 1990, a situação foi invertida, onde o MEI do Chile era de cerca de 70% e o da Malásia, de 210%. Mais impressionante, enquanto a maioria das economias em desenvolvimento conseguiu atingir taxas de crescimento relativamente altas em sua produção industrial, a produção industrial per capita do Chile cresceu a uma taxa anual escassa de 0,35%, em comparação com mais de 8% na Malásia. (...) a produtividade total dos fatores do Chile estagnou desde 1970 (ver Cherif e Hasanov 2015).
78 - ...Curiosamente, os principais sucessos do Chile em exportações não minerais, como salmão e mirtilos, podem ser atribuídos às suas intervenções estatais por meio dessas agências. Políticas horizontais de assistência técnica e tal.
79 - Na virada do século XX , quando a Argentina e os EUA tinham níveis semelhantes de renda per capita, a tarifa sobre produtos manufaturados era de cerca de 45% no primeiro e cerca de 5% na Argentina, a mais alta e a mais baixa entre os países avançados, respectivamente.
80 - As origens do crescimento do Vale do Silício estão intimamente ligadas aos ambiciosos programas de defesa e espaciais durante a Guerra Fria, especialmente através de políticas de aquisição.
81 - Alemanha e banco público: O banco de desenvolvimento alemão KfW desempenhou um papel importante na reconstrução do país após a Segunda Guerra Mundial (ver Naqvi, Henow e Chang 2018). O banco público tinha como alvo, entre outros, indústrias de ferramentas e máquinas sofisticadas que mais tarde se tornaram o motor da economia alemã. Até hoje, o banco desempenha um papel importante com ativos representando 14% do PIB em 2016 e cerca de 6% do setor bancário (mais de 500 bilhões de euros). Como exemplo de seu papel de liderança no salto tecnológico, o banco público financiou quase 100% de todos os projetos em energia renovável entre 2007 e 2009 nos estágios iniciais do impulso “Energiewende”. Desde então, o setor privado aumentou gradualmente sua participação no financiamento, mas somente depois que o governo assumiu a maior parte do investimento inicial arriscado.
Pgs. 63-65
"CAPÍTULO 7: "CONSIDERAÇÕES FINAIS"
82 - Argumentamos que, primeiro, o TIP foi baseado na intervenção do estado para facilitar a mudança de empresas nacionais para setores sofisticados além da vantagem comparativa existente. Segundo, a orientação para exportação desde o início desempenhou um papel fundamental na sustentação da pressão competitiva e no incentivo às empresas para inovar.
83 - As de mais alto crescimento foram as que tiveram mais ambições nos saltos tecnológicos. Enfim, moveram-se para a fronteira desde "novinhos".
84 - A maioria dos países na armadilha da renda média seguiu alguns elementos do TIP, notavelmente atraindo multinacionais e se juntando a GVCs de produtos sofisticados, mas eles falharam principalmente em desenvolver sua própria tecnologia na fronteira ou em se afastar de setores de baixa intensidade de P&D, como extração de recursos naturais.
85 - O sector público não é necessariamente inadequado para a tarefa, como demonstra o exemplo de Singapura, onde o as empresas ligadas ao governo desempenharam um papel significativo na economia desde a independência e são geridas eficientemente em uma base competitiva e comercial (Ramirez e Tan 2004).
86 - Em termos do papel do estado, o TIP é exatamente o oposto do planejamento centralizado, pois favorece mais competição e autonomia do setor privado, não menos.
87 - A TIP não se opõe à receita padrão de macroestabilidade, melhoria de instituições e ambiente de negócios, ou investimento em infraestrutura e capital humano. Todos esses ingredientes são necessários, mas não necessariamente suficientes para um alto crescimento sustentado.
FIM!
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